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Família...


Fernando

Deixei a Clara na casa dela e fiquei pensando o que será que ela esconde? Sempre que conversamos vejo uma tristeza escondida em seu olhar. Sinto-a arisca e como se tentasse se esconder e se privar de alguma alegria que não achava que tinha direito de sentir. Desde a sua estreia na Angels, tento conversar com ela, Mas ela sempre tenta fugir, parece tensa e sempre muito reservada. Enfim hoje, consegui arrancar alguns sorrisos e consegui saber mais sobre essa moça que quando esta dançando é uma deusa e quando chego perto dela é contida e recatada.

Cheguei em casa e me joguei na cama, mas sei lá o porquê o sorriso tímido da Clara não saia da minha cabeça. Rolei mais um pouco na cama até que enfim adormeci.

Acordei no meu horário de costume, fui tomar banho e assim que saí do banheiro com a toalha amarrada na cintura, ouvi que a campainha do meu apartamento estava soando sem parar. Só pode ser a Adriana.

— Sabia que era você. — Falei para a minha irmã assim que abri a porta para ela entrar.

— Tem alguém com você hoje? Se tiver eu vou embora. — Ela disse procurando alguém pelo apartamento.

— Não mana, hoje não trouxe ninguém pra casa. — Revirei os olhos.

— Ufa que bom, desde que vi aquelas duas mulheres nuas, dormindo no seu sofá na semana passada, fiquei meio traumatizada em vir aqui. Você podia pelo menos tê-las levado para o quarto.

Sorri.

— Para de ser dramática! Ninguém mandou você entrar feito um raio quando eu abri a porta. E no meu quarto só vai entrar aquela que vai ser a mãe dos meus filhos, mas mudando de assunto, e aí, me diga o que veio fazer aqui?

— Vim dar um recado da nossa mãe. Ela disse que marcou um jantar hoje à noite e é pra você ir.

— Sem chance!

— Serio Nando, acho melhor você ir. Parece que é um dos representantes da empresa de Minas, que vem com a família e a mãe quer nos apresentar a eles.

— Tá. Diz a ela que vou tentar ir, porque estou cheio de trabalho na Angels. — Fui até a cozinha e voltei com um copo de água.

— Se eu disser isso, o papai me esganar antes de te esganar, você sabe que ele não curte que você seja sócio da Angels e o sonho dele é que você vire presidente da empresa.

— Deixa ele continuar sonhando, porque a Angels que é meu futuro.

— Bom, mas mudando de assunto, também vim aqui para passar um tempo com meu irmão. Vamos sair para comer alguma coisa? Aposto que você acabou de acordar e ainda não comeu.

— Vamos, só vou colocar uma roupa.

Saí do quarto e a Adriana estava em pé na sala me esperando.

— Por que não sentou?

— Ah, esse seu apartamento mais parece um abatedouro.

Tive que gargalhar.

— Quase isso. — Minha irmã fez uma careta de nojo.

Saímos para comer e claro, minha irmã me fez ir com ela ao shopping e tive que ajuda-la a escolher uma roupa para o jantar e isso foi mais cansativo do que uma noite inteira de trabalho. Quando estávamos saindo da loja, minha irmã com o braço enganchado ao meu, dei de cara com um quadril largo, (que já tinha admirado várias vezes) virado para mim, enquanto a dona dele, estava levemente abaixada chupando uma casquinha que uma linda menininha de cachinhos dourados erguia em direção a ela. Clara!

Fiquei paralisado vendo a cena até que a minha irmã me tirou do transe me puxando pelo braço.

— Vamos Nando! — Quando minha irmã disse meu nome a Clara pareceu ouvir e se virou em minha direção.

Ela me olhou e meio que tomou um susto, como se tivesse sido surpreendida. Ela olhou da minha irmã para mim e pareceu ficar com um ar sombrio. Puxei minha irmã até ela e abri um sorriso para cumprimenta-la:

— Oi Clara.

— Como vai Fernando? — Ela se virou para a minha irmã e sorriu.

— Vou bem. Essa é minha irmã Adriana.

— Ah! Irmã... É... tudo bom Adriana? — Clara pareceu aliviada.

— Oi, tudo sim, e você. — Minha irmã respondeu com um sorriso enorme no rosto e simpática demais para o meu gosto.

— Estou bem também.

— Passeando? — Perguntei.

— Ééé... Sim, vim trazer a minha... A minha filha para passear um pouco. — Ela passou o braço pelo ombro da linda garotinha.

— Filha? Você tem filha?

— Sim. — Ela parecia envergonhada, ou como se tivesse sido pega mentindo.

Abaixei-me em frente à menina e perguntei:

— Olá, sou amigo da sua mãe. Qual o seu nome?

— Eu me chamo Mayara. E você como se chama?

— Fernando.

A menina pareceu pensar um pouco e em seguida abriu um sorriso como se tivesse lembrado de algo.

— Ahhh mãe, ele é o Fernando que você e tia Laura estavam falando que é um gatão?

— Mayara! — Levantei o olhar da menina para a mãe e a Clara parecia que ia enfartar de vergonha.

Juro que ouvi a Clara dizer baixinho um "ai meu Deus".

— Não filha você deve ter se confundido, nós dissemos que ele era nosso patrão. Foi isso patrão. — Eu estava mordendo o lábio tentando não rir do desconforto da Clara e minha irmã ria largamente.

— Ah, mas meu irmão além de patrão é realmente um gatão, não é Clara?

— Hummm sim, é, digo... claro, o Fernando é muito bonito. Gente desculpa tenho que ir ao banco antes que feche. Vamos Mayara. Tchau Adriana foi um prazer conhecê-la. Até a noite Fernando.

Ela se virou sem esperar a resposta e estava indo para o lado errado e tive que alerta-la.

— Clara! — ela se virou e eu continuei. — Você esta indo para o lado errado, tem um banco aqui atrás ó. — Apontei para o banco.

— Ah claro. Obrigada.

Ela passou por nós, nos deu um sorriso tímido, com as faces vermelha e seguiu para o banco.

— Você é ruim Nando, se divertindo com o constrangimento alheio. — Minha irmã me disse rindo.

— Não sabia que ela me achava um gato, mas foi bom saber. Já amo essa menina.

— Ahhh os Angels... Sempre quebrando corações.

— Que nada irmã, ela é só a minha funcionária. E a última coisa que quero é quebrar o coração dela. Ele parece que já foi quebrado.

— Então você gostaria de construi-lo?

— Para de tentar adivinhar as coisas e de fazer perguntas sem sentido e vamos embora que logo mais tenho um jantar para ir. — Falei revirando os olhos.

— E vê se você se comporta hem Fernando.

— Pode deixar.

Continuamos com as compras mais um pouco, mas não conseguia tirar a Clara da cabeça e nem o sorriso do rosto.

*

Depois do shopping fui para a minha casa e me preparei para o jantar na casa dos meus pais. Não estava com a mínima vontade de ir, mas prefiro ir a ouvir outro sermão do meu pai. Saí de casa já era quase sete horas da noite, o jantar estava marcado ás oito. Assim que estacionei o carro na casa dos meus pais minha mãe veio ao meu encontro.

— Filho que bom que você veio. — Ela me deu um beijo no rosto.

— Eu tinha que vir não é mãe? Ou você e o pai não me dariam sossego.

— Já que você falou assim Fernando, além da família da representante da empresa de Minas, vão estar aqui os Nagasaki.

— Ah mãe, serio? — Fabiana Nagasaki era a minha ex-namorada. Namoramos por dois anos e os pais dela eram sócios da empresa da família também. O sonho dos nossos pais era que nos casássemos, mas Fabiana também era contra a baboseira de casar japonês com japonês e decidimos terminar o namoro quando o amor acabou.

— Filho, eles são nossos amigos além de sócios. Queríamos aproveitar que vamos fazer um jantar para chamar eles para virem também.

— Tudo bem mãe, desde que não tentem me casar com a Fabiana de novo.

— Não vamos fazer isso.

— Espero que não mesmo. Porque você tinha que ser a primeira a querer acabar com essa tradição ridícula.

— Filho tenho um acordo com o seu avó. Ele aceitou meu casamento com seu pai, porque prometi que vocês seguiriam a tradição.

— Ah não faça promessa que não pode cumprir.

— Faço sim, porque se não fosse essa promessa, você e sua irmã não estariam aqui.

— Seria melhor se não estivéssemos então. — Vi que quando falei isso, minha mãe ficou com os olhos cheios de lágrimas e me senti culpado. Amo minha mãe e não quero vê-la chateada comigo. — Desculpa mãe, mas tenta entender, você já passou por isso.

— Vamos entrar e deixar esse assunto para outro dia. — Ela me disse séria.

— Vamos.

Entrei na casa dos meus pais e minutos depois os convidados chegaram. Fabiana cumprimentou as pessoas e veio imediatamente até mim.

— Fernando, você está bem? — E me deu um beijo no rosto demorando um pouco demais.

— Estou sim e você?

— Ótima. Quanto tempo não te vejo. Você está mais... bonito.

Sorri.

— Você continua linda. — E realmente continuava. Fabiana tinha rosto bonito, era alta magra e tinha cabelos pretos, compridos e lisos.

A noite prosseguiu, Adriana se juntou a mim e Fabi para conversar, mas depois acabou ficando no sofá conversando com os demais, me deixando a sós com a minha ex por muito tempo e acabamos conversando mais do que deveríamos. Bebi uma ou duas, ou dez doses de Uísque com meu pai, meu avó que acabou vindo jantar também, o pai da Fabiana e o representante de Minas. Eles falavam de negócios e meu pai e meu avô volta e meia insinuavam que em breve eu assumiria a presidência da empresa. Não sei qual a parte que eles não entendem que não é isso que quero para mim. A educação que recebi, diz que tenho que obedecê-los, mas nesse caso não vai dar. Para os orientais a velhice é sinônimo e sabedoria e respeito, mas está difícil respeitar essa decisão. Deixar a Angels e assumir a empresa seria como seu eu assumisse a minha infelicidade.

Afastei-me do grupo e fui próximo à janela que dava para o jardim e fiquei olhando a leve garoa que caia sobre o gramado. Pensei que se deixar a Angels fosse uma hipótese na minha vida, eu não trabalharia mais com os caras, não me divertiria ouvindo as musicas e curtindo as festas temáticas que fazemos e não veria meus amigos de trabalho todos os dias. Não veria a Clara. Não sei por que ela me veio à cabeça, mas lembrei do embaraço dela hoje à tarde e sorri com a memória da Mayara me dizendo que a mãe me achava um gatão. Filha. Ela tem uma filha, será que meus pais aceitariam que eu namorasse uma pessoa com filho? Eu não vejo problema nenhum. Mas o que eu estou pensando? Devo ter bebido demais, Clara é minha funcionaria e nada a mais que isso. Apesar de aquela beleza e jeito de menina acanhada que ela tem, desperta em mim algo novo. Toda vez que a vejo sinto vontade de ser amigo dela e apesar da sua timidez, acho que estou conseguindo.

— Que sorriso faceiro no seu rosto é esse? — Fabiana interrompeu meus pensamentos e jogou o cabelo de lado. Porra! Ela estava gata.

— Nada demais, bobeira. E aí, me conta o que anda fazendo de bom da vida.

Ela prosseguiu contando sobre a agência de viagem da qual ela era dona e sinceramente não ouvi mais nada, comecei a reparar no corpo dela e ela estava malhada, gostosa, o tipo de mulher que sempre me chamou atenção.

— A gente podia esticar depois do jantar e darmos uma volta. O que acha? — Ela perguntou.

— Acho ótimo. — Sorri.

Jantamos e após o jantar dissemos a todos que iriamos sair mais cedo para darmos uma volta e tanto os meus pais quanto os dela pareceram extremamente felizes com o nosso comunicado. Saímos e só foi o tempo de fecharmos a porta atrás de nós e ela me puxou para um beijo que acordou todas as partes do meu corpo.

— Você sabe que agora eles lá dentro vão começar a organizar nosso casamento não é? — ela disse após se separar do beijo.

— Sei, e depois desse beijo eu até caso. — Ela sorriu e acho que hoje a noite começaria com um repeteco com a Ex.

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