Começando a perdê-la
Fernando
Acordei cedo preparei um café preto, servi duas xícaras e fui até o quarto onde a mulher da minha vida me esperava. Depois de uma noite regada a muito sexo, sexo não, amor. Fizemos amor a noite toda, apaixonados e felizes.
Porra! Tô parecendo uma mulherzinha. Mas que se foda, eu estou apaixonado e feliz. E ninguém vai me separar dela. Essa noite serviu para me dar força para lutar contra a minha família. Eles não vão me obrigar a fazer algo que eu não queira, principalmente agora.
Entrei no quarto e a vi deitada, nua, abraçando o travesseiro e os cachos loiros espalhados nas suas costas. Coloquei as duas canecas de café sobre o criado mudo e comecei a beijar as costas dela até a fazer acordar.
— Acorda dorminhoca o dia já esta amanhecendo e foi você que me pediu para te acordar e te levar para sua casa, antes que a May acordasse.
— Hummm... Quero dormir.
— Acorda gata. — Dei um beijo no pescoço dela e ela abriu um olho e depois colocou o travesseiro em cima da cabeça. — Sente o cheirinho de café. E pensa no sorriso da May assim que ela acordar e te ver lá.
Ela levantou devagar, jogou o cabelo para o lado e sorriu para mim meio hesitante, depois saiu correndo em direção ao banheiro. Voltou minutos depois com o dente escovado e o cabelo em um coque bagunçado.
— Achei uma escova de dente nova no banheiro. Eu usei, espero que não tenha dona. — ela revirou os olhos para mim, parecendo brava e pegou a xicara de café se sentando na cama sobre as pernas.
— Nada aqui tem dona, ou melhor, tudo aqui tem dona e a dona é você. Você e a dona de tudo inclusive do meu coração. — Dei um beijo na bochecha dela que me retribuiu com um sorriso largo.
— Isso foi brega.
— Mas te fez sorrir, isso que importa.
Ela piscou pra mim.
— Estou cansada e hoje tenho que trabalhar, vou passar o dia inteiro dormindo.
— Não senhora, você pode dormir até umas duas horas da tarde, umas três passo lá pra pegar vocês duas. Prometi para May ontem, que hoje iríamos ao Fliperama, aquela casa de jogos que tem perto da sua casa.
— Fliperama?
— Sim, ontem a hora que você foi ao banheiro, ela disse que os amigos vão lá com os pais. — dei de ombros e continuei. — prometi que a levaria.
— Ela não me pediu isso. E você não precisa fazer isso também Fernando.
— Não preciso, mais eu quero. — Peguei a caneca que ela segurava e coloquei sobre o criado mudo.
— Obrigada. — Ela me olhou e suspirou.
— Eu que agradeço.
E então a agarrei, joguei de volta na cama e a acordei como realmente eu queria acorda-la
*
Deixei a Clara na casa dela e fui para a casa dos meus avós, precisava ver como o meu avô estava se sentindo. Mas quando eu cheguei lá, ele tinha ido para a empresa e só a minha avó estava.
— Como você está meu amor. — Ela me recebeu já me pegando pela mão e me levando para o sofá e se sentando ao meu lado.
— Estou bem batian. Só essa historia de casamento que não esta me fazendo nada bem e também...
— Você está apaixonado por outra mulher não é meu filho? — Ergui os olhos para olha-la e não precisei contar nada que ela já sabia de tudo.
— Estou e ela tem uma filha. Uma filha linda e educada. Ela já sofreu muito na vida e não quero ser o causador de mais sofrimento batian, mas quanto mais eu tento desenrolar essa história, mais eu me enrolo nela.
— O amor é uma armadilha, é preciso ter sabedoria para cair nela sem se machucar. Na verdade a paixão que os ocidentais têm é uma armadilha. Por isso, nós orientais, pensamos em um casamento calmo e sereno, em que podemos pensar e agir com calma, em que a paixão surge só depois com o tempo. Desde criança, vi casamentos arranjados, nunca os noivos demonstravam afeto ou falavam de amor. Aprendi com meus pais que a euforia da paixão é colocada em segundo plano e se privilegia sentimentos como devoção, respeito, compromisso, cordialidade e bem querer. Mas isso só com o tempo.
— Mas não quero isso para mim batian.
— Eu sei filho. Você foi criado aqui, em outro tempo. Eu te entendo completamente, mas seu ditian é um tradicional oriental e pensa como tal. Não quero que se sacrifique pela empresa ou pelas vontades de seu pai e avô. Mas é que desde que seu avô passou mal, eu estou meio preocupada e não sei o que fazer. Quero te apoiar, mas não quero contraria-lo.
— Entendo, e não quero que faça isso. — Falei olhando para as minhas mãos.
Minha vó notou a minha tristeza e falou:
— Mas me fale meu neto, ela é bonita?
— Ela é linda. — Peguei meu celular e mostrei uma foto em que eu e a Clara estávamos sorrindo, que tirei hoje mais cedo.
— Utsukushi — Minha vó a chamou de linda em japonês e sorriu. — Entendo agora porque você está apaixonado.
— Não conte a minha mãe, ela não vai entender.
— Não vou contar, mas você precisa resolver sua vida meu neto.
— Vou resolver batian, vou resolver. Mas acho que o casamento não será a minha escolha. Quero ficar com a Clara.
Minha avó apenas sorriu. Entendo que ela esteja preocupada com meu avô e por isso não esteja mais me apoiando como antes, mas é a Clara que eu quero e com ela que eu vou ficar.
Almocei com a minha avó e até a hora que saí para buscar a Clara novamente, meu avô ainda não estava em casa. Não consegui conversar com ele e dizer exatamente como estou me sentindo. Tenho esperança de que eu falando calmamente e mostrando meus pontos, ele me entenda e me deixe livre desse casamento.
Estacionei o carro em frente à casa das minhas meninas e elas já vieram andando em minha direção com seus sorrisos nos rostos.
— Oi tio Nando. Você realmente cumpre o que promete né?
— Cumpro sim. Pode sempre esperar quando eu disser que estarei aqui. Por que eu sempre vou estar. — Clara sorriu para mim, um sorriso de gratidão.
Seguimos para o Fliperama e passamos mais de três horas entre jogos e sorrisos. Mayara parecia feliz e Clara nos olhava com amor. Ela ficou fora da maioria das brincadeiras, pois segundo ela, não sabia jogar. Enquanto eu e a Mayara disputamos em todos os jogos disponíveis, desde carrinho de bate-bate à simulador de montanha russa e foi uma tarde maravilhosa. Nunca vi uma criança tão feliz e que sorria tanto como a Mayara.
Quando estávamos saindo do Fliperama, eu entrelacei meus dedos aos da Clara e a May pegou a minha mão sorrindo. Parecíamos uma família feliz. Eu me senti parte dessa família. Sem contar que todas as noitadas, com mulheres diferentes a cada noite, me pareceu tão errado. E nesse momento o que eu mais queria para mim, era essa vida. Com essa mulher e essa criança linda me fazendo sorrir.
Mas o encanto foi quebrado no momento seguinte. Assim que viramos a esquina para irmos até onde o carro estava estacionado demos de cara com a minha mãe e minha irmã.
— Nando! — Minha irmã falou feliz quando me viu e depois olhou para a Clara, depois para a Mayara e as cumprimentou com beijo no rosto. — Oi meninas como estão? Lembro-me de vocês, lembram-se de mim?
— Estamos bem. — Clara respondeu contida e parecia que ia desmaiar a qualquer momento, acho que já tinha percebido que aquela a sua frente era a minha mãe.
Minha mãe as olhava como se elas fossem algum tipo de criatura extraterrestre e Claro que a Clara percebeu.
— Eu também me lembro de você, é a irmã do tio Nando. — Mayara falou sorrindo e enquanto eu não sabia o que falar e só queria que o chão me engolisse naquele momento. Se minha mãe souber da Clara vai contar ao meu pai, que vai arrancar meu fígado e pior que isso, será se ela falar algo sobre a Fabiana para Clara.
— Ah olha tenho uma pergunta de primeira necessidade para fazer para você Clara. Você já dormiu na cama do Fernando?
— Adriana! Por favor. — Repreendi minha irmã e Clara parecia que queria se enfiar em um buraco no chão.
— Ah me responde você então Nando, já dormiu?
Segurei o sorriso e assenti.
— Ahhh... é ela então não é? Sabia! Desde a primeira vez que te vi Clara eu sabia que era você. — Clara nos olhava sem entender e eu ria para a minha irmã indiscreta.
Minha mãe revirava os olhos impaciente.
— Tudo bom Fernando? — Enfim minha mãe perguntou.
— Tudo. Mãe essa é Clara — apontei para a Clara que estava ao meu lado calada e vermelha como um pimentão. — E essa menina linda é a filha da Clara. — Apontei para a Mayara que estendeu a mão para a minha mãe e disse:
— Prazer dona...
— Lucia — Minha mãe respondeu e pegou a mão da menina.
— Eu gosto muito do tio Nando sabe dona Lucia, seu filho é muito bonzinho. — Minha mãe sorriu para ela. E voltou o olhar novamente para Clara.
— Mãe, a Clara, ela é... — Limpei a garganta. — Trabalha na Angels e... — Neste momento Clara soltou minha mão e me interrompeu.
— Desculpem, mas logo mais tenho que ir trabalhar e preciso levar a Mayara até em casa. — Ela deu um sorriso forçado e vi em seu olhar, que estava magoada. — Até logo dona Lucia e Adriana. — Ela se virou para ir, mas segurei a mão dela e falei:
— Eu te levo.
— Não precisa, é aqui pertinho, vamos andando. Nos vemos na Angels — Ela se soltou da minha mão, não olhou nos meus olhos e foi.
— Tchau. — Mayara acenou sorrindo e se foi com a mãe que não olhou para trás.
— Você está namorando uma mulher que tem uma filha Fernando?
— Mãe! — Adriana repreendeu minha mãe.
— Mãe...
— Mãe nada. E a Fabiana como fica nessa história? Ela sabe disso?
— Não me importo com a Fabiana. Só ainda não joguei esse casamento para o alto por causa da saúde do meu avô e eu amo a Clara.
Minha mãe riu de mim e minha irmã ria para mim.
— Sempre quis ter uma sobrinha e a Mayara é perfeita.
— Cala a boca Adriana. Você tem noção que seu pai vai te matar não é Fernando?
Dei de ombros e não respondi. Olhei para o lado tentando achar uma saída para essa situação, mas nada me veio à cabeça.
— Eu vou ficar com ela, quer vocês queiram, quer não. E agora vou indo porque preciso leva-las em casa e se eu correr, ainda pego elas aqui perto. Tchau.
Dei um beijo na minha irmã que estava sorrindo, fui até o estacionamento, peguei o carro e fui em direção a elas. Encontrei ambas andando na calçada a alguns metros da casa em que moravam. Mayara contava algo e Clara parecia pensativa. Buzinei e a Mayara me acenou feliz enquanto Clara olhou para frente e continuou andando. Fui seguindo-as devagar com o carro até que estacionei em frente ao portão. Desci do carro a tempo de intercepta-las antes que entrassem. Quando atravessava a rua vi a Clara pedir para que a Mayara entrasse e a menina me deu tchau sorrindo e obedeceu. Enquanto a Clara me esperava no portão de cabeça baixa e com olhar magoado.
Cheguei perto dela e meu coração palpitava, não queria brigar com ela, ou pior, não queria que ela terminasse comigo.
— Clara...
— Você me apresentou para a sua mãe como se eu fosse uma funcionária qualquer da Angels. É só isso que eu sou para você?
— Não. Claro que não, você é...
— Você tem vergonha de mim? — Ela estava com os olhos cheios de lágrimas e lutando para não deixa-las cair.
— Não tenho vergonha de você, nem nada. Só fiquei nervoso. Faz tempo que não apresento uma mulher para a minha mãe e...
— Principalmente uma mulher com uma filha não é?
— Clara não é nada disso. Por favor, me deixa explicar?
— Eu ouvi sua mãe Fernando. Eu a ouvi dizer que tenho uma filha, como se isso fosse uma doença. — As lágrimas agora escorriam no rosto dela.
— Por favor, não chora Clara. Eu não me importo em você ter uma filha, muito pelo contrário eu amo a Mayara.
— Mas você não me apresentou como sua namorada. — Ela falou baixo.
— Olha, minha família é complicada, e tudo é muito mais enrolado do que parece ser. Acredite, não te apresentei como namorada para te poupar. Mas peço que você tenha paciência comigo e com a minha família e não me deixe, por que eu te amo. E não tenho vergonha de vocês e nem nada parecido com isso, só fiquei nervoso por ter que apresentar a mulher que eu amo para a minha mãe em uma esquina qualquer. Eu queria te apresentar a todos, em um jantar de gala que é o que você merece. — Vi que ela deu um pequeno sorriso, de cabeça baixa, balançou a cabeça em negativa e fechou os olhos. Ergui o rosto dela para que seus olhos se encontrassem com os meus. — Me perdoa por ter sido um idiota?
Ela me olhou e não respondeu.
— Por favor? — implorei.
Ela me beijou e eu a agarrei pela cintura e a apertei forte quando o beijo terminou.
— Não me deixa? Por mais que eu mereça, você jura que não vai me deixar?
Ela só me olhou e me beijou mais uma vez, sem responder a minha pergunta e me deixando preocupado e rezando para resolver logo essa questão do casamento com a Fabiana, para ficar livre para a minha Clara. Era só ela, que eu queria para a minha vida. Mas essa história está longe de um final feliz e hoje à noite eu veria o começo do fim e definitivamente não era feliz.
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