Capítulo 9

17 dias para o Natal

O mercado estava um inferno, pessoas enchiam o corredor e eu já estava no final da tarde e cansada. Mal tinha conseguido parar para almoçar e já tive que voltar para o meu caixa, porém, o meu dia teve um novo sentido quando um entregador apareceu, me entregou uma rosa e um cartão... de Natal. Franzi a testa para aquilo, estranhando a entrega, mas mesmo com o pé atrás eu abri o cartão e nele estava escrito:

"Boa tarde, luz do meu Natal. Quero que passe a gostar desta data assim como eu e esse será o primeiro passo da nossa coleção de momentos felizes para esta época"

O cartão tocava We wish you a merry christmas quando aberto e imediatamente abri um sorriso para a musiquinha de Natal que eu detestava, mas que a partir daquele momento me lembraria ao Natan e eu passaria a amá-la... Um momento feliz e com toda certeza eu o guardaria junto com as poucas lembranças felizes que eu tinha daquela época.

— Moça, o caixa está aberto? — Uma mulher perguntou com seu carrinho cheio de compras e me tirou do meu momento feliz, me trazendo diretamente para a realidade do caos das compras de dezembro.

— Claro, boa tarde — respondi, com um sorriso.

A atendi e após eu passar as compras da mulher, voltei a olhar para a minha rosa e eu estava com pena de deixá-la sem água, mas ela teria que resistir até eu chegar em casa.

— Apaixonada mesmo, hein, amiga? — Mariah chamou minha atenção.

— E como não ficar? Olha para isso. — Apontei para a rosa.

— Ele está se saindo um verdadeiro presente.

— Sim, e um presente daqueles que a alegria começa no desembrulhar e depois no brincar... brincar e brincar...

Minha amiga riu.

— Vai vê-lo hoje?

— Acho que não, ele disse que entraria no plantão dos Bombeiros ontem à noite e só sairia hoje no final da tarde. Provavelmente vai estar cansado.

— Hum, você devia fazer uma surpresa também. Ir até a casa dele talvez? Fazer uma massagem para descansar o seu Bombeiro.

— Acho melhor não, seria muito atrevimento.

— Quando se quer muito algo tem que ser atrevida, às vezes.

Ri.

— Você está muito filósofa e como você sabe que eu quero muito ele?

— Olhando para você! E estou filósofa, por causa da gravidez que mexe com meu corpo todo e deve ter mexido com a parte filosófica também. Luz não para de mexer. Acho que essa menina vai ser ativa.

— Igual a mãe.

Rimos e continuamos o nosso trabalho, porque os clientes não paravam de chegar.

No mercado senhor Erodes não nos deixava mexer no celular, mas algum tempo depois de receber a rosa, quando o mercado deu uma amenizada no movimento, Mariah me incentivou a enviar a Natan uma mensagem de agradecimento, disse que me cobriria se eu fosse ao banheiro e até me inventou uma dor de barriga. Então peguei o meu celular, parti para lá e quando fechei a porta da cabine no banheiro escrevi uma mensagem e enviei para ele:

"Olá, luz do meu Natal, (realmente você está sendo a luz no meu Natal) fiquei emocionada com o presente e certamente ele entrará para as minhas lembranças felizes dessa época. Vou parecer muito desesperada se eu disser que já estou contando os minutos para te ver novamente?"

Fiquei esperando a resposta por alguns minutos e como não chegou resolvi voltar ao trabalho para não acharem que eu morri ali. Pensei que Natan devia estar ocupado no trabalho dele também e por isso a demora para responder.

Ao final do expediente, quando eu estava saindo para ir para casa, peguei meu celular novamente e lá estava uma resposta dele:

"Espero que não pareça desespero, pois eu também estou os contando para te ver. O que você fez comigo?"

Sorrindo comecei a digitar para respondê-lo:

"Provavelmente o mesmo que você fez comigo."

Não esperei a resposta, pois eu estava muito cansada e louca para ir para casa. Assim que cheguei fui correndo para o banho, comi um lanche e depois me joguei na minha cama para descansar. Ia começar a ver uma série quando ansiosa peguei o celular para ver se Natan tinha me respondido algo e lá estava, pois ele não me decepcionava:

"Melhor dezembro da minha vida. Naty, estou indo para casa e vou o caminho todo pensando em você, quando eu chegar lá te ligo. Ps: Não consigo parar de pensar no sexo no mar e adoraria repetir."

Imediatamente respondi:

"Pare de me mandar mensagens com esse teor, pois só de lê-las meu corpo pegou fogo. Achei que os Bombeiros apagassem fogos e não os causassem. Ps: Ansiosa pela próxima vez."

Ele não viu a mensagem, mas imediatamente apareceu a seguinte mensagem:

"Oi, tia Naty, aqui é o Caíque, posso te chamar de tia, né?"

"Claro, me chame como quiser. Tudo bom?"

Respondi e imaginei que Natan tivesse passado meu número para ele.

"Tudo sim, mas olha, será que você não quer tomar sorvete com a gente aqui? Sei que já está tarde, mas tem alguém que chegou falando que estava com saudade de você"

Pensei no que responder e depois de muito sim e não, cheguei à conclusão de que eu faria uma surpresa, pois talvez ele não quisesse parecer desesperado para me ver e para não demostrar acabou pedindo para o filho me mandar aquela mensagem. No segundo seguinte me freei, voltei de novo para a cama e pensei que também podia ser coisa de criança e a mensagem podia ser peraltice do Caíque sem o Natan saber. Fiquei matutando e me fazendo diversas perguntas. Se fosse peraltice do Caíque eu corria o risco de chegar lá e Natan não ficar feliz com a minha presença.

E agora?

Vou ou não?

Eu ficaria feliz se ele viesse me ver agora.

Quer saber, eu vou!

Por fim decidi pelo sim quando lembrei-me da mensagem que Natan me enviou dizendo que estava desesperado para me ver, então era por volta das dez e meia da noite, quando sem pensar muito nos motivos pelos quais eu não tinha que ir até a casa do Natan, pedi a localização para o Caíque, chamei um carro pelo aplicativo e em quinze minutos eu estava em frente à casa deles. Achei a casa um tanto longe do mercado e fiquei ainda mais preocupada pensando em Caíque andando sozinho até lá e pensei em alertar o Natan sobre isso. Será que ele pensaria que estou me metendo na educação do filho dele? Quem diria... eu namorando um homem com filho... Namorando não, conhecendo.

Acertei o que eu devia para o motorista, animada toquei a campainha e não demorou muito para que alguém viesse atender o portão transformando a minha animação em decepção. Uma moça muito bonita estava ali na minha frente: descalça, com um short curto e de regatinha, completamente à vontade como se estivesse em casa. Ela me olhava esperando que eu dissesse algo, mas eu só conseguia me perguntar: por que tinha uma mulher à vontade na casa do Natan?

No momento seguinte ouvi a voz do Caíque ao fundo e perguntando:

— Mãe, quem está aí? — A moça então abriu o portão e vi Caíque vindo correndo e com um sorriso no rosto.

Logo entendi que aquela ali tão à vontade na minha frente, era a ex-mulher do Natan, a mãe do Caíque.

— Oi, tia Naty, entra, ele está no banho.

No banho e ela ali toda à vontade?

Eu fiquei paralisada e em questão de segundos passou uma infinidade de coisas pela a minha cabeça e uma delas era vontade absurda de matar o Natan. Pensei nos motivos que o menino teria para me chamar até ali, sendo que o seus pais estavam tendo uma reconciliação, pensei se realmente eles tinham se separado e pensei no motivo que o menino tinha para me mandar bilhetes me unindo ao pai.

Imediatamente tentei me recompor, pois pensei que eles estavam vendo toda a confusão no meu rosto, pelo olhar questionador que a moça me lançava e ela já tinha parado de sorrir e franzia a testa, até que me perguntou:

— Você está bem?

Assenti balançando a cabeça depressa demais.

— Preciso ir — falei e com isso não esperei eles me dizerem mais nada, me virei e andei a passos rápidos para longe dali.

Não olhei para trás e meu peito queimava sentindo o impacto de ver a ex-mulher do Natan tão à vontade na casa dele e eu não conseguia parar de pensar no Caíque e por que ele me chamou ali, revisei as conversas que tive com Natan e ele nunca me explicou direito o relacionamento com a mãe do seu filho, eu burra e encantada por ele, também nunca perguntei.

Eu estava me sentindo péssima, pois eu podia estar sendo enganada, ou pior, talvez ele nunca tivesse se separado dela e eu estava fazendo com que Natan traísse sua mulher.

Ai, meu Deus!

Pensei que eles podiam ter voltado depois dele ter ficado comigo e aí a traída era eu. Com Natan foi tudo tão rápido e tão perfeito que eu nem tive tempo de saber mais sobre a sua vida, já fui o deixando entrar e me levar por seu sorriso bonito, seu corpo perfeito e sua fala conquistadora.

Droga! Eu fui uma burra!

Quando eu já tinha andado para longe o suficiente do portão, pedi um carro pelo aplicativo novamente e logo eu estava em casa e na minha cama. Meu celular não parava de tocar e quando eu via que era ele ligando eu encerrava a chamada. Eu estava me sentindo tão enganada e tão humilhada, eu chorava e sentia um caroço na minha garganta causado pela desilusão de ter pensado que o Natan era um homem perfeito.

Se eu não tivesse ido de surpresa até lá nunca saberia daquela relação dos dois? Eu estava me sentindo tão enganada. Mesmo que eles não tivessem nada, a ex-mulher de Natan estava em sua casa quando ele achou que eu não ia até lá e isso fazia com que ele estivesse longe de ser perfeito... algo estava errado.

Tentei dormir, mas eu não conseguia e ao pegar o celular novamente vi que tinham diversas mensagens do Natan, mas eu não estava preparada para ler qualquer que fosse a desculpa que ele daria para ela estar lá com eles, então decidi não ler.

Recomecei a chorar com raiva de mim mesmo por imaginar que algo bom poderia acontecer naquele mês e desliguei o celular para que ele parasse de me enviar mensagens e parasse de fazer meu coração sofrer.

E eu o tratando como se fosse meu presente de Natal, claro que se tratando de mim o presente de Natal só podia ser um sapo ao invés de um príncipe, claro que nada de bom podia acontecer naquele mês.

E ele... Cachorro! Se estava com ela por que não me contou?

Cansada de chorar e ficar remoendo perguntas e mais perguntas das quais eu não teria resposta naquele momento e cansada de ficar me xingando de burra insistentemente, acabei dormindo.