Capítulo 1
Capítulo 1
25 dias para o Natal
Nome: Natália
Idade: 29 anos
Profissão: Caixa de supermercado
Estado civil: Livre de todo mal, amém.
Um fato sobre mim: Eu odeio o Natal
Bate o sino pequenino
Sino de Belém
Já nasceu Deus menino
Para o nosso bem...
Dia primeiro de dezembro e meu inferno astral ia começar, era o pior mês do ano, a única coisa boa nesse mês era o décimo terceiro salário, o resto era a própria amostra grátis do inferno.
O supermercado lotava, ficava aberto até mais tarde e o pior: tínhamos que usar a touca do Papai Noel que eu achava tão ridícula que se eu tinha alguma chance de conhecer algum pretendente durante o expediente, usando aquela touca horrível as minhas chances acabavam. Além da touca ainda tinha o amigo secreto que era a própria personificação do mal, pois uma brincadeira em que você dá uma joia e ganha uma meia, não pode ser chamada de brincadeira para confraternizar e sim para dizimar qualquer tipo de amizade que possa haver entre os funcionários.
Em casa, eu tinha que lidar com o grupo da família no whatsapp, onde começava tudo às mil maravilhas, todo mundo no famoso clima do Natal, mas era só começar a organização para ver quem ia levar o que para ceia, que começava o Deus nos acuda, pois sempre tinha aquele que queria levar panetone e refrigerante, mas reclamava se não tivesse Chester, pernil e tender. E não vou mencionar que o grupo era criado dia primeiro de dezembro e eu tinha que ficar vinte e cinco dias recebendo bom dia, boa tarde, boa noite, além de correntes de sorte das tias. (Talvez se eu tivesse repassado as correntes do passado, naquele momento eu não estivesse vivendo em sete milênios de azar)
Quem vai levar o pavê? Pá vê ou pá comê?
Sem uva passa. Com uva passa.
Maça na maionese?
Afff... um porre! (Porre de Champanhe ruim, digo espumante, porque ninguém da família tinha dinheiro para comprar um bom).
E por que eu não saía do grupo? Porque eu não podia ser a chata que sai e também se eu saísse, com certeza a minha mãe ia reclamar todos os anos da minha vida sobre o quanto eu era ingrata e não participava dos momentos em família.
Não que eu fosse antissocial ou que eu não amasse a minha família, eu amava muito, só não amava o Natal e não via sentido nas tradições e nas musiquinhas natalinas tocando o dia todo no mercado e em todo comércio que eu ia.
Sem mencionar que eu fazia aniversário no dia vinte e cinco de dezembro, ou seja, ninguém nunca lembrava e comemorava o meu aniversário e também não vou mencionar que todas as minhas festas desde criança, nunca pude escolher um tema, pois quando faziam um bolo, ele vinha com a cara do Papai Noel, da rena ou em formato da árvore de Natal. Aí na adolescência e na vida adulta foi que eu desisti de vez de comemorar, já que meus amigos nunca podiam comemorar comigo, pois tinham que passar com as suas famílias.
Além de todos os vários motivos que eu tinha para detestar o Natal, há alguns anos eu estava noiva e descobri que ele estava me traindo quando peguei no celular dele a foto de uma mulher seminua vestida de Mamãe Noel e desejando um ótimo Natal. Eu quase o matei, mas o acontecimento só fez com que eu somasse mais raiva a data comemorativa.
A touca do papai Noel na minha cabeça começou a cair e irritada eu a tirei e deixei em cima do caixa me recusando a usar, olhei para a Mariah, minha amiga de trabalho que ficava no caixa ao lado, que sabia do meu desamor por essa época e ela riu balançando sua barriga redonda de quase nove meses de gravidez.
Eu admirava muito a Mariah, pois ela sempre sonhou em ser mãe, mas nunca encontrou seu príncipe encantado para começar o processo natural, então sendo muito guerreira ela disse sim para o seu sonho, vendeu o carro que tinha e pagou um tratamento de inseminação artificial, no entanto, meses depois conheceu José, o seu atual marido, e foi um amor avassalador, casaram, ele assumiu seu filho e a tratava como uma rainha.
Éramos amigas desde que comecei a trabalhar ali, e já fazia dez anos, Mariah era morena, baixinha e estava com uma barriga enorme, o parto estava previsto para janeiro e mesmo assim ela estava firme e trabalhando, pois mesmo o dono do mercado sendo carrasco ela não esmorecia e dizia que ia mostrar para ele que não ficaria preguiçosa por estar grávida. Nosso chefe se chamava Erodes, ele era um sujeito fechado, mandão e um tanto bravo, mas que conseguíamos enrolar, às vezes.
Nosso local de trabalho era um supermercado não muito grande, assim como tudo na cidade pequena em que morávamos. Ali era tudo muito sossegado e a agricultura e a pecuária era o que mantinha a cidade financeiramente. Não tinha muitas opções de emprego e todo mundo sabia da vida de todo mundo, além de os mais velhos sempre se referirem aos mais novos não pelo nome, mas por filha de fulano ou por sobrenome, exemplo: aquela é a fulana da família tal.
— Ei, Naty, animada com o começo de dezembro? É Natal! — Mariah me tirou dos meus pensamentos quando perguntou em provocação sabendo do meu desamor por essa época.
Dei um sorriso que parecia uma careta e falei:
— Muito.
Ela riu.
— Esse ano por conta da gravidez vou ficar só em casa com o José mesmo. Não estou muito animada.
— Ah, eu sou muito animada e que comece todas as tradições natalinas que eu amo — a respondi com ironia, enquanto passava as compras de um homem acompanhado de um menininho. Quando me ouviu falar sobre o Natal, o menino de mais ou menos uns oito anos, cabelos castanhos e olhos com cílios grandes, disse:
— Eu também amo o Natal. — Seus olhos brilhavam e para não desanimar a criança e dizer que eu estava sendo irônica e na verdade eu detestava o Natal, apenas sorri para ele e olhei para a Mariah que segurava o riso.
Vi que o homem ficou olhando para mim, depois olhou para o menino e sorriu. Ele devia ser pai da criança, já que os dois se pareciam, também pareciam se dar muito bem e trocavam olhares e sorrisos com cumplicidade. Depois percebi que o menino ficou me olhando e parecia querer perguntar algo e também ficou mexendo a cabeça e olhando para a minha mão como se tentasse ver.
— Essa época é encantadora — falou o pai, que tinha um bonito sorriso, cabelos castanhos, pele branca e se parecia muito com o menino. Era bem bonito, não pude deixar de notar.
— Sim.
— Você também tem filho? — perguntou o menino.
— Não, ainda sou solteira — falei, sorrindo para ele.
— Que bom.
Sorri ainda mais, aquela criança parecia ser muito esperta e eu tinha gostado dela.
— Caíque, para de fazer perguntas — o pai o repreendeu.
— Não tem problema, eu gosto de criança — respondi, olhando para o pai que me olhava também.
Ele sorriu para mim e tinha um sorriso atraente, que se perdia em meio a sua barba rala... Sorriso bem bonito... Talvez eu o tivesse encarado por tempo demais e quando notei que eu estava fazendo isso desviei o olhar, sem graça. Ele não era só bonito, era lindo! E com esse pensamento só imaginei o quanto eu devia estar feia, com o uniforme e com o cabeço bagunçado por ter tirado a touca tão bruscamente, então sem jeito coloquei um fio que se soltava do coque, atrás da orelha.
Terminei de passar as suas compras, o informei o valor de tudo e virei-me para pôr as compras na sacola, depois o homem acertou o que devia, me agradeceu com o sorriso lindo no rosto e me olhou por mais tempo do que devia, mas nosso contato visual foi cortado pelo menino que também se despediu e em seguida ambos foram embora conversando, enquanto eu fiquei os observando se afastar e pude notar que além do sorriso lindo aquele homem tinha uma bunda bem bonita também.
— Uauuu... que gato! — Mariah falou, ainda olhando para o homem que ia embora.
— Muito — concordei, com um sorriso no rosto.
— Gostoso também. Você viu como é forte? — Ri. — Você podia ter perguntado se ele é casado e ter pego seu telefone.
— Deus me livre, ainda estou traumatizada com relacionamentos. O último foi uma merda.
— Por isso mesmo, você merece uma nova chance.
— Estou correndo disso.
Ela bufou.
— Quero só ver, deixa aparecer alguém que te complete para ver se você vai correr.
Eu revirei os meus olhos para o que Mariah disse e voltei a fazer o meu trabalho.
E no final do dia agradeci por ter encerrado o primeiro dia de dezembro com vitória.
https://youtu.be/qPvHXFombyU
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