Capítulo 2
Capítulo dois
Cheguei à loja atrasada e pedindo desculpas para os clientes que me esperavam no portão, abri tudo, liguei o computador e me sentei para fazer o meu trabalho, mas a visão daquele policial sério e carrancudo não saía dos meus pensamentos e mesmo com tanto trabalho a fazer, eu me vi pensando no sorriso quase que disfarçado daquele homem e fiquei na dúvida se eu ligaria para ele ou não, enquanto olhava para o pequeno papel que eu havia descido do carro junto comigo.
Melhor não!
Deixei o número de telefone sobre a mesa, em meio a pilha de papel que sempre ornamentava a minha mesa e voltei ao trabalho, deixando para decidir depois o que faria em relação àquele número. Tive tanta coisa a fazer que não tive mais tempo de pensar no policial naquele dia, eu era formada em administração e esse era o meu cargo, mas eu também era uma faz tudo, por conta trabalhar há tantos anos na loja e ser amiga dos patrões além de só funcionária.
Ao final do dia quando eu estava no caminho para casa, passei no mesmo lugar no qual fui parada e me lembrei dele e da sua cara carrancuda. Pensei que talvez eu pudesse tentar ligar e só ver o que ele tinha a me dizer, a oferecer e aí quem sabe a gente não se entendesse? E foi nesse instante que lembrei do papel com o seu número de telefone que eu tinha deixado na minha mesa, ou seja, eu não ia ligar para ele naquele dia.
Cheguei em casa por volta das cinco horas da tarde, tomei banho e fiquei no meu quarto vendo um filme e ali na minha tranquilidade e sossego, a piscadinha tão atraente e discreta que eu pensava ter visto o policial me lançar, fazia meu corpo ter reações que fazia um bom tempo que eu não sentia. Alguns minutos se passaram e minha mãe notando o meu isolamento naquele dia, resolveu me procurar e deu leves batidinhas na porta do meu quarto para anunciar a sua chegada.
— Tudo bem? — perguntou.
— Sim.
— Você está tão pensativa hoje.
— Estou?
— Sim, meio silenciosa, como se pensasse em algo importante.
Sorri e acenei para a minha mãe entrar se sentar na minha cama comigo.
— A senhora me conhece tão bem. — Sorri e com vergonha comecei a contar: — Conheci um gato hoje, um policial rodoviário, na verdade não o conheci em uma ocasião normal, ele me parou na blitz na estrada.
— Luana, você estava com os documentos? — perguntou assustada.
Ri.
— Dessa vez sim.
— Ufa... Você nunca anda com eles, deu sorte.
— Dei.
— Rá! E a sua teoria sobre nunca ser parada foi por água abaixo. — Ela riu.
— Sim, vou tentar ficar mais atenta agora que eu sei que mesmo com a minha cara de santa, serei parada.
Ela bufou e rindo de mim me disse em seguida:
— Mas me conta, você conheceu o gato e aí...
— Ele disse que meu estepe estava murcho e me passou o telefone dele caso eu precisasse de uma borracharia, achei estranha a abordagem, mas tive a impressão de tê-lo visto piscar para mim antes de eu sair com o carro.
— E aí, você ligou para ele?
— Não, esqueci o telefone dele na loja.
— Hummmm... E agora você queria ligar?
— É... sei lá...
— Você sabe que quer ligar ou não estaria pensando tanto no papel que deixou lá.
— Verdade, mas ele tinha um olhar tão sério e depois me deu seu telefone que eu na verdade nem sei se realmente foi um flerte ou se realmente o pai dele tem uma borracharia e depois piscou e eu nem sei se é um tic nervoso ou se realmente eu o vi piscar.
Minha mãe riu e depois franziu as sobrancelhas como se desacreditasse.
— Ah, Luana, você sabe quando um homem está flertando com você, né?
Eu ri.
— Acho que sei ou talvez ele faça parte de uma quadrilha na qual ele inspeciona todos os carros e encaminha para a borracharia do pai dele.
— Pelo amor de Deus, filha. — Minha mãe ria largamente. — Você é linda tenho certeza que se fosse assim ele teria dado o telefone da borracharia e não o dele.
— Verdade e ele ainda perguntou se eu tinha namorado ou marido para arrumar o pneu para mim.
— Então foi um flerte descarado.
— É, tem razão, pensando melhor foi mesmo, amanhã se der certo eu ligo para ele. Ele é tão sexy, mãe.
Minha mãe me pediu a descrição perfeita do meu novo pretendente e me incentivou a ligar para ele no dia seguinte, depois mudamos de assunto e minha mãe começou a me contar a nova fofoca da rua que era a da filha da vizinha que estava suspeitando estar grávida novamente.
Aquele dia mexeu tanto comigo que a noite sonhei que eu era presa por levar dez quilos de droga dentro do estepe, enquanto um policial sem rosto dizia que eu estava grávida e por isso seria solta logo.
No dia seguinte repeti a minha rotina de sempre estar atrasada e depois de atender todos os clientes, porque eu também fazia o papel de atendente, tive um tempo livre e resolvi procurar o cartão do policial que havia esquecido na minha mesa, mas depois de revirar a minha bagunça, eu não encontrei em canto algum o pequeno papel com o número, então liguei para a faxineira e perguntei se por acaso ela tinha visto, mas ela disse também não ter encontrado nada, sendo assim, pensei que podia ser um sinal de Deus para que eu esquecesse aquele homem e seguisse a minha vida sem colocar em prática o meu fetiche por farda.
E ele era tão lindo com aquela farda.
A semana seguiu sem maiores acontecimentos e acabei esquecendo o episódio com o policial, na verdade, não esqueci só parei de pensar tanto na piscada sexy dele, apesar de que quando ele me vinha a cabeça eu não controlava um estremecer que tomava meu corpo ao lembrar do seu olhar altivo me encarando pelo retrovisor do carro.
Semanas se passaram até que uma sexta-feira chegou e com ela recebi da minha amiga um convite para sair. Marina era uma amiga de infância e a pessoa que sempre me levava para o mal caminho, era a companhia mais divertida e mesmo a gente sempre aprontando mais do que deveria eu adorava sair com ela.
Quem sabe até a noite não me renda um gatinho e eu pare de vez de pensar no tal Leandro!
Me arrumei toda, coloquei um vestido justo e preto e nos pés ousei nos saltos altos. Fiz uma maquiagem que destacou meus olhos azuis e meu cabelo cacheado estava perfeito naquele dia, nenhum cacho fora do lugar.
Rumei para saída, mas antes me despedi da minha mãe que assistia uma série na sala.
— Vê se não bebe e dirige, viu, Luana!
— Deixa comigo!
— E cuidado com as curvas. — Ri com seu conselho de sempre, pisquei para a minha mãe e saí.
Dirigi até o bar em que eu encontraria minha amiga e quando cheguei lá logo me acomodei em uma mesa que dava de frente para a rua, pedi uma cerveja e mesmo pensando que eu estava dirigindo, eu ficaria apenas naquele copo. Não demorou muito e minha amiga chegou. Marina era alegre, baixinha com cabelo curto e tinha um sorriso amistoso.
— Ah, amiga, desculpa a demora acabei me atrasando, porque eu tive que vim de táxi já que eu ia beber, né?
— Eu vim dirigindo, mas já me arrependi, porque já pedi uma cerveja e vou parar nela.
— Que pena.
Mal eu tinha começado a conversar com a Marina quando olhei para a entrada do bar e meus olhos se fixaram em um rosto marcante e sério que eu achei que não veria mais... Lá estava o tal Leandro, mas dessa vez acompanhado e com uma mão apoiada nas costas de uma moça bonita. Fiquei o encarando para ter certeza de que era mesmo o policial gato, mas não tinha como me esquecer dele todo lindo, com a mão no coldre e me encarando sexy pra cacete, até que fui tirada do meu transe quando a minha amiga me perguntou:
— Que cara é essa, Luana?
— Ma, olha para trás e repara naquele rapaz que está entrando.
Marina olhou na direção do meu policial, nada discreta e no mesmo instante em que estávamos as duas o encarando, o olhar dele cruzou com o meu e parecendo surpreso por me ver ali e até mesmo feliz, Leandro me deu um tímido aceno com a mão e um sorriso também discreto no rosto. Senti a minha bochecha esquentar, acenei de volta meio com medo de o aceno não ser para mim e me perguntei quantas pessoas ele devia ter parado desde a vez em que conversamos e por que ele se lembrava de mim?
— Quem é ele, Luana? — Minha amiga o encarava ainda sem disfarçar.
— Eu te falei dele, é o policial que parou meu carro na blitz.
— Ahhhh... Me lembro. Gata, ele lembra de você? — perguntou admirada.
— É... — respondi, como se não entendesse.
— Miga, como você conseguiu perder o telefone daquele gato?
Torci a boca e fiz um olhar arrependido.
— Também me pergunto isso e agora mais ainda. Parece que eu não me lembrava dele tão lindo assim, apesar de que pelo que vejo agora já é tarde.
— Sim, parece estar acompanhado e você perdeu um policigato ou um gatolicia ou um rodovilhoso.
Consegui parar de olhar para o homem bonito e ri das misturas de palavras da minha amiga. Leandro não nos olhava e naquele momento conversava com o segurança do bar.
— Deixa de ser louca! — falei.
Ela também sorriu.
— Adoro essas misturas de nomes, mas sabe o que eu estou pensando? O quanto ele deve ficar gostoso de farda...
— Fica um policigato rodovilhoso.
Ambas rimos e paramos de olhar para o homem que ainda estava na entrada do bar. Marina se virou para mim, ergueu o seu copo como em um brinde e antes de beber um gole da sua bebida, jogou na minha cara o quanto eu fui lerda:
— Você foi uma anta perdendo a chance de pegar um gato desses.
Bufando dei mais olhada para o policial e respondi:
— Pois é.
Nisso ele se encaminhou para uma mesa distante acompanhado pela moça e eu tirei relutantemente os meus olhos dele, sendo aquela a última vez que o olhei enquanto estava no bar, com isso a minha amiga percebendo meu arrependimento mudou de assunto e começou a me contar uma história engraçada do seu trabalho.
Depois da primeira cerveja que pedi, resolvi pedir mais uma e a cada curta passagem de tempo em meus pensamentos me lembrava que ele estava ali, mas não o procurei com o olhar e me consolei pensando que eu já havia perdido outros gatinhos e aquele não seria o primeiro que bobeei e outra tomou meu lugar, mas ao contrário dos outros, esse eu tinha ficado mais mexida que o normal e eu nem entendia o motivo, já que eu não acreditava em nenhum desses sentimentos instantâneos como amor, paixão e etc.
A noite seguiu, dei algumas risadas com a minha amiga que era mestre em me fazer sorrir e depois de me proibir mentalmente de olhar para a mesa ali perto, eu consegui me manter na conversa e esquecer que um dia eu tive um pequeno flerte com o homem que estava no mesmo bar que eu.
Chegou a hora de ir embora, eu não estava nem um pouco animada para flertar com homem nenhum ali e Marina também deu a noite por encerrada e resolvemos partir. Eu não sabia se o policigato ainda estava por ali ou tinha ido embora e também não ia olhar para conferir, sendo assim eu e minha amiga pedimos para fechar a nossa conta e fomos até o caixa acertar o que devíamos. Ela pagou primeiro e ficou me esperando, pois prometi que a levaria em casa, então ocupei meu lugar no caixa e enquanto acertava a minha parte com a atendente o telefone da Marina tocou, ela atendeu e depois de rápidas palavras com alguém do outro lado da linha, desligou depressa dizendo que o seu irmão estava próximo e que ele passaria para pegá-la, assim eu não precisaria sair da minha rota só para levá-la em casa. Claro que eu me opus e disse que a levaria, mas sem me deixar debater Marina se despediu de mim e saiu do bar apressada e me lançando beijos em meio a sorrisos. Vencida, acertei a minha conta e me virei para sair do bar enquanto tirava a chave do carro da bolsa, mas antes de chegar na calçada fui parada por uma voz grossa e sexy sendo falada bem próxima de mim:
— Beber e dirigir é uma infração gravíssima, além de sete pontos na carteira e ainda pode ter carteira suspensa por um ano. — Virei-me na direção da voz e sem que eu pudesse controlar o meu coração deu uma pequena acelerada ao ver que quem estava ali a poucos centímetros de mim e falando comigo era o policigato.
Leandro
Ela estava saindo e procurando a chave na bolsa, seria a minha deixa para falar com ela antes que a perdesse de vista mais uma vez.
— Beber e dirigir é uma infração gravíssima, além de sete pontos na carteira e ainda pode ter carteira suspensa por um ano — falei.
Ela me olhou tão de perto que tive vontade de beijá-la, na verdade eu estava com essa vontade desde quando Luana me respondeu tão irresponsavelmente que não fazia ideia de onde ficava o estepe. Naquele dia fiquei enrolando olhando o seu carro e pensando em um jeito de descobrir se aquela mulher linda, que parecia tão atrapalhada ao procurar seus documentos, era comprometida. Fiquei encantado por seus olhos azuis e inchados, como se tivesse acabado de acordar, apesar de eles estarem levemente maquiados e pensei que ela só podia ser casada e o marido a tivesse segurado na cama. Meus pensamentos viajavam enquanto eu arrumava um jeito de ter um contato maior com ela, até que a vi me olhando pelo retrovisor de uma maneira um tanto interessada, então a fiz descer do carro e ao olhar as suas mãos não vi aliança, desde então a esperei ligar a cada maldito dia e me cobrei por não ter eu pego seu número de telefone ao invés de ter passado o meu, entretanto, algumas semanas depois do nosso primeiro contato e apesar de eu ter ficado encantado tão repentinamente por aquela mulher, eu a dei por perdida e não esperei mais a sua ligação. Desisti apesar de sempre pensar nos seus olhos risonhos e imaginar que não a veria mais, até eu vê-la novamente no mesmo bar que eu estava.
— Você pode me multar? Você nem está a trabalho.
Eu ri.
— Não vou fazer isso, só estava brincando, mas posso acionar uma viatura. —Ela riu e eu perguntei: — Luana, né? — Ela assentiu. — Posso te levar em casa? Aí a gente evita de você perder sua habilitação.
— Há algumas semanas eu precisava de um borracheiro e agora preciso de um motorista? — Arqueou uma sobrancelha e parecia divertida.
— Ou posso ser o que você estiver precisando no momento, só você me dizer o que é.
Eu não sabia o motivo de eu estar tão interessado naquela mulher e até cada sarda clarinha que ela tinha em seu rosto chamava a minha atenção. Desde o momento que coloquei meus olhos nela eu soube que a queria. Sou intenso e sempre acreditei em amor à primeira vista, mas nunca achei que realmente aconteceria, porém com ela simplesmente aconteceu.
— Você me parece muito galanteador para ser o mesmo policial carrancudo que me parou e me atrasou ainda mais pra chegar no trabalho.
— Me desculpe, não foi minha intenção, mas em minha defesa eu só quis ter um pouco mais da sua presença e eu não estava carrancudo, eu só estava pensando em como conseguir o seu telefone. — Ela sorriu e parecia gostar do meu galanteio. — Não consegui e passei o meu, mas esperei por dias a fio e nada de receber uma única mensagem, até que hoje resolvi sair da minha solidão e para minha surpresa encontro você.
Ela semicerrou os olhos e disse:
— Você age assim com todas as mulheres que para na estrada?
— Claro que não! Nunca, nos meus oito anos como policial rodoviário eu fiquei tão impactado ao ver uma mulher ao volante.
Ela riu, mas seu sorriso congelou e parecia tensa e até mesmo procurando alguém, até que o sorriso que estava em seu rosto se apagou por completo, ela ficou séria e disse:
— Olha, acho que você não devia estar me dizendo essas coisas. Você não é comprometido? — Voltou o olhar para trás de mim como se procurasse alguém.
— Eu não tenho ninguém. — Franzi a testa em desentendimento, ela revirou os olhos parecendo decepcionada e disse:
— Sério? E eu estava começando a acreditar no seu interesse e me interessando mais, mas aí você já começa errado.
Com isso Luana se virou para ir embora, seguiu a passos rápidos e atravessou a rua entrando no carro que estava estacionado ali. Fiquei sem entender como ela passou de um sorriso faceiro em seu rosto para um olhar de desdém? Me deu um pequeno desespero, pois achei que daquela vez daria certo pelo modo como ela me olhava, mas naquele momento ela estava se afastando de mim e eu não sabia como me aproximar novamente, eu só queria que ela me desse uma chance e me conhecesse melhor.
— Espera, Luana! — gritei, mas já era tarde e ela estava tirando o seu carro da vaga e indo para longe de mim novamente.
Que mulher difícil!
Tentei em uma atitude completamente antiética anotar a placa do carro para procurá-la depois, mas já era tarde, ela tinha ido.
— Vamos, Leandro? — Minha irmã apareceu do meu lado e só aí eu me lembrei que estava ali com ela.
— Porra! — xinguei, entendendo tudo.
— O que foi? — Bruna me perguntou.
— Ela achou que você era um encontro e não minha irmã!
— Eita! Ela quem? Aquela mulher que você olhou a noite toda?
— Sim, estou apaixonado por uma mulher que eu nem conheço e só a vi uma única vez, agora duas e quando a encontro de novo e vou falar com ela, esqueço de explicar que estou aqui com a minha irmã e ela foi embora achando que sou um mulherengo que está no bar com alguém e dando em cima de outra.
— Vish... — Minha irmã riu da minha raiva.
— Para de rir.
— Tá, fica calmo, quando é pra ser acontece naturalmente, mas, Leandro, o que você viu nessa mulher? Você falou dela a noite inteira e logo você que é tão tranquilo em relação as mulheres se apaixonou assim?
— Não faço ideia de por que isso aconteceu, mas eu não consigo parar de pensar em nós dois desde o dia que coloquei meus olhos nela e agora já estou pensando na próxima vez que vou vê-la de novo. É o bendito amor à primeira vista.
— Olha, não é que existe amor à primeira vista mesmo!
— Sim, acho que existe mesmo e eu preciso ter um terceiro encontro com ela para me explicar e ver se o que estou sentindo é maluquice ou é real.
Minha irmã balançou a cabeça em negativo e ela já sabia o quanto eu era persistente e que eu faria como meta da minha vida reencontrar aquela mulher, então prometeu me ajudar no que estivesse ao seu alcance, eu só não fazia ideia de como encontrar a Luana de novo.
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