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Capítulo 7

Capítulo sete

Deitado no meu quarto eu me senti culpado.

Mas que caralho!

Eu teria que lidar com a minha mãe fazendo de tudo para que eu fosse o irmão mais velho da freirinha e

Quando eu estava com a minha mãe me lembrava de como ela me criou cheio de amor e isso fazia com que eu ficasse com o coração mole. Por causa desse coração mole que poucos minutos após entrar no meu quarto me lembrei da animação da Rosabel com o primeiro emprego e me senti um cuzão por ver sua decepção quando notou que eu não queria sair.

Naquela noite tinha combinado de ligar para o Edson e ele me passar tudo que estava acontecendo nos empreendimentos antes que o movimento maior começasse, consequentemente, não poderia sair mesmo se quisesse. O que não era o caso.

Não queria muito contato com a freirinha, pois sabia que ela despertava em mim pensamentos profanos que eu não poderia por em prática, porém, o olhar cabisbaixo com que Rosabel deixou a sala não saía da minha cabeça.

Foda-se!

Saí do meu quarto e bati na porta da frente.

— Oi — Rosabel disse ao abrir a porta.

— Vamos comer uma pizza? Eu pago dessa vez, na próxima é com você. — Tentei parecer um Martin legal.

Sorriu envergonhada.

— Não se sinta obrigado a isso. De verdade, está tudo bem.

— Não estou. Fiquei com muita vontade de comer pizza.

Ela me encarou como se me analisasse, até que por fim, disse:

— Tudo bem, então vamos. — Pensou um pouco. — Como é essa pizzaria?

— Bom, tem uma aqui na rua, mais pra frente. Nada muito requintado, mas pelo que me lembro a pizza era boa.

— Isso é importante. Vou só pegar um casaco.

Entrou no quarto e saiu em seguida.

— Vamos?

— Vamos.

Não compensava ir de carro por ser perto, então poucos minutos de caminhada depois, estávamos sentados em uma mesa de madeira, com uma toalha xadrez na cor vermelha e um outro pano verde por cima. Típica pizzaria italiana que os donos não eram italianos porra nenhuma, mas usavam a decoração com bandeiras da Itália por todos os lados, lamparinas nas pilastras de madeira que seguravam o teto e davam uma cara rústica ao local.

— Que lindo esse lugar. — Rosabel parecia encantada e com isso me lembrou de que ela não conhecia nada da vida e nem dos lugares maravilhosos que eu podia tê-la levado, se não estivesse com preguiça de sair e com pressa de voltar.

— É sim. Vai beber alguma coisa?

— Um suco. — Claro que ela não pediria um vinho.

— E que pizza você gosta?

Deu de ombros e eu olhei para o cardápio.

— O que você escolher, eu como. Estou aqui de convidada. — A olhei e ela sorria.

Chamei o garçom e pedi um chope, o suco dela e uma pizza metade brócolis com bacon e queijo e a outra metade de brigadeiro com morango.

— Nunca comi pizza doce.

— Você vai gostar.

Após mais ou menos uma hora lá, já tínhamos acabado a pizza e conversado sobre assuntos aleatórios que iam desde a infância na escola e no convento, até a comida favorita. Rosabel era engraçada e uma boa companhia.

No momento em que estávamos prontos para ir embora fui surpreendido por uma mão no meu ombro.

— Tin? — Ergui meu olhar e dei de cara com um camarada da época da escola.

Guilherme e eu fomos muito amigos e sempre saíamos juntos na noite, com mais alguns amigos.

— E aí, cara! — Levantei-me e dei uns tapas de leve nas suas costas.

— Quanto tempo não nos vemos. — Vi que ele olhou para Rosabel que nos observava ainda sentada e os apresentei. — Essa é a minha amiga Rosabel.

— Olá, muito prazer. — Deu a volta na mesa e a cumprimentou com beijo no rosto.

— Muito prazer.

— Acho que nunca te vi por aqui.

— Sou nova na vizinhança. Fui meio que adotada pela mãe do Martin, somos praticamente irmãos — Rosabel falou com o seu jeito inocente, mas notei que isso fez Guilherme acender uma faísca em seus olhos e eu fechei a cara.

— Ah, irmãos... podemos ser cunhados, hein, cara? — Olhou para Rosabel que sorriu tímida.

— Acho que não. — O cortei com cara de mau e ele logo notou que eu não havia gostado do comentário. Não sei porque me incomodou tanto o que ele disse e meu semblante sério não deixava dúvidas.

— E você vai ficar muito por aqui? Morando aqui de novo?

— Não, só tirando férias na casa da minha mãe.

— Ah, legal. Bom, foi bom te ver.

— Verdade.

— Podíamos marcar alguma coisa no final de semana com os caras. Fábio casou e a mulher dele é muito gente boa e Biel ainda está solteiro.

— Seria legal.

— Me passa seu número que eu te ligo. — Trocamos telefones, mas eu não estava com vontade que me ligasse. Estava ali meio que para me esconder e não podia sair na noite e correr o risco de ser visto. — Valeu, cara, foi bom te ver. — Olhou para Rosabel e sorriu. — Foi bom te conhecer.

— Igualmente. — Sorriu e eu fechei a cara.

Notei que olhou demais para ela, parecendo claramente interessado e isso me irritou de um modo estranho.

Lembrava-me bem de como Guilherme era e ele não seria boa companhia para Rosabel.

Logo se afastou da nossa mesa e eu me sentei sem vontade.

— Muito simpático seu amigo.

— Sim. — Até demais.

— O que você tem?

— Nada, só estou cansado.

Ela assentiu parecendo triste.

— Podemos ir quando você quiser.

Concordei com um meneio de cabeça e pedi a conta. Ficamos em silêncio.

— Desculpa fazer você sair de casa mesmo cansado.

A olhei e não queria que ela se sentisse mal por eu tê-la levado a pizzaria, só estava um pouco incomodado e eu nem sabia com o que.

— Não, eu gostei de ter vindo. — Lançou-me um sorriso sem graça.

A conta chegou e o caminho de volta para casa foi rápido e com assuntos como o tempo e sobre a minha mãe.

Sentia-me irritado desde o momento em que vi o olhar do Guilherme tão interessado em Rosabel e pensava em como iria protegê-la de pessoas que se aproximariam e não a fariam bem. Sabia que teriam muitas pessoas assim.

Ela era inexperiente e a preocupação de alguém machucá-la e magoá-la me irritava e eu dizia repetidamente para mim que isso não era problema meu, mas no final acabava voltando ao pensamento inicial de que eu só queria protegê-la.

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