20 - ENCONTRO DE CASAIS
Se já é meia-noite, já é domingo, né non? KKK Boa leitura :*
Levi tinha acabado de escutar o relato da noite de Julian quando alguém o chamou na porta. Terminou de afivelar o cinto e foi ver quem era.
— O que foi, André?
— É o pessoal da editora. Me ligaram. Vão precisar de você no estande, em meia hora.
— Pra quê? — Encrespou a testa. Ele deveria ir somente às 14 horas, o horário de Theo Venturini.
— Alguma coisa sobre uma proposta para "Ensina-me". Como é você quem atende meus interesses...
Levi desviou o olhar e suspirou. Pensou um segundo em Lia. Precisaria desmarcar o café da manhã com ela. Voltou a olhar André, com uma estranheza nos olhos, como se o culpasse por ter de cancelar com a garota. Parecendo entender aquele tipo de olhar, o rapaz se explicou:
— Ordens direta do senhor Tavares.
Com outro suspiro de derrota, ecedeu:
— Tudo bem. Te encontro em quinze minutos no saguão do hotel. — Terminou de se arrumar, malha, blazer azul e escovou os cabelos. Confirmou com Julian o quarto de Liz e foi até lá. Avisou Lia sobre um imprevisto no trabalho, combinaram de se verem mais tarde e então foi se encontrar com André.
Ele já estava o esperando na recepção, rodando as chaves do carro alocado no dedo indicador. Fizeram a viagem em silêncio até o estande da editora. Ao chegarem, encontrou um casal — pareciam executivos — acomodados em um sofá disponível no estande, conversavam com um dos assistentes da editora, que se levantou tão logo avistou Levi e André.
— Levi, esses são o senhor e a senhora Ramirez, são donos da Libro Abierto, uma famosa editora na Argentina.
Levi ensaiou um sorriso e apertou a mão do casal. O homem era alto, cabelos grisalhos e calvos, mãos grandes e uma barriga enorme. A mulher era um pouco mais baixa, cabelos na altura da mandíbula, vermelhos, mas não naturais, maquiagem e marcas de expressão que sugeriam algo em torno dos 60 ou 65 anos.
— Senhor e senhora Ramirez, esses são Theo Venturini. — E apontou para André. — E Levi Alencastro, agente literário do autor.
Após as apresentações, o grupo se reuniu novamente no sofá. O casal falava português, com um sotaque carregado. Tinham tomado ciência sobre o livro "Ensina-me" quando buscavam por referências de livros da atualidade dos países da América Latina, e, semanas antes, a Letras & Cia tinha entrado em contato para uma proposta. Isso só poderia ter sido coisa de Mateus.
— Queremos publicar a trilogia do Theo — explicou Javier Ramirez.
Levi conhecia pouco do mercado editorial dos países estrangeiros, mas sabia que Libro Abierto comercializava suas publicações em quatro ou cinco países de língua espanhola no continente americano.
Era uma oportunidade única. E gigantesca. Uma oportunidade de levar Yvel e Hannah a outros leitores, ao cenário internacional, a levar Theo Venturini para fora do Brasil. Aquilo teria sido exultante para qualquer escritor. Mas, diante à proposta, ficou pálido e congelado, se perguntando por que ele. Apesar disso, não conseguia não pensar na atenção que o homem ao seu lado estava recebendo.
O modo como foi tratado e elogiado pelos Ramirez o fez querer desmanchar aquela farsa ali mesmo. Mas ver André levar crédito pela sua trilogia era o preço a se pagar por não querer toda a mesma atenção que estava recebendo no momento.
— Ficaremos muito felizes em conversarmos sobre a proposta — Levi assentiu, por fim, voltando ao estado normal. — Deveríamos marcar uma reunião em São Paulo, na editora, e conversarmos melhor.
— Sem sombra de dúvidas — a mulher se manifestou. — Íamos entrar em contato amanhã com a editora, mas por acaso soubemos da participação do Theo neste evento e, como já estávamos por aqui, aproveitamos para ter essa conversa informal.
— Eu vou falar com o assessor do Mateus, e assim que tiver uma data, entramos em contato — Levi informou, encerrando o rápido encontro.
O grupo ficou mais um tempo reunido, falando do evento e mercado editorial. Uma hora e meia depois, tinham ido embora — havia muitas outras atrações a serem vistas.
— Agora entendo por que o verdadeiro Theo se esconde — sussurrou André, enquanto Levi arrumava alguns livros no estande, pois o próximo autor entraria em breve. Ele se virou imediatamente, estranhando aquele pronunciamento. — Esses eventos... são bons e divertidos. Mas cansativos demais.
— Pode ter certeza: o verdadeiro Theo não se esconde por esse motivo. — Pausa. Pensou um segundo. Tomou um livro em mãos e completou, quase divagando: — Ele adoraria receber essa atenção e carinho, participar ativamente desses eventos. Não importa o quão cansado ficasse depois.
André o analisou um segundo antes de prosseguir:
— Como ele é? — Levi enrugou o cenho. Entendendo sua confusão, explicou: — O verdadeiro Theo. Você e o Mateus são os únicos que sabem a verdadeira identidade dele. É novo? Velho? Um autor famoso, mas que escreve outro gênero? — Alencastro estava abrindo a boca para responder, mas foi interrompido. — Ou é uma mulher?
Levi abanou a mão no ar, como espantando um inseto.
— Não te falaria nem se pudesse. Agora esqueça esse assunto e me deixe trabalhar.
André não insistiu na conversa, pediu licença e foi caminhar pelo shopping até o horário da sua participação. Levi almoçou sozinho algum tempo depois, seu almoço se resumindo a um lanche do McDonald. Deixava a praça de alimentação quando recebeu uma mensagem. Sorriu ao ver o nome dela no remetente.
Tudo bem no trabalho? Ainda vamos nos ver às 4h? :)
Respondeu sem demora.
Sim. Era só um pessoal novo interessado em uma parceria. Feliz que tenha me desbloqueado. Seja pontual. E não venha de saltos. Vamos andar por todo o shopping.
A resposta veio um minuto depois.
Se importa em Liz ir com a gente?
Sim, tinha pensado em responder. Queria um tempo a sós com ela para poder contar as coisas que queria contar. Enviou, porém.
Não. Tudo bem.
O Julian vai junto!, chegou em seguida.
Estava digitando a mensagem em resposta quando chegou outra.
Ignore isso, Levi. Liz tomou o celular da minha mão. Julian não vai coisa nenhuma!!
Levi riu enquanto lia e caminhava de volta ao estande, tendo certeza que Lia digitara a mensagem gritando com a irmã.
Ei, Lia, não acha melhor ele vir com a gente? Assim pode ficar de olho nos dois. É melhor do que se encontrarem às escondidas.
Torturantes cinco minutos se passaram até Lia enviar outra mensagem.
Tem razão. Um encontro de casais, então? Às 4h. Estaremos prontas. Beijos :*
Levi guardou o celular no bolso do blazer após respondê-la, não podendo conter um sorrisinho.
— Um homem só sorri assim por causa de uma mulher. — André surgiu na sua frente, os lábios curvados de um jeito meio sugestivo e cínico. — Se entendendo com Ana Paula?
Levi o encarou bem durante um segundo. Olhou ao redor. Tinha chegado ao estande da editora e nem se deu conta disso. Embora quisesse dar uma resposta bem dada para André, escolheu o silêncio. Passou por ele e foi ler um livro.
Após a sessão de bate-papo e autógrafos de Theo Venturini — que acabou por volta de quinze para as quatro da tarde —, Levi se preparou para retornar ao hotel e buscar Lia para o "encontro de casais". Durante o evento, porém, sentiu receio de a garota aparecer ali no estande, de repente, mesmo que tenha dito não vir, e vê-lo ao lado de André. Ok. Não necessariamente ao lado, mas no mesmo ambiente, com crachá de identificação e tudo. Precisava contar a ela sobre seu trabalho e vínculo com Albuquerque, mas ainda não tivera oportunidade para tal. Ou... as vezes que tivera tenha preferido não contar.
De qualquer maneira, planejara contar naquela tarde. Se não fosse por Julian e Liz estarem juntos. Era algo que preferia falar a sós com Lia. Esperaria. No dia seguinte, poderia chamá-la em um canto na universidade e conversarem.
— Está com pressa — André observou, vendo-o juntar seus pertences. — Vai aonde?
— Voltar para o hotel — respondeu, enfiando a carteira no bolso. — Você vem?
— Não. Vou ficar mais um pouco. Quer usar o carro?
— Obrigado, mas peço um Uber.
Levi saiu sem dar-lhe tempo de resposta, já fazendo o seu pedido.
Ele chegou atrasado em dez minutos. Lia já estava pronta, usando um vestido preto rodado e tênis All Star branco. Os cabelos estavam ao natural, repletos de cachos volumosos. E perfumada. Os três já o esperavam no corredor do quarto, Lia se mantendo entre a irmã e Julian, de cara amarrada e braços cruzados. O bico em sua boca fez Levi ter vontade beijar e morder até ela abrir um sorriso lindo.
— Está atrasado, Senhor Pontual — zombou Julian. Ele revirou os olhos.
— Fiquei mais tempo preso no trabalho do que eu previa.
— Quem trabalha em pleno domingo? — Liz interrogou.
— Ah, está tendo... — Julian foi dizendo, e Levi interrompeu antes de contar coisas demais:
— Médicos — respondeu; Liz riu, concordando com a cabeça.
— É, tem razão. Mas você não é médico, é?
Lia franziu o cenho, dando por si que ainda não sabia o que diabos Levi fazia da vida além das aulas na faculdade. Pensava em questioná-lo sobre isso, mas o homem foi mais rápido.
— Não. Não sou. Então, vamos? — manobrou o assunto.
O grupo afirmou em positivo e, antes de Levi ter a oportunidade de, pelo menos, segurar Lia pelas mãos, o amigo o puxou pelos punhos, ficando para trás enquanto as moças seguiam caminho para o elevador.
— Não falou pra Lia que você trabalha na Letras & Cia.
Levi fez que não com a cabeça.
— Vou contar. Amanhã. Com calma. Não estrague tudo com essa sua boca grande.
Julian deu uma risada alta, fazendo as duas se virarem e o encararem. Levi forçou um sorriso para disfarçar e descontrair. Conseguiu finalmente alcançar Lia e segurá-la na mão. Ela o olhou. Liz o olhou. Julian o olhou. Por um segundo, pensou em desfazer o contato, mas precisava da pele dela na sua, seu calor, seu toque macio. E ela precisava saber que ele precisava disso. Então, apertou mais seus dedos ao dela, enquanto o elevador subia. Inclinou-se sobre seu ouvido e sussurrou:
— Lia... eu realmente... gosto de você.
Os amigos tomaram um táxi e foram até o shopping. Na livraria, o evento "LiteraHot!" continuava agitado e cheio nos três estandes espalhados pelo local. Lia olhou no relógio. Estava quase no horário de duas autoras que também admirava. Levi esquadrinhou o local, em busca de André. Ele poderia ser um problema caso o vissem. Contudo, durante os segundos que olhou ao redor, não o viu. Foi puxado pelo punho, e então voltou à realidade. Sorriu para Lia e se sentou ao lado dela, já sentada na terceira fileira.
— A gente não poderia fazer outra coisa? — Julian sussurrou ao seu ouvido, um lugar logo atrás. — Eu não curto...
— Fica quieto, Julian — Levi o advertiu.
O colega se recostou ao seu lugar e não disse mais nada. Olhou para Liz e sorriu, pensando em tentarem dar uma escapada para alguns beijos. Segurou-a na mão. Lia olhou por cima dos ombros, a expressão sisuda e brava.
— Relaxe e aproveite — Levi murmurou. — Eles não vão fazer nada de errado.
Lia lhe deu um sorrisinho e acatou o conselho. Durante o bate-papo com as autoras, ela esteve distraída, permitindo ao casal logo atrás fugir para um passeio no shopping. Ao notar, quis ficar furiosa, mas Levi conseguiu contornar a situação. Compraram os livros das autoras, pegaram autógrafos e brindes, andaram pela livraria comprando mais livros, conhecendo outros leitores e escritores — dos mais renomados aos iniciantes.
Participar desses eventos só aumentava a paixão de Lia por livros. E encontrar alguém que gostava desse universo tanto quanto ela — Levi — lhe dava um sentimento indescritível. Como descrever o momento em que eles se juntaram em torno de uma mesa e falaram sobre o mesmo livro, levantando seus pontos e personagens favoritos? Conversaram sobre alguns clássicos, seus livros de cabeceira, a primeira história que leram, como a paixão surgiu. Como descrever quando trocaram dicas de leitura, ou descobriram que tinham amado ou odiado o mesmo livro? Até quando discordavam sobre uma obra era interessante. Levi parecia ter mais propriedade e intelecto para falar de um livro. Ele sempre levantava questões relevantes e suas críticas faziam jus a alguém que entendia do assunto.
Terminaram a sessão do "LiteraHot!" às oito da noite, deixando a livraria com alguns livros e risadas. Lia sacou o celular do bolso e ligou para a irmã. Marcaram um ponto de encontro. McDonald. Caminharam até lá, ainda falando sobre o evento e sobre o livro. Ao chegarem, Julian e Liz já o esperavam. Juntaram-se em uma mesa e pediram cada um, um lanche.
— A gente precisa ir embora daqui a pouco — Lia disse, olhando para Levi ao seu lado. — Vamos pegar o último voo de volta para São Paulo. Precisamos arrumar as malas.
Levi e Julian torceram o nariz, como se não aprovassem a ideia.
— Julian e eu vamos pegar o primeiro de amanhã. Por que não ficam mais uma noite? — sugeriu Levi.
As irmãs se entreolharam. Não eram uma má ideia, mas toda a hospedagem e passagens estavam sendo pagas por André.
— Nós pagamos a diária a mais e a troca das passagens — indicou Julian, gostando da ideia.
— E você ainda chega a tempo para o trabalho, Lia. E Liz, para a faculdade — apontou Alencastro.
Sem muita resistência, as duas concordaram. Lia pediu licença, alegando que avisaria André da decisão, e se afastou alguns metros. Fez sua ligação para ele e repassou a notícia. O rapaz, como era esperado, não gostou muito da decisão, tentou contestar e fazê-la desistir da ideia — no fundo, sabia que Lia estava ficando por causa do cara com quem estava saindo. Pensar nisso o deixava enojado. Mas não poderia fazer nada a respeito. Cedeu, por fim, já se despedindo.
Encerrando a ligação, a moça retornou ao grupo.
— Acho que agora, sim, poderemos ter um verdadeiro encontro de casais — ela disse, mordendo seu lanche. Olhou a irmã e Julian. — Sem mais escapadas.
Depois do McDonald, foram ao cinema, e de lá, para um barzinho. A noite foi agradável, e Lia se sentiu mais aliviada com Julian. Ele não era assim um completo babaca. Houve muita conversa e risada, e por vezes, ela pegou Levi a olhando, com um brilho diferente nos olhos, um sorriso apaixonado. Ou seria só uma ilusão de sua parte? Não importava. Gostava dos olhares e dos sorrisos dele. Poderia passar a noite recebendo isso de Levi.
Andaram por Curitiba até por cerca de uma da manhã. Voltaram para o hotel então, pois pegariam um voo de volta antes da sete da manhã. Julian e Liz seguiam à frente, no corredor dos quartos, meio trançando as pernas e dando gargalhadas que poderiam incomodar os outros hóspedes. Levi puxou Lia pelos punhos, trazendo-a para um beijo. Era o primeiro deles naquela noite.
— Fica comigo na minha suíte? — pediu, acariciando-a no rosto.
— E deixar aqueles dois sozinhos? — E fez um movimento de cabeça, apontando para o casal. — Melhor não.
— Lia... sua irmã é uma moça adulta. E Julian, por mais babaca que seja, não é de magoar ninguém. E se ele a magoar, eu serei o primeiro a quebrar aquele narizinho dele. — Ela sorriu um pouquinho. — Dorme comigo essa noite — pediu de novo. — Nos dois sentidos que essa frase significa.
Ela deu uma risada deliciosa e o abraçou com força, beijando-o no pescoço. Sussurrou uma afirmação. Então, foi alcançar Liz na porta da sua suíte.
— Se importa se passar a noite com Levi?
Os olhinhos de Liz pareceriam reluzir como um diamante. Mordeu os lábios e mirou Julian. Sua expressão dizia claramente que ele adorara a ideia.
— Julian pode passar a noite comigo?
Lia suspirou, cruzando os braços. Andou até Levi.
— Usem camisinha.
Liz riu e devolveu:
— Vocês também.
Eles tomaram um banho longo e fizeram sexo na banheira do hotel. Lia vestiu uma de suas camisas sociais, e Levi ficou apenas de boxer branca. Deitaram-se e conversaram sobre amenidades por uns quinze minutos, coisas como eles se arrependeriam de estarem indo dormir tão tarde quando ambos levantavam cedo no dia seguinte e teriam de trabalhar.
A conversa não durou muito. Embaraçados um no braço do outro, pegaram no sono.
O voo de volta no dia seguinte foi rápido, mas deu a eles meia hora de cochilo. Julian se despediu dos amigos ainda no aeroporto; Liz tomou um táxi para a casa dos pais; Levi e Lia tomaram outro e rumaram até ao condomínio onde ambos moravam.
— Te vejo à noite — Levi prometeu, lhe dando um beijo na testa antes de seguir seu destino.
Ao abrir a porta do seu apartamento, viu as duas últimas pessoas que gostaria de ver naquele momento.
— Levi, meu amor! — exclamou Camila, levantando-se da mesa de café da manhã, onde Ana Paula lhe fazia companhia. Ela se aproximou e lhe deu um abraço, que não foi retribuído. — Estava te esperando voltar para te ver. E não precisa me agradecer — disse, afastando-se e o analisando com um sorriso maternal e exultante.
— Te agradecer pelo quê? — inquiriu, confuso.
— Por estar aqui para te ajudar a salvar o seu casamento.
Olá, xoxos. Eu sei que vocês estavam querendo ver muita treta e sangue, mas não foi dessa vez (e tem um motivo pra não ter treta gente, calma) KKKKKK Eu juro de mindinho que no próximo capítulo a Lia vai saber do trabalho do Levi ehhehe. Ele vai contar ou ela vai descobrir? Façam suas apostas, senhoras e senhores.
Espero que tenham gostado do capítulo de hoje. E até quinta-feira.
Beijocas.
A.C.NUNES
PS: Eu achei muito fofo o Levi segurar na mão da Lia. <3
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