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Isabela


Isabela

Mais um dia.

Ao menos eu e Pietro estávamos bem.

Levantei-me e olhei pela janela do meu quarto pensando o que eu faria do meu dia. Eu podia ir ao cabeleireiro já que a minha sogra tinha dito que meu cabelo estava tão apagadinho. Revirei os olhos ao me lembrar da fala dela. Eu também podia ir ao shopping gastar o dinheiro suado do meu marido e isso o faria feliz, ao contrário da maioria dos maridos, porém, eu não ficaria feliz. Em meio as poucas opções do que eu podia fazer que não atentava contra meu casamento, a única que me fazia feliz e ainda não tinha sido proibida por Pietro, era ir visitar minhas irmãs, então liguei para elas avisando que precisava muito conversar e ambas se dispuseram a me ouvir, depois pedi para que Maísa avisasse ao Othon que em meia hora eu estaria pronta para sair.

Enquanto eu me arrumava fiquei me perguntando com que cara eu olharia para o Othon depois da choradeira da noite anterior.

Que vergonha!

Lembrei-me do seu olhar solidário, olhar que nem mesmo vi o meu marido me destinar, já Othon apenas com o seu silêncio preocupado e parado ao meu lado foi quase como um calmante e eu não sabia como ia encará-lo, mas eu o pediria desculpa de novo.

No horário em que avisei que desceria, abri a porta da frente e o carro já estava lá ligado e me esperando.

⸺ Bom dia ⸺ cumprimentei, quando sentei-me no banco traseiro.

⸺ Bom dia. Para onde vamos?

⸺ Aqui, anotei o endereço para ficar mais fácil para você digitar no GPS. ⸺ Ele virou-se para trás e pegou o pequeno papel da minha mão, anotou a rota no aparelho e em seguida, em silêncio passamos pelo portão da mansão e depressa Othon acelerou para que não fossemos alvo fácil caso alguém estivesse nos esperando sair. Confesso que eu ficava com um pouco de medo quando tinha que sair de casa, mas confiava que com o tempo ficaria claro que tudo não passou de paranoia do meu sogro.

Só o silêncio tomava conta do carro e dessa vez não pedi para colocar música, pois eu precisava falar com ele sobre a noite anterior, claro que eu não o devia explicação, entretanto, seu olhar preocupado quando me viu chorar não saía da minha cabeça, por isso eu me explicaria e defenderia o Pietro caso Othon estivesse pensando que o problema era ele.

⸺ Othon, sobre ontem à noite, preciso dizer que Pietro não é grosseiro daquele jeito, ele só estava muito sobrecarregado e aí eu o deixei irritado e chegamos aquele ponto.

⸺ Você não tem que me dar explicação.

⸺ Sim, eu sei, mas não quero que pense que sou uma descontrolada e que Pietro é um grosso.

⸺ Não se preocupe, eu não sou pago para pensar nada e a vida pessoal dos patrões não me diz respeito. ⸺ Ele tinha uma fala amistosa, como se tentasse realmente me dizer que estava tudo certo.

⸺ Obrigada ⸺ agradeci e fiquei feliz por sua discrição.

Seguimos em silêncio e mais uma vez tanto silêncio me deixava desconfortável e era como se ele pudesse ouvir até a minha respiração no banco de trás do carro, então novamente pedi:

⸺ Pode, por favor, por uma música? Pode ser da sua playlist novamente.

Ele não me respondeu, mas enquanto dirigia eu o vi conectar o celular com o rádio e mais uma vez suas músicas tristes começaram a tocar e me peguei pensando o quanto eu adoraria saber a história dele e descobrir o motivo de ser tão introvertido.

Quando estávamos chegando próximo à casa da minha irmã que ficava em uma área urbana bem movimentada, isso deixou o Othon muito apreensivo e percebi que enquanto dirigia ele olhava muitas vezes pelo retrovisor.

⸺ Isabela, na casa da sua irmã tem como entrar com o carro dentro da residência?

⸺ Sim, tem.

⸺ Tudo bem, você pode ligar para ela e dizer que estamos chegando, para que ela deixe tudo preparado só para entrarmos com o carro, sem que precisemos parar do lado de fora?

⸺ Posso sim.

Peguei meu celular e liguei pedindo para que Pamela fizesse como ele pediu, percebi mais uma vez que quando chegamos perto do portão automático da casa da minha irmã que já estava aberto, Othon dirigiu prestando atenção em tudo e foi parando aos poucos, depois entrou rapidamente portão adentro. Mesmo dentro da garagem e depois que estacionou o carro, ele pediu para que eu esperasse o portão automático se fechar por completo e olhando para todos os lados desceu do carro e parou ao lado da minha porta, só depois que viu que estava tudo sob controle abriu a porta para mim. Eu estava achando aquilo tudo um pouco de exagero, mas se era o trabalho dele eu achava melhor fazer como ele indicava.

⸺ Oi, irmã. Parece que você é a mulher do presidente ⸺ Pamela falou, rindo e vindo me abraçar.

⸺ Estou me sentindo quase como uma. ⸺ Dei um sorriso torto e olhei de lado para o Othon que ainda analisava cada canto.

⸺ Olá ⸺ minha irmã o cumprimentou e ele deu apenas um meneio de cabeça em resposta e moveu os lábios com o que parecia ser um sorriso tímido. Pamela riu e torceu a boca para mim, divertida.

Entramos na casa dela e como sempre a casa da minha irmã estava impecável, ela era arquiteta e tudo tinha um modelo arrojado e moderno. Othon ficou me esperando do lado de fora.

⸺ Que homem mais lindo esse seu segurança! ⸺ Pamela admirou o Othon de dentro da casa, de onde ainda conseguíamos o observar pela parede se vidro.

⸺ Não tinha reparado ⸺ E sinceramente não tinha mesmo, não da maneira como a minha irmã estava colocando, e realmente Othon era bem bonito, com os ombros largos que preenchiam o paletó do terno e os braços pareciam bem fortes. ⸺, mas agora que você falou...

Rimos e eu a perguntei para mudar de assunto:

⸺ E a Nathy não vem?

⸺ Sim, deve estar chegando.

Eu e minhas irmãs sempre fomos muito unidas, estudamos sempre no mesmo colégio e com a diferença de apenas um ano de idade entre nós, foi fácil termos o mesmo círculos de amigos. Eu era a irmã do meio, mas quem nos visse não saberia dizer a nossa ordem de idade, éramos parecidas com cabelos pretos e magras, a diferença era que eu tinha cabelo liso e na altura do ombro, enquanto elas tinham cabelos no meio das costas e ondulados. Acho que eu mantinha meu cabelo curto em sinal de protesto contra a minha sogra. Nossos pais moravam em um sítio e sempre que possível nos visitavam ou íamos até eles.

Pamela foi fazer almoço e quando estávamos na cozinha o telefone tocou e era a Nathalia, minha irmã mais velha, chegando e pedindo para que ela destravasse o portão da frente. De dentro da casa vimos quando ao ouvir o barulho do portão, Othon assumiu uma postura ofensiva e ficou com a mão na arma que levava dentro do paletó, mas relaxou ao ver minha irmã sorridente entrando sozinha e vindo em nossa direção, mas antes de chegar onde estávamos passou por Othon, o cumprimentou e falou admirada quando entrou na sala:

Eiiiii... E aquele gato parado ali fora?

⸺ Meu segurança ⸺ respondi, sem muito entusiasmo.

⸺ Irmã, que homão!

⸺ Para de saliência que você é casada ⸺ a repreendi e ela fez uma careta.

⸺ E eu sou divorciada, posso olhar à vontade ⸺ Pamela se defendeu.

⸺ Pietro deve se garantir muito para deixar a mulher dele o dia todo com um homem tão bonito.

Ri e mudei de assunto sem falar mais de Pietro:

⸺ Como estão as meninas, Nathy? ⸺ perguntei pelas minhas sobrinhas.

⸺ Ótimas e dando trabalho.

⸺ Que bom.

⸺ E o Felipe como está, Pam? ⸺ perguntei pelo meu sobrinho.

⸺ Ótimo, está na escola, disse que vai fazer trabalho com os amigos e só chega à noite. E falando nisso, avisei no escritório que hoje eu tiraria o dia para você. Cancelei tudo assim que me ligou avisando que vinha.

⸺ Eu também estou o dia todo disponível, graças a Deus! ⸺ Nathy falou, feliz por se livrar de trabalhar na revendedora de carros que tinha com o marido e me perguntou a seguir: ⸺ Mas nos conte, como você está?

⸺ Ah, estou bem ⸺ falei, sem muita convicção e sem olhá-las nos olhos.

Humm... Não senti firmeza ⸺ Pamela falou, torcendo a boca e aí sem que elas precisassem perguntar de novo como eu me sentia, comecei a contar, mas ao começar a colocar tudo para fora meus problemas pareciam tão superficiais, não que elas não fossem entender, mas eu não me senti à vontade em contar para elas tudo o que vinha me afligindo, então contei apenas algumas coisas como por exemplo o quanto a minha sogra me irritava e que eu queria ter a minha casa.

Minhas irmãs me aconselharam a falar como eu me sentia com o meu marido e se ele não me desse ouvidos que eu fizesse algo sobre isso, me disseram que o que eu não podia era viver triste para sempre. Aí mesmo não contando tudo acabei me sentindo mais leve e pensei que talvez um dia eu conseguisse contar para elas ou para alguém o quão sufocada eu estava me sentindo, talvez eu até procurasse ajuda profissional.

A hora do almoço chegou e convenci, com muito custo, o Othon a comer conosco, mas comeu apenas depois que já estávamos na sala e já tínhamos saído da mesa. Mesmo enquanto comia na mesa da cozinha ele se mantinha prestando atenção em mim, ele era um ótimo profissional e tão silencioso que as vezes eu até me esquecia que ele estava ali.

Durante a tarde ficamos no quarto da minha irmã e estávamos olhando suas compras da última viagem, mas de tanto falar me deu sede e decidi descer até a cozinha para buscar água. Ao passar pela sala, avistei o Othon na sombra da varanda, em pé e inabalável como sempre, percebi que estava quente e pensei que ele talvez estivesse com sede também, então peguei água para mim e servi um copo de suco para o Othon e fui até onde ele estava:

⸺ Vim te trazer um suco e não adianta dizer que não quer.

Ele me olhou surpreso e falou sem jeito:

⸺ Aceito. ⸺ O entreguei o suco e o convidei:

⸺ Você devia entrar e sentar ali na sala um pouco.

⸺ Estou bem aqui.

⸺ Você não cansa?

Ele abriu um largo sorriso.

⸺ Sim, mas sou treinado para isso e mais uma vez preciso dizer que sou pago para isso também.

Fiquei o observando, pensando em como convencê-lo a entrar e sem achar como, falei:

⸺ Você não vai mesmo se sentar no sofá?

Ele riu.

⸺ Não, estou bem.

⸺ Lá está fresquinho.

⸺ Aqui também está, mas obrigada pela preocupação.

Ok.

Então entrei na casa da minha irmã, peguei uma das banquetas altas dela e levei para o lado de fora onde ele ainda estava parado e me observando, depois peguei outra banqueta e coloquei ao lado da primeira, voltei para dentro e coloquei gelos em um balde para bebidas, uma garrafa com água e coloquei o balde sobre a banqueta.

⸺ Pronto! Agora você pode se sentar e como sei que se sentir sede não vai me pedir, pois parece que você pensa que é o super-homem, então também vou deixar água aqui mesmo sem me pedir.

Ele me olhava e mordia o canto da boca como se tentasse segurar o riso.

⸺ Obrigado, Isabela.

⸺ Que bom que voltei a ser Isabela. Não gosto do dona e nem do senhora. ⸺ Sorrindo o deixei lá fora e voltei para o quarto com as minhas irmãs, mas em uma espiada no meio da tarde, vi que ele estava sentado na banqueta.

Passei a tarde com as minhas irmãs, ri, chorei e na hora de ir embora eu me sentia realmente melhor e as prometi que resolveria tudo e nos veríamos mais vezes, me despedi e as duas cheias de graça se despediram de Othon também, dizendo que foi ótimo passar o dia com ele, que retribuiu o comentário com um sorriso sem jeito e quando o vi sorrir, pensei que realmente ele era bonito como minhas irmãs tinham comentado.

Entramos no carro, Othon deu ré e quando meu olhar cruzou com o seu pelo retrovisor, percebi que ele estava tenso e com isso senti o meu corpo se arrepiar de medo. Ao sair na rua Othon acelerou novamente e saímos depressa sem que nada nos acontecesse, só então respirei aliviada.

No caminho para casa o silêncio estava presente entre nós como sempre e dessa vez ao invés de música eu tentei puxar assunto para conhecer melhor aquele com quem eu passaria mais tempo do que com meu marido.

⸺ Aposto que você ouviu muito das asneiras que eu e minhas irmãs falamos hoje, , Othon?

Vi que ele segurou o riso antes de responder.

⸺ Não.

⸺ Sei que ouviu.

⸺ Um pouco ⸺ disse e abriu um sorriso maior dessa vez e ele parecia diferente do dia anterior, parecia até que gostava de mim como pessoa, enquanto que no dia anterior era nítido que ele não estava nada feliz em me proteger.

⸺ Você quase não sorri. Todo segurança tem que ser sério assim?

Ele riu novamente.

⸺ Sim, faz parte do traje. ⸺ Olha ele estava até fazendo graça.

⸺ Othon, preciso te pedir desculpas por você ter tido que ficar o dia todo parado e me esperando na casa da minha irmã.

Ele não me olhou, mas vi pelo retrovisor ele dar um leve franzir de sobrancelhas.

⸺ É o meu trabalho, não tem que pedir desculpas.

⸺ Sim, mas eu não estou acostumada a ter um segurança só para mim, não sei como me comportar.

⸺ Creio que deva se comportar como sempre e eu tentarei ser invisível, para não lhe causar desconforto, mas acho que é bem difícil.

⸺ Não se preocupe e faça seu trabalho, mas quando quiser descansar fique à vontade, não serei uma carrasca. ⸺ Ficamos em silêncio e eu falei recomeçando a conversa: ⸺ Você deve me achar uma chata desinteressante de acompanhar.

Ele suspirou.

⸺ Sei que você está falando isso pelo o que ouviu ontem, sobre o Jackson falar que eu preferia defender outro membro da família, mas por incrível que pareça você é bem diferente do estereótipo que eu pintei. ⸺ Ele parecia envergonhado ao dizer isso e falou até um tanto sério.

⸺ Sou diferente bom ou ruim?

⸺ Bom, e preciso te pedir desculpas por você ter ouvido o que o Jackson falou, foi muito antiprofissional e desculpa também por eu ter criado um preconceito em relação a você.

Sorri e mudei de assunto me sentindo tímida por sua declaração.

⸺ Tudo bem. Você já defendeu muitas mulheres?

Ele dirigia sério, mas me respondia com sua voz calma.

⸺ Nunca, sempre defendi homens muito ricos, como políticos, juízes, entre outros.

⸺ Alguém que você defendia morreu? ⸺ Me olhou pelo retrovisor.

⸺ Não.

Uffa... Que bom!

Ele riu divertido e ficamos em silêncio. Pensei que depois de conversar com as minhas irmãs eu me sentia outra pessoa, eu estava tranquila e até mesmo feliz. Fui o caminho pensando que quando Pietro chegasse em casa à noite, eu o chamaria para uma conversa séria e nós acertaríamos tudo e olhando pela janela enquanto penava nele, vi uma sorveteria famosa que vendia o sorvete que Pietro mais gostava, então imediatamente falei para o Othon:

⸺ Pode, por favor, parar naquela sorveteria.

⸺ Desculpa, Isabela, mas informei ao seu marido que estávamos saindo da casa da sua irmã e ele pediu para que eu a levasse direto para casa.

Suspirei irritada com essa história de ter que avisar todos os meus passos, a alegria que eu estava sentindo começou a diminuir e eu comecei a me irritar e me sentir uma prisioneira.

⸺ Othon, pare ali naquela vaga, por favor.

⸺ Isabela...

⸺ Pare... por favor ⸺ o interrompi.

Ele pareceu contrariado, mas parou e eu não o esperei descer ou avaliar o perigo, irritada desci do carro atravessei a rua e fui a passos rápidos até a sorveteria. Percebi que Othon vinha andando rapidamente atrás de mim e parecia desconfortável e até mesmo irritado.

Nem tô! O Pietro não queria que eu agisse como uma dondoca? Então naquele momento eu decidi ser a dondoca mimada, que manda e desmanda e faz o que quer.

Comprei um pote de sorvete e a passos rápidos e muito irritada com a situação, voltei para o carro em meio aos pingos de chuva, que começavam a cair das nuvens carregadas que escureciam o céu e nem parecia que mais cedo tinha um céu azul.

Já dentro do carro olhei melhor para cima e percebi que uma tempestade estava se formando e até raios já cortavam o céu. O percurso foi seguindo e Othon e eu não trocamos mais nem uma palavra, entretanto, em um determinado momento, percebi que ele ficou tenso e começou a olhar pelos retrovisores mais do que o de costume.

⸺ Isabela, você está de cinto de segurança?

⸺ Sim ⸺ respondi, em alerta e imaginando que era pelo perigo da pista molhada.

⸺ Acho que estamos sendo seguidos. ⸺ Virei-me para olhar para trás e um carro preto, com vidros também pretos estava logo atrás de nós.

⸺ Consegue ver o último número da placa desse carro preto que está atrás de nós, por favor? ⸺ ele perguntou, calmamente e nem parecia que estávamos sendo seguidos.

⸺ É um 5.

Com isso percebi que Othon acelerou e começou a cortar os carros a nossa frente e virar em avenidas movimentadas que não faziam parte do trajeto. Apertou o botão do celular para iniciar uma chamada e quando atenderam do outro lado da linha ele falou:

⸺ Gerson, verifica para mim ZYB 5445.

Ok. Sim. Logo atrás de mim. Chegaremos em nove minutos... Ok. ⸺ respondeu pausadamente, provavelmente as perguntas que o Gerson fazia.

Logo desligou a ligação e acelerou na maior velocidade que podia em meio a chuva torrencial que começou a cair, em que mal os limpadores do para-brisa davam conta de limpar a água em abundância que caia sobre o vidro da frente. Meu coração estava quase saindo pela boca, batendo tão acelerado que eu achava que ele fosse saltar a qualquer momento. O carro vinha a toda velocidade atrás de nós e eu só rezava para chegar em casa o mais rápido possível e em segurança.

Viramos a esquina que sairia na rua da mansão e logo avistamos os grandes portões de ferro no estilo medieval já abertos, Jackson parado nele e com a arma em punho, sem notá-lo o carro preto que estava logo atrás de nós forçou a passagem e ao emparelhar o carro com o nosso, vimos que nem lado a lado conseguíamos ver o motorista ou se tinha mais de uma pessoa dentro do carro, já que os vidros eram completamente escuros. Quando Othon passou com o carro pelo portão o veículo que nos seguia deu uma rápida parada e acelerou em seguida saindo de pressa, talvez ao perceber Jackson com a arma em punho, e cantou pneus, sumindo rapidamente em meio a chuva.

Othon estacionou o carro em frente à porta da mansão e me perguntou:

⸺ Você está bem? ⸺ Apenas assenti e eu não conseguia falar e nem me mover. ⸺ Tem certeza que está bem? ⸺ Balancei a cabeça em positivo, mas eu estava tremendo.

Então ele desceu do carro, veio até o meu lado e parecia inabalável, não parecia nervoso ou com medo, apenas parecia preocupado. Mesmo na chuva Othon abriu a minha porta, tirou o paletó para me proteger dos pingos que caiam e estendeu a mão para que eu tivesse coragem para sair do carro, a peguei apenas como apoio para me levantar e correndo em meio a chuva, subi os poucos degraus da escada que dava para a entrada da casa, com meu segurança ao meu lado e me protegendo.

Assim que entrei na sala fui direto para o sofá e sentei-me nele, me sentia trêmula e era melhor eu me sentar para não fazer uma cena, afinal, eu nunca havia passado por tamanha adrenalina. Logo depois que me acomodei Othon foi depressa até a cozinha, pegou um copo com água para mim e quando ele voltava já falando no celular com quem parecia ser com o Gerson, Maísa apareceu perguntando preocupada:

⸺ O que está acontecendo? Qual o motivo de toda essa movimentação? ⸺ Eu ia responder, mas Othon me entregou a água e a falou:

⸺ Houve um carro nos seguindo. Por favor, Maísa, você pode ligar para os seguranças da noite e avisar que o Gerson pediu que eles compareçam para uma reunião o mais rápido possível? ⸺ Ela assentiu e saiu assustada até o telefone.

Em um movimento que eu nunca esperaria, Othon se abaixou na mesma altura que eu e agachado sobre uma perna falou:

⸺ Sua cor está voltando, você estava pálida. Está se sentindo melhor? ⸺ Assenti. ⸺ Aquele filho da mãe conseguiu te assustar.

⸺ Quando foi que você notou que ele estava nos seguindo?

⸺ Quando você parou na sorveteria, logo notei que o carro que andava atrás de nós parou bruscamente e também estacionou quando percebeu que estávamos parando, mas ninguém desceu dele depois disso, aí saímos da sorveteria e percebi que o carro também seguiu logo atrás de nós e começou a fazer exatamente as mesmas trocas de pistas e o mesmo caminho que fazíamos, aí fiquei ainda mais atento.

⸺ A pessoa que nos seguiu podia ter me pegado na sorveteria ⸺ constatei, com o olhar parado e pela primeira vez consegui sentir que a ameaça que o meu sogro dizia existir realmente era verdadeira.

⸺ Sim, mas não se culpe por ter parado, você não tem culpa, o maníaco é ele.

Assenti e então comecei a chorar pensando que coloquei a minha vida em risco e também a do Othon.

⸺ Ei, fica calma, já passou. ⸺ Ele pegou a minha mão e percebi o quanto ele era protetor e carinhoso não pelo trabalho, mas como ser humano. ⸺ Eu estava com você para te proteger.

O olhei e para aliviar a tensão perguntei rindo entre as lágrimas:

⸺ Você tomaria um tiro por mim?

⸺ Sim, afinal, sou pago para isso. ⸺ Ele sorriu e eu sorri também. ⸺ Se sente melhor?

⸺ Sim, muito obrigada. ⸺ Só então depois de se certificar de que eu estava realmente bem, Othon se levantou.

Alguns minutos se passaram, vi Othon e o Jackson conversando e depois ele no telefone gesticulando como se contasse tudo que aconteceu para alguém do outro lado da linha, provavelmente meu marido.

Algum tempo depois Pietro e seu Bernardo entraram pela porta da sala, acompanhados por Ricardo, nervosos e eufóricos e avisaram que Gerson estava vindo em outro carro para a tal reunião da segurança que ele tinha pedido, minha sogra também já tinha descido do seu quarto e estava ao meu lado fazendo todo drama imaginável. Pietro veio andando até mim e perguntou:

⸺ Você está bem?

⸺ Sim, só foi o choque inicial de ver a ameaça se tornar real.

⸺ Você foi tão imprudente! ⸺ ele chamou minha atenção na frente de todos e eu fiquei sem reação. Além da família, todos os empregados e seguranças estavam na sala, até mesmo os seguranças da noite. ⸺ Parar para comprar sorvete, Isabela? Quando eu mandei você vir direto para casa. ⸺ Olhei para o Othon com raiva por ele ter contado todos os detalhes do que aconteceu ao meu marido, mas logo entendi que era o trabalho dele, enquanto ele se manteve olhando para frente e não me olhou.

⸺ Agora você entende que é mesmo necessário tudo isso, Isabela? ⸺ seu Bernardo perguntou.

Assenti, cheia de culpa e vergonha por estar todos ali me olhando.

⸺ Eu já perguntei para ela o porquê de parar na sorveteria. Podia ter pedido para algum empregado comprar depois ⸺ dona Nice falou, irritada comigo.

Sem reação eu não acreditava que eles estavam me culpando por aquilo e antes que eu pudesse pensar em uma resposta, Pietro tirou a atenção de mim e se voltou aos seguranças.

⸺ A partir de hoje quero segurança redobrada na casa. Vou contratar mais homens para ficar no portão e a entrada de pessoas que não trabalham aqui ainda está suspensa e só será aceita depois que o Gerson aprovar. Peço que todos fiquem atentos a movimentos suspeitos e caso percebam algo, entrem em contato rapidamente com algum dos seguranças e os membros da família, por favor, não se coloquem em perigo desnecessário. ⸺ Pietro me olhou e eu abaixei a cabeça envergonhada e me sentindo humilhada.

Como ele nem sequer podia pensar como eu estava me sentindo?

Posso ter errado, mas eu estava assustada e ele nem se importava.

Levantei-me do sofá, passei por entre todos e sem que eu pudesse evitar meu olhar cruzou com o do Othon que estava próximo da escada e me olhou sem expressão. Rapidamente olhei para a frente e subi para o meu quarto. Eu estava com muita raiva do Pietro e ficava me perguntando o motivo de ele andar tão insensível, não se parecia em nada com o homem carinhoso com quem eu me casei. Fiquei andando de um lado para o outro no quarto, esperando o momento em que meu marido ia entrar pela porta eu o cobraria exatamente por tudo que estava deixando a desejar nos últimos tempos. Lá fora a chuva caía como um dilúvio e relâmpagos cortavam o céu e clareavam a escuridão que já tinha se formado pela noite que tinha caído. Eu estava estralando os dedos irritantemente quando a porta do quarto se abriu e Pietro já entrou falando:

⸺ Olha, você se superou, não acredito que você se colocou em perigo por causa de um sorvete. Que idiotice, Isabela! ⸺ Ele começou a afrouxar a gravata e eu o encarei irritada.

⸺ Você é inacreditável!

⸺ Eu? A sua única responsabilidade é se manter viva e você falha se colocando em risco ⸺ continuou com as críticas em relação a mim. ⸺ Você não faz nada, custa se manter segura e não me deixar com mais preocupações?

⸺ Sim, é a minha única responsabilidade, porque eu larguei tudo que eu amava para tentar te fazer feliz, larguei meu trabalho, minhas amigas, meus projetos sociais e você nem consegue perceber que eu não me coloquei em risco por um sorvete e sim para tentar te agradar. E eu não faço nada, porque você não deixa ⸺ gritei.

⸺ Não sabia que você estava tão descontente assim ⸺ falou com desdém, colocando as mãos na cintura e me encarando.

⸺ Não sabia, porque não faz a mínima questão de prestar atenção em mim e só faz tudo que seus pais e a sua maldita empresa querem ⸺ gritei, ainda mais irritada e limpei as lágrimas que caiam.

⸺ Eu faço tudo o que você quer também.

⸺ Não, você não me dá filhos.

⸺ Lá vem você com essa história de novo. Não é o momento. ⸺ Ele parecia tão impaciente e insensível, que eu ficava mais irritada com o seu jeito de falar.

⸺ E quando será?

⸺ Quando eu quiser e agora eu não quero! ⸺ Pietro gritou completamente dono de si e eu me calei. ⸺ Na verdade, eu nunca quis.

Sua fala doeu em mim e me machucou profundamente, ainda mais do que eu estava machucada e aí uma ideia que até então eu não havia pensado passou por minha cabeça e eu o perguntei:

⸺ Você tem outra mulher?

Ele arregalou os olhos e irritado pegou o celular de cima da cama.

⸺ Não vou te responder essa pergunta idiota. Vou sair e não me espere. ⸺ Com isso saiu batendo a porta com força e me deixou chorando no quarto como se meus sentimentos não fossem nada.

Chorei por sei lá quanto tempo e pensei que aquele homem que não se importava com o que eu sentia não era o meu marido, pensei que até o Othon se importou mais com o que eu sentia do que ele e quando pensei no jeito com que Othon me tratou senti meu coração se aquecer, minha autopreservação voltar e enxuguei as lágrimas, decidi que quem sairia seria eu. Eu merecia ser amada ou ao menos ser tratada com respeito, eu quis conversar e ele preferiu sair, sendo assim, daquele momento em diante eu decidi que ele que me procurasse se sentisse minha falta.

Andando de um lado para o outro eu tentava arquitetar um plano, fiquei por alguns minutos pensando para onde ir, até que eu tive uma ideia e fui me preparar para ela. Tomei um banho, coloquei um conjunto de moletom, um tênis e decidi que eu faria um retiro e para isso eu precisava ficar confortável. Juntei duas bolsas pequenas que estavam no meu closet e uma enchi com alguns produtos de higiene pessoal, roupas, alguns livros, meu pen drive com shows e clipes que eu gostava de assistir, algumas coisas que fui achando pela frente e pensei que talvez fossem úteis caso eu passasse alguns dias fora. Desci com a bolsa em silêncio para não chamar atenção dos meus sogros, que dormiam em um quarto no fim do grande corredor e cheio de cômodos naquela casa enorme. Deixei a bolsa com as minhas coisas no porta-malas do meu carro e fui até a dispensa com a outra bolsa que enchi de comida. Coloquei congelados, enlatados, macarrão instantâneo, legumes e várias outras coisas que fui achando dentro da dispensa. Fazia tanto tempo que eu não mexia com alimentos que aquilo estava me animando e eu estava me sentindo aventureira.

Com a outra bolsa cheia de alimentos que daria para uma família comer por um mês, fui andando com dificuldade por causa do peso e também a coloquei no porta-malas do meu carro. Eu já tinha em mente para onde eu iria e eu precisava pegar a chave no escritório, então fui até o armário onde guardávamos as chaves das casas e carros que eram de posse da família e lá achei a chave que ainda tinha um pinheiro como chaveiro e foi o presente que o meu sogro me deu no nosso primeiro aniversário de casamento: um chalé na região montanhosa do estado, onde no inverno era muito visitado pela fama de ser bem propício para aproveitar o frio, era um lugar calmo e os vizinhos eram distantes, então ninguém contaria para o meu marido onde eu estava.

Voltei com a chave na mão e sentindo a adrenalina me dar coragem para concluir o plano, fiz novamente o caminho até a garagem e enquanto andava pensava que pela primeira vez eu me vi feliz em ver aquela casa tão silenciosa e vazia, entretanto, quando fui atravessar a cozinha novamente para chegar até a garagem, não percebi o segurança da noite entrando e dei de cara com ele.

⸺ Ai que susto! ⸺ falei, com a mão no peito.

⸺ Desculpa. ⸺ Ele sorriu e então perguntou: ⸺ Vai sair, Isabela?

⸺ Sim.

⸺ Só um minuto que te acompanho.

⸺ Não precisa. ⸺ Ele pareceu em dúvida e preocupado e eu me apressei em acalmá-lo ⸺ Não se preocupe, que se meu marido pode sair sozinho e nada acontece a ele, eu também posso e nada vai me acontecer.

⸺ Mas e sobre o cuidado redobrado?

⸺ Não se preocupe ⸺ dito isso, passei pelo segurança e fui a passos rápidos até a garagem.

O salão da garagem era ocupado por vários carros de luxo e o meu era o menos luxuoso deles, com isso me lembrei de quando escolhi esse carro e fui recriminada por Pietro por isso. Eu era uma mulher simples e o luxo nunca me chamou atenção, me casei com o Pietro por amor e ao pensar nisso eu quase desisti da minha fuga e pensei em ligar para ele para conversarmos, porém, me lembrei que ele não quis conversar e que Pietro tinha que pensar que podia me perder para quem sabe assim, ele me dar mais valor.

Dei ré no carro e saí com ele da garagem, já observando pelo retrovisor que os seguranças estavam sem saber o que fazer, mas eles não iam me proibir de sair, já que eu não era uma prisioneira e Pietro e Gerson não estavam ali para os dizer o que fazer. Segui com o carro pelo caminho arborizado que dava para o portão e ao encarar a chuva que caía e a escuridão da noite, me lembrei da perseguição de mais cedo, do medo que passei e das ameaças, então parei e de novo me veio a vontade de desistir.

Fiquei parada pensando se ia ou ficava, eu sabia que tinha que decidir logo e que os seguranças com certeza já estavam avisando ao meu marido sobre a minha fuga, então eu tinha pouco tempo, sendo assim criei coragem e pensei que se o Pietro que era o figurão da empresa podia sair e não sentir medo, por que eu tinha que sentir?

Me sentindo muito corajosa acionei o botão que abria o portão principal da casa e depressa saí para a rua com um frio na barriga de medo e com a adrenalina falando mais alto, entretanto, depois que saí olhei pelo retrovisor e vi passando pelo portão da mansão uma moto vindo a toda velocidade atrás de mim. 

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