Notícia do jornal de ontem
Clara
Já passava da meia noite e o Fernando ainda não tinha chegado a Angels, tentei ligar no celular dele depois que cheguei aqui, mas estava dando caixa postal. Eu estava ficando preocupada e quase estava entrando em pânico, mas olhei novamente para a entrada e o vi entrando e meu coração se acalmou. Ele veio em minha direção, lindo usando terno e jeans, entrou para a parte de dentro do balcão, me pegou pela cintura, me virando para ele e me dando um beijo que me tirou o ar e aplausos dos clientes que estavam sentados nos bancos altos a minha frente.
— Estava com saudade e estou louco por você. Não vejo a hora de irmos embora. — ele disse próximo a minha orelha quando o beijo terminou e arrepiou todos os pelos do meu corpo.
— Também estava com saudade, agora me deixa trabalhar que você me mata de vergonha. — Ele sorriu para mim, me deu uma piscada e saiu em direção ao escritório me deixando sem ar e com um sorriso no rosto.
Trabalhei como uma louca, a Angels estava bombando, mas quando estávamos quase no final do expediente, comecei a prestar atenção nos meninos e percebi que algo estava acontecendo. Vi o Rodrigo com a mão na cabeça e parecia desesperado, o João estava chorando e o Fernando parecia em pânico. Vi que eles pediram para o dj encerrar a pista e esvaziar a casa o mais rápido possível.
— Sabe o que está acontecendo? — Perguntei para a Laura que estava o meu lado também acompanhando tudo.
— Não faço ideia. — Ela deu de ombros.
— Parece que a Lívia do Gustavo sofreu um acidente na serra do mar. — Cassio disse se aproximando de nós.
— O Gu deve estar arrasado, parece que ela está entre a vida e a morte. — Valmir disse também se juntando a nós.
Olhei para a porta e uma morena com os cabelos encaracolados entrou como o vento e Rodrigo foi a passos largos ao seu encontro, a abraçando e a beijando tentando acalma-la. Ela chorava copiosamente falando algo, mexendo freneticamente com as mãos e creio eu que fosse sobre o acidente. Eu já tinha visto ela por ali, ela vivia junto com o Rodrigo, mas também saía com os outros caras e ele com outras mulheres então, não sei o que eles têm afinal. Ele parecia se preocupar com ela e cada gesto dele era de mais puro carinho. Outro rapaz que também sempre estava junto com a morena também entrou chorando e com os olhos inchados. Todos pareciam puro desespero e quando olhei para o Fernando vi que ele também estava preocupado e eu queria acalma-lo, mas preferi esperar antes de me intrometer.
A casa esvaziou rapidamente e vi quando o João pegou uma garrafa de vodka e virou de uma vez só. Seu desespero era evidente e vi também quando o Fernando foi até ele para tentar tirar a garrafa de suas mãos. João chorava como um bebê.
— Aquilo é culpa. Sabemos que a Lívia terminou com o Gustavo por culpa dele. — Valmir falou para nós.
— Coitado. — Laura falou.
Vi o Fernando se aproximando de nós e em poucos passos ele estava a nossa frente.
— Clara, a Lívia do Gu, sofreu um acidente e vamos até o hospital, saber notícias. Quer ir comigo? — Ele parecia tão preocupado.
— Claro que sim. Eu te acompanho. — Não conhecia a Lívia, na noite que eu entrei ela e o Gu terminaram e o rolo entre eles não deixou que ela viesse mais aqui, mas pelo pouco que ouvi dela, acho que nos daríamos bem.
Fechamos a Angels e depois com os nervos mais calmos, eles decidiram que iriamos ao hospital no dia seguinte, não conseguiríamos fazer nada lá agora e todos precisavam dormir. Assim eles estariam fortes caso precisassem apoiar o amigo se o pior acontecesse.
Fui para a casa do Fernando, dormi com ele poucas horas e quando acordei liguei para a dona Regina, contei a história toda e ela se prontificou a ficar com a Mayara para mim. Um pouco mais tarde fui para o hospital junto ele e os demais amigos para dar o apoio que o Gustavo precisava. Estavam todos os Angels. (exceto o João que achou melhor não ir por estar se sentindo muito culpado e para não irritar o Gustavo) e descobri que a morena se chamava Samira e o rapaz que chorava se chamava Igor e eles eram os melhores amigos da Lívia. Samira estava devastada, chorava sem parar e era consolada vezes por Igor e vezes por Rodrigo. Chegamos ao Hospital e graças a Deus as notícias eram boas. Lívia estava bem. Teria de ficar em observação, mas estava bem. Todos ficamos mais calmos, menos o Gu que mesmo nos dando a notícia de que ela iria se recuperar, ainda parecia em pânico.
Todos foram entrando em pares, para vê-la e quando chegou a vez do Fernando entrar, achei melhor ficar na sala de espera, já que eu não a conhecia.
A sala de espera estava cheia de pessoas da família da Lívia, e tinha também uma amiga mestiça da Lívia que me lançou um sorriso sem jeito quando eu comecei a encara-la. Eu a encarava lembrando-me de toda a bagagem que os olhos puxados como os dela estão sendo na minha vida. Retribui o sorriso com as bochechas coradas por está-la encarando e peguei um jornal que estava sobre a mesa ao meu lado para me distrair. Mas antes eu não tivesse feito isso, assim que abri as páginas, meus olhos foram como um imã para uma foto em que o Fernando aparecia com a mesma roupa que ele chegou à Angels ontem. Ele estava ao lado da tal Fabiana que por sinal estava deslumbrante e exibia um enorme sorriso. A mão dele abraçava a cintura dela os fazendo parecer um lindo casal. Meu coração começou a disparar e a legenda da foto foi para dilacerar meu coração de vez: "Feliz casal herdeiro da Nipon S/A, anuncia casamento em jantar de sócios na noite de ontem". Li rapidamente a noticia que dizia que o casal celebrou com alegria o noivado ontem em família e o Fernando tinha sido anunciado como o próximo presidente a assumir a cadeira no topo da empresa.
Engoli em seco lutando para não chorar, fechei o jornal e comecei a me levantar para sair dali antes que ele voltasse. Coloquei a minha bolsa no ombro e fui em direção a saída dando sorrisos sem jeito para os parentes da Lívia que pareciam notar que algo de errado estava acontecendo comigo. Assim que os olhos deles saíram de mim e eu senti a brisa do lado de fora do hospital, desabei a chorar e jurei para mim mesmo que iria acabar com essa história. Isso está me fazendo mal. Eu não consigo seguir, preciso ser feliz. Queria que fosse com o Fernando, mas percebo que com ele não vai ser possível. Ele não me contou. Ele foi ao um jantar com ela e não me contou. Ele vai se casar com outra e anunciou para todos, fazendo a família dele feliz sem nem ao menos lembrar que eu existo.
Saí desnorteada e fui andando até uma praça que ficava em frente ao hospital. Sentei em um dos bancos em baixo de uma árvore e parei para pensar o quão de repente desencadeei o amor pelo Fernando e o quão de repente eu desejaria que ele saísse do meu peito. Comecei a chorar compulsivamente e tentei não pensar no quanto doía pensar em deixa-lo, mas ele mentiu para mim, ele está me enganando. Doía tanto, doía tanto que eu só queria que parasse de doer. As pessoas passavam por mim e me olhavam com piedade, deviam achar que eu estava perdendo alguém naquele hospital. E estava mesmo, acabei de perder a confiança que eu tinha no Fernando e com isso perdi o amor da minha vida, porque não posso e não consigo mais continuar.
Tentei controlar a minha respiração, fechei os olhos e respirei fundo e por fim parei de chorar. Coloquei a bolsa no ombro, juntei forças para levantar dali e voltar para minha casa, mas quando me virei, lá estava ele, atrás de mim me olhando apreensivo.
— Fiquei te esperando voltar para a sala de espera e aí abri o jornal. Vi a notícia. Perguntei de você e me disseram que você tinha saído um tanto transtornada e então entendi que você também tinha visto. Olha, eu preciso explicar, só preciso...
— Do que você precisa? De uma trouxa que sirva de diversão para você antes do casamento?
— Não é nada disso Clara, por favor...
Ele deu dois passos e tentou chegar perto de mim, mas eu o parei.
— Nem vem. É exatamente isso. Eu acreditei em você, abri meu coração e minha vida para você entrar. Eu te amei.
— E eu te amo Clara.
— Me ama? Não, não ama. Não a ponto de enfrentar a sua família, me levar a um maldito jantar e me apresentar como sua namorada. Claro que não. Apresentou a sua noiva perfeita a que se encaixa aos padrões que sua família exige não é?
— Eu ia te contar... — ele tentou chegar perto de mim mais uma vez e eu me afastei.
— Não, você não ia. O que eu sou para você afinal?
— Você é a mulher que eu amo.
— Não ama. — Gritei sem me importar com as pessoas que passavam a nossa volta. — Pra mim acabou.
— Não. — Ele estava com os olhos lacrimejando, engoliu em seco como se lutasse para não chorar. — Não acabou. Eu amo você e isso tudo foi um mal entendido. Minha família pediu para que eu fosse naquele jantar, mas eu não sabia que iam falar sobre o casamento, eu só fui para que meu avô não se estressasse.
— Não me interessa mais Fernando. — Falei calmamente, engoli em seco e sequei as lágrimas — Você teve a oportunidade de me contar e não me contou, preferiu me fazer sofrer assim, lendo uma noticia no jornal de um casal feliz e perfeito. Para mim não da mais. Acabou. — Virei-me para ir embora, mas ele pegou meu braço e me parou.
— Por favor, Clara, não faz isso. Eu amo você. Preciso de você para me livrar desse compromisso que minha família arrumou.
— Não consigo. Não consigo te dividir com outra Fernando. Não quero ser a outra, o seu segredo. Quero ser onde sua vida começa e termina. Já sofri muito em relacionamento e não quero sofrer de novo.
— Clara... Você é... Por favor... — ele parecia acabado, mas para mim não da mais.
Só me soltei da mão dele e parti para longe dali. Estava destruída, doía muito e nem todas as surras que levei do Jeferson me fizeram sentir uma dor igual a essa. Mas mesmo completamente acabada de tristeza prefiro acabar com tudo agora. Vai doer, mas vai passar. Vai passar.
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