Capítulo 01
- Jorge! Vai de vagar aí colega. – Me segurei no banco.
Minha mãe dona Rosa, nem se mexia no banco de trás. Chegava cansada quase todos os dias, e depois que dormia podia jogar fora.
- Gi, estou cansado. Acho melhor ficar no meu lugar.
Sem avisar Jorge jogou o carro no acostamento. Infeliz quase me fez soltar a bexiga. Desci do carro contrariada, dei a volta e assumi o lugar do meu padrasto, Jorge era alto, minha mãe e eu duas baixinhas. Eu odiava ter que mexer no banco, nos espelhos e o retrovisor,
- Segue o caminhão. - Ele apontou para frente.
- A poeira do caminhão, você quer dizer.
Tirei o carro do acostamento e segui o caminhoneiro meio louco. Ainda rodei por mais uma hora com Jorge apagado jogando a cabeça careca para os lados. Entramos a esquerda e então diminuí a velocidade,havíamos entrado na cidade onde as casas pareciam ter parado no tempo. Não deixava de ser charmosa, passei pelo pequeno centro prometendo a mim mesma que voltaria.
Pelo jeito minha avó gostava mesmo do mato, porque fiquei na estrada Rural por um bom tempo. Era linha reta e eu me pegava pensando nas histórias sobre lobisomem, saci e um monte de coisas que vó Áurea dizia para me fazer dormir cedo. Se um deles partisse para cima do carro eu morreria do coração antes de bater o carro e possivelmente me quebrar toda.
Lá onde Judas deixou as cuecas o caminhão parou. |Ainda era uma bela e antiga entrada, e se você pensa que depois de cruzarmos o portão chegamos? Esta enganado. Dirigi em linha reta por um caminho ladeado de palmeiras imperiais, e a minha mente reproduzia o alvoroço que era elas em uma tempestade.
- Tomara que não caia em cima da casa. – Jorge falou do meu lado. Os olhos brilhantes de sono e o rosto inchado e marcado. Estava agarrado a cafeteira nova.
- Nem me fala. – Minha mãe tinha acordado. - Isso aqui em tempos de chuva é um verdadeiro filme de horror.
- Acho que chegamos casal.
Parei o carro e desci, precisava esticar minhas pernas. Minha bota preta rapidamente ficou marrom da poeira.
Dei uma boa olhada na casa. Estava toda acesa, tinha uma escadaria de dez degraus todos em pedra com um vaso enorme de cada lado, estavam vazios, mas sei que Jorge ia querer colocar plantas ali rapidinho. A casa era muito antiga, pintada recentemente de branco, com janelas e portas azuis. Me senti uma sinhazinha, ou uma escrava nova,m se fosse depender da minha cor meio branco encardida. Ajeitei meu cabelo cacheado já ressecado pela poeira para trás e respirei fundo.
Fechei os olhos, limpei a mente e me concentrei. Senti o famoso aperto no peito, uma pontadinha no coração e o cheiro de velas, flores e suor, Tinha gente na casa. Não gente viva. Se é que entende.
- O que foi? – Jorge tinha chegado do meu lado e me observava.
- Acho que vi alguém. – Brinquei com ele.
- Onde?
- Medroso. – Bati no ombro dele. – Vamos logo com as malas, Quero tomar meu banho.
Subi os degraus contando, era minha mania. Abri a porta e uma lufada de ar quente passou por mim. A casa tinha mobílias antigas, bem conservadas, mas também tinha uma televisão nova e internet.
- Com licença. – Pedi permissão aos moradores antigos, embora não os visse,
Pisei na sala de madeira e esperei ansiosa minha mãe que ralhava com os caras do caminhão.
- Boa noite Giovana.
Me virei assustada;
- Malda? - Perguntei,
- Isso mesmo minha querida. Tia Malda. – Ela abriu os braços.
Tia Malda era dona da metade da fazenda. Ela fez questão de deixar a parte com a cede para a minha mãe. Como as únicas duas herdeiras do lugar. Minha avó Áurea havia morrido a pouco mais de um ano de um ataque do coração, ainda me lembro quando recebi a noticia, e o pior de tudo. Vovó Áurea mesmo me contou. Era cedo quando senti a mão dela no meu cabelo, ela tinha a mania de estralar o dedo indicador na minha cabeça com uma leve pressão. Eu estava dormindo e achei que ela tinha mesmo ido até em casa. Ela sentou na cama, estralou o dedo no meu couro cabeludo.
- Sinto muito minha querida. - Ela disse com uma voz doce. - Preciso ir até o Basílio.
- Vó. - Tentei abrir os olhos.
- Te amo tanto minha menina.
Quando abri os olhos ela já tinha ido.
- também sinto falta dela querida. – Ela bateu nas minhas costas, como se ouvisse meus pensamentos. – Sua avó adorava você.
Tia Malda não pode ter filhos, e eu sou filha única de uma aventura da minha mãe com um paciente dela.
- Bom, vem cá. Fiz algumas coisinhas para você comer.
Tia Malda tinha levado a equipe dela para limpar a casa. Do lado esquerdo passando por um arco entramos na sala de jantar. A mesa cabia vinte pessoas confortavelmente. Sentei perto dela e me servi.
Tinha bolo de chocolate, queijo fresco, e um tanto de pão caseiro. Me servi de suco de laranja colhida da fazenda e enchi a barriga,enquanto minha mãe falava com ela.
- Continua com a plantação de café? – Minha mãe comia com classe, diferente de mim.
- Claro. Tenho um negócio local. Meu café é conhecido aqui.
- Que bom Malda. - Ela deu um sorriso fraco. - Consegui um emprego no mesmo consultório onde... Comecei como dentista.
- Não se limita a ficar aqui Rosa, você consegue coisa boa. - Tia Malda a encorajou.
Minha mãe deu um sorriso amarelo. Jorge mantinha os olhos baixos. Alguma coisa estava entranha ali.
- Olha, não precisa vender a sua parte ok? Sei que e difícil, ainda mais depois da mamãe ter colocado você para fora de casa. - Tia Malda respirou fundo. – Ela te amava Rosa, e no fim só queria o bem de vocês. A mãe só não sabia se expressar, por isso acabou sozinha aqui.
Minha mãe apertou a boca, os nós dos dedos ficaram brancos pela força que fazia contra o garfo.
- Desculpa, preciso descansar um pouco. – Ela afastou a cadeira. – Jorge você vem?
- Claro..
Tia Malda não disse mais nada, acabou de comer em silêncio e ignorando minha presença, foi embora. Acabei indo a procura do meu quarto. A parte de cima da casa era composta por quartos grandes, o meu era o primeiro do lado esquerdo, com a porta enorme pesada pintada de branco, com entalhes de flores, entrei na penumbra.
Era um quarto bonito até, com uma cama no centro, guarda roupa enorme e uma penteadeira de madeira. Quando eu era pequena sempre dormia com a minha avó, ou tia Malda, não entrava nos quartos por medo.
- Parece que voltei no tempo. – Me joguei na cama. – só falta mudar meu nome para Isaura.
Do lado de fora a lua iluminava tudo vasculhei meu celular, meus colegas da faculdade estavam nas festas, postando fotos com copos de bebida, enquanto eu estava ali, adormecida, esquecida. Meu celular apagou descarregado, coloquei de lado e admirei a lua até sentir o sono. Fechei os olhos e senti o ar mudar no quarto. O sono parecia brincar comigo, pois desapareceu, abri os olhos irritada, precisava dormir, e então eu o vi. Estava de costas para mim junto á janela. Era alto e imponente, a lua que havia sido encoberta por uma nuvem voltou a brilhar no céu e o iluminou por completo.E eu vi o músculo bem definido pela camisa de linho fino, usava calça e botas. O cabelo era grande e caía nos ombros com cachos grandes. Arregalei os olhos quando ele me olhou sobre os ombros.
Tentei falar alguma coisa, e por Deus se tivesse com a bexiga cheia tinha esvaziado ali mesmo. Levantei a mão, ou o sono me pegou em cheio, ou desmaiei. Eu apaguei.
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