A descoberta
Capítulo onze
Clara
Meu coração está apertado desde a hora que encontrei com a mãe do Fernando. Estou na Angels e ele já passou aqui no meu balcão me agradando de todas as maneiras. É difícil ficar brava com um homem que te trata como uma rainha, mas algo me diz que essa história com a mãe dele está muito mal contada.
— Estou te achando tão quietinha amiga. — Laura me tirou dos meus pensamentos.
— Só pensando na vida.
— Ainda a historia da mãe do Fernando te incomodando né? Olha amiga, sogra nunca é legal mesmo, então abstrai isso aí e bola para frente.
— Estou com a impressão de que algo ainda está por vir.
— Só se for uma transa quente, com seu boy, no estoque mais tarde hem. — Minha amiga falou pertinho para que só eu ouvisse e eu morri de rir.
— Obrigada por me animar.
— Não há de que. E falando em transa quente, estou para te perguntar uma coisa faz tempo.
— Anda, pergunte. Tô vendo que lá vem merda.
— Você que já pegou o Fernando, então me conta. É verdade o que dizem sobre os Angels? Ele é tudo isso mesmo?
— Ele é mais, muito mais. Me leva muito além do céu.
— E outra pergunta. — Ela continuou e a doida sorria.
— E quanto ao que dizem de japonês?
Fiquei sem entender e franzi a testa semicerrando os olhos para ela em desentendimento. Ela em resposta juntou o polegar e o indicador mostrando algo pequeno
— Sabe amiga... O... Você sabe o que dele... — Ela apontou para baixo e enfim eu entendi e comecei a rir sem parar.
— Como você é ridícula Laura.
— Tá, eu sou o que você quiser, mas me conta que estou curiosa.
— Não, não é verdade. Estou muito bem servida.
— Uauuu. Deixa eu ver? Nunca fiquei com japonês.
— Laura! — Eu gargalhei e ela me acompanhou.
— Pode ser por foto. Você não tem nenhuma aí?
— Não. Sua pervertida. E eu não fico tirando foto das partes do meu namorado.
— Não sou pervertida, sou curiosa.
— Então deixa de ser curiosa. Eu não estou com esse tipo de curiosidade quanto ao Mateus estou?
— Não. Mas se você quiser, ele me mandou uma foto ontem, eu posso te mostrar. — Ela falou já pegando o celular.
— Não! — Falei espalmando as duas mãos para para-la. — Pelo amor de Deus, não quero ver nada. — Eu estava rindo largamente e minha amiga louca me acompanhava.
— Adoro te ver assim, sorrindo e feliz. Não deixe que nada tire seu sorriso amiga.
Mas como alegria na minha vida não dura muito, eu fui tirada do meu momento descontração com a minha amiga, por uma voz feminina que fez meu mundo desabar.
— Por favor, mocinhas.
Mocinhas? Tanto eu quanto a Laura olhamos para a dona da voz e era uma japonesa linda. Tinha o cabelo comprido e cílios enormes. Acho que são postiços. E ela estava acompanhada por uma loira peituda, que deve ser amiga dela.
— Pois não? — Laura perguntou.
— Você sabe onde eu consigo encontrar o Fernando?
— Fernando? O Angels?
— Detesto esse apelido idiota, mas sim. O Fernando meu noivo.
— Noivo? — Eu e Laura perguntamos juntas.
— Sim. Vamos no casar em breve.
Laura olhou para mim sem entender e tentando ver se eu estava bem, ela não deu mais atenção para a noiva veio ao meu lado esperando que eu dissesse alguma coisa. Eu me sentia paralisada. O ar pareceu sumir do lugar, eu precisei segurar no balcão, para que uma tontura que me atingiu não me derrubasse. O som do lugar pareceu emudecer e tudo ter ficado em câmera lenta.
Eu não tinha ouvido aquilo. Não pode ser verdade. O meu Fernando, aquele que me ama, que faz tudo para me agradar, não pode ter me enganado assim, ele não pode estar noivo. Olhei para a Laura pedindo ajuda e ela parecia tão em choque quanto eu. Tudo em questão de segundos, cada movimento em questão de segundos e no segundo seguinte olhei para o lado e lá estava ele. Com os olhos arregalados, branco como papel e em choque. Fernando estava atrás da japonesa, mas não disse nada, simplesmente permaneceu parado me olhando e esperando a minha reação.
— Ah aí está você gato. — A mulher disse se virando e dando um beijo na boca do Fernando que não reagiu.
— Noivo? — eu consegui enfim perguntar para ele e já não aguentando sustentar as lágrimas por muito tempo. — Você é noivo? — Engoli em seco.
Ele deu a volta na mulher, que olhava dele para mim e de mim para ele, e veio até bem próximo ao balcão.
— A gente precisa conversar Clara. É tudo mais complicado do que você imagina.
— Só me responde, você está noivo dela?
Ele colocou a mão na cintura e parecia procurar coragem.
— Estou. — ele respondeu de cabeça baixa, soltou o ar que estava segurando e fechou os olhos como se sentisse dor ao dizer aquilo.
Eu sacudi a cabeça em negativa e saí do meu balcão indo em direção ao estoque. Percebi que ele ficou onde estava e mais um pequeno instante que os olhei antes de me virar, o vi brigando com a mulher. Laura veio atrás de mim, mas eu não a esperei entrei correndo no banheiro do estoque e fiquei lá trancada chorando. Nunca serei feliz. Nunca serei feliz. Nunca serei feliz!
— Clarinha abre a porta e conversa comigo. — Laura me pediu.
— Por favor, Laura só me deixa sozinha agora.
— Não posso te deixar sozinha.
— Ela não vai ficar sozinha, pode voltar para lá Laura, eu fico com ela. — Ouvi voz do Fernando.
— Acho bom você arrumar a merda que você fez. — Laura disse e pela voz ela estava muito brava.
Eu não quero falar com ele. Eu não vou sair daqui.
— Clara, por favor, sai daí e vamos conversar.
Eu não respondi eu simplesmente não queria falar com ele. Ele está noivo? Como pôde não ter me contado isso? Como pôde ter mentido para mim?
— Tudo bem, você não precisa sair daí, mas eu também não vou sair daqui. Preciso te contar tudo que está acontecendo.
Eu ouvi o que ele falou, sua voz estava baixa e triste. E meu coração aos pedaços ao ouvi-la. Não sei quanto tempo se passou, mas eu tinha que voltar ao trabalho. Eu precisava trabalhar, não posso perder esse emprego, já estou perdendo demais.
Abri a porta do banheiro e o vi sentado no sofá que já fizemos amor uma vez. Estava de cabeça baixa e com o rosto triste. Assim que me viu ele levantou rapidamente e veio até a mim.
— Não é o que você está pensando Clara. — Ele disse baixo e calmo como se estivesse testando a minha reação.
— Você me enganou, mentiu para mim quando perguntei se você tinha alguém e você disse que não.
— Eu não tinha. Até esses dias eu não tinha.
— Esses dias?
— Bom, eu não tenho ninguém na verdade. Só você.
— E como você explica essa noiva Fernando? Me fala que ela está mentindo por favor. Ela esta mentindo? — Perguntei e comecei a chorar copiosamente.
— Ela não está mentindo. Eu realmente estou noivo — Ele falou de cabeça baixa.
— Então não tenho mais nada para falar com você. — Passei por ele e ia em direção à saída do estoque.
— Espera não é assim, como você pensa. — Ele falou segurando o meu braço.
— Preciso trabalhar. — Tentei me soltar, mas foi em vão e então gritei com ele. — Você mentiu para mim. O que mais que você me disse é mentira? Você realmente me ama?
— Eu não menti, eu só omiti. E você não pode duvidar do meu amor por você. Nada na minha vida é tão verdadeiro quanto o que eu sinto por você.
Fechei os olhos e respirei fundo.
— Preciso trabalhar. — Me soltei dele e enxuguei meu rosto com as duas mãos. Estava saindo quando ele entrou na minha frente me impedindo de sair.
— Você não vai a lugar nenhum até me ouvir. Eu não estava noivo quando te conheci. Eu estou sendo forçado pela a minha família a me casar para assumir a empresa da família. — Ele sorriu em desdém ao falar essa história ridícula em voz alta.
— E você vai me dizer que se chama Carlos Daniel e faz parte de uma novela mexicana também? — Tentei me soltar, mas ele me segurou mais forte.
— Sei que é inacreditável, mas por favor, acredita em mim Clara. Minha família é uma tradicional família japonesa, que segue tradições e o casamento tem de ficar entre famílias japonesas, meus pais quebraram essa tradição e juraram ao meu avô que os filhos deles dariam prosseguimento a ela. Eu tentei quebrar a tradição de novo, mas meu avô teve um principio de infarto quando eu me rebelei e depois disso assumi esse compromisso, por causa da saúde do meu avô.
Parei para pensar e enxuguei uma lágrima que rolou pelo meu rosto.
— Por favor, Clara, acredita em mim. Eu não quero a Fabiana, eu quero você, mas não posso colocar a saúde do meu avô em risco.
Engoli em seco para tentar parar de chorar. Olhei nos olhos dele, e pareciam tão tristes quanto os meus.
— Me perdoa por não ter te contado antes, mas eu só não sabia como contar.
Fechei meus olhos e respirei fundo.
— Preciso voltar a trabalhar. — Dei a volta nele e sai do estoque, sem olhar para trás e sem nem importar se eu estava apresentável ou toda borrada de maquiagem.
Quando cheguei ao meu balcão encontrei a Laura, com um olhar preocupado para mim.
— Resolveram?
Balancei a cabeça em negativa para a minha amiga e preferi não falar para não começar a chorar novamente. Peguei um pedido de um cliente e comecei a fazer a bebida que ele tinha pedido. Quando olhei para o lado vi o Fernando conversando exaltado com a japonesa que ainda estava lá e ambos faziam gestos com as mãos e pareciam discutir. Tirei o olhar de onde eles estavam e voltei-me a bebida. Quando entreguei a bebida ao cliente, vi o Cassio se aproximar do balcão.
— Você está bem Clara?
Apenas balancei a cabeça afirmando.
— Se precisar de algo só me chamar. Se precisar de carona para ir embora, sei lá.
— Ela não vai precisar. — Olhei para o lado e Fernando estava lá com os braços cruzados e com cara de mau para o Cassio.
— Obrigada Cassio, se eu precisar eu te chamo. — Falei e voltei a arrumar as bebidas.
— Você não vai precisar. E me espera que eu vou te levar para casa, você querendo ou não. Eu, o seu namorado vou te levar. Porque para mim ainda não acabou. — ele se virou e foi em direção ao escritório me deixando olhando para as costas dele e com o coração palpitando.
As horas passaram rapidamente e acabei contando a Laura tudo que o Fernando tinha me contado no estoque. Ela me aconselhou a escutá-lo e dá-lo uma chance de se explicar com calma e me mostrar o que ele realmente quer. A Angels esvaziou, o dj tocou a saideira e quando eu menos percebi, já estava na hora de ir para casa. Olhei para a minha amiga e ela deu de ombros apontando com a cabeça para o Mateus que a esperava para leva-la para casa. Balancei a cabeça afirmativamente indicando que ela poderia ir sem problemas e ela me respondeu com um sorriso. Eu e Laura éramos assim, desde quando éramos adolescentes, um olhar e já dizíamos tudo uma para outra.
Encerrei o meu trabalho, fui para o estoque pegar as minhas coisas. Todos os outros barmans já tinham ido, eu estava sozinha, mas mesmo de costa para a porta senti que alguém me observava. Senti o perfume que eu já conhecia tão bem invadir a sala e agora eu já não mais me assustava com a sua presença repentina, eu sentia sua presença, eu podia senti-lo da porta me olhando. Virei-me e lá estava ele. Fernando me olhava intensamente encostado ao batente da porta.
— Está pronta? Vamos?
— Você não precisa me levar. — Falei sem olhar para ele e fechando o armário onde eu guardava a minha bolsa.
— Eu não preciso, mas eu quero e vou. — Senti um arrepio passar pelo meu corpo, peguei a minha bolsa e quando ia passar no espaço entre ele e o outro lado do batente, ele me segurou pelo braço, me virou e me prensou contra o a porta me beijando com vontade e eu me deixei levar. Tentei não pensar no motivo pelo qual eu estava brava com ele, mas a voz daquela mulher dizendo que era noiva dele não saia da minha cabeça e ele não ter me contado, mentido para mim, estava me machucando. No meio do beijo comecei a chorar e ele percebeu.
— Não chora. Estou me odiando por te fazer sofrer. Mas eu preciso que entenda que não depende só de mim. — Eu não disse nada, fiquei olhando para o chão. — Vem comigo.
Ele pegou a minha mão, me levou em direção à saída e eu o segui meio no piloto automático. Ele me colocou no banco do carona e assumiu o volante dirigindo até a casa dele. Chegamos lá eu desci e fomos os dois sem dizer uma só palavra até chegarmos a sala. Ele pediu para que eu me sentasse no sofá, sentou-se de frente para mim e pegou a minha mão.
— Eu pensei bastante nas ultimas horas e desde o primeiro minuto que comecei a pensar, você é única certeza que tenho na minha vida. Você e a Mayara. — ele sorriu sem vontade para mim. — Mas eu não posso deixar de me preocupar com o meu avô. E tenho certeza que você entende meu lado. — Apenas assenti. — E o que quero te propor, é que você... — Ele hesitou e soltou o ar que estava prendendo enquanto nesse momento eu olhava direto para ele. — Fique comigo.
— Ficar com você? — o encarei.
— Sim, vou resolver isso, eu juro. Não vou me casar com a Fabiana. É com você que eu quero me casar. Mas eu preciso de tempo, pelo menos até eu ver que meu avô não corre risco de vida.
— E enquanto isso? — Perguntei.
— Eu sou seu, completamente seu, mas sem que meu avô saiba.
— Eu serei um segredo?
— Não vai ser por muito tempo eu juro.
— E depois?
— Depois você será minha, para sempre e para quem quiser ver, só preciso convencer a minha família de que não serei feliz com a Fabiana. Que só serei feliz com você. — Ele passou a mão no meu rosto e eu me levantei.
— E você acha que sua família sendo tão tradicional eles vão me aceitar? Você acha que mesmo que você não se case com essa tal de Fabiana, eles vão aceitar que você namore uma mulher que já tem uma filha?
— Sim, eu acho. Impossível eles te conhecerem e não te amarem. E a Mayara nunca vai ser um empecilho. Eu já amo vocês duas e sei que quando eles conhecerem também vão amar.
Como continuar com raiva de um homem que me fala essas coisas? Andei até próximo a ele cruzei os braços e me mantive seria. Essa historia ainda estava me magoando.
— Se eu aceitar como vai ser? — Ele sorriu e fechou os olhos em contentamento. — Eu perguntei se eu aceitar, não quer dizer que aceitei.
— Se você aceitar vou tentar te fazer a mulher mais feliz do mundo e a Mayara a garotinha mais feliz do mundo. Vou tentar resolver essa situação com a minha família o mais rápido possível e o meu noivado com a Fabiana vai ser só de fachada.
Pensei que amo esse homem e não consigo viver sem ele, além de que, ele me quer e eu o quero, não posso deixar a família dele nos separar. Isso não é justo comigo e menos com ele. Mas e se ele estiver mentindo para mim e se ele realmente estiver noivo da japa linda?
— Como vou saber se essa sua historia é verdadeira?
— Falei com a Fabiana e ela aceitou confirmar e contar tudo que você quiser saber. Por favor, Clara vamos tentar?
Ai meu Deus que eu não esteja fazendo errado, mas eu amo esse homem e é ele. Tenho certeza que é ele.
— Tudo bem.
— O que? — ele perguntou sem acreditar.
— Vamos tentar, mas não quero ser culpada por brigas que você terá com a sua família e...
Ele me agarrou interrompendo o que eu ia dizer, me ergueu e me beijou. Quando a boca dele tocou a minha, nada mais importou e toda a tensão desse dia se esvaiu e era só nós dois. Posso estar fazendo errado eu deveria ter me afastado, mas não consigo, é mais forte que eu. O amor que eu sinto por ele é mais forte que eu.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro