A tentação
Mariana
Meu Deus!
Me ajude a dizer não a essa tentação.
João passou o dedo na minha bochecha, piscou para mim entre um sorriso sedutor e isso me fez tremer, acordou várias partes do meu corpo e eu só queria muito vê-lo dançar para mim.
Para, Mariana!
Você vai se casar.
Eu me reprendia mentalmente repetidas vezes, mas eu só queria vê-lo dançar. Só isso. Eu adorava ver Miguel e João dançando quando estudávamos.
Mas o que foi aquela piscada? E as covinhas?
Argh...
Os dois se dirigiram para a pista de dança, rindo e parecia que o tempo não tinha passado.
— O João é lindo. — Vanessa falou me empurrando com o seu ombro.
— Oi? — perguntei estranhando o comentário repentino.
— Só estou dizendo que o João é lindo... Um gato... Um deus...
— Tá, Vanessa! — a interrompi rindo. — Mas por que está me dizendo isso?
— Nada. Só que o Mi me contou a história de vocês e eu sou uma mulher romântica.
— Cunhada, não veja romantismo onde não tem. Vou me casar!
— E daí? Mari, nunca vi seus olhos brilhando tanto quando olhava para o Breno do mesmo modo como brilha quando você olha para o João.
Balancei a cabeça em negativa, como se ela estivesse falando besteira.
— Eu não sou assim. Nunca daria esse desgosto para a minha mãe.
Vanessa revirou os olhos.
— Olha, se eu e Miguel fossemos pensar assim, já teríamos uma penca de filhos. Porque na cabeça da sua mãe, tínhamos que ter filhos logo que casamos e ela ainda me culpa por não ter dado um neto a ela. Não sei que século ela vive... Ai, cunhada, desculpa. Acho que bebi demais tô falando mal da minha sogra para a filha dela.
Eu ri.
— Não precisa se desculpar. Eu conheço a minha mãe.
Ela riu.
— Tá, mas olha, você vai viver o resto da sua vida a mercê das vontades da sua mãe? Seja feliz, cu.
— Cu? Se a minha mãe ver você me chamando assim, ela vai falar que isso é um jeito inapropriado de se referir as pessoas.
Vanessa arqueou uma sobrancelha para mim e após um segundo de silêncio, nós duas caímos na risada. Mas fomos tiradas das risadas quando gritos chamaram a nossa atenção para a pista e lá estavam eles... Enfim tinham conseguido adentrar no círculo formado para a batalha de hip hop e quando os frequentadores reconheceram que quem estava na roda era um dos Angels, eles foram à loucura.
João estava usando uma calça preta e uma camisa xadrez, de botão. A camisa estava certinha no corpo dele e apertava discretamente seus músculos do braço, mostrando o quanto ele era forte e gostoso.
Quando João entrou na roda, começou a erguer os braços para cima, fazendo sinal para que a galera fizesse barulho. Depois com as duas mãos deu um puxãozinho na calça para cima, no intuito de folgá-la um pouco, e começou a fazer os passos de hip hop e break, um passo após o outro, enquanto 50 cent ainda cantava a música provocante. Eu e Vanessa nos aproximamos e fomos abrindo espaço entre as pessoas, até chegarmos bem próximas deles.
João nos achou ali, seu olhar cruzou com o meu e ele me encarou enquanto dançava, passava a mão pelo corpo e deslizava na pista. Minha respiração estava entrecortada, eu estava hipnotizada e meu coração disparou quando ele veio até mim dançando sensualmente. Tive vontade de passar a mão em seu corpo, puxá-lo para mim e como se ele lesse meus pensamentos foi isso que ele fez comigo.
OMG!
Puxou-me pela mão, me levou para o centro da roda e ficou dançando ao meu redor. Tentei não ficar parada como uma estátua e fui me remexendo no ritmo da música. Não sei se foi todo o álcool que bebi ou a vontade de me mostrar para o João, mas comecei a dançar sensualmente também e a música ajudava. João passava a mão no meu corpo e deslizava a minha volta, vezes com toda uma malemolência e vezes como se fosse um robô, passos típicos do break. Enquanto eu dançava, pensei que esse sentimento de me sentir jovem, livre e feliz foi o que faltou na minha vida nos últimos anos.
Frequentei muitos restaurantes requintados, em que uma refeição custava muitas vezes um mês de trabalho de alguém e isso me bastava como diversão, mas vivendo aquele momento, aquela dança, aquela noite e com pessoas que eu gostava, percebi que fui muito podada nos últimos anos e a verdadeira Mariana era aquela: que bebia, dançava e se divertia com o irmão e amigos, na cidade que amava... Com o homem que ama... Ops olha o álcool me confundindo, o homem que eu amava estava em Portugal!
Fui tirada do meu pensamento centrado, quando o anjo de ébano, gostoso pra cacete que dançava sensualmente na minha frente, grudou seu corpo no meu. Mordi o lábio sorrindo.
Em um determinado momento, João me surpreendeu fazendo um passo tão bonitinho que me derreteu. Ele parou na minha frente, colocou a mão no peito, por dentro de sua roupa, sorriu e fez com a mão, como se fosse seu coração batendo por baixo da camisa. E batia em minha direção... Batia por mim... Que sorriso!
Benditas covinhas... Meu Deus, me ajude a resistir!
Meu irmão invadiu a pista e nos tirou de lá, fazendo o mesmo movimento do João, com as mãos como se pedisse barulho para a galera e todo mundo gritou, inclusive eu. Meu irmão era muito parecido comigo: era loiro e olhos verdes. Tinha o cabelo cortado baixinho, era alto e muito bonito. Sempre fez sucesso com as mulheres. Enquanto ele fazia os passos de dança com um boné virado para trás. (Aonde ele arrumou esse boné?) Minha cunhada gritava feito uma doida, mas sinceramente eu não conseguia prestar atenção na dança dele, porque enquanto o meu irmão dançava, João ficou atrás de mim, com as mãos na minha cintura e se mexendo no ritmo da música. E eu só conseguia sentir o toque dele em mim, me deixando louca com o calor que subia e me deixava molhada... E não era molhada de suor.
Vi que o meu irmão fez um passo como se rastejasse aos pés da Vanessa e arrancou risadas. Miguel pegou a minha cunhada pela mão e a trouxe até o meu lado e chamou o João para a roda, que aceitou o desafio.
Meu irmão dançava muito bem, fez um passo em que ficou com uma mão no chão e o corpo todo apoiado nela, passo que arrancou um grito da galera. João dançou também e aí tiramos a prova de que o tempo não deixou com que eles se esquecessem dos passos, no ápice da dança, eles pediram espaço e juntos deram um mortal para trás, levando a galera ao delírio, encerrado a participações deles na roda e fazendo o Dj gritar:
— Senhoras e senhores, isso é a Angels... Surpreendente. — e todos gritaram.
João e Miguel se cumprimentaram com um aperto de mão estalado e seguimos rindo para o bar, meu irmão abraçou a Vanessa e João colocou a mão nas minhas costas, mais uma vez me fazendo estremecer.
— Cara, nós ainda somos fodas. Os melhores! — Meu irmão falou mais uma vez apertando a mão do João e o puxando para um abraço rápido.
— Nem sei há quanto tempo eu não dançava. E faz muito tempo... Que eu não tenho uma noite tão divertida. — disse João.
— Vocês arrasaram. Você nunca me disse que sabia dançar assim, Mi. — Vanessa falou e deu um beijo no meu irmão. — E você, João, também arrasou!
— Ah, é nada! Estamos enferrujados. A gente era muito bom nisso, fala aí, Miguel?
— Nossa, a gente pegava geral, na escola, só porque dançava. — Miguel levou um empurrão da Vanessa e nos fez rir. — Não, eu não, amor, era o João pegava geral.
— Ah, o João pegava? Por que pelo o que me lembro, naquela época ele namorava comigo. — falei e logo me arrependi da demonstração de ciúmes.
João riu e disse me olhando:
— Elas até queriam, mas eu só queria você.
Senti meu rosto corar e tentei mudar de assunto:
— Alguém mais quer uma bebida?
Miguel riu do meu nítido embaraço.
— Não, Mari. Precisamos ir embora. — Vanessa disse.
— Ah que pena! Fiquem mais um pouco, está tão legal.
— Não dá, maninha. Tenho compromisso amanhã, quero dizer... Hoje. Já passamos da meia noite a muito tempo.
— Mas fica, Mari. Eu te levo embora depois, para você não ir dirigindo. — João falou me olhando tão intensamente que não tinha como eu recusar. — É que já terminei o trabalho de hoje, mas gosto de sempre ficar até fechar, aí ficar sozinho não é muito legal. Se você ficar mais um pouco, pelo menos me faz companhia.
— Tudo bem. — concordei. Minha boca obedecendo meu coração, antes que a cabeça pudesse raciocinar o porquê eu não deveria ficar.
Meu irmão e minha cunhada se despediram de nós, já marcando de nos encontrarmos na Angels no próximo final de semana e da próxima vez, com a Isa e o Jean. Eles foram embora sorrindo e nos deixaram com o silêncio assustador que a suas ausências causaram. A banda já tinha voltado a tocar pop rock e a Angels estava mais calma e cantando as músicas junto com o vocalista.
Eu não estava mais aguentando o silêncio entre nós até que João o quebrou, falando muito perto do meu ouvido, para que eu o ouvisse sobre a música alta:
— Adorei que você veio.
Pensei se realmente precisava ele ter falado tão perto e ter arrepiado todos os pelinhos do meu corpo.
— E eu adorei ter vindo.
— Achei que você tinha desistido.
— Desistido? — perguntei.
— Sim. Da nossa amizade, dos passeios...
— Não desisti, só que... É complicado.
— Entendo.
Mais um silêncio.
Ouvi o vocalista da banda anunciar que iria tocar a próxima música especialmente para aqueles que tiveram um primeiro amor inesquecível e todo aplaudiram.
Ouvi o João ao meu lado, soltar um sorriso para o que o vocalista falou e em seguida a música Primeiro amor, da Malta, começou, fazendo o meu coração pular uma batida.
Não perdi as esperanças de te encontrar
Outra vez eu voltei.
Voltei pra te dizer que é impossível te esquecer, eu voltei.
Então olha pra mim diz que vai ficar
Que sente saudade espera a tempestade passar
Que ainda sou seu primeiro amor...
E de novo João foi quem quebrou o silêncio:
— Como você não me ligou... Achei que não queria mais me ver.
Engoli em seco.
— Eu quis, quis muito.
Respirei fundo.
— Podia ter me ligado.
Ele veio para perto de mim e chegou tão perto, que eu estava em pé e fiquei prensada entre ele e o balcão.
— Você também não me ligou. — consegui responder, apesar do meu coração estar batendo tão acelerado, com a proximidade dele, que estava quase saindo pela boca.
— Eu quis... Quis muito. — Ele repetiu o que eu disse frisando o muito e continuou: — mas não quis te atrapalhar. Achei que estivesse ocupada com os preparativos do... — ele fez uma pausa como se o que fosse falar doesse nele. — Casamento.
E aí ao falar, ele pareceu sentir todo o peso da palavra e se afastou de mim.
Primeiro senti um vazio com a distância do seu corpo do meu, depois pensei que ele tinha razão, devíamos nos separar. Olhei para o João que estava apoiado ao balcão, parecia triste e todo o encanto de alguns minutos atrás havia desaparecido. Um abismo se abriu entre nós, só com a menção do que a minha verdadeira vida preparava para mim. Minha vida não era aquela. Minha vida era de uma dondoca que iria se casar com um herdeiro rico.
Droga!
O casamento. Eu ia me casar, não devia estar ali me esfregando com outro homem que não era o meu noivo.
Droga, droga, droga, Mariana!
Senti uma tristeza tomar conta de mim, quando percebi que a alegria e o sentimento de liberdade de minutos atrás não era real.
— Ei, está tudo bem. Desculpa ter me afastado de você? — João se virou para mim novamente chegando bem perto, quando percebeu minha tristeza.
— Tá errado, João!
Eu o parei colocando a mão no seu peito e mantendo o espaço. Ele me olhou entendendo exatamente o que eu estava fazendo e eu continuei a falar:
— Está errado... A gente... Isso... Me desculpa, tenho que ir.
Afastei-me dele e me dirigi ao caixa para pagar o que eu consumi. Não olhei para trás para ver se ele estava vindo, mas quando coloquei o cartão magnético na bancada para a moça pegar, João apareceu atrás de mim e disse para a caixa.
— Esse é meu, Tânia. — A moça assentiu e guardou o cartão. — Vem comigo, Mari.
João pegou a minha mão, me levou até o seu escritório e fui no piloto automático, mas com o coração saltitando por ele pegar na minha mão. Quando chegamos lá, João fechou a porta quando passamos por ela e eu só me perguntava: o que eu estava fazendo ali? Meu coração batendo forte, feliz pelo momento e minha cabeça dizendo para eu sair, mas a única coisa que eu ouvia era o som abafado da banda tocando lá embaixo e da galera cantando.
O que eu estava fazendo?
— Senta aqui. — João me puxou até um sofá que tinha próximo a vidraça. Sentamos um de frente para o outro, ele pegou a minha mão e começou a falar: — Eu sei que está errado, sei que deveria me afastar de você, mas...
— Eu gosto do Breno. — o interrompi. — Gosto muito... Todos esses anos ele foi... muito importante. — João estava de cabeça baixa me ouvindo e vi que ele fechou os olhos e assentiu.
— Tudo bem, Mari.
— João, sei que foi tudo muito confuso e...
— Sim, foi, mas agora o nosso tempo passou. Eu entendo. — ele me interrompeu. — Mas quero pelo menos ser seu amigo nesse pouco tempo que resta, antes que você se case e eu não possa mais ter isso.
Assenti e doeu em mim pensar que todos os sentimentos bons que tinha quando estava com ele, estavam com o tempo contado. Uma lágrima escorreu no meu rosto e ele enxugou.
— Desculpa se sou o culpado delas escorrerem. No seu rosto só queria ver sorrisos. — E aí eu sorri sem jeito.
— João, eu sorri mais com você esses últimos dias, do que sorri nos últimos anos.
Ele sorriu satisfeito e as benditas covinhas da perdição apareceram.
— Eu também. Você sempre me fez bem.
Eu o encarei e tentei me controlar, tentei pensar em diversos motivos para não fazer o que eu estava pensando, mas só me vinham motivos para fazer e então eu fiz... Eu o beijei.
E Deus! Que beijo maravilhoso, que beijo esperado, desejado e com sabor de saudade. Sabor de tempo perdido, de amor revivido, de reencontro e de retorno ao meu lugar.
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