Fugindo
Capítulo dez
João
Enquanto Mari entrou na sua casa para pegar suas coisas, fiquei na minha moto pensando em como o minha vida pôde mudar tanto em tão poucas horas.
Caralho! Ela era minha de novo.
Eu não estava acreditando. E só de pensar nas cenas na sala de educação física eu já fiquei querendo repetir e sorrindo com a lembrança.
Aproveitei os minutos em que fiquei esperando a Mariana pegar suas coisas, para pensar em um lugar legal para levá-la e sinceramente eu estava meio sem opções.
Peguei meu celular e liguei para o meu amigo Fernando, que conhecia bem a região e tinha certeza que ele poderia me ajudar.
— Quem é vivo sempre aparece. — ele falou quando atendeu.
— E aí, boiola, tudo bem?
— Eu sou casado, tenho mulher e filhos. Já você não. E aí, quem é o boiola? — ele riu.
— Continua sendo você. — respondi também rindo e perguntei: — Tudo bem, cara?
— Estamos bem sim. — respondeu pondo final na nossa provocação boba e bateu uma saudade dos meus amigos.
— Que bom! Viu... Será que pode me ajudar?
— Você não faliu a nova Angels, né?
Gargalhei.
— Claro que não! Você não tá olhando o faturamento?
— Tô zuando, cara! Não se lembra do nosso lema: o olho do dono que engorda o gado? Então, continuo de olho na Angels, mas com a Clara com a gravidez de risco, eu tô indo menos e praticamente estou de licença a maternidade com ela.
— Aposto que sua barriga deve estar maior que a dela.
Ele riu.
— Que nada, palhaço! Continuo melhor que você. Mas fala logo que tipo de ajuda você quer. Você está atrapalhando nosso filme.
— Então... — fiz uma pausa, não estava preparado para contar aos meus amigos sobre a Mari. Eles vão achar que ela era só mais uma, igual as outras que eu iludi. — preciso de dicas de lugares interessantes para levar uma gata, que dê para ir de moto e não fique muito longe daqui.
— Iludindo de novo ou agora criou vergonha na cara?
— Não, essa é a mulher da minha vida. É ela que me iludi sempre.
— Eita, porra! Achei que não fosse viver para ouvir isso. — Ele gargalhou.
— Anda logo, Fernando. Tô atrapalhando seu filme e daqui a pouco a gata volta.
— Bom... — pareceu pensar. — Lembra-se daquelas férias em Cananéia, que fui com o Gustavo?
— Sei.
— Então, conheci uma caiçara lá. — Ouvi barulhos de tapas, Fernando rindo e dizendo que amava a Clara. Em seguida ele voltou a falar comigo ainda rindo — ela me levou em uma praia meio deserta e no amanhecer conseguimos ver golfinhos. Sempre quis levar a Clara lá, mas agora acho que ela não vai mais querer ir.
Ri e ouvi a Clara dizer no fundo que não iria mesmo.
— Acho que você se encrencou aí, hein, meu brother? — falei rindo.
— Culpa sua!
Fernando me explicou como chegar e saindo de onde eu estava, ficava a umas duas horas de moto. Meio longe, mas achei que iria valer a pena.
— Valeu, cara! Ajudou muito. Agora tenho que desligar. Manda um beijo para a Clara e fala que quando os gêmeos nascerem, o bar da nova Angels a espera para um show.
— Vai se foder, João! — falou e eu gargalhei.
— Brincadeira, cara, mas se ela quiser...
— Se ela quiser, tem a Angels daqui onde eu posso ficar de olho nos marmanjos.
— Ciumento.
— Você já viu minha mulher? Tenho que ser. Ela é perfeita demais pra mim.
— Também acho, não sei o que ela viu em um japa feio feito você.
Ele riu.
— Olha só não te xingo mais, porque o filme tá pausado aqui e você está atrapalhando. — essa relação leve com meus amigos sempre foi algo de que me orgulhei de ter conquistado. — Se cuida aí, viu. E vê se agora, com essa, você toma jeito.
— Ah, cara, com essa eu só não caso, se ela não quiser. É mais. Já vem de anos. Um dia eu te conto.
Ele riu de mim e disse que estava feliz por eu ter tomado jeito. Perguntei rapidamente da Angels, dos caras e Fernando me certificou de que estava tudo bem.
Não demorou muito, minha gata saiu pelo portão e logo desliguei a ligação com meu amigo, dizendo que a mulher da minha vida estava vindo e eu precisava desligar, o que o fez rir alto e dizer que não estava acreditando no que estava ouvindo.
Percebi que dois seguranças me encaravam do portão, mas pensei: que se foda! Eu não devia nada para eles.
Mari vinha com uma mochila jogada no ombro, vestida de calça jeans justa, moletom e tênis. Estava linda e parecia a adolescente de alguns anos atrás. Entretanto, o de mais lindo que ela estava vestindo, era o sorriso radiante que apareceu em seu rosto no momento em que ela me olhou. Eu sorri de volta, acelerei minha Ducati e mostrei para os babacas que me encaravam, que essa gata era minha e eu estava pouco me lixando para as caras de mau que eles me lançavam.
— Pronta? — perguntei quando ela estava ao meu lado.
Ela assentiu e montou na minha garupa depois de colocar o capacete. Passei rapidamente na minha casa, que era no caminho de onde eu planejava ir, para pegar umas coisas que eu iria precisar nos meus dias com ela, a convidei para entrar e ela sugeriu:
— Por mim eu poderia ficar aqui.
— Você merece algo especial e eu já pensei em tudo. — pisquei para ela, que sorriu em resposta.
Fui para o meu quarto, troquei a camisa que tinha botões faltando, por uma camisa polo e não demorei muito, pois queria passar cada segundo daqueles dias ao lado da mulher que eu amava. Voltei para a sala, onde Mari me esperava e assim que me viu veio correndo para mim e me beijou.
— Desculpa o impulso, mas desde a primeira vez que eu o vi, quando te reencontrei depois de anos, tenho vontade de correr para você e beijá-lo assim. Nem acredito que estou fazendo isso. — ela me deu mais vários beijos pelo rosto e eu sorria feliz. Mariana estava tão leve e estava me lembrando da menina que eu conheci no passado.
— Vou ficar mal acostumado.
— Vou agarrar tanto você esses três dias, que você vai enjoar de mim.
Coloquei uma mecha de cabelo atrás da sua orelha e olhando em seus olhos falei:
— Talvez seja o contrário. — Ela balançou a cabeça em negativa, eu a beijei e perguntei em seguida: — Mari você teria problema de viajar de moto? Digo, umas duas ou três horas.
— Duas ou três horas agarrada em você é a perfeição. — eu sorri.
Fui até o quarto de hóspedes onde eu guardava minhas bagunças e antes de sairmos, peguei um macacão Alpinestars para mim e outro para Mari. Voltei para a sala e quando ofereci o macacão para ela, Mari disse emburrada e cruzando os braços:
— Me recuso a colocar isso.
— Por quê? — perguntei sem entender.
— Imagino a quantidade de mulher que deve ter usado esse macacão.
Eu ri.
— Mari, ninguém nunca usou.
— A não? Então por que você tem um macacão feminino de andar de moto?
— Sei lá, estava barato e comprei esse e o meu, caso a minha mãe quisesse andar comigo.
— Sua mãe? — Ela perguntou séria e meu sorriso estava largo em meu rosto.
— Sim.
— Para de rir.
— To achando bonitinho você com ciúmes.
— Não é ciúmes é higiene.
Fui até ela e a abracei.
— Acho que meu subconsciente já sabia que você voltaria para mim. Juro que ninguém nunca usou esse macacão.
Ela me olhou, arqueou uma sobrancelha e perguntou:
— Nem a Mônica?
— Principalmente a Mônica. Ela não curte muito moto. Acho que só andou uma vez comigo, que foi na noite em que a ofereci uma carona.
Mari revirou os olhos e tentou se afastar, mas eu a segurei.
— Lembra... Sempre foi você. — Beijei-a, sorrindo.
— Você ri, né? Mas eu não vejo graça. Anda, vamos logo.
Ela se afastou de mim, pegou o macacão sem vontade, enquanto eu só sabia sorrir e me sentir incrivelmente feliz com aquela pequena cena de ciúmes.
Quando ela terminou de colocar o macacão ficou certinho, aí eu a puxei para mim de novo e a beijei.
— Te amo. — falei.
Ela sorriu, fechou os olhos, passou o nariz no meu e relutante sussurrou:
— Eu te amo mais, homem lindo.
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