Capítulo 15
Capítulo 15
11 dias para o Natal
Trabalhar domingo era péssimo, mas até que o domingo tinha sido de pouco movimento no mercado e a hora passou rapidamente, pois fiquei conversando com a Mariah sobre a minha vida amorosa e caótica e ela ficou me aconselhando a relevar e aproveitar o momento, dizia também que se Natan estava comigo era por que ele queria e eu tinha que parar de insegurança boba. Talvez ela tivesse razão.
Quando o expediente acabou peguei as minhas coisas e fui direto para casa, assim que cheguei, meus parentes estavam todos lá, falando mais que a boca e um por cima do outro. Uma gritaria sem fim que eu reclamava, mas que eu sempre acabava gostando.
Cumprimentei a todos e fiquei muito feliz quando até a minha prima Celina estava ali no meio com sua família, sempre fomos muito amigas e fazia tempo que não nos falávamos, porque ela tinha saído da cidade depois de ter sido traída pelo marido (Isso deve ser um carma da família), mas ao contrário de mim Celina se recuperou, casou e tinha uma família. Ela assim como a minha mãe e o resto da família era a doida do Natal e desde que saiu da cidade por conta da desilusão, passou a comemorar o Natal sozinha e tê-la ali com a gente era uma alegria.
— Primaaaaaaa.... — Corri e a abracei. — Que saudade!
— Muita! — ela respondeu. — Voltei para a nossa loucura do Natal e para o seu aniversário. — Ela riu e eu revirei os olhos.
Celina era uma das poucas pessoas que sempre se lembravam do meu aniversário, ela me apresentou seu marido Vinícius, que era muito simpático e lindo.
— Natal é muito sua cara, prima — falei e ela sorriu, ia responder, mas foi interrompida pela pergunta indiscreta da minha mãe para mim:
— Filha, seu namorado vai vim para a coleta?
Ela falou com a voz tão alta, por sobre o burburinho da casa que imediatamente a família toda se calou.
— Mãe! — a repreendi.
— Gente, vocês têm que ver o Bombeirão da Natália. Um gato!
— Manhêêê... — a repreendi de novo e a família já estava toda rindo e querendo saber sobre o meu novo namorado.
Tia Vera como sempre não segurava seus comentários afiados na boca, então falou:
— Só toma cuidado com a Mamãe Noel.
Sorri sem vontade e revirei os olhos sem que minha tia visse, para a Celina que estava bem à minha frente.
— Viu, prima, tenho certeza que você entende o porquê eu quis sair da cidade depois de descobrir a canalhice do meu ex-marido — Celina disse, me cutucando.
— E como te entendo. — Rimos.
Mais tarde, depois de todos almoçarmos a macarronada da minha avó, saímos para as ruas da cidade em mais ou menos umas trinta pessoas, entre tios e primos. Todos usávamos a camiseta personalizada, feita na cor vermelha e estava escrito: "Natal solidário da família Dos Anjos". Sim, nosso sobrenome era "Dos Anjos".
Seguimos e a tradição era linda e eu gostava, nós íamos cantando músicas religiosas e batendo de casa em casa pedindo algo que a pessoa pudesse doar para melhorar o Natal de alguém. Recebíamos coisas pequenas, grandes, de muito valor e pouco. Brinquedos, alimentos e tudo que pudéssemos imaginar e que os doadores de bom grado quisessem doar.
Um dos meus primos que era agricultor foi andando junto com a família com seu caminhão, onde colocávamos tudo o que recebíamos.
"Renova-me Senhor Jesus
Já não quero ser igual
Renova-me Senhor Jesus
Põe em mim teu coração..."
Cantávamos, batíamos palma e aquilo para mim era o espírito de Natal e eu tinha orgulho de fazer parte da minha família naquele momento. Muitos já tinham nos chamado de hipócritas por fazermos aquela ação solidária apenas uma vez por ano, mas ao menos fazíamos e ao menos um dia no ano mudávamos a vida de alguém, na verdade, de muitas famílias que recebiam aquela doação.
Fui fazendo a minha parte, feliz e agradecendo a Deus por estar ali. Parei em frente à casa de uma senhora que já conhecia o projeto de Natal solidário da minha família e feliz me recebeu e foi buscar sua doação. Fiquei esperando na frente do seu portão e enquanto olhava para dentro da casa da senhora e a esperava voltar, notei uma presença alta parar ao meu lado e quando olhei para ver quem era, tomei um susto, pois ali estava Natan: me olhando com seu sorriso lindo e usando um óculos de sol.
Sorri de volta.
— Você aqui? — perguntei, olhei para a sua roupa e ele usava jeans e a camisa vermelha da campanha.
— Tia Natáliaaaa... — alguém gritou meu nome e quando olhei no sentido da voz, avistei Caíque e Elen que também usavam a camiseta vermelha e ambos animado acenaram para mim e seguiram para a próxima casa.
Voltei a olhar para o Natan sem entender o que estava acontecendo e ele notando meu olhar confuso, me iluminou:
— Quando fui até a sua casa buscar você, conheci sua mãe e em menos de cinco minutos ela me abraçou, me convidou para estar aqui hoje, me deu a camiseta e também me convidou para a ceia de Natal.
Eu ri, imaginei a cena e era a cara da minha mãe fazer aquilo.
— Ai, minha família é estranha...
— Eu estou gostando. — Olhei em volta e mesmo distantes uns dos outros, eles me observavam com sorrisos faceiros em seus rostos.
Ficamos em silêncio.
— Posso te dar um beijo? — ele pediu minha permissão por estar entre a minha família e com essa atitude tão respeitosa, fez meu coração pular feito o de uma adolescente.
— Pode — respondi, sem graça e me surpreendendo completamente, ele me puxou e deu um beijo na minha testa, o que arrepiou meu corpo todo.
— Eu estou com saudade da gente — falou baixo e sexy.
— Eu também. — Engoli o caroço que estava na minha garganta.
— Natália, preciso que acredite em mim, não quero me afastar de você por algo que não tem o menor sentido. Ela não tem mais nenhum significado na minha vida e não tenho nada mal resolvido. Eu falei com ela sim na praça... falei de você.
O olhei e franzi a testa sem entender o que ele teria falado de mim para ela, então Natan continuou:
— Ela me chamou para sair e eu disse que estava namorando. E não falei isso para te usar ou por qualquer outro motivo que não fosse porquê... Porque quero que todos saibam que... — Ele respirou fundo e continuou a frase: — Eu te amo. — Imediatamente olhei para ele e engoli novamente, sentindo que o meu coração batia descompassado no meu peito e ele me encarava de volta como se esperasse que eu dissesse algo.
— Aqui está, minha filha. — A senhora da casa que tinha ido buscar a doação, apareceu no portão com uma sacola de coisas e tirou a minha atenção do rosto do Natan e acabou com a intensidade do momento.
— Ah — Pisquei para me recompor. Ele me ama! —, obrigada, Deus lhe abençoe. — falei completamente perdida.
Ela sorriu em resposta e falou para se despedir:
— Um feliz Natal para vocês.
— Feliz Natal — respondemos juntos.
Começamos a andar para longe do portão e em sentido ao caminhão que levava as doações, entreguei a sacola ao meu primo e ele a acomodou as coisas lá dentro. Eu ainda estava digerindo o que Natan tinha me dito e sentindo uma vontade absurda de sorrir quando sem dizer nada Natan entrelaçou os nossos dedos e juntos começamos a andar pela rua como o casal de namorados que éramos. Nos meus pensamentos o "Te amo" dele martelava insistentemente e sempre que eu pensava tinha vontade de sorrir mais e me arrepiava ao escutar mentalmente na minha cabeça a voz dele me dizendo baixo como se testasse a minha reação:
Eu te amo...
Eu te amo...
Ele me ama!
Sorri mais uma vez com meus pensamentos.
— Ei, primo — meu primo do caminhão chamou o Natan como se já o incluísse na família.
Ele sorriu e entrou na onda respondendo:
— E aí, primo. — Fez sinal de positivo.
— Tá preparado para passar o Natal com a mais mal-humorada da família? — Ele apontou para mim, eu o mostrei o dedo do meio e ele brincou, rindo: — Esse seu gesto vai passar no telão do seu juízo final. Que vergonha, prima!
Tive que rir e Natan me defendeu:
— Tô preparado sim, primo, preparado para passar o melhor Natal da minha vida. — Me puxou para um beijo e seguimos para continuar pedindo as doações, deixando para trás o meu primo rindo de cima do caminhão.
Ele me ama!
...Vem que está chegando o Natal,
Vem que está chegando o Natal,
Pois nasceu Jesus, o salvador!
Todos cantavam em coro, aplaudindo, pedindo as doações e eu sorria feliz.
Fiz meu trabalho voluntário e Natan me acompanhou em todas as casas, era simpático, alegre e respondia as pessoas da minha família com paciência. Todos já o adoravam e ele foi o foco das brincadeiras durante todo o dia. Tia Vera logo o aconselhou a se manter longe de qualquer Mamãe Noel e ele respondeu que nem gostava mesmo, Tio Nonoto levou suas cervejas para tomar enquanto pedia as doações e como gostou do Natan entregou uma para ele, que recebeu, brindou e bebeu junto com meu tio e sem cerimônia. Meu pai muito familiarizado com Natan, falou que o esperava para o truco que os homens da família sempre jogavam no dia de Natal e Natan gritou: "Truco, Marreco" entrando na brincadeira do meu pai, que em resposta gritou: "Seis, ladrão!" e bateu no ombro do Natan em sinal de aprovação.
Olhei para frente e Caíque brincava com os meus primos menores e tinha a alegria estampada em seu rosto por fazer parte daquele momento, enquanto Elen interagia com a Celina. Sorri ao presenciar a minha família junto com a família do Natan, todos completamente entrosados, como se fossem apenas uma e a alegria tomou conta de mim, me preenchendo e gravando na minha mente aquele momento como um dos meus favoritos daquela época.
Olhei para ele que estava sorrindo para algo que meu pai dizia e sua declaração ainda martelava na minha cabeça e eu não havia respondido nada no momento, mas depois daquele dia perfeito e de vê-lo tão entregue eu só sabia pensar que o amava muito.
E estávamos em dezembro... Que surpreendente!
Eu estava começando a gostar daquele mês.
E eu estava começando a gostar do Natal, graças ao meu Natan.
Ah, e como eu o amava!
https://youtu.be/TzX83Xva9zI
https://youtu.be/o5Jyfhvij98
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