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Ciúme


Capítulo sete

Gabriel

Passada a euforia de encontrar a mulher que passei um ano procurando, logo me veio a raiva, muita raiva por ela não ter confiado que eu a procuraria e sumido de mim. Eu passei dias irritado, muito irritado, e só tinha vontade de esganá-la, mas claro que não fiz. Antes de eu tomar qualquer decisão, Ariela fez questão de fazer o exame de DNA para constatar que a Kelli era mesmo minha filha, eu falei que não precisava, pois via o quanto ela parecia comigo, além de já sentir no meu coração que ela era a minha filha, mas Ariela insistiu e o exame deu positivo. Depois disso contratei um advogado que cuidou de toda a parte de documentação e consegui registrar a criança como minha filha, além de conseguir a guarda compartilhada, onde em comum acordo, ficou decidido que eu ficaria com a nossa filha um final de semana sim e o outro não, podendo também vê-la durante a semana quando fosse desejado e acordado entre ambas as partes.

Ariela e eu teríamos que nos ver frequentemente para que a minha pequena se acostumasse comigo, sendo assim, sempre em público marcávamos encontros para que eu pegasse a Kelli no colo, conversasse e brincasse com ela e a cada vez que eu a via, eu me apaixonava mais.

Depois de vários encontros com a Ariela presente, passei a ficar algumas horas sozinho com a minha filha, porém, me livrar da Ariela foi difícil, pois ela era muito grudada com a bebê, mas com muita insistência e garantia de que tudo ficaria bem sem ela, eu consegui. E quando vi que Kelli já estava familiarizada comigo, decidi pelo primeiro final de semana inteiro que ela passaria comigo e eu quase desisti, pois a Ariela chorava tanto ao se despedir, que era como se eu tira-se um braço do seu corpo, além de ter passado milhares de recomendações e praticamente ligado a cada hora. Nesse final de semana pedi ajuda para a mulher do meu melhor amigo Otávio, pois como eu era pai de primeira viagem tinha coisa que eu não sabia, mas na maior parte eu tirei de letra e a minha princesa já me reconhecia como pai. Eu sentia.

Mesmo Ariela e eu ainda nos estranhando às vezes, por eu a culpar por ela ter sumido e me privado dos quatro primeiro meses de vida da minha filha e Ariela me culpando por em sua mente eu ter renegado a gravidez, ainda sim, quando ficávamos perto um do outro era bom e uma tensão existia e me confundia, pois eu não queria sentir nada, entretanto, ela ainda me atraia e o seu sorriso encantador ainda tomava conta do seu rosto, principalmente quando ela estava com a Kelli e depois de passado os primeiros meses em que tínhamos que nos acostumar com a guarda compartilhada daquela pequena coisinha, até que já estávamos nos dando bem e até podíamos nos considerar quase amigos.

Ariela

Kelli já estava com oito meses e naquela noite tinha uma leve gripe, fui dormir preocupada com ela, mesmo depois de medicá-la, mas como sempre, quando minha pequena estava doentinha eu ficava tão preocupada que não conseguia dormir, então fiquei lendo sentada ao seu lado. Um tempo depois Kelli acordou irritadiça e comecei a ficar mais preocupada, coloquei o termômetro e constatei que estava novamente com febre, então novamente a mediquei e mesmo assim depois de um tempo a febre não passou. Comecei a ficar ainda mais preocupada e já de madrugada liguei para o Gabriel que imediatamente veio até minha casa e juntos a levamos ao hospital. Ficamos algum tempo lá, até nossa filha ser atendida e medicada e graças a Deus não era nada grave, apenas a garganta inflamada. Voltamos para a minha casa, ambos cansados pela espera no hospital e quando ele estacionou em frente a minha casa, como eu estava com a Kelli no colo, Gabriel entrou em casa para me ajudar e carregando a bolsa dela.

— Graças a Deus que não era nada — falou quando voltei do quarto depois de deixar Kelli na cama, cercada de travesseiros e dormindo.

— Sim. Obrigada por ter ido comigo.

— Não me agradeça por isso. Faço tudo por ela.

— Ah, claro — falei séria. — Senta aí, vou fazer algo para a gente comer.

— Não se preocupe.

— Eu estou com fome e você deve estar também. Senta aí que eu já volto.

Alguns minutos depois voltei para a sala com sanduiches de queijo e presunto e suco de laranja. Comemos e quando terminamos o encarei e falei:

— Você se tornou um bom pai. — Sorri.

— Sim, depois desses meses com ela, não sei o que seria a minha vida sem ela.

Assenti, fiquei em silêncio e pensei que se ele realmente me procurou, deve ter ficado muito bravo comigo e com razão.

— Gabriel... é... Eu nunca te pedi desculpas por ter sumido. — Ele me olhou e pareceu pensar, mas respondeu.

— Está tudo bem. — Deu um gole no suco sem me encarar.

— Eu sei que não está, fico imaginando como seria se alguém tivesse me tirado a chance de conviver com a Kelli. Eu ficaria doida. — Ele me encarou sério.

— Eu realmente fiquei. Fui até onde era sua casa liguei incansavelmente no seu antigo número e te procurei nas redes sociais. Era como se você não tivesse existido. Amigos me mandaram deixar pra lá e esquecer, que eu tinha me livrado de uma bomba, mas eu não sou assim, não fujo as minhas responsabilidades.

— Agora eu sei disso. — O encarei intensamente e ele desviou o olhar.

— O importante é o hoje — falou sério. — Vamos esquecer o passado.

E eu concordei balançando a cabeça em positivo. Terminamos nosso lanche e enquanto comíamos eu o encarei por mais de uma vez e ele era muito bonito, ainda usava a barba rala e eu sentia que estava caindo de novo em tentação, mas eu não queria e tinha a impressão de que ele também não, então eu precisava ocupar meu coração e cabeça com outra pessoa, para não transferir a admiração que eu tinha por ele como pai, para o interesse como homem e voltar a me apaixonar por Gabriel.

Gabriel

Era domingo e era o dia de eu devolver a Kelli para Ariela, nosso acordo estava dando muito certo e éramos, além de pais da Kelli, amigos. Eu tentava não conviver muito com a Ariela para não me apaixonar novamente, porque a ferida que ela deixou em mim ainda estava aberta. Foi um ano a procurando, me sentindo péssimo e não queria me sentir novamente daquela forma.

Estacionei o carro em frente à casa em que a Ariela morava com a nossa filha e já tinha um carro estacionado lá, franzi a testa e pensei que podia ser de uma das amigas, então desci com a bolsa da minha filha no ombro e ela no meu colo, antes que eu pudesse chegar ao portão, Ariela vinha saindo acompanhada de uma pessoa... Um homem que estava de mãos dadas com ela.

— Olha, chegaram cedo — ela falou sorridente assim que me viu.

— É — respondi sério e me sentindo estranho.

— Ah, esse é o Cassio, Cassio esse é o Gabriel, pai da Kelli. — Ariela sorria.

— Como vai? — Estendi a mão para cumprimentá-lo, depois de trocar a Kelli de braço, e ele respondeu apertando a minha também.

— Quer entrar, Gabriel?

— Não, tenho que ir.

Ariela assentiu e eu passei a Kelli para ela, após me despedir.

— É isso, qualquer coisa se precisar de mim, me liga ou eu te ligo para ver a Kelli no meio da semana.

— Tudo bem — ela respondeu e o cara ao seu lado só nos observava.

Dei tchau para todos e entrei no meu carro, mas antes que eu pudesse sair, vi o tal do Cassio também se despedir de Ariela e deu nela um beijo na boca. Ao ver isso algo dentro de mim se apertou e eu senti como se estivesse perdendo. Respirei fundo e segui.

Ariela

Eu estava assistindo TV com a Kelli quando o meu celular apitou com a chegada de uma mensagem:

Boa noite, namorando?

Estranhei a mensagem do Gabriel, ele quase não me mandava mensagens e mesmo quando mandava era algo sobre a Kelli, então pensei um pouco e então respondi:

Ainda não. Por quê?

Imediatamente ele digitou:

Não, por nada. Só estou preocupado com a minha filha.

Fiquei irritada com a sua mensagem, como se sugerisse que eu fosse colocar a minha filha em risco e então respondi:

Fica tranquilo, não vou colocá-la em risco, não coloquei durante os quatro meses em que você não existia na vida dela, então não colocarei agora.

Mais uma vez a mensagem chegou rápido:

Sim, estive ausente, mas por que você me privou disso.

Foi a minha vez de respondê-lo com pressa.

Acho melhor pararmos por aqui. Achei que já tivéssemos acertado isso. Boa noite, Gabriel!

Não nos falamos mais naquela semana e eu também não vi mais o Cassio que conheci quando saí para beber com as minhas amigas e quando contei para elas sobre as mensagens do Gabriel após ver o Cassio aqui, elas me disseram ser ciúme e então aquilo me confundiu e meus sentimentos por ele ficaram ainda mais vivos. Eu teria que encontrá-lo quando ele viesse buscar a Kelli, mas eu não queria vê-lo, a vida já tinha nos mostrado que talvez não era para ficarmos juntos e eu tinha medo de me envolver, sofrer e estragar o nosso combinado em relação a custódia da nossa filha e isso estava dando tão certo entre nós que não queria perder.

Os dias se passaram, nos falamos por telefone quando ele ligava perguntando da nossa filha e ai ele terminava com um silêncio como se quisesse dizer algo e não conseguia e depois me dava boa noite e desligava. Quando chegou o dia dele pegar a Kelli, eu não quis vê-lo, então deixei a minha irmã o esperando para entregar a ele nossa filha com a desculpa de que eu tive um compromisso e assim foi por semanas, até que eu assumi para mim mesma, e para as minhas amigas depois de ser forçada por elas, que o meu medo de ver o Gabriel era amor retraído, assumi que eu amava o Gabriel e estava morrendo de medo de estragar tudo de novo.

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