9 - O OUTRO
Será que eu ouvi dizer que acertaram nosso bolão? HAHHAHAHA. Uma leitora apostou no 2x0 em cima da Sérvia, por isso, cês ganham capítulo a mais. Até amanhã, minhas vidas. <3
São Paulo, abril de 2017, depois da fama
Os exemplares físicos de "Ensina-me a Paixão" tinham vendido como água, e a tiragem inicial da primeira edição tinha se esgotado ainda na pré-venda. Quando a Letras & Cia anunciou que tinha fechado contrato de cinco anos com Theo Venturini, os leitores mais assíduos ficaram eufóricos e ansiosos pelo lançamento do livro — que demorou pelo menos sete meses desde a divulgação da notícia, em 1 de julho de 2016.
Levi terminou de escrever o último livro da trilogia e disponibilizou gratuitamente na plataforma os dois outros volumes ainda no primeiro semestre de 2016. Ficaram quatro meses completos, mas, ainda assim, os livros alcançaram 8 milhões de leituras cada um. No dia primeiro de julho do mesmo ano, o livro já tinha sido retirado, pois o autor havia acabado de assinar o contrato com a editora para sua publicação.
O processo de publicação foi feito com calma e em etapas, por diversos profissionais. O original primeiramente passou por outro editor da casa, que fez uma análise profunda e crítica, algo que Levi já esperava. Mudou tudo o que lhe foi sugerido pelo editor, lendo página por página do seu livro outra vez. Após isso, o manuscrito passou por mais diversos profissionais: revisores, capistas, diagramadores, betas. Tudo para o livro chegar às prateleiras de todas as livrarias e casas com a maior qualidade possível.
Finalmente, em outubro de 2016, às 00:01 do dia 28 mais exatamente, a pré-venda do livro foi iniciada. O lançamento era para janeiro do ano seguinte, mas as tiragens se esgotaram uma semana antes da data prevista.
Os leitores estavam eufóricos por um lançamento em loja física, como é o costume de grandes autores, mas Theo Venturini não queria se expor. Preferir se manter isolado e "desconhecido" era a nota no site da editora e em todas as suas redes sociais para explicar por que não haveria uma sessão de autógrafos.
Se a ideia inicial de Levi era evitar o sucesso, o fato de se esconder e preferir não se apresentar causou um marketing enorme. Todos queriam ler o livro daquele autor que não queria se aparecer. Especulações de que "Ensina-me" era obra de algum escritor já famoso que escrevia outro gênero sem ser o erótico surgiram em todos os cantos, e isso inclusive ajudou nas vendas dos livros.
Da sua vida imperfeita e cheia de crises, Levi Alencastro assistia a tudo isso. Via seu livro exposto nas vitrines, as pessoas comprando, comentando e indicando na internet. Em fevereiro do mesmo ano, viu o e-book ser lançado em plataformas digitais e ficar entre os mais vendidos por semanas.
Mas isso tudo tinha um lado bom. Todo o sucesso de Theo seria convertido em dinheiro — inclusive, Mateus já tinha lhe adiantado uma parte de seus direitos autorais — e esse dinheiro seria usado para a micro-TESE e a inseminação in vitro. Teria status financeiro o suficiente para arcar com as despesas e garantir um bom o futuro para seu bebê.
E era nisso que estava pensando, naquele abril de 2017, sentando à mesa do café da manhã, quando Ana Paula surgiu, vindo do quarto e bem-arrumada, pronta a mais um dia na Boutique.
— Fiz seu café — disse, levantando-se e pegando uma xícara para a esposa.
Ana sorriu em agradecimento, mesmo achando meio suspeita a atitude do marido. Aliás, nos últimos quinze dias Levi estava estranho demais. Mas um estranho bom, que ainda assim a confundia. Ele tinha pedido férias dos três empregos — simultaneamente — e passava boa parte do dia em casa; às vezes o via enfurnado no notebook, fazendo só Deus sabe o quê, mas quando a via, parava imediatamente o que estava fazendo e ia lhe dar toda a atenção. Tinham ido ao cinema, a um motel (onde o sexo foi mais quente do que nos últimos três anos), peças de teatro, caminharam sem rumo pelos shoppings e tomaram sorvete. O Levi de antes, e aquele que tinha desejado desde que reataram, subitamente estava de volta.
Ana jamais reclamaria sobre isso, mas agora, depois de tanto tempo implorando por atenção, já tinha se acostumado e, inclusive, tratava o marido com a mesma frieza, indiferença e distância com qual era tratada. Até quinze dias atrás. Embora não entendesse seu comportamento atual, precisava admitir que estava gostando. E precisava tomar uma atitude se quisesse manter essa pacificidade e amor rondando em seu lar. E o faria em breve.
— Tem planos para o fim de semana? — indagou Levi, tomando um gole de seu café, com um olho na esposa e outro no jornal.
— Ia sair com algumas amigas. Por quê? — Sentou-se de frente para o marido e pegou um pãozinho.
— Pensei em sairmos, talvez jantar fora. Tenho uma novidade pra te contar. — Então, ele a olhou, sorrindo tão lindamente que teria molhado qualquer calcinha.
Levi estava decidido não somente a convencê-la a tentarem a biópsia mais uma vez em busca de espermatozoides, mas também de lhe contar que ele era Theo Venturini e estava ganhando mais do que um dia sonhara e que, por isso, poderiam arriscar no exame e, tudo dando certo, na inseminação in vitro.
— Que novidade? — inquiriu ela, erguendo uma sobrancelha.
Levi a segurou pelas mãos e respondeu:
— Vou te contar uma parte, mas o restante fica para o fim de semana, certo? — A esposa meneou em positivo. — Agora finalmente podemos arriscar uma inseminação in vitro, já juntei dinheiro o bastante para o exame de micro-TESE, para o procedimento se encontrarmos espermatozoides vivos e fortes e para o futuro do bebê. Tudo do jeito que você sempre sonhou, querida, posso te dar agora. Tudo e muito mais.
Ana ficou calada alguns segundos, ainda digerindo a informação. Ela tinha um posicionamento irredutível sobre o assunto e dificilmente mudaria de opinião.
— E como... — viu-se perguntando — conseguiu tanto dinheiro, assim?
Ele sorriu, voltou ao seu jornal e café antes de dizer:
— No final de semana eu te conto.
Levi conseguiu convencer a esposa a, se tudo desse certo, planejarem o bebê que salvaria seu casamento. Ana estava radiante com a ideia, apesar de não compreender como o marido arranjara dinheiro o bastante para arcar com todos os custos. Mas isso menos importava. Saberia em breve e, em breve, teriam um bebê. Isso não era maravilhoso?
O telefone dele tocou no criado-mudo, e a mulher enroscou suas pernas nuas na do marido, como se lhe implorasse para não atender. O toque específico indicava o de Mateus. E era o toque diferente de quando o amigo lhe telefonava do telefone particular. Significava então que ele estava ligando em nome da Letras & Cia.
— Preciso atender, amor — sussurrou em seus lábios, beijou-os rapidamente e se virou para atender à chamada. — Oi, Mateus.
— Atrapalho? — Levi olhou para o lado, a esposa nua, descabelada, o corpo de ambos ainda suados. Não tinham nem dois minutos direito que tinham chegado ao orgasmo e se recuperavam da transa estupenda.
— Um pouco. É urgente?
— Um pouco — disse igualmente. — Preciso falar com você sobre Theo Venturini. Encontramos uma solução para darmos aos leitores o que eles estão pedindo: um autor de verdade. Consegue vir aqui na editora, agora?
Levi suspirou. Odiava ter de deixá-la naquele momento. Finalmente seu casamento parecia voltar aos eixos, mesmo que, vez ou outra, ele ainda se sentisse ofendido e magoado com o passado. Ignorava esses pensamentos quando eles o tomavam, e só pensava que, dentro de pouco, teria um filho. Sua maior realização pessoal. E a ideia superava qualquer pensamento negativo de ódio e mágoa com o passado. Por mais que quisesse ficar e compensar a esposa de todo o tempo que fora distante e frio, não podia. Antes, e primeiramente, precisava resolver essa questão do seu "outro eu".
— Chego aí em uma hora.
— Maravilha. Até já.
Levi explicou a situação à esposa, não contando toda a verdade, claro. Só que precisava resolver junto com Mateus algumas questões sobre o novo original que tinha avaliado dias antes e era uma coisa meio urgente.
— Eu prometo não demorar.
Ana não contestou, apenas lhe deu um selinho nos lábios e alegou o esperar quando voltasse da editora.
Levi chegou à Letras & Cia no horário combinado. Ao adentrar a sala de Mateus, se deparou com mais um homem. Era alto, cabelos e olhos pretos, estava bem-vestido, mas sua postura exalava a algo parecido como um bad boy. Rosto quadrado, postura confiante e, até diria, um pouco arrogante.
Mateus se levantou e veio em sua direção. Chamou-o num canto primeiramente e falou sobre a ideia de "venderem" um autor para o público. A ideia era simples: contratar um ator para ser Theo Venturini, para vincular sua imagem e saciar a curiosidade do público. Mesmo que o suspense vendesse os livros, já estava na hora de os leitores conhecerem um rosto.
— Um outro de você, digamos assim — Mateus explicou. — Ninguém vai saber de nada, e ele vai assinar um contrato de compromisso que o obriga a manter sigilo sobre não ser Theo Venturini. E não se preocupe, ele também não vai saber quem é o verdadeiro autor. Você vai poder instrui-lo como quiser se passando pelo "editor" do Theo. Ele nem vai desconfiar.
Levi passou a mão no rosto e deu uma espiadela no sujeito sentado à mesa de vidro. Era uma boa ideia a de Mateus. Dar uma imagem de quem era Theo ajudaria a preservar sua identidade e privacidade. Concordou com os termos e, junto do editor-chefe, caminhou em direção ao ator, que se levantou logo quando estava próximo.
— Este é o nosso editor, Levi Alencastro — disse Mateus, apresentando-os um ao outro — e representante do senhor Venturini. — Virou-se para o amigo. — Levi, esse é nosso ator que será Theo Venturini. André Luiz Albuquerque.
Feita as apresentações eles trocaram um aperto de mão.
Levi precisou voltar para a editora mais cedo do que tinha planejado. Mateus praticamente implorou por seu retorno para ajeitarem tudo com André, planejarem todas as coisas para nada sair dos trilhos e frustrar seus planos. Precisavam vender uma imagem do autor best-seller para os leitores e isso teria de ser perfeito e profissional. Estariam enganando o público? Sim, com certeza, mas era melhor do que se expor e expor sua vida.
Decidiram — como uma jogada de marketing — anunciar que Theo Venturini tinha decidido realizar uma sessão de autógrafos para o lançamento de "Ensina-me o Prazer", em setembro daquele ano. O público ficou eufórico e ansioso, e as redes sociais do autor foram bombardeada de mensagens. Os livros do primeiro volume voltaram a vender como no lançamento, e cada vez mais o escritor ganhava renome. Um site literário reconhecido, inclusive, apontou o escritor como a "mais nova referência em literatura erótica".
André tinha assinado um contrato de confidencialidade — não deveria contar a ninguém sobre não ser Theo Venturini e de não anunciar antes da hora que ele era o autor da trilogia "Ensina-me". A revelação seria feita somente no evento de lançamento do volume dois da série.
O restante da semana, Levi se encontrou com André na editora para o instruir sobre como agir e reagir como Theo: o que, como e quando dizer, e todas as informações úteis e necessárias para o ator caso o perguntassem (e certamente, perguntariam). Tudo feito com muita discrição, pois, afinal, ninguém na editora, exceto Tavares, sabia da verdadeira identidade do autor, e permaneceria assim até quando fosse necessário.
— O mais aconselhável seria você ler a trilogia do Theo, pra ficar por dentro e poder falar do livro com propriedade, como se realmente tivesse escrito ele — Levi dissera na ocasião. Estava sentado na sala de reuniões, na presença de André e do editor-chefe, dando mais algumas instruções. Ele só apareceria mesmo dentro de alguns meses, mas precisava desse tempo para se preparar e incorporar o personagem.
O final de semana tinha chegado. No sábado à noite jantaria com Ana em um bom restaurante, contaria a novidade, depois a levaria para um motel onde teriam um sexo quente de comemoração. Eram bons planos. E nada frustraria isso, nem mesmo o estúpido do Mateus que não lhe dava descanso nem mesmo no final de semana — teoricamente, não se trabalha nesses dias, não é?
— Não vou tomar muito do seu tempo, eu juro — prometeu Mateus, conduzindo-o até a sala de reuniões. Tinham marcado a última reunião do mês com André naquele sábado, Levi lhe entregaria um questionário com algumas "curiosidades" sobre Theo que o ator deveria ler para incorporar de forma real o personagem e não dar brechas de que tudo era uma farsa. — O Albuquerque já deve estar chegando.
Levi concordou apenas e se sentou à mesa, retirou a pasta da valise e tornou a ler tudo ali escrito, como uma forma de passar o tempo apenas. O edifício estava silencioso, uma vez que era sábado e só mesmo Mateus ficava ali, trabalhando. E ele, obviamente. Quarenta e cinco minutos tinham se passados, e nada de André chegar ou atender ao telefone. Levi olhou no relógio. Três da tarde.
— Ele não vai vir, Mateus. Eu já o instruí bem, certo? Devo só entregar essa papelada para ele estudar, posso entregar em mãos. Suponho que tem o endereço dele.
— Tenho. Está no contrato. Espera — pediu, revirando a gaveta. Ao encontrar, anotou em um pedaço de papel e entregou a Levi. — Depois vou remarcar essa reunião, talvez para a semana que vem, mesmo com o questionário, a preparação dele é importantíssima, Levi. E você precisa instruí-lo muito bem.
— Claro — concordou, memorizando o endereço. Despediu-se de Mateus e rumou para a casa de André. Entregaria os papeis e voltaria para seu apartamento. Queria chegar até por volta de quatro da tarde. Tinha prometido a Ana não passar desse horário. Pelo amor de Deus! Era sábado.
Por sorte, o rapaz não morava muito longe da editora. Um pouco mais de trinta minutos de viagem, e Levi já estava estacionando frente a uma casa em um bairro mais sossegado da cidade. Tinha um portão basculante logo na entrada e um interfone. Ele apertou o botão. Um segundo depois:
— Sim? — Era a voz de André.
— Sou eu — disse apenas.
Silêncio por uma fração de tempo.
— Porra, tínhamos uma reunião, não é?
— Sim. — Levi revirou os olhos. Só esperava que o homem não tivesse esses lapsos de memória enquanto fosse Theo Venturini. — Eu te trouxe o material.
— É do trabalho — André disse. Claramente não estava falando com Levi, mas com alguém lá dentro. — Vou só abrir o portão e já venho. Se vista. — Finalmente voltou-se para ele. — Estou indo aí.
Um minuto depois, o portão se abria, e Levi se deparou com o ator sem camisa, cabelos úmidos e calça jeans. Percebeu logo ter chegado em hora inoportuna. E isso explicava porque tinha se esquecido da reunião.
— Atrapalhei seu encontro — apontou, entregando-lhe a pasta.
— Não — contestou o outro, folheando rapidamente. — Já terminamos, e ela está de saída. Quer entrar? — Ergueu o olhar. — Tomar alguma coisa?
Levi pensava em negar. Ia voltar pra casa, a esposa estava o esperando e, de qualquer maneira, não tinha intimidade o suficiente com André pra ficar, beber alguma coisa e papear. Além do mais, ele estava acompanhado. Mas quando abria a boca para isso, a silhueta de cabelos molhados surgindo logo atrás travou qualquer ação. Ela vinha torcendo as madeixas molhadas, usando uma camisa regata branca com uma estampa de gato que bem conhecia.
— Eu preciso ir, André, e espero que você entenda... — Ana Paula parou de falar subitamente quando viu Levi ali, estático no lugar, olhando diretamente para ela com um misto de decepção, raiva e nojo. Seu coração disparou e a voz saiu gaguejada quando exclamou: — Levi?
André se voltou para trás no mesmo segundo e encrespou a testa quando a amante reconheceu o "seu" editor.
— Vocês se conhecem? — ele perguntou, e então se redirecionou para Levi. Meio segundo mais tarde, um soco o atingia em cheio. Um soco forte o suficiente para derrubá-lo no chão.
Levi passou a mão pelos lábios secos.
— Desculpe por isso — disse, voz rascante. — Mas eu precisava descontar em alguém. E não poderia ser nela. — Levantou o olhar para a esposa. — Eu quero a porra do divórcio, Ana Paula!
Ele entrou no apartamento transtornado. Sua vontade era de jogar tudo pela janela. Chutou portas, esmurrou paredes, jogou objetos. Os olhos ardiam e, dessa vez, não ia segurar as emoções. Precisava externar a dor insana invadindo seu corpo e sua alma.
Só fazia cinco minutos desde que chegara quando a porta se abriu, trazendo Ana Paula junto. O olhar abatido e amedrontado, o corpo encolhido e a respiração ofegante.
— Levi, por favor... — murmurou, como um rato encurralado.
— Por favor? — gritou, transfigurado de uma maneira que Ana nunca viu. — Por favor, o quê?
— Precisa me ouvir... — titubeou, se aproximando a passos pequenos.
Levi deu uma risada seca e quase psicótica.
— Ouvir você falar sobre ter trepado de novo com outro homem? E não só uma vez? Aliás, há quanto tempo vem dando pro André, caralho?!
Ana ficou calada, vendo o marido andar de um lado a outro.
— Eu ia te pedir o divórcio — ela começou, voz trêmula. — Estava cansada daquela vida de não me dar atenção, de se importar mais com seu trabalho do que comigo. Eu tinha... conhecido o André e... ele me supriu emocionalmente, coisa que você não fez durante esses três anos.
Levi parou sua andança pelo apartamento e encarou a esposa com os olhos úmidos. Era a primeira vez que realmente chorava na frente dela — ou de qualquer outra pessoa.
— No dia em que ia te pedir o divórcio... você me convidou pra sair. E logo nas semanas seguintes mudou muito. E aí... veio com a ideia de termos um filho, que podíamos... arcar com os exames e procedimentos. Então desisti e resolvi terminar... com o André.
— Mas antes precisava de uma trepada de despedida, não é? — Levi cuspiu. — Você sempre tem um motivo pra justificar suas traições. — Deu um passo à frente, deixando seu rosto colado ao dela. — Eu aqui, fazendo planos, nosso casamento decididamente resolveu melhorar, mas você estava abrindo as pernas pra outro macho. E o culpado sou eu, de novo? Por não te suprir emocionalmente? Admita de uma vez que você é uma vadia!
Um tapa esquentou seu rosto no mesmo instante. Levi a encarou, cheio de fúria e tristeza nos olhos azuis. A dor no rosto não era nada perto do seu coração partido.
— Eu quero a porra do divórcio — reafirmou, passou por ela e deixou o apartamento, batendo a porta com uma força estrondosa.
O episódio fatídico da segunda traição de Ana já tinha algumas semanas. Os dois primeiros dias após, Levi passou na casa de tia Erica. Mas logo voltou, mas não para seu casamento. Não sairia de lá enquanto não estivesse oficialmente divorciado, e seus bens, partilhados. Dormira um tempo no sofá, sem demora, contudo, ajeitou um quarto de hóspedes. Impediu Mateus de depositar seus direitos autorais — que seriam em julho — até isso tudo ser resolvido. Também tinha tentado convencê-lo a trocar de ator a representar Theo Venturini, mas André já tinha assinado um contrato de cinco anos, e a editora não poderia quebrar o acordo. Assim, adiou todas as reuniões possíveis ao máximo. Mas, em uma ocasião, isso foi impossível, e eles acabaram tendo de se ver.
— Escute, eu não fazia ideia de que ela era sua esposa — disse André, puxando-o para um canto. Levi segurava uma caneca com café escaldante e sua vontade era de jogar na cara do desgraçado.
— Mas sabia que ela era casada, não sabia?
— Sim. Mas...
— Não tem "mas". Você sabia e ponto. Isso te faz tão safado quanto ela. Se não fosse eu, seria outro. Deveria ter se importado.
— Com o quê? — rebateu Albuquerque. — Se nem ela se importou com você, por que eu me importaria? Alguém desconhecido pra mim.
Levi pensou um pouco sobre as palavras dele e respondeu apenas, antes de voltar para sua sala:
— Empatia. Coisa que, claramente, você não tem.
Outra vez, Levi passava menos tempo em casa. Voltou a trabalhar como nunca, e chegara até uma vez a madrugar na editora, com os olhos grudados em originais ou no computador, onde começou a traçar o esboço de um novo romance. Embora quisesse que tudo andasse o mais rápido possível, o primeiro mês fez-se apenas enrolar. Precisava procurar um advogado decente e reunir toda a documentação necessária para dar entrada no peido de divórcio. Mas lhe faltava tempo e ânimo. Por ele, simplesmente sumiria da vida de Ana, mas sabia que, legalmente, isso traria mais complicações.
Ana contestou o divórcio, não queria de jeito nenhum e, de alguma maneira, ainda tentava justificar suas atitudes com o argumento de que Levi não lhe dava a atenção necessária.
— Quem não dá assistência, abre concorrência — afirmara, dias antes.
— E isso pra mim é slogan de prostíbulo — Levi contestou, e recebeu outro tapa na cara.
Numa tarde, então, após três semanas desde que descobrira a traição da mulher, depois do seu expediente na editora, Levi não quis voltar pra casa no horário habitual. Precisava ficar um pouco longe daquele lugar tóxico que o machucava emocionalmente. Queria um lugar mais calmo e pacífico. Saiu um pouco mais cedo e, munido de todo o necessário, foi até a Hauser Advocacia, para, finalmente, dar entrada no divórcio. De lá, foi até uma livraria que adorava frequentar e — aliás — havia dias que não ia lá, beber um café e ler um livro. Às vezes, inclusive, gostava de se sentar à mesa e folhear "Ensina-me a Paixão", e foi nessa mesma livraria que ele a conheceu.
Lia.
Com seu sorriso meigo, sua sugestão que um livro erótico não fazia o seu estilo, pois ele era homem, o brilho emanando em seu olhar, o fato de ela ser uma leitora assídua do Theo e ter a trilogia Ensina-me como seus livros favoritos, o conjunto destas coisas fez Levi criar uma pequena atração quase indecifrável pela moça.
— Transaria com uma mulher que acabou de conhecer? — ela perguntou, já do lado de fora da livrara, depois de uma conversa sobre os livros, de se apresentarem e de ter lhe beijado.
Desde sempre Levi nunca transava num primeiro encontro. Talvez no terceiro. E isso era coisa dele. Mas Lia conseguiu despertar uma vontade estranha que contrariou toda a sua personalidade. Mas Lia conseguiu despertar uma vontade estranha que contrariou toda a sua personalidade.
— Não — respondeu, sentindo algo dentro de si. Diferente. Bom. Excitante. — Mas abro uma exceção pra você. — Então a puxou pela nuca e a trouxe de volta para seus lábios.
E o ranço da Ana Paula, como anda o nível? HAHHAAAH (rindo mas de nervoso, misericórdia.)
O coitadinho do nosso bebê fazendo planos, e a Ana conseguiu de novo frustrar o Levi, né? Ô mulher, viu. e.e
E esse bafo do André se passar pelo Theo? Quero nem ver quando a Lia souber uheuheuhe.
Comentem, votem e me contem o que estão achando da história. Amanhã tem mais pra vocês. Daqui em diante agora não teremos mais esses ping-pong com o passado, ok? Só o presente ^_^.
Beijocas e até breve.
A.C.NUNES
PS: O quote da mídia é uma passagem do capítulo 27. Só pra deixar vcs mais ansiosos mesmo. KKKK
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