Capítulo 4
Capítulo 4
22 dias para o Natal
Mais um dia de trabalho, coloquei a minha garrafa de água ao lado do caixa e o meu primeiro cliente era o Caique. Vou te pegar, danadinho!
— Bom dia, Caique!
— Bom dia, Natália!
Ele colocou a sua bolacha em cima do balcão e eu já estava sorrindo quando o vi olhar para a minha garrafa de água. Dessa vez eu ficaria com um olho no peixe e outro no gato, então enquanto passava e cobrava a bolacha dele, eu espionava disfarçadamente para ver os seus movimentos, mas ele se mantinha parado e me olhando, até que no momento em que me virei para colocar a bolacha na sacola eu o vi deixar o papel no cantinho do meu caixa, entretanto, fingi não ver e segui agindo normalmente.
— Prontinho. — Entreguei a ele a sacola. — Cuidado ao atravessar a rua, tá? — O instruí novamente.
— Pode deixar!
Com isso ele saiu satisfeito e eu logo peguei o bilhete ansiosa para saber o que ele havia aprontado e quando li, dei risada para o que estava escrito.
Olá, Natalia.
Se você estiver lendo isso é por que a sua garrafa estava onde combinamos. Vou te esperar às dez horas da noite que acho que você já deve ter saído do mercado, na sorveteria Geladão. Eu pago e duas bolas.
Assinado: Seu amigo secreto que você vai conhecer. Vou estar de camisa branca.
Eu comecei a rir e do caixa ao lado Mariah me perguntou:
— Do que tanto você ri aí sozinha?
Contei tudo para ela e depois a mostrei o último bilhete.
— Ah, que fofo e desde pequeno é um galanteador. Agora você vai ter que ir ou será a primeira mulher a quebrar o coração do pobrezinho, não pode dá-lo um bolo.
Gargalhei.
— Eu vou, mas porque fiquei preocupada com uma criança sozinha a noite na rua e vou instruí-lo a não fazer isso. Além do mais, eu nunca recusaria duas bolas de sorvete grátis.
— Tem razão, muito perigoso mesmo, mas também muito fofo.
— Fofo demais.
— Viu, te falei que você tinha pretendentes.
Revirei os olhos, mas eu pensei o quanto aquele garotinho lindo seria um excelente partido quando crescesse.
— Seria ótimo se ele fosse uns vinte e cinco anos mais velho ou melhor, se o pretendente fosse o pai dele.
Ela riu.
— Cuidado com o que deseja, estamos no Natal e o Papai Noel pode realizar.
— Se eu depender de realizar desejos no Natal para ser feliz, estou ferrada.
Eu tinha acabado de encerrar meu caixa, limpar meu balcão e estava quase me esquecendo do meu encontro, quando Mariah me falou:
— Ei, Natália, não esquece do seu encontro romântico, hoje. — Ela riu.
— Boba.
— Sério, não vai deixar aquele príncipe te esperando.
— Tô é com pena de quebrar o coraçãozinho dele.
— Verdade, tão pequenininho.
— Demais.
Rimos e fomos andando em direção a saída, mas quando estávamos bem perto da porta, a voz do nosso chefe nos parou:
— Mariah, você não limpou o balcão do seu caixa. — Seu Erodes estava bem atrás de nós.
Imediatamente, indignada e sem titubear ela respondeu:
— Claro que limpei.
— Venha ver. — Colocou a mão na cintura, bravo.
Mariah revirou os olhos, virou-se para mim e disse:
— Pode ir para sorveteria, que eu só vou lá esfregar a cara dele no balcão limpo e depois vou embora. Afff... desde que fiquei grávida que ele implica comigo, como se estar grávida fosse algo ruim para o meu trabalho, mas se o senhor Erodes pensa que vou desistir e dar esse gostinho para ele, está muito enganado, vou ficar trabalhando até o último segundo para mostrar que eu consigo.
— Ele é ridículo e você sabe que não precisa ficar, você consegue licenças com sua médica.
— Mas não quero. — Ela sorriu orgulhosa de si mesma.
Depois me deu um beijo e enquanto eu me afastava consegui ouvi-la brigando com senhor Erodes e dizendo que como tinha dito, seu balcão estava limpo.
Deixei-os para trás e saí do mercado andando rapidamente, logo cheguei à sorveteria que não era muito longe dali, olhei em volta e não achei o menino, porém em uma mesa no canto avistei o pai dele sozinho em uma mesa e usando uma camisa branca, então decidi ir até ele e conversar sobre os bilhetes.
— Olá, boa noite — o cumprimentei, meio sem jeito.
— Boa noite — ele respondeu, parecendo confuso.
— Posso me sentar? Preciso falar com você sobre o Caíque.
Ele franziu a testa como se não entendesse, mas me respondeu:
— Claro.
Puxei a cadeira e tirei da bolsa as três cartinhas que ele tinha deixado no meu caixa.
— Qual o seu nome? — perguntei.
— Natan.
Assenti.
— Então, Natan, o Caíque tem ido muito no mercado e depois que ele começou a ir sozinho, após aquele dia que você foi com ele, comecei a receber cartas de um amigo secreto e hoje eu descobri que o amigo na verdade era o Caíque. Olha as cartas. — Entreguei os três papeis dobrados para ele e Natan abriu, leu e riu. Riu mesmo.
— Desculpa por isso.
— Achei que ele é muito pequeno para pensar em namoro, mas achei bonitinho, apesar de também achar perigoso.
Natan me olhou e tinha lindos olhos castanhos.
— Não é para ele que Caíque está organizando encontros. — Franzi a testa e ele continuou: — É para mim.
— Pra você?
— Sim, ele também me escreveu bilhetinhos e disse que era a moça bonita do mercado que tinha pedido para ele me entregar e que você viria aqui para falar comigo pessoalmente.
Ri e balancei a cabeça em negativo, não acreditando que uma criança estava tentando ser o meu cupido.
— Não acredito que fomos enganados por uma criança.
Ele deu de ombros.
— Parece que sim.
Ficamos em silêncio e notei que após tudo resolvido, teria que partir de mim de ir embora, pois se ele dissesse pareceria rude.
— Ah, então já que já esclarecemos tudo, vou indo.
— Espera — falou, pegando na minha mão e parecendo sem graça. — Já que estamos aqui... Quer tomar um sorvete?
Pensei, sorri e por fim falei:
— Aceito.
— Seu nome é Natália, né?
— Isso.
— Você não é casada, é?
— Não.
— Que bom. — Que bom?
Um instante de silêncio e parecia que procurávamos assunto.
— Estou me perguntando o motivo de o Caíque ter pensado que eu era uma boa opção para você.
— E estava me perguntando o motivo dele ter me pedido para usar camiseta branca, mas agora no último bilhete vejo que era como um sinal de que eu, era eu.
Rindo respondi:
— Sim, ele pensou em tudo.
Ele sorriu.
— E quanto à sua pergunta, acho que deve ser por que eu assim que saí do seu caixa, comentei com ele o quanto você era simpática e... linda.
— Humm... — Fiquei envergonhada.
Aquele homem lindo estava mesmo flertando comigo?
Tomamos sorvete e enquanto isso conversamos sobre diversos assuntos, ele me contou que era Capitão do corpo de Bombeiro (o que explicava o braço forte) e assim como eu tinha nascido naquela cidade, mas fez concurso público na cidade vizinha, onde passou para a corporação que estava naquele momento, depois disso saiu da cidade e foi morar lá, contou que havia voltado apenas no mês anterior, talvez por isso que eu nunca o tivesse visto por ali.
— Será que nunca nos vimos mesmo? Porque a cidade é tão pequena — perguntei.
— Eu me lembraria — Me olhou intensamente e quando ele disse isso me lembrei de que eu tinha trabalhado o dia todo e devia estar um caco, pois eu ainda estava com o coque que eu tinha feito no cabelo para trabalhar. Meu encontro era com um garotinho, para que eu ia me arrumar? Instintivamente passei a mão no cabelo e sorri sem graça.
— Devo estar um caco, trabalhar o dia todo naquele mercado me deixa louca.
— Não está.
Senti meu rosto quente e depois terminei meu sorvete em silêncio e quando acabei disse a ele:
— Preciso ir, minha mãe deve estar preocupada comigo.
— Eu te levo em casa.
— Imagina, não precisa e eu nem moro longe daqui, vou andando mesmo.
— Faço questão, como pedido de desculpas pelo Caíque ter mudado a sua rotina.
— Mudou a sua também.
— Mas eu ao contrário de você, vim aqui na esperança de que fosse você mesmo que tivesse mandado aqueles bilhetes. — Eu o encarei e não sabia o que responder, pois só então me dei conta que era verdade, para o pai o menino disse que eu que tinha enviado os bilhetes e sendo assim ele estava ali, porque se interessou em mim e foi para me ver. Assenti sem graça, mas eu estava mesmo era preocupada e pensando em como minha semana tinha se encaminhado para aquele momento.
Fui com ele até o caixa para acertar meu sorvete, mas ele fez questão de pagar e disse que o próximo eu pagaria.
Próximo?
Depois fomos para o seu carro que estava estacionado bem em frente à sorveteria. Ele abriu a porta para que eu entrasse e depois foi assumir o banco do motorista, em seguida expliquei o caminho para ele e em menos de dez minutos estávamos em frente à minha casa.
— Entregue. — Ele tirou o cinto e virou-se de frente para me olhar.
— Era pertinho nem precisava se incomodar.
— Incomodo nenhum.
— Então... Obrigada.
Desviei o olhar e tirei meu cinto de segurança também.
— Bom, mais uma vez, desculpa pelo Caíque, ele é sonhador e morre de vontade de me ver em um relacionamento, aí inventa esses planos infalíveis como os do Cebolinha.
Sorri.
— Não se preocupe, está tudo bem, ele é uma criança linda.
Ficamos em silêncio e notei que era a minha vez de falar e me despedir.
— Acho que esclarecemos tudo, sendo assim, vou indo e mais uma vez muito obrigada pelo sorvete e pela carona. Foi um prazer te conhecer melhor.
— O prazer foi meu.
Ele me olhou nos olhos, depois mudou o seu olhar dos meus olhos para a minha boca e ficamos em silêncio de novo.
— Tchau, Natan. — Fui abrir a porta e ele me parou.
Voltei meu olhar para ele e sentindo meu coração acelerado olhei para baixo para não o encarar. Já fazia tempo que eu não tinha nada mais íntimo com ninguém e eu não sabia como agir, então Natan se aproximou de mim e colou seus lábios nos meus. Começou o beijo primeiro lento e delicado, depois passou levemente seus lábios nos meus como se pedisse permissão para me beijar e como ele viu que eu não o parei, colocou a mão na minha nuca, me puxou para ele e aprofundou o beijo. Naquele momento eu senti tudo em mim se ligar e apenas com um beijo aquele homem me deixou excitada de um jeito que eu não ficava há muitos anos, fiquei com vontade de agarrá-lo, de montar em seu colo e fazer sexo com ele no carro mesmo e me perguntava como eu podia ter ficado com tanta vontade de transar com ele, depois de apenas com um beijo.
Me controlei, coloquei a mão em seu rosto para aprofundar o beijo e em seguida com esforço me afastei, ele terminou o beijo mordiscando meu lábio inferior e isso me deu mais vontade de agarrá-lo.
Eu não sabia o que dizer então fiquei em silêncio e deixei que ele dissesse algo sobre como acabamos ali.
— Preciso caprichar no presente de Natal do Caíque. — Eu sorri em resposta e falei:
— Eu não estou entendendo nada em como meu dia acabou dessa maneira, mas... Eu gostei e te ajudo com o presente.
Ele riu divertido e nosso entrosamento era perfeito.
— Bom, preciso entrar — falei.
— Quando nos vemos de novo?
— Você sabe onde me encontrar... Até mais, Natan.
Com isso, saí do carro e sem olhar para trás passei pelo portão da minha casa e entrei, pois se eu olhasse em sua direção eu sabia que era bem capaz de eu voltar e agarrá-lo de novo.
E pensei que aquela vontade desenfreada só podia ser carência.
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