Capítulo 8
Capítulo oito
Depois de muito andar pelo quarto e revirar na cama, enfim consegui dormir. Acordei algumas vezes e revivi em todas elas a cena da noite anterior, onde eu até podia sentir novamente os lábios do Mateus tocando os meus e fiquei envolta em um looping de acordar e adormecer sempre com a mesma sensação de não estar entendendo absolutamente nada do que estava acontecendo e muitas vezes achando que era um sonho bom o passeio e o beijo e que ao abrir os olhos virava pesadelo com a realidade.
Já era quase meio-dia e eu não tinha descido para tomar café e nem tinha saído na sacada do meu quarto, eu estava me sentindo angustiada, meu peito estava apertado e cada pedaço de mim doía e não era por causa da doença, era por que eu não tinha a mínima vontade de levantar dali naquele momento e enfrentar o Mateus, o homem maravilhoso que eu não podia prender a mim.
Eu era quem mais me cobrava e levantar e encontrar com o Mateus era esfregar na minha própria cara o medo de construir algo com ele para perder depois quando a minha doença fosse demais. Doía, pois eu via no Mateus tudo que eu queria e não podia ter e nem ser, que era ser... Feliz... E isso eu não seria enquanto eu estivesse doente.
Ouvi alguém bater na porta do meu quarto e só podia ser a dona Zilda.
Eu não queria conversar com ninguém, então não respondi, mas batidas continuaram e achei melhor responder ou ela ia achar que morri.
— Entra.
Para a minha surpresa Mateus abriu um pouco a porta do quarto e me olhou parecendo triste.
— Posso entrar?
— Sim.
Ele andou em minha direção, sentou na minha cama e pegou a minha mão. Ficou em silêncio por alguns minutos, engoliu em seco de cabeça baixa, como se ensaiasse as palavras, até que enfim perguntou:
— Me desculpa?
Eu o encarei e não sabia pelo que ele estava pedindo desculpa, então fiquei em silêncio e ele continuou a falar:
— Não estou pedindo desculpas pelo beijo, mas pelo momento em que ele aconteceu, sei que você tem muito com o que lidar e eu... Só piorei tudo.
O olhei e ele estava parecendo culpado e isso doeu meu coração.
— Está tudo bem, Mateus, eu peço desculpas também. Não sei por que chegamos a esse ponto e já que chegamos não quero te prender a algo que não tem futuro e... Enfim — Só então ele me olhou e parecia confuso, até o vi franzir a testa. — , está tudo bem e se você não se sentir confortável em ficar me acompanhando, pode ficar tranquilo que eu darei um jeito. — Eu não estava olhando para ele.
— Só se você não me quiser aqui. — Senti a tristeza na sua voz.
— Eu quero. Claro que eu quero.
O olhei e ficamos nos encarando sem dizer nada, mas eu estava triste e aparentemente ele também.
Suspirei.
— Vamos continuar de onde paramos, mas o que aconteceu ontem não pode mais acontecer — falei, sentindo um caroço se formar na minha garganta.
Ele assentiu sem me olhar.
— Tudo bem.
— Quero que você seja feliz e no momento não é felicidade que eu tenho a oferecer.
— Eu sou muito feliz quando estou com você.
Ficamos em silêncio, eu olhando para a cortina branca que balançava com o vento e ele olhando para as suas mãos que estavam pousadas sobre o seu colo.
Por que ele me dizia essas coisas tão lindas? Assim era impossível não me apaixonar por ele.
— Liara, você tem que descer para comer alguma coisa ou então quer que eu traga aqui para você? Quer sair para andar pelo sítio? Sei lá, você não pode ficar o dia todo aqui.
— Estou bem, não estou com fome. — O vi balançar a cabeça em negativo como se discordasse e se sentisse culpado.
Mais silêncio entre nós, até que falei:
— Você pode me deixar sozinha, por favor?
Ele assentiu, se levantou e disse:
— Para qualquer coisa que precisar, é só me chamar.
Apenas balancei a cabeça em positivo e não disse mais nada, com isso, Mateus saiu do quarto e eu voltei a deitar e sem ânimo para nada, apenas para dormir.
Já era por volta das três da tarde daquela sexta-feira quando acordei e tinha um lanche ao lado da minha cama. Olhei para a bandeja que tinha suco, pão e uma fatia de bolo e mesmo ainda estando em jejum não senti fome nenhuma.
Fui ao banheiro, escovei os dentes e me forcei a comer o bolo e tomar o suco, liguei a televisão e fiquei sentada na cama e encostada a cabeceira, não passou dez minutos e dona Zilda entrou no meu quarto, talvez por ter ouvido barulho do lado de fora.
— Acordou, dorminhoca! Como está se sentindo? — foi até a minha cama e sentou-se de frente para mim.
— Estou bem, só estou sem nada de ânimo.
Ela assentiu pensativa.
— Aconteceu algo ontem no passeio de vocês?
Acho que meu rosto deixou transparecer que a resposta era sim, havia acontecido, entretanto eu respondi:
— Não, nada, por quê?
— Apenas por que hoje você passou o dia todo trancada nesse quarto, o que eu não tinha visto você fazer desde quando você reencontrou o Mateus e ele está desde o momento que acordou sem dar uma palavra e dando a impressão de que quer matar a primeira pessoa que falar com ele.
— Não aconteceu nada — menti.
E ela me olhava desconfiada.
— Vi que ele subiu aqui, mas desceu com o humor pior do que quando subiu.
Ela ergueu a sobrancelha para mim como se me perguntasse a verdade.
— Ele não deve ter dormido bem. Nós dois estamos bem.
Dona Zilda balançou a cabeça em positivo e me disse:
— Sua mãe ligou, disse que os três estarão aqui hoje à noite.
— Ah, que bom! — Realmente achei bom, eu precisava conversar com a minha irmã.
— Por acaso você não quer comer mais alguma coisa, conversar ou sei lá... me contar algo que esteja te chateando. — Ela deu de ombros.
Ri da sua sutiliza zero.
— Não, estou bem, de verdade.
— Entendi... Mas, Liarinha, deixa eu te falar uma coisa, você sabe que não é por que você está doente que você tem que se privar das coisas da vida, né? Digo, pois você pode sair, se divertir... Junto com o Mateus, namorar, sair desse quarto e aproveitar a piscina.
— Sei sim, mas é que o problema não sou eu estar doente e sim eu prender as pessoas e fazer com que elas também carreguem este fardo como se estivessem doentes junto comigo, entende?
Ela balançou a cabeça em negativo.
— Quem te ama, não vai se importar em dividir com você as suas dores, muito pelo contrário, o amor serve exatamente para isso, para apoiar, para dividir o fardo e comemorar as alegrias.
Assenti.
— Acho que eu amo tanto que não quero prender ninguém a mim, prefiro privá-las da parte ruim e deixá-los livres.
— Pense que quem te ama, quer mesmo é ser preso a você.
Com isso, Dona Zilda sorriu para mim, deu dois tapinhas na minha mão e se levantou, me deixando com os meus pensamentos.
E eu tinha mesmo, era medo de colocar o fardo sobre o Mateus e não tê-lo nem mais como amigo quando ele visse que era pesado demais, medo de que ele saísse de vez da minha vida igual ao meu ex-namorado que não aguentou a pressão.
Eu gostava tanto do Mateus, que se ele fizesse isso comigo eu não aguentaria e depois que eu experimentei novamente tê-lo ao meu lado eu queria mantê-lo e eu sentia que quando ele visse mais da doença e o quanto ela me privava, ele não ficaria por muito tempo.
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