Capítulo 9
Capítulo nove
— Você e Mateus se beijaram?
— Fala baixo, Sheila! — Estávamos em meu quarto e minha irmã não conseguia parar de sorrir.
— Ah, esse é meu momento! Eu torci tanto para isso e sabia que ia acontecer.
Franzi a testa para ela.
— Você torceu?
— Irmã, Mateus sempre foi louco por você. Me lembro quando a gente era criança e ele ficava bravo quando eu falava isso.
Ela riu e eu ri da sua alegria.
— Deixa de ser besta.
— E aí, vocês vão ficar mais vezes?
Parei de sorrir.
— Não.
— O quê? Como não? Vocês são perfeitos juntos.
— Não é justo com ele.
— Como assim, Liara?
— Eu estou doente, não posso levar uma vida normal tendo esse maldito câncer e ele não merece ser meu enfermeiro, além de que, nem sei se vou viver ou morrer.
— Nunca ouvi tanta besteira. — Minha irmã levantou da cama e andou pelo quarto.
— Não é besteira, é a realidade. A minha realidade.
— Ponto um, você não vai morrer e se morrer pelo menos aproveitou daquele corpinho gostoso.
Revirei os olhos para ela.
— Vai falar que não é gostoso.
— Sim, uma delícia.
— Então. Ponto dois, se ele se afastar com o tempo, o que eu acho que não vai acontecer, você chama o próximo, porque Deus mandou amar o próximo.
Ri.
— Mas esse é o ponto, Mateus não é o tipo que se afasta e não quero obrigá-lo a cuidar de mim e quando a excitação passar e ele quiser me deixar ele não vai fazer isso por que ele é bom demais para me abandonar eu estando doente.
— A excitação não vai passar, porque não é só isso e ele já está cuidando de você e tenho certeza que vai ser muito mais prazeroso se ele fizer isso como namorado.
— Aí está outro ponto, Sheila, não sei se consigo ter relações sexuais, às vezes um simples toque em mim é horrível, a quimioterapia faz com que eu sinta dores nas partes íntimas, além de que, quase nunca tenho ânimo para nada, meus pés e mãos formigam e eu fico irritada com frequência. Quem vai aguentar levar um namoro assim? Com uma doente.
— O Mateus vai.
— Não! Porque eu não vou aguentar se ele achar no futuro que eu sou um fardo pesado demais para ele carregar e fazer como meu último namorado que me deixou.
— O Mateus não é assim e ele nunca te deixaria e você mesma acabou de dizer isso. Viu está se contradizendo. Acho que você está é adiando sua felicidade.
— Aiiii... Não sei, estou confusa e como falei, não quero que ele fique comigo por pena ou por se sentir com a consciência pesada em me deixar. Eu quero que ele fique comigo apenas por que gosta de mim.
Minha irmã me olhou e parecia entender perfeitamente o que eu estava passando e todas as minhas dúvidas e receios, mas não admitiu e só torceu a boca e riu amenizando de assunto:
— Então ele conseguiu te conquistar?
— Como não conquistaria você viu aqueles braços?
Rimos do meu comentário superficial e completei:
— Brincadeira, estou gostando dele por todo o cuidado e carinho com que ele me trata, acho que foi o que fez com que eu transformasse a amizade que eu sentia em... em amor.
Fechei os olhos ao admitir para a minha irmã o meu amor pelo Mateus.
— Amor?... Amor? Não acredito que a minha irmã coração de pedra está falando em amor.
— Ei! Não sou coração de pedra.
— Ah, Liara, eu nunca vi você sofrer por amor. Inacreditável que o primeiro seja o Mateuzim — Sheila imitou a voz da dona Zilda e rimos, mas logo fiquei séria de novo.
— Mas acho que ele deve estar confundindo as coisas, não deve sentir nada por mim e talvez por causa da proximidade e por tudo que estou passando ele se confundiu.
Minha irmã esfregou o rosto impaciente.
— Você é ridícula! Não é possível que não vê como ele te olha.
— Não, e também nem vou mais ver e a partir de hoje vou tratar o Mateus apenas como amigo, para que ele não tente mais nada, porque como eu disse, não quero prendê-lo a mim. Já tenho uma batalha muito grande para lutar.
— Isso não vai dar certo.
— Vai ter que dar, porque o que não dá certo é eu vê-lo preso a mim no futuro apenas por ser bondoso demais para terminar com uma doente.
Dei de ombros.
— Não vou mais discutir com você, faça o que você achar que é melhor, mas depois vai se arrepender de não investir no boy delícia. — Ri. — E outra também, você não vai ficar doente para sempre, logo você termina a químio e tenho certeza na cura.
— Sim, confio nisso, mas quando isso acontecer eu vou atrás do Mateus, por enquanto prefiro deixá-lo livre para ficar ou para partir.
Minha irmã me olhou com as mãos na cintura e sem saber o que falar balançou a cabeça em negativa.
— Olha, Liara, você sempre foi tão teimosa.
Revirei os olhos.
— Tá, mas agora vamos mudar de assunto, como está o escritório?
Minha irmã soprou irritada.
— Está uma doideira. Soubemos que os dois advogados, Otávio e Melissa, acharam uma brecha no contrato que tinham com nossos pais e com isso podiam sair do escritório sem pagar a multa contratual e deixando para trás todos os processos que estavam sob supervisão deles e assim passaram a trabalhar no escritório concorrente, pois pelo que ficamos sabendo, a remuneração lá era maior do que no nosso escritório.
— Justo o Otávio? O pai ajudou tanto ele.
— Pois é, o dinheiro faz isso com as pessoas.
Sheila e eu ficamos conversando um pouco mais sobre o escritório e sobre toda a sujeira que envolvia os funcionários que saíram e deixaram tanto trabalho acumulado. Durante toda a conversa minha irmã sempre dava um jeito de dizer que queria muito estar ali comigo, mas que o escritório precisava dela naquele momento e eu a tranquilizava dizendo que eu preferia que ela estivesse na cidade mesmo.
À noite descemos para jantar, com a família toda reunida na cozinha e me senti feliz por tê-los ali comigo.
Dona Zilda colocava a mesa como sempre e quando terminou, meu pai pediu para que ela e senhor Antônio, que apareceu em seguida para acompanhá-la até em casa, esperassem para jantar conosco e sem fazer cerimônia eles aceitaram.
Sentindo falta do Mateus meu pai pediu para que fossem chamá-lo também, porém, dona Zilda disse que ele não estava com fome e já devia até estar dormindo.
Eu sabia que ele estava me evitando e o motivo de ele não estar ali com todos era esse, o que fazia o meu coração se apertar, pois por mais que eu tivesse dito a minha irmã que seria apenas amiga do Mateus, eu amava ter a sua companhia e ser evitada por ele não era algo que me deixava feliz.
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