Capítulo 12
Têm pessoas que são mais "presente" que qualquer objeto que ela possa dar.
Capítulo doze
Eu tinha que ir ao cabeleireiro ou minha sogra faria o possível para infernizar a minha noite e torná-la ainda mais intragável me comparando a cada mulher no bendito baile, mencionando o quanto cada uma era melhor do que eu.
Era o dia do tal baile no Clube que eu não estava com a mínima vontade de ir, mas eu não conseguia falar não e eu preferi ir a um lugar que eu não queria a fazer o Pietro passar vergonha de ir sozinho, entretanto, prometi para mim mesma que quando voltássemos do baile eu conversaria com ele e colocaria um fim no nosso casamento. Passei a noite em claro pensando e sobre a parte financeira, mesmo sem falar com as minhas irmãs eu sabia que elas me ajudariam com o que fosse do alcance delas.
Doía pensar na separação, pois mesmo eu amando o Othon, eu fiz planos com Pietro e me dava uma tristeza por ver tudo ruir, foram tantos anos juntos que eu estava até mesmo me sentindo culpada por deixá-lo e de maneira tão leviana, o trocando por outro, pelo segurança que ele contratou para me proteger e só de pensar nisso eu já imaginava o escândalo que seria, mas o meu amor por Othon foi de repente e eu não podia mais viver daquela forma: presa, podada e traindo meu marido, então a separação era o caminho.
Mesmo Pietro me depreciando de várias maneiras, eu não sentia raiva dele e até por várias vezes pensei se não era mesmo tudo culpa minha, que não fazia com que ele se orgulhasse de mim e não me arrumava como a sua mãe pedia. Também, às vezes, pensava que ele estava agindo assim, pois estava se sentindo pressionado com as malditas ameaças e aí a culpa batia por eu ter que lançar mais uma bomba em cima dele.
Apesar da bagunça de sentimentos, de sim e não, de medo e indecisão que eu estava, o que eu não conseguia parar de pensar era que eu estaria sozinha novamente com o Othon dois dias depois de tê-lo beijado na dispensa. Eu não tinha saído com ele no dia anterior, pois não achei nem uma desculpa para sair de casa e Pietro havia colocado inúmeros obstáculos para isso, na verdade, desde que eu voltei do chalé ele começou a embarreirar as minhas saídas e não era mais só os projetos sociais que ele não queria que eu frequentasse, mas também qualquer lugar que eu dissesse que ia imediatamente ele colocava empecilho para que eu não fosse.
No dia anterior, para matar a saudade eu apenas fui até a cozinha e troquei alguns olhares sorrateiros com o Othon e percebi que enquanto ambos conversávamos com a Selma ela notava o quanto ele estava mais solto e risonho e por diversas vezes durante a conversa a notei franzir o cenho em meio a sorrisos desconfiados, entretanto, apesar da vontade de estarmos juntos, evitávamos, pois era muito estranho flertar com ele ali na mansão e Othon era tão certinho que eu notava o quanto ele se sentia pior que eu com aquela situação e talvez por isso, ficasse mais tempo na vigilância da casa do que perto de mim, claramente evitando a minha companhia e me pôr em risco.
Chegou a hora de ir para o salão me arrumar para o tal baile, assim sendo, desci as escadas para chegar à sala, ansiosa para ir até a cozinha avisar ao Othon que sairíamos em breve, mas antes de continuar o meu caminho, fui freada pela minha cobra, digo sogra.
— Vai sair? — ela perguntou assim que me viu.
— Bom dia, dona Nice. Vou sair sim, tenho hora marcada no salão. Bom dia, Maísa. — cumprimentei a secretária que estava ao lado da minha sogra com a sua agenda aberta e provavelmente estava ali há horas anotando mandos e desmandos que dona Nice criava.
— Bom dia, Isa. — Maísa respondeu e dona Nice a encarou e arqueou uma sobrancelha, como se a perguntasse que intimidade era aquela de me chamar por um apelido, então no mesmo segundo Maísa mudou. — Isabela.
Sorriu sem jeito.
— Pode me chamar de Isa mesmo, tá, Má? — chamei Maísa também por apelido e ela nitidamente conteve um sorriso, enquanto minha sogra me olhou com aparente raiva e disse mudando de assunto:
— Ah, que bom! Acho realmente bom você ir ao salão, Pietro precisa muito de você bem linda ao lado dele hoje e você anda tão descuidada consigo mesma. — Ela esticou o pescoço como se para avaliar meu cabelo — Já era apagadinha, mas depois daquele episódio no chalé, parece que voltou mais apagada do que nunca.
— Sim, e a senhora fez questão de dizer isso ao Pietro, não é?
— Comentei com ele por alto, mas foi para o seu bem, minha querida. Você precisa se cuidar.
Veio até mim e colocou a mão no meu ombro.
— Para ficar à altura do meu filho você precisa de muito salão de beleza, digo, para ficar ainda mais linda.
Contive a vontade de xingá-la e mudei de assunto:
— Bom, eu vou indo avisar ao Othon que vou sair para ele se preparar, se não chego atrasada.
Ela torceu a boca em evidente desagrado.
— Por que não manda a secretária avisar? — Apontou para a Maísa, coitada, querendo arrumar mais funções para ela. — Com isso ele te esperaria na porta da frente com o carro, como deve ser.
— Acho mais prático já entrar com ele na garagem.
Ela soprou impaciente e irritada.
— Isso realmente não é algo que a esposa do dono da Mineradora Fontenelle deveria fazer, mas... — Não terminou a frase e ergueu levemente as mãos como se rendesse.
Olhei para a Maísa e ela apertou os lábios como se não soubesse como reagir, mas eu sabia que naquele momento ela devia estar com o mesmo pensamento que eu e devia estar pensando o quanto a minha sogra era esnobe.
— Acho que vou com você — falou, mudando de assunto e provavelmente deu para ver no meu olhar a minha surpresa e também que ela não era bem-vinda.
Como eu conversaria com o Othon com ela junto?
Imediatamente inventei uma desculpa para que ela não fosse.
— Olha, acho que a senhora não vai conseguir vaga no salão assim tão em cima da hora, além do mais, vou fazer depilação também e sobrancelhas... unhas e... Drenagem. A senhora vai ficar cansada de esperar e também é muito mais seguro, se a senhora realmente quiser ir, cada uma de nós irmos em um carro, cada uma com o seu segurança.
Maísa parecia segurar o riso.
Dona Nice pareceu pensar, em seguida fez uma careta e disse:
— Tem razão, detesto esperar e vou com o... Nunca lembro o nome daquele rapaz. Enfim, vou com o meu segurança.
— Ótimo, então vou indo e vejo a senhora mais tarde, quando estivermos indo para o baile.
Ela torceu a boca, mais uma vez incomodada com o que eu disse. Minha sogra se desagradava tanto e com tudo, que já parecia ter a careta de desagrado pregada em seu rosto, mesmo os seus sorrisos não pareciam genuínos, sempre pareciam estar mascarando o seu mau-humor.
— Vou para o baile apenas com o Bernardo, vamos mais cedo, porque você sempre acaba atrasando o Pietro e quero chegar cedo. — Claro, que sou eu que atraso o Pietro. Quase revirei os olhos, mas em todos esses anos eu tinha aprendido a virar praticamente um monge e conseguia relevar e disfarçar o meu desagrado aos comentários amargos e provocativos dela.
— Combinado, então nos vemos no baile.
Não dei tempo dela responder ou dizer mais algum dos seus desaforos, saí da sala, mas antes sem que a minha sogra pudesse ver dei um pequeno revirar de olhos para a Maísa que retribuiu com um sorriso solidário, depois fui andando sentido à cozinha. Ao chegar lá, logo avistei Selma que estava organizando tudo para começar a fazer o almoço com a sua ajudante Fátima. Até me deu vontade de não ir ao salão coisa nenhuma e ficar ali cozinhando com elas.
— Bom dia, meninas — as cumprimentei, com alegria. Tínhamos tantos funcionários na mansão e eu tentava ser simpática e amiga de todos.
— Bom dia — responderam em uníssono e com sorrisos nos lábios.
— Parece que acordou de bom humor hoje, Isabela. — Fátima comentou, enquanto guardava as louças.
— Espero que hoje seja um dia decisivo na minha vida. — Elas me olharam sem entender e as encarei de volta com saudade. Nem tinha conversado com o Pietro ainda e já me sentia triste por não ter mais as conversas com as duas, Selma mais que Fátima, mas sentiria falta de todos os funcionários que muitas vezes foram mais gentis comigo que meus sogros e marido. Pensei que eu daria um jeito de vê-las e conversar com elas, o que eu não podia mais era continuar desperdiçando a minha vida naquela casa apagada e sem vida. Sem contar que além de estar jogando fora a minha vida eu também faria com que Pietro também jogasse a dele.
Eu precisava de luz e Othon era a luz na minha escuridão.
Iluminando o ambiente Othon entrou na cozinha e quando me viu parou involuntariamente, mas sorriu discretamente.
— Bom dia, Othon. Podemos sair o mais rápido possível? Estou quase atrasada.
— Bom dia, sim, quando quiser. — Me olhou já recuperado, sério como sempre e sem nada que entregasse o Othon apaixonado que havia me prendido na dispensa há dois dias.
— Não querem tomar café? — Fátima me perguntou.
— Não, eu tomei um suco mais cedo e não estou com fome, qualquer coisa tomo um café no caminho ou almoço.
— Não, obrigado — Othon agradeceu, com poucas palavras.
— Podemos ir, Othon?
— Sim — falou, com as mão para trás e ele era tão lindo que eu quase suspirava só de olhá-lo.
Levantei-me e me despedi de Fátima e Selma que me encaravam de forma diferente, como se me investigassem, talvez estivessem estranhando o sorriso enorme que surgiu no meu rosto no momento em que coloquei meus olhos no Othon.
Saímos da mansão, eu no banco de trás do carro e assim que nos distanciamos e Othon viu que estávamos seguros, ele ligou o rádio e uma música romântica da década de oitenta começou a tocar e preencheu o carro fazendo um sorriso tomar meu rosto.
— Nossa, há muito tempo eu não ouvia esta música. — Ele não me olhou, mas pelo retrovisor vi quando abriu um sorriso.
— Ouvi ontem e procurei a tradução. A letra fala sobre um cara que diz que onde quer que a mulher que ele ama vá ou o que quer que faça, ele sempre estará esperando por ela, diz que o que quer que aconteça e ainda que machuque seu coração ainda sim estará esperando por ela.
Engoli o caroço que se formou na minha garganta e pisquei para não chorar parecendo uma idiota.
— Que lindo! — Suspirei. — Qual o nome da música, só para eu ouvir milhares de vezes quando eu estiver sozinha e me lembrar do que você disse.
Ele sorriu olhando para a estrada.
.
— Parece música que pessoas apaixonadas escutam.
Ele me olhou pelo retrovisor e abriu um largo sorriso.
— Tenho certeza de que é.
Passei horas hidratando o cabelo, cortei as pontas e os cacheei, fiz depilação, fiz as unhas e como já era final de tarde aproveitei e fiz a maquiagem também para já ficar pronta para a noite.
Almocei no salão de beleza que ficava dentro de um shopping e depois de eu muito insistir, Othon aceitou ir almoçar também, mas antes disso, o vi no celular conversando por muitos minutos como se negociasse algo, em seguida o segurança do shopping apareceu, o cumprimentou e percebi que a negociação era para o segurança ficar ali de olho em mim e com isso me lembrei que devia ser ordens do meu marido e isso era um dos vários benefícios, mandos, desmandos e pessoas que o dinheiro podia comprar. Apesar da presença do segurança do shopping, não demorou nada e Othon estava de volta e com um meneio discreto de cabeça me cumprimentou me dizendo que estava de volta para mim.
De onde eu estava conseguia enxergá-lo e de vez em quando, mesmo de longe, o via falando pelo microfone que levava no paletó, por onde se comunicava com os outros seguranças e, às vezes, eu o via colocar a mão na orelha para pressionar o fone no seu ouvido e o seu olhar sério era tão sexy que eu tinha vontade de sair lá fora e o agarrar.
Horas depois eu estava pronta, só faltava a roupa e eu estava me sentindo linda. Tinha certeza que até a minha sogra quando me visse acharia o mesmo. Acertei o que eu devia e fui andando em direção ao Othon que estava de costas para a entrada.
— Vamos? — o perguntei.
Ele me olhou e quase sem mexer a boca para as pessoas dentro do salão não ouvirem, disse:
— Você está linda.
— Obrigada — agradeci, sem jeito.
Fomos para o carro e assim que saímos do estacionamento do shopping, o alaranjado do sol se pondo coloria a estrada por onde passávamos. Percebi que Othon pegou outro caminho e imediatamente perguntei:
— Algum problema?
— Não — respondeu, com um olhar tranquilo e me olhando pelo retrovisor.
Com isso me acalmou e continuou dirigindo até que nos levou a um mirante onde ao longe se via o sol se pondo no horizonte. Estacionou o carro e sem entender nada o ouvi falar com alguém pelo celular:
— É rápido, eu juro... Não vai acontecer nada... Fica frio.
Com isso Othon desceu e enquanto ia até a minha porta, varreu todo o local com o olhar, como se procurasse algo que pudesse nos pôr em risco e quando viu que estávamos seguros, abriu a porta do carro, estendeu a mão para que eu descesse e ficasse de pé bem de frente para ele. No automático fui fazendo tudo o que ele estava me sugerindo, mesmo sem entender, pois eu confiava tanto nele, que me entregava.
— O que está acontecendo? — enfim perguntei, quando Othon fechou a porta do carro atrás de mim e eu me encostei a ela.
Meio envergonhado e após olhar mais uma vez e rapidamente em volta, Othon deu um passo em minha direção, ficando muito perto do meu corpo e me respondeu:
— Hoje faz um mês que nos conhecemos.
Ergui a sobrancelha em surpresa e rapidamente pensei que dia era, voltei no tempo e com um sorriso confirmei que realmente era a data certa, com isso ele continuou a falar:
— Sei que tudo aconteceu tão rápido que parece que faz muito mais... e eu nunca comecei a amar alguém tão rápido. — Ele riu sem jeito. — Esse um mês para mim foi tão intenso, revelador e... transformador. Isa, gostaria de te agradecer por ter fugido aquela noite e isso ter nos aproximado.
— Tenho certeza que mesmo que eu não tivesse fugido, isso teria acontecido.
— Tenho certeza também.
Othon tirou de dentro do bolso do paletó uma caixinha pequena, que tinha um laço dourado e me entregou.
— Feliz um mês que nos conhecemos.
Sem saber o que dizer e me sentindo ansiosa, com um sorriso no rosto peguei a caixinha, abri o pequeno embrulho e de dentro tirei uma pulseira delicada e dourada e pendurado nela tinha um pingente em formato de âncora.
— Âncora? — perguntei.
— Sim, não sei se você sabe, mas... — Ele parecia envergonhado. — âncora significa segurança, apoio, proteção e... Depois que te conheci, por mais que eu que seja seu segurança foi em você que eu achei tudo isso nos dias no chalé. Depois de tanto tempo sozinho, foi em você que encontrei confiança para me abrir novamente para o mundo.
Eu ergui a pulseira e a olhei de perto, era tão linda e todo o gesto era de uma delicadeza e atenção que eu não estava acostumada a receber, tanto que eu estava emocionada e pisquei para não chorar. Respirei e fechei meus olhos, depois de engolir o caroço na minha garganta, com a voz embargada falei:
— Obrigada, você não sabe o quanto esse... isso tudo... tem significado para mim.
Funguei e fechei meus olhos novamente, tentando controlar as emoções.
— Me ajuda a colocar? — perguntei e depois que ele a prendeu no meu pulso, falou envergonhado:
— É simples e sei que não chega nem perto das joias que você deve ter e...
— Acredite, nenhuma delas tem o valor que esta aqui tem.
Ele sorriu, com seu bendito sorriso lindo que fechava os olhos e o deixava parecendo um menino.
— Isa, sei que prometi não fazer mais isso, mas eu estou com muita vontade de te beijar.
E aí eu puxei o rosto dele com as mãos e o beijei.
Suas mãos foram ao meu pescoço e escorregaram para a minha nuca, me puxando cada vez mais para ele, seu corpo prensou o meu contra o carro e o beijo dele foi delicioso e quente. Era difícil me separar enquanto sentia seu corpo tão perto do meu e os seus lábios tão macios me beijando no mesmo momento que suas mãos sem embrenhavam em meu cabelo e com os dedos se enrolando nos fios, me puxando para perto e me deixando sem ar.
Nos separamos do beijo como se quiséssemos continuar, ele encostou sua testa na minha e de olhos fechados ficou em silêncio, como se aproveitasse o momento e a realidade o atingisse, então para que a tristeza não nos afastasse falei para descontrair:
— Meu cabelo deve estar acabado depois de você me beijar com tanto fervor.
Ele riu e o observei ficar ainda de olhos fechados, depois passando levemente seu rosto no meu, disse:
— Desculpa, não queria estragar seu cabelo depois de tantas horas no cabelereiro, mas em minha defesa, nem precisava, você é linda do jeito que é.
Othon era a pessoa mais linda que eu já tinha conhecido e era inevitável e impossível não o amar.
— Não se preocupe, eu o estragaria quantas vezes fosse necessário, principalmente depois de ouvir você me dizer que estava com muita vontade de me beijar. É inevitável, na verdade.
Ele tinha um sorriso faceiro no rosto, mas o sorriso se apagou depois que ele olhou em volta e falou:
— Precisamos ir ou logo estranharão a sua demora e sentirão nossa falta. — Nisso ele olhou para a parte alta da estrada e rodou o dedo para cima. Quando olhei para a direção em que ele olhava, vi Ricardo parado na estrada, encostado ao carro e com os braços cruzados na frente do corpo.
Othon notando que eu estava com olhar surpreso ou talvez com um olhar assustado e preocupado com uma possível delação, ele me disse, sério:
— Ele está nos dando cobertura. Não se preocupe, Ricardo é meu amigo, sabe de tudo e não vai contar nada ao seu marido, até que você queira contar ou não.
Nisso me deu um beijo na testa e abriu a porta do carro indicando com o olhar que eu entrasse, entretanto, mesmo ele tentando disfarçar, enquanto olhava ao redor com o seu modo segurança sempre ativado, notei que a sua leveza e alegria de minutos atrás tinham ido embora e acabei nem contando a ele que naquele dia eu acertaria tudo com o Pietro.
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