Ela de volta
Capítulo dois
Mariana
De volta... Anos se passaram e a sensação de ter saído fugida daqui ainda me assombrava, mas depois de tudo... De me sentir enganada, traída e apunhalada pelas costas da pior maneira que uma pessoa pode ser, por duas pessoas que amava, tenho certeza que sair daqui e deixar tudo para trás, como a minha mãe me sugeriu, foi a melhor coisa que fiz.
Não queria ter que voltar para me casar, mas alguns dos nossos familiares, como tios e primos, tanto os meus quanto os do meu noivo, Breno, moravam aqui e para agradá-los decidimos voltar.
Eu estava em um misto de ansiedade e medo de voltar, mas no momento que me hospedei na casa dos meus pais, onde era meu antigo quarto, o medo sumiu e voltei a ficar feliz com a decisão de me casar.
Esses anos que morei em Portugal, onde meu pai tinha negócios que herdou do meu avô, resolvi esquecer o passado e me dediquei aos estudos. Estudei tudo que era ligado à construção. Fiz engenharia civil, decoração e designer de interiores. Ocupei a minha cabeça com os estudos para não pensar na dor que este lugar me causou e só realmente consegui esquecer, quando conheci o Breno no último ano da faculdade. Bom, esquecer não é bem a palavra que define o que aconteceu com os meus sentimentos quando comecei a namorar o Breno, mas pelo menos parou de doer tanto.
Saber que Breno também era da mesma cidade que eu, foi uma feliz coincidência e a partir desta informação fomos descobrindo muitas coisas em comum, apesar de ele ser sempre muito mimado e bem diferente de mim.
No começo do nosso namoro eu o comparava frequentemente com o... Com o meu ex. Era inevitável, já que a diferença de valores e jeito de ser era gritante, mas com o tempo acabei me acostumando com o jeito ostentação do Breno e acabei curtindo nossos passeios caros, jantares extravagantes e tudo que ele queria fazer que envolvesse dinheiro. Como dizia a minha mãe: era esse o mundo que ela tinha que ter me apresentado desde o início e para as pessoas desse nível. Não preciso nem dizer o tanto que a minha mãe amava o Breno.
— Mari, sua mãe pediu para que você desça para o café.
— Estou indo, Maria, querida. — respondi com carinho a mulher que trabalhava na minha casa desde que nasci. Maria era cozinheira e faz tudo, mas tinha outras pessoas que a ajudavam. Era baixinha e rechonchuda com os cabelos perfeitamente arrumados em um coque e pintados de preto para esconder a sua verdadeira idade.
Desviei o olhar dela e olhei pela janela, para rua, que dava para ver por cima dos muros altos da minha antiga casa.
— Ah, minha menina, senti tanta saudade de você. Sempre teve um coração tão bom. Espero que a sua volta não tire a alegria do seu olhar.
Fui até ela, a abracei e dei um beijo em sua testa.
— Não se preocupe, Maria. Estou muito feliz em voltar e com o meu casamento.
— Que bom. — ela falou sorrindo.
— Que bom. — eu concordei sorrindo.
Nós duas descemos juntas e abraçadas para a mesa do café.
Entramos na sala sorrindo de alguma coisa que a Maria me contava, que o netinho dela havia feito e encontrei a minha mãe sentada a mesa.
— Mariana. Você não perde esse jeito, não é? — Falou nos olhando com desaprovação, Maria se desvencilhou de mim e seguiu para a cozinha.
— Que jeito, mãe?
— De tratar todos como se fossemos iguais.
— E por que deveria tratar alguém diferente? — perguntei colocando o cotovelo sobre a mesa e apoiando o queixo nas mãos, nitidamente começando a me irritar.
— Nada, Mariana! — ela revirou os olhos, impaciente. — Amanhã temos que ver a igreja, o cartório e dar início aos proclamas do casamento.
— Estou ansiosa para ver o vestido.
Minha mãe sorriu em contentamento com o que eu disse.
— Tem que ser o que brilhe mais, o mais caro e o melhor.
Revirei os olhos.
— Apenas que seja um que eu goste, já está bom.
— Não me venha com essa história de simples, de novo. Tem que ser o casamento! Ah! E quando Breno voltar novamente de Portugal, tem que estar tudo pronto. Quando ele volta para o escritório?
— Daqui duas semanas. Breno não pode deixar a construtora sozinha por muito tempo. Então ele vai, fica um tempo lá e volta pra cá de novo para o casamento.
Assim que Breno terminou a faculdade de engenharia, abriu a sua própria construtora e com a ajuda da sua família, que é muito bem de vida, logo a construtora conseguiu crescer no ramo e é muito renomada em Portugal. Por esse motivo ele não pode se ausentar muito, então ele veio comigo, mas irá voltar em breve por causa dos negócios, enquanto eu fico e organizo tudo para o nosso casamento. Quanto ao bom nome da construtora, também não tiro o meu mérito, pois trabalhei em diversos projetos de sucesso, o que ajudou muito a torná-la o que era.
Eu trabalho com Breno, mas terminei todos os projetos em que estava envolvida, até me ver livre para voltar por tempo indeterminado e correr por nós dois com os preparativos do casamento.
— Cuidado em deixá-lo dando sopa sozinho lá, do jeito que é bonito e bom partido, vai ter uma leva de mulher bonita, todas interessadas em ficar com ele.
— Se ele escolher outra mulher que não seja eu, não posso fazer nada. Quem perde é ele. — dei de ombros e minha mãe bufou.
Breno realmente era muito bonito. Era branco, com o cabelo castanho claro e penteado de lado, olhos azuis muito escuros e um sorriso muito encantador.
— Seu pai disse que só virá na semana do casamento, que também não pode abandonar os negócios e sem falar na saúde dele que você sabe como está. — Meu pai tem doença renal crônica, há algum tempo faz diálise e morre de medo de fazer o transplante. Nunca deixou nem vermos se éramos compatíveis. — Ele acha isso tudo uma besteira, mas eu faço questão de que o casamento seja maravilhoso, saia nas revistas e seja a notícia mais comentada dessa cidadezinha esdrúxula. Quero que a notícia do seu casamento se espalhe. — Minha mãe falou orgulhosa. — E se seu pai não vier, vai dar o que falar.
— Pra que esse exibicionismo todo? Na verdade, por mim eu nem faria o papai sair de lá.
Ela deu de ombros.
— Por mim também ele não viria. Eu amo seu pai, mas você sabe que eu não gosto de ficar com ele no hospital. Sempre é você quem fica e eu não faria você passar a noite no hospital com seu pai, ás vésperas do casamento, caso precisasse. Lá pelo menos se ele precisar, ele paga uma acompanhante.
Minha mãe às vezes falava umas coisas que me assustava.
— E Mariana, você sabe que por mim você se casaria na igreja de São Roque, em Lisboa, só por ela ser considerada a mais valiosa do mundo, mas já que o casamento será aqui... Só quero que todos saibam.
E nesse momento eu pensei em um certo alguém, que eu não pensava há algum tempo e imaginei como ele reagiria quando soubesse da notícia.
Isso é ridículo!
Eu pensar nisso depois de tanto tempo, era ridículo.
E também, às vezes pode ser que ele nem vá saber, às vezes nem more mais aqui ou até já tenha construído uma família, talvez tenha se casado e tenha filhos e nem lembre que um dia eu passei na sua vida.
Balancei a cabeça sem a minha mãe notar, para esquecer as lembranças que invadiam a minha memória e parar de pensar em tantos talvez. Foquei na minha mãe que estava alheia aos meus pensamentos e falava sobre vestido assinado por estilista famoso.
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