Cuidando
Capítulo três
Gabriel
Fiquei a olhando partir e meu corpo estava todo incendiado e querendo mais daquela mulher. Como isso pode acontecer?
Erica era minha ex-namorada, já não estávamos bem há um tempo e há duas semanas ela terminou comigo dizendo que estávamos brigando demais e ela precisava de um tempo, então eu ter transado com a Ariela, não era uma traição.
Ariela...
Eu só sabia o seu nome por ouvir as amigas dela a chamando, mas quando transamos eu nem sequer sabia se era esse mesmo o nome dela e desde então não paro de pensar nessa mulher, confirmei seu nome no cadastro do aplicativo e estava dando um jeito de encontrá-la sem que fosse indo até a sua casa e parecendo um louco, pois ir até a sua casa seria muito invasivo já que foi o endereço que ela usou na corrida da Uber.
Fiz o mesmo caminho que elas, tentando voltar até onde meus amigos estavam, pensei que naquela multidão toda era praticamente impossível achá-los, mas depois de uma meia hora eu os encontrei.
Assim que cheguei perto da Érica, sem mais enrolar a contei sobre o sexo com a Ariela e ela quis me matar por ter tido relação com outra tão rápido, mesmo a gente já estando separado e eu não tirei a sua razão. Contei que eu queria continuar solteiro e ela ficou meio irritada, mas entendeu e nem parecia que tinha sido ela quem tinha terminado. Mulheres...
Fiquei aproveitando o Carnaval mais um pouco, mas a minha cabeça ainda estava na Ariela e o meu olhar varria o lugar à sua procura e até teve um pequeno momento que consegui vê-la mais uma vez e antes que Ariela sumisse na multidão chamei o meu melhor amigo Otávio, apontei para ela e falei:
— Tá vendo aquela gata ali? — Ele assentiu, meio bêbado e voltou a olhar para ela, no mesmo momento Ariela ouviu algo que a sua amiga falou, jogou a cabeça para trás e gargalhou. Linda! — Eu vou me casar com ela!
— Eita! Bebeu demais, Gabriel?
— Não, nunca estive tão lúcido na minha vida.
Ele riu, olhou para ela novamente e me disse:
— Ela é gata — quando ele disse isso, o olhar dela cruzou com o meu e nesse momento tocava uma música da Ivete Sangalo que dizia:
Então não me conte seus problemas
Hoje eu quero paz eu quero amor
Então não me conte seus problemas
Nada de tristeza nem de dor...
Depois disso Ariela sumiu de novo em meio à multidão e eu não a vi mais.
Já era noite, me sentindo muito stalker e até mesmo adolescente por estar caidinho tão repentinamente pela moça que aparentemente só queria um sexo rápido, além de estar correndo o risco de a Ariela achar que eu estava a perseguindo, resolvi dar uma passada na rua da sua casa, despretensiosamente, ou pelo menos da casa onde eu a deixei naquela madrugada.
Dirigi ansioso e quando cheguei onde eu a tinha deixado, estacionei o carro do outro lado da calçada, pensei em descer para tocar a campainha, mas me freei quando um carro também parou do outro lado da rua e ela desceu.
Momento perfeito!
Atravessei a rua na intenção de falar com ela antes que Ariela entrasse em casa, mas ela parecia um tanto tonta.
Ariela
Eu estava enjoada.
O motorista do Uber veio correndo muito e eu tinha bebido um tanto, mas o calor pedia uma bebida gelada, o Carnaval também pedia e o beijo que Gabriel tinha me dado tinha me deixado um tanto desestabilizada, ou seja, tudo contribuía para que eu bebesse um pouco a mais. Eu estava meio que sentindo tudo girar, inclusive meu estômago, e eu precisava entrar logo ou vomitaria ali mesmo.
Procurei a chave do portão de casa na minha bolsa e mesmo a bolsa sendo tão pequena estava difícil de achar, foi então que me lembrei das cervejas que a Carla disse que eu tinha que parar de beber e tudo embrulhou novamente, tentei segurar, mas vomitei na planta que adornava o portão. No mesmo instante ouvi passos vindo em minha direção e quando ergui a cabeça para olhar quem era, Gabriel estava ali. Que vergonha!
— Vai embora, por favor! — falei, em meio a espasmos de vômito e humilhação.
— Você está bem?
— Só vai embora que eu vou ficar.
— Deixa eu te ajudar?
— Vai embora!
— Não vou!
— O que você quer aqui?
— Precisava falar com você.
— Vai embora! — falei sem olhá-lo e apoiada à parede.
Ele se afastou de mim e eu dei graças a Deus que ele estava indo embora, mas antes que eu pudesse comemorar, Gabriel voltou do carro com uma garrafa de água. Droga!
— Bebe. — Me entregou a garrafa.
Sem olhar para ele eu aceitei a água e lavei minha boca cuspindo na planta que provavelmente estaria morta no dia seguinte, intoxicada com tudo que despejei nela. Sorte que eu não havia comido nada, na verdade azar, já que eu achava que era por isso que estava passando mal. Gabriel ainda me encarava e eu não era capaz de olhar para ele.
— Se sente melhor?
Assenti, mas depois balancei a cabeça em negativa, dei um gole na água, mas não disse nada, apenas voltei a procurar a chave na bolsa até que a encontrei e me despedi:
— Obrigada, pela ajuda e pela água.
— Queria te ver de novo e espero que não fique com medo de mim por vim até a sua casa.
— Você é um serial killer? — falei, semicerrando os olhos para ele e me sentindo meio tonta.
— Não, só um cara que se apaixonou a primeira vista.
Revirei os olhos. Ele está brincando com a minha cara?
— Não fala besteira!
— Não estou falando.
A voz dele ficou meio longe, longe... até que ficou tudo preto e eu desacordei.
Acordei alguns segundos depois, com o Gabriel batendo com tapas leves no meu rosto e estávamos sentados na calçada.
— Meu Deus, você está bem? — ele me perguntou com os olhos arregalados.
— Sim, mas me conheço, preciso comer — falei meio grogue e comecei a me levantar apoiada por ele.
— Posso entrar com você?
— Sim, e não me deixa sozinha... É... Se não for dar problema para você — falei envergonhada e pensando que eu podia estar sendo pivô de uma separação e até mesmo sendo a culpada de uma traição.
— Eu definitivamente não tenho mais ninguém — ele falou sério, eu assenti e entramos.
Minha casa estava uma bagunça, tinha maleta de maquiagem na sala, roupa por todos os lados e até sutiã no sofá, mas eu estava me sentindo tão zonza que nem liguei para toda aquela bagunça ali e me joguei no sofá.
Já era quase dez horas da noite e eu só queria dormir.
— Ei, me fala o que eu posso fazer por você?
— Olha, sei que pedi para você ficar, mas acho que fui muito folgada, pode ir embora descansar, que eu me viro aqui.
— Não, senhora, pode me falar como posso te ajudar.
O encarei envergonhada.
— Não acredito que você me viu vomitando.
— Todo mundo já vomitou na vida.
Tampei meus olhos com as mãos e falei:
— Sim, mas não na frente do gato que está afim.
— Você está afim de mim?
Balancei a cabeça em negativa e desconversei:
— Preciso de um banho.
Levantei-me, fui em direção ao meu quarto e o deixei me olhando na sala. Tomei um banho demorado, escovei meus dentes e já estava me sentindo menos bêbada e mais apresentável. Quando entrei na sala com os cabelos amarrados e usando um short curto e larguinho com uma camiseta, eu o encontrei fazendo um miojo.
— Você não tem comida nessa casa?
— Eu alugo essa casa com a minha irmã, que quase nunca está aqui, fica mais na casa do namorado e usa minha casa mais como desculpa para nossos pais não brigarem por ela estar morando com o namorado e por ser só eu peço comida quando estou com fome. É mais barato e não dá trabalho.
— Abri seus armários e só achei esse miojo.
— Está ótimo para quem não comeu nada o dia todo.
Ele me encarou preocupado.
— Primeira regra da bebedeira: tem que comer.
— Eu sei, mas alguns acontecimentos tiraram a minha fome. — O olhei como se estivesse em dúvida e ele notou o que eu estava pensando, então continuei: — Eu não quero que você termine com a sua namorada por uma paixão de Carnaval. — Abaixei o olhar para as minhas mãos, me sentindo uma traidora e sentindo como se eu estivesse indo contra a tudo que eu acreditava e a sororidade feminina que eu tanto defendia parecia uma mentira quando eu pensava estar fazendo outra mulher sofrer por conta da minha paixonite momentânea.
— Eu não terminei com ela por sua causa, nós já tínhamos terminado antes de eu te conhecer — falou sério. — E hoje mais cedo, depois que te beijei de novo, tive certeza de que você não foi uma alucinação do meu cansaço e sim que você era real.
E ele era real? Por que eu ainda estava olhando em volta para saber onde estavam as câmeras da pegadinha que eu estava vivendo.
— E quanto a ela?
— Nós conversamos e está tudo resolvido.
— Tem certeza? — Ele assentiu. — Posso confiar em você?
— De olhos fechados.
Eu sorri e comecei a comer meu miojo tentando digerir tudo.
— Me fala um pouco de você enquanto eu como — pedi.
Ele sorriu.
— Bom, estou no último semestre da faculdade de Engenharia civil, faço estágio em uma construtora e sou motorista da Uber para ajudar na renda mensal, porque estagiário ganha uma merda. — Riu. — E você?
— Sou cabelereira.
— Por isso seu cabelo é tão bonito.
Olhei para ele e sorri com o elogio. Ficamos em silêncio enquanto eu terminava o meu miojo e quando levei meu prato na pia e voltei a olhá-lo, Gabriel já estava de pé como se me esperasse.
— Vejo que você já se sente melhor.
— Sim, bem melhor.
— Vou indo então, porque para a minha tristeza amanhã é segunda-feira de Carnaval, mas a construtora vai funcionar. — Riu. — Será que podemos nos falar durante a semana? — Ele parecia envergonhado.
— Resolveu mesmo a sua situação com sua namorada?
— Já resolvemos — falou de imediato.
— Então... Anota meu número.
Ele abriu um largo sorriso, pegou o celular e anotou o número que fui falando para ele, preferi não anotar o dele, se fosse para dar certo e se ele realmente estivesse interessado como fala, ele me ligaria.
— Vou indo então.
Ele foi andando em direção à porta e quando chegamos ao portão, Gabriel se virou para mim e me deu um beijo no rosto como se fossemos apenas amigos, mas aquele beijo aqueceu todo meu corpo e era como se tudo fizesse sentido, porém, eu não sabia tudo que ia acontecer e que eu não o veria por um bom tempo.
https://youtu.be/0wb5WqFPaNc
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