Capítulo 10
Capítulo dez
Minhas insônias haviam voltado, passei a noite revirando na cama e pensando o quanto ficar apenas um dia sem ver o Mateus mexia comigo como se ele fosse o meu remédio diário e o a dose certa que eu precisava para que eu me sentisse bem.
Senti falta de ouvir a sua voz, de andar com ele pelo sítio e da sua presença constante me fazendo rir no meu quarto vendo TV ou fazendo qualquer coisa que fazíamos juntos.
A lembrança do nosso beijo também mexia comigo e ela ia e voltava nos meus pensamentos, fazendo com que eu ficasse em dúvida sobre o que eu tinha decidido sobre nós e repensando se sermos apenas amigos era o que eu queria.
Quando acordei no dia seguinte já era por volta das dez horas da manhã. Olhei para a sacada e eu tinha esquecido aberto o vidro que fechava a porta, então o vento balançava um pouco a cortina branca que era como um convite para que eu fosse até lá ver se o Mateus estava trabalhando por perto, mas antes que eu pudesse realmente me aproximar dela, pensei melhor e me lembrei que eu havia decidido manter a distância para que eu conseguisse parar de pensar nele de outra forma que não fosse como amigo.
Peguei meu celular e a vontade de enviar uma mensagem perguntando como ele estava passou por meus pensamentos, mas eu devia me controlar e ser mais forte que o sentimento de o manter perto e interagindo com ele.
Estava tão difícil me manter afastada.
Para tentar parar de pensar no Mateus resolvi descer e ver o que os meus pais e a Sheila estavam fazendo. Queria aproveitar a presença deles todo o domingo, pois à noite ou no dia seguinte cedo eles voltariam para a cidade.
Desci procurando por eles e não os achei em lugar algum dentro da casa, mas assim que saí para a área externa, minha irmã e meus pais estavam animados arrumando tudo como se fosse ter uma festa.
— O que eu perdi? — perguntei, com a mão na testa e tampando os olhos do sol que já estava forte.
— Vamos fazer um churrasco na piscina como nos velhos tempos. Sobe e vai se arrumar que logo seus convidados estarão aqui — minha mãe disse, sorridente.
— Que convidados? Eu nem sabia desse churrasco e não convidei ninguém.
— Eu convidei por você, vai se arrumar! — Sheila me expulsou, também sorrindo.
Sem entender, decidi fazer o que elas estavam me mandando e subi para o quarto novamente.
De início coloquei um biquíni e um shortinho, mas ao me olhar no espelho, pensei melhor e decidi tirar o short e colocar um vestido de mangas por cima do biquíni, para esconder o cateter por onde eu recebia a medicação, depois fiz um rabo de cavalo no meu cabelo curto e fiquei pensando se realmente eu queria interagir com outras pessoas que não fossem a minha família e a resposta era não, entretanto eu faria, para mostrar para eles que eu estava bem e também para não fazer desfeita com a recepção que estavam preparando com tanto carinho para me alegrar. Eu não podia decepcioná-los.
Voltei para frente do espelho e me analisei novamente, virei de lado e eu estava magra e até as minhas coxas que sempre foram mais grossas também estavam magras, mas vendo o lado bom, eu sempre quis ser magra, então eu ia exibir a minha barriga lisa e não ia me importar com o cateter. Com esse pensamento, tirei o vestido e coloquei um short preto soltinho e fiquei apenas de short e biquini.
Peguei o meu celular, meus óculos de sol e ia fechar a porta quando olhei novamente para a cortina da sacada voando e pensei no Mateus. Voltei para dentro do quarto e após alguns passos eu estava me escondendo em meio a cortina e olhando para fora com a intenção de vê-lo, mas olhei por todo entorno que a vista do meu quarto alcançava e não o vi.
A saudade por não vê-lo por quase dois dias estava me maltratando, mas a sensação de que tinha que evitar a sua presença para que ambos ficássemos bem era o que se sobrepunha sobre a saudade.
Voltei a sair do quarto e saí para área externa da casa, assim que cheguei lá, um carro estava estacionando e logo atrás dele outro. Fiquei observando e quando enfim notei quem era que estava ali, abri um sorriso ao reconhecer que no primeiro carro estavam as amigas que fiz na faculdade e antes de eu me mudar para o sítio vivíamos juntas. Eu não as via desde então e só nos falávamos por telefone.
As duas assim que me viram correram felizes ao meu encontro para me cumprimentar.
— Como você está maravilhosa! — uma delas que se chamava Carolina falou.
— Está ótima. — a outra, Fabiana, disse e me abraçou.
— Não exagerem, mas estou no caminho para isso.
Elas me apresentaram seus namorados e ambos eram muito simpáticos. Depois de cumprimentá-los olhei para o outro carro afim de ver quem estava nele e para a minha surpresa eram meus dois primos junto com o Alexandre, meu ex-namorado.
Eu não senti absolutamente nada ao vê-lo, era como se eu estivesse vendo um conhecido que eu não via há algum tempo. Eu não guardava mágoa e nenhum sentimento ruim, mas não era também uma pessoa que eu tivesse um grande carinho ou que sentisse a necessidade de ser simpática ou ter contato.
— Oi, linda — me cumprimentou como me chamava quando namorávamos.
— Oi, Alexandre — respondi, sem vontade e ele me deu um beijo no rosto.
— Você está muito bem, Liara.
— Achou que eu estivesse morrendo? — perguntei sorrindo e ele ficou sério. — Ai, é brincadeira. Não vou morrer, pode ficar tranquilo. — Eu estava sendo cruel, mas não fiquei com a consciência pesada por isso.
— Não mesmo, eu tenho certeza que logo estará bem de novo.
— Eu estou bem. — Sorri e nossa conversa parou quando meus primos me abraçaram e me ergueram no colo. Éramos muito unidos e antes de eu ficar doente, era com eles que eu e Alexandre saíamos.
— Que bom que vieram me ver.
— Estávamos com saudade da sua chatice — meu primo Pietro disse rindo.
Revirei os olhos.
— E as namoradas? — perguntei para os dois.
— Nada de namorada — Pietro respondeu.
— E você, Roger? — perguntei para o outro primo.
— Nadinha de namorada, estou vacinado contra essa doença chamada amor.
Ri.
— Duvido! Deixa você encontrar sua alma gêmea.
— E quando encontrá-la, não vai perdê-la — Alexandre falou, me olhando e eu logo desviei o olhar, pois não estava com paciência para as suas insinuações se sentido. E para dar um tempo naquele momento estranho falei ao me afastar:
— Meninos, fiquem à vontade que eu já volto.
Disse o mesmo para as minhas amigas que estavam conversando com a Sheila e dei uma olhada em volta para ver se eu encontrava o Mateus em algum lugar, mas ele não estava por ali, então antes de entrar perguntei de modo que somente a minha irmã me ouvisse:
— Você convidou o Mateus?
— Claro que sim, foi o primeiro que chamei, mas ele disse que tinha compromisso e que viria mais tarde. — Ela deu de ombro nitidamente percebendo que eu estava sentindo falta dele.
Assenti e ia me afastar dela, quando Sheila pegou o meu braço e falou baixo:
— Ah, e não fui eu quem chamou o Alexandre e vou brigar com o Pietro depois.
— Fica tranquila que não sinto absolutamente nada em relação a ele, nada mesmo. E estou bem com a sua presença.
Ela entortou a boca em desagrado e eu senti pena dos meus primos, pois quando a Sheila os pegasse, ela ia falar uma ladainha para eles.
Me afastei da minha irmã e entrei na casa com o intuito de dar um tempo das pessoas animadas do lado de fora e para a minha alegria encontrei dona Zilda na cozinha e era exatamente o que eu precisava, pois estava curiosa para saber o que Mateus tinha de tão importante para fazer que não estava ali e também porque eu adorava a dona Zilda.
— O que você está fazendo de gostoso para comer, Zildinha?
— Salada de maionese, arroz e farofa. Pedido do seu pai, claro.
— Claro que ele tem que pedir o mesmo cardápio sempre e com razão, porque a senhora arrasa nele. — Eu amava a comida dela.
Fui até a mesa e sentei-me em uma das cadeiras de frente para o fogão.
— Ei, você não vai ficar lá fora? — dona Zilda me perguntou, franzindo a testa e voltando a olhar para as panelas.
— Vou sim, já já. É que lá fora está muito quente.
— Hoje está um calor danado mesmo, né, fia? — Eu amava o jeito simples e carinhoso que ela falava comigo.
— Sim. Dona Zilda, você sabe onde está o Mateus?
— Foi na cidade resolver uns assuntos dele, mas já deve estar voltando. — Ela me olhou, estreitou as sobrancelhas e perguntou: — Vocês brigaram? Ainda estou estranhando como vocês estão se tratando desde a noite que saíram.
— Não, nós não brigamos mesmo, estamos bem — menti.
— Então porque estão tão distantes? O que aconteceu?
— Não aconteceu nada, ontem apenas tirei um dia de descanso. Está tudo certo entre nós. — Sorri para ela, mas dentro de mim eu torcia mesmo para que tudo voltasse ao normal e continuássemos com as nossas caminhadas pelo sítio, os passeios na cidade e nossa amizade que me fazia tão bem.
Às vezes, eu me pegava pensando se eu estava mesmo amando o Mateus. O que eu sabia era que gostava muito dele, muito mesmo, mas que eu podia estar confundindo tudo, pela carência e pela atenção que ele me dava quando estava comigo e antes de estragar nosso relacionamento com algo que eu nem sabia ao certo se estava sentindo ou se era a carência agindo, eu preferia investir as minhas forças em ficar boa e tê-lo comigo no percurso da busca pela cura sendo o melhor remédio, como ele sempre foi.
Na verdade, a única coisa que estava certo para mim, era que eu não queria mais ficar sem ele na minha vida.
— Que bom que não aconteceu nada, mas Mateus está triste. Hoje vi lá da janela da cozinha de casa, ele no estábulo e olhando para o seu quarto, acho que esperava te ver.
Meu coração ficou feliz e eu sorri.
— Quero vê-lo também, espero que ele venha. Sabe o que ele foi fazer na cidade? — me senti uma curiosa, mas eu queria saber tudo sobre ele.
— Saiu cedo e foi a cidade aqui perto mesmo, só disse que ia resolver alguma coisa sobre trabalho.
— Hum...
— Vê se consegue alegrar ele, pois não sei o que está acontecendo com meu filho. Se vocês não brigaram, algo aconteceu, pois ele está tão quieto.
— Vou conversar com ele e alegrá-lo. Deixa comigo. — Ela sorriu feliz.
— Sim, porque se você não conseguir alegrá-lo, ninguém mais consegue.
Sorri feliz com o que ela disse e sentindo meu coração quentinho por saber que eu o fazia feliz.
Depois de mais alguns assuntos aleatórios com dona Zilda, levantei-me da mesa e criando coragem para ser amigável, falei para ela que já voltava e rumei para o lado de fora da casa para dar atenção aos convidados.
— Vem aqui com a gente, Liara. — Alexandre me chamou assim que passei pela porta da cozinha e eu fui em direção a grande mesa de madeira onde todos estavam sentados. Para a minha tristeza o único lugar vago na mesa era ao lado dele.
— Estávamos aqui lembrando da faculdade, Li — uma das minhas amigas falou. — , que você sempre foi a mais certinha e se não fosse por você Alexandre não tinha terminado a faculdade.
— Verdade, no último ano você me ajudou bastante — Alexandre falou colocando a mão no meu braço, nitidamente querendo ter contato demais comigo e vi que Sheila me olhou preocupada do outro lado da mesa.
— Só te ajudei, você passou por mérito seu. — Alexandre tinha feito a mesma faculdade que eu e inclusive estudamos na mesma sala.
Fiquei olhando em volta enquanto ele forçava lembranças da época em que namorávamos, lembranças essas que eu não via graça em relembrar e Sheila olhava para mim como se me pedisse desculpas e depois olhava para meus primos os fuzilando.
Meu pai estava na churrasqueira e minha mãe o fazia companhia, coloquei o cotovelo na mesa e apoiei meu queixo nele, visivelmente sem vontade de estar ali e o tempo todo meus olhos varriam a minha volta à procura de alguém que eu queria muito ver... meu Mateus.
— Você perguntou por Mateus para a dona Zilda, Liara? — Sheila me perguntou como se lesse meus pensamentos.
— Sim, ela disse que ele foi para a cidade, mas que logo estará aqui.
— Quem é Mateus? — Alexandre perguntou sério e eu engolindo a vontade de responder que não era da sua conta, simplifiquei:
— Um amigo que está trabalhando no sítio e me faz companhia. — Em resposta ele apenas balançou a cabeça em positivo e não me perguntou mais, mas vi que ele queria ter feito.
O dia seguiu, almoçamos e aproveitamos o churrasco, curtimos o sol e a piscina e ouvimos e cantamos músicas que gostávamos. Conforme as horas foram passando, fui mudando o meu humor e até que eu estava gostando do churrasco que a minha família havia organizado para me distrair, mas apesar de estar me divertindo eu ainda estava sentindo falta de alguém e a toda hora olhava em volta e ficava à espreita da entrada da área de lazer para ver se Mateus entrava por ali, mas não.
A cada minuto Alexandre insinuava algo e eu não estava entendendo as investidas dele e onde ele queria chegar com ela, não entendia como de repente ele estava com toda aquela simpatia e atenção.
Em um momento que fiquei a sós com o meu primo o perguntei porque ele havia levado o meu ex e ele me disse que foi porque Alexandre insistiu muito dizendo que queria me ver. Ri em desdém e pensei que o engraçado era que quando eu descobri a doença ele fazia exatamente o contrário e inventava desculpas e mais desculpas para não me ver.
— Acho que ele se arrependeu, prima.
— Ah, mas aí é problema dele, Pietro.
— Não seja tão dura com ele, vai.
— Ele não pensou em mim e no quanto estava sendo duro comigo terminando o nosso namoro no momento mais difícil da minha vida.
— Tem razão. — Pietro ficou olhando ao longe.
— Claro que tenho. Sempre tenho.
Ele riu e eu ri também
— Que convencida!
— Convencida não, realista.
Logo Alexandre viu que Pietro e eu estávamos conversando e se aproximou, tive vontade de me afastar, mas achei ofensivo e esperei umas duas trocas de palavras e aí me afastei.
Durante o dia Alexandre fazia questão de ficar ao meu lado, de fazer contato físico me tocando a todo momento, me elogiando de várias maneiras e relembrando momentos bons que passamos juntos. Com isso, continuei fugindo dele o quanto pude e evitei ficar à sós para que ele não tentasse conversar sobre relacionamento.
Já estava no final da tarde e o céu até já estava alaranjado com o cair do sol. Eu estava me sentindo cansada e com vontade de subir para o meu quarto e dormir, mas não queria demostrar fraqueza e mesmo a minha irmã vindo a cada dez minutos me perguntar se eu estava bem eu apenas dizia que estava me sentindo ótima.
Até que em um determinado momento todo mundo estava brincando na piscina e eu fiquei deitada em uma das redes de descanso, entretanto, não fiquei sozinha por muito tempo, pois logo que Alexandre notou que eu estava sem ninguém por perto, foi até onde eu estava, sentou-se na rede ao meu lado e começou a puxar assunto:
— Eu acho que realmente o ar do campo está te fazendo bem.
— Sim, minhas células cancerígenas devem estar odiando o ar puro e com isso eu estou vencendo a batalha.
Notei que ele ficou tenso quando citei o câncer, mas eu não estava com vontade de esconder minha doença para que ele ficasse bem, ainda mais quando ele antes não pensou se eu ficaria bem quando terminou comigo no pior momento da minha vida.
— Eu me arrependo tanto — falou, depois de um silêncio.
— Do quê? — perguntei irônica. Eu não ia facilitar para ele e queria mesmo era que dissesse que a minha doença foi maior que o amor que dizia sentir por mim.
— De ter sido covarde, de te perder por isso... Por mais que agora não pareça, eu amava você.
— Sim, você foi mesmo um covarde, mas não te julgo, porque não é todo mundo que é forte o suficiente para aguentar as surpresas da vida.
Ele assentiu.
— Olha, Li, se me der uma segunda chance, se me deixar te mostrar o quanto me arrependo e eu juro que...
— Não jure o que você não vai conseguir cumprir.
— Claro que vou! Eu mudei e não sou mais imaturo como quando a gente terminou.
— Mas isso faz tão pouco tempo.
— Foi tempo o suficiente para eu mudar e ver que estava sendo um idiota.
— Sim, mas eu não mudei e continuo a mesma mulher doente que não conseguia acompanhar a sua vida cheia de saúde e acho que por isso a gente devia continuar como estamos.
Quando terminei de falar, olhei para a entrada e Mateus estava chegando. Logo seu olhar cruzou com o meu, mas rapidamente ele cortou nosso contato e começou a cumprimentar as pessoas.
Senti dentro de mim tudo mudar com a sua presença e com certeza que meu olhar se acendeu ao vê-lo, pois no mesmo momento senti um frio na barriga e inevitavelmente o nosso beijo voltou aos meus pensamentos.
Mateus era tão lindo e tão radiante que foi só ele chegar que todo o ambiente se tornou mais suportável, era como se com a sua presença para mim enfim não estivesse mais faltando nada.
— Você está ficando com esse cara? — Alexandre perguntou, provavelmente notando a mudança no meu olhar ao ver o homem que eu amava, mas eu não o respondi.
Eu não sabia como me comportar e se não fosse o beijo eu já estaria sorrindo e já teria ido até ele e o xingado pela demora, mas eu estava parecendo uma adolescente ansiosa, então fiquei no meu lugar e o aguardei chegar até mim.
Foi quando vi que Mateus estava andando em minha direção e foi inevitável não olhar para a sua boca bem desenhada e mais uma vez lembrar do beijo de dois dias atrás, dos lábios dele nos meus e no seu abraço aconchegante, era impossível não querer repetir, querer estar com ele e me sentir cuidada como Mateus sempre me cuidou.
— Oi, Liara — me deu um beijo no rosto e me cumprimentou sucinto... sucinto demais e eu senti falta do calor do seu cumprimento habitual e das suas graças de sempre.
— Oi, você demorou.
— Estava resolvendo umas coisas pessoais.
Assenti não sabendo mais como continuar a conversa.
— Ah, já sei quem é você. Liara falou mais cedo, você é o empregado do sítio pago para fazer companhia para ela, né? — Alexandre falou e estendeu a mão para Mateus.
Senti a raiva borbulhar em mim e meu rosto começar a ficar vermelho.
O que esse idiota está falando?
— Sim, sou empregado dela desde criança — Mateus falou aceitando o seu aperto de mão e se virou para sair dali andando à passos largos.
Fiquei pensando no que fazer, pois a fala do Alexandre tentando diminuir o Mateus estava fazendo meu estômago revirar, então movida pela raiva, falei:
— Você é idiota? Por que você falou isso? — Alexandre me olhou assustado, mas não disse nada e eu continuei falando e visivelmente alterada. — Sai da minha casa e não quero mais te ver. Quem você pensa que é para diminuir as pessoas que eu gosto assim?
— O que está acontecendo aqui? — Sheila surgiu ao meu lado e só então notei que eu estava gritando.
— Desculpa, Liara, eu falei sem pensar e movido pelo ciúme. Eu pensei que você e ele...
— Olha, Alexandre, não pensa porque esse nunca foi o seu forte.
Com isso me afastei, deixei a minha irmã esbravejando e eu até fiquei com um pouco de dó dele de tanto que ouvi a minha irmã falar.
Andei rapidamente atrás do Mateus e quando saí na estradinha que dava para o portão de entrada do sítio, o vi andando sentido a casa dos seus pais. O chamei e ele não parou de andar, então corri um pouco para alcançá-lo.
— Ei, me espera! Sei que você está me ouvindo te chamar e pode parar aí, Mateus!
Então ele se virou parecendo irritado, não me olhou e ficou com as mãos na cintura e olhando para o chão e quando me aproximei, falei:
— Você não pode acreditar naquele idiota.
— Mas ele não disse nenhuma mentira. — Mateus enfim me olhou.
— Disse sim, porque primeiro que eu não disse o que ele falou e segundo porque você não é só empregado do sítio e não está sendo pago para ser minha companhia, você está comigo porque tem um coração grande e é meu amigo.
— Não, eu não estou aqui por isso... Eu estou aqui por que...
Ele ficou em silêncio e deixou a frase inacabada.
— Por quê?
— Olha, estou cansado por ter passado o dia na cidade e preciso descansar um pouco. Nos falamos na segunda-feira.
Ele ia se afastar, mas parou quando me ouviu dizer:
— Mateus, não fica bravo comigo.
— Não estou bravo, mas depois a gente conversa.
Ele voltou a andar e quando dei mais dois ou três passos rápidos para o alcançar, tive que parar bruscamente, pois vi tudo começar a rodar. Eu ainda estava anêmica e isso me deixava fraca e tonta com frequência.
Mateus olhou para trás e notou que eu estava parada com as mãos na cabeça e imediatamente voltou rápido para junto de mim.
— Liara, você está bem? O que você está sentindo? — falou preocupado.
— Nada, só uma tontura, acho que por eu ter corrido. Pode ir, Mateus, logo passa e depois a gente conversa. — Naquele momento era eu quem não queria mais conversar e me veio imediatamente no pensamento que se namorássemos, ele nem sequer poderia brigar comigo ou ficar bravo como em momentos atrás, porque se eu passasse mal ele se sentiria culpado e era exatamente isso o que eu não queria.
— Anda se apoia em mim, vou te levar para a casa.
— Não, está tudo bem.
— Anda, Liara. Para de teimosia.
— Não é teimosia, mas agora não quero que você fique. Vai embora. Você já estaria lá se não fosse a minha tontura.
Ele bufou impaciente.
— Para com isso.
— Vai, Mateus! Você tinha virado as costas para ir, agora vai.
— Você me deixa louco, Liara! — falou alto.
Eu o encarei sem dizer nada e queria chorar, mas não faria isso na sua frente e eu ainda estava tonta. Ele soltou o ar e falou calmo:
— Me deixa te ajudar? Não quero que caia por causa de uma tontura.
— E eu não quero que se sinta obrigado a ficar comigo por uma tontura. Esse momento só reforça tudo que eu estava pensando.
— Você devia também pensar um pouco no que eu estou pensando, no que eu quero e o que eu quero nunca foi me afastar.
— Há pouco você queria muito se afastar de mim e estava com muita pressa para ir. Não quero que minha doença te faça ficar e te prenda a mim, como uma obrigatoriedade.
Ele riu em desdém e engoliu em seco parecendo contrariado, parecia se segurar para não dizer algo, mas por fim falou, me olhando fixamente:
— Liara, o que me prende a você não é a sua doença, é outra coisa.
— E o que é?
— Não é possível que você não saiba.
Fiquei o encarando sem saber o que dizer e depois mudei meu olhar de direção. Dei um passo para trás para testar a tontura, fechei e abri meus olhos e com isso notei que tinha passado.
Voltei a olhar para o Mateus e ele estava bem próximo de mim. Por mais que eu não quisesse que ele ficasse preso a mim por conta da minha doença, era só eu o olhar que eu me derretia e já me esquecia os motivos para não o querer tão perto. Seus olhos lindos me conquistavam cada vez mais e querendo encerrar aquela nossa pequena discussão, pedi:
— Me desculpa pelo o que o idiota do Alexandre disse e, por favor, por mais que eu pareça contraditória, não se afasta de mim.
— Você precisa decidir se me quer perto ou longe.
— Nunca te quis longe.
Ele deu um sorriso triste.
— E o que menos quero é me afastar de você.
— Eu amo a sua amizade, a sua companhia e me sinto melhor desde que você chegou. Você é minha melhor dose de remédio.
Ele soltou o ar e falou com um sorriso tímido pela minha declaração:
— Não conseguirei nunca me afastar de você, mesmo que se passem anos, você sempre estará presente em mim... Aqui. — Ele colocou a minha mão em seu coração. — E quando eu disser que vou te ajudar, me deixa te ajudar, porque te ver bem, me faz bem.
Encarei seus olhos e voltei meu olhar para os seus lábios. A vontade de beijá-lo me atingiu e eu queria muito repetir o beijo e provar de novo da sensação de estar nos seus braços. Percebi que Mateus também estava sentindo o momento, quando ele engoliu em seco e olhou para os meus lábios, porém, rapidamente me controlei para que voltássemos para realidade e dei um passo para frente chegando perto o suficiente para o abraçar forte, o apertando contra meu corpo e falei:
— Você é a melhor pessoa que conheço, gosto tanto de você... tanto... que chega a ser confuso, a minha única certeza é que não quero mais ficar sem ver e falar com você, então não se afaste.
— Não vou, não consigo de novo.
— Dois dias foram muito tempo.
— Sim, uma eternidade.
Ri e sem soltá-lo o ouvi dizer:
— Você faz com que eu tenha um looping de emoções, há pouco estava querendo me afastar e agora não quero te soltar.
Sorri de encontro ao seu peito e me afastei para deixá-lo ir.
— Pode ir para a sua casa, já estou melhor.
Ele balançou a cabeça em negativo.
— Vamos, vou voltar com você e te levar para a casa. Consegue andar?
Ri.
— Pelo amor de Deus, Mateus! Não precisa me pegar no colo, eu estou bem, foi só a tontura de sempre.
— Vamos, vou voltar lá com você. Sem discussão.
Ele passou o braço por mim e sem discutir e até gostando que ele tinha voltado a ser como antes, fui andando muito próxima dele todo o caminho de volta até a casa e quando chegamos perto de onde os carros estavam estacionados, vi que minhas amigas com seus namorados, meus primos e o Alexandre estavam indo embora, então Mateus falou baixo:
— Tudo bem eles te verem assim perto de mim?
— Cala a boca, Mateus! Claro que está tudo bem. — O puxei para mais perto.
Ele riu e andamos mais um pouco e quando cheguei perto de todos não me desvencilhei de Mateus e continuamos abraçados, minhas amigas se despediram dizendo que adoraram o dia e que tínhamos que nos ver mais vezes para que eu as contasse tudo. Percebi uma insinuação quanto a Mateus e eu, mas somente sorri e as deixei pensarem o que quisessem.
Enquanto me despedia das minhas amigas vi que Alexandre olhava para o Mateus e dele para mim e com isso me aproximei ainda mais de Mateus que me olhou e sorriu. Depois das minhas amigas me despedi dos meus primos e quando chegou a vez do Alexandre ele foi até mim, ficou em silêncio e me olhando, mas enfim me falou:
— Me desculpa... por tudo... e se você pensar melhor... me liga. — Parecia pensar em cada palavra que dizia e depois olhou para Mateus ao meu lado e o deu um meneio de cabeça, sendo encarado por um Mateus nada simpático.
Assenti para não ser mal-educada e ele entrou no carro dos meus primos.
— Tchau, seus arrombados! — Sheila gritou quando os carros saíram buzinando, em seguida olhou para Mateus e para mim e disse: — Vou subir, porque estou um pouco alcoolizada. Beijinhos, amores. — Deu alguns passos, mas voltou para falar: — Ah, Liara, o pai e a mãe já foram deitar também, todo mundo encheu a cara hoje para afogar as mágoas do estresse da semana.
— Eu não — falei para fazer ela rir, pois minha irmã nunca me tratou como uma coitada.
— Bem feito, quem manda criar um dinossauro dentro de você. — Ri pela forma como ela sempre se referia ao tumor e mostrei a língua em resposta sendo bem infantil. Então ela se virou para entrar, mas voltou de novo para falar: — Vocês dois deviam conversar, e bem conversadinho. Vocês são dois idiotas que se amam desde pequenos e ficam lutando contra. Foi para você ficar com ela que fui atrás de você, Mateus.
Franzi a testa sem entender o que ela estava falando, mas minha irmã saiu e foi para dentro da casa.
— O que ela quis dizer com foi atrás de você?
— Não sei, ela está bem bêbada. — Ele deu de ombros.
Ambos ignoramos a fala da Sheila sobre nos amarmos e falei:
— Vou entrar também.
— Eu te levo até lá em cima.
Ri.
— Não precisa, Mateus, estou bem.
Ele assentiu, mas antes de ir e parecendo sem graça, perguntou:
— Aquele era seu ex?
— Sim.
— E ele quer voltar?
— Parece que sim. Acho que se arrependeu.
Ele balançou a cabeça em positivo e perguntou:
— E você, ainda gosta dele?
Fiz uma careta.
— Não, claro que não.
Ele balançou a cabeça em positivo mais uma vez e tive vontade de completar que eu gostava era dele, mas me mantive em silêncio.
Mateus me olhava e seus olhos claros que estavam tão lindos que a vontade de agarrá-lo estava quase tomando conta de mim e eu tinha que fugir.
— Vou entrar, porque agora que escureceu estou com frio.
— Tá bom. Nos vemos segunda?
— Nos vemos amanhã, porque você vai almoçar com a gente.
Ele riu.
— Então até amanhã.
Ele se abaixou em minha direção e achei que ele fosse me dar um beijo, mas beijou minha bochecha e disse:
— Boa noite, Liara.
Lutando contra meu coração traidor eu me despedi:
— Boa noite, Mateus.
Virei-me e andei em direção a entrada com o meu corpo todo querendo voltar e beijá-lo.
Antes de realmente entrar, olhei mais uma vez e como sempre ele ainda me observava com as mãos no bolso da bermuda e incrivelmente lindo.
Sem mais uma nova olhada entrei de vez.
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