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Capítulo 3


Capítulo três

Eu andava muito inquieta desde a noite em que o desconhecido havia invadido meu quarto. O modo como ele me desdenhou por achar que eu não conhecia o mundo fora do convento, tinha mexido comigo de um jeito que até então era desconhecido para mim, como se eu estivesse deixando de viver algo grandioso, como se com suas palavras tivesse conseguido me afrontar.

Sem falar no beijo... Sempre que relembrava balançava a cabeça para esquecer.

Nunca tive muito contato com homens da minha idade, era sempre os idosos do asilo e os da igreja, talvez um ou outro da mesma idade que eu que conheci fazendo retiros e afins, mas nunca havia conversado livremente e sozinha como aconteceu com o desconhecido no meu quarto, muito menos beijado.

Foi uma sensação indescritível, como se meu corpo todo tivesse se acendido no momento em que colou seus lábios nos meus, como se eu me conectasse e precisasse de mais.

Passei dias e mais dias pensando em como seria ser pega por ele em seus braços, como seria se tivesse me beijado de verdade e qual era a sensação maior, a que viria depois do beijo. Balancei a cabeça mais uma vez tentando parar de pensar.

Dia após dia me envolvia em atividades braçais para que ficasse cansada a ponto de dormir como uma pedra e assim não pensar mais na bendita noite em que meu quarto foi invadido, no entanto, era inevitável. Os pensamentos foram se tornando mais fortes e a curiosidade de ser uma mulher comum e livre das obrigações do convento invadiam meus pensamentos com mais força.

Comecei a me sentir culpada e triste, a ponto até de deixar de falar como a tagarela que sempre fui e isso chamou a atenção da irmã Sandra, que em uma certa noite em que assistíamos ao jornal da noite, me viu reclusa em um dos cantos da sala, se aproximou e com sua voz mansa, me perguntou baixinho para que ninguém mais ouvisse:

— O que está acontecendo com você, Rosabel?

Tirei meu olhar do ponto fixo que olhava enquanto pensava na vida e a encarei, mas sem conseguir criar coragem para contar, apenas dei de ombros e voltei a olhar para o nada.

— Rosabel, fala comigo. Sei que algo não está te fazendo bem e tenho te observado calada demais nos últimos dias.

Respirei fundo e tentando ser direta me abri.

— Tenho pensado muito em como deve ser a vida de uma mulher da minha idade que vive fora do convento.

Irmã Sandra me observou e vi em seus olhos que pareceu refletir sobre o que me dizer. Eu já tinha dito isso a ela uma vez, mas talvez pensasse que eu havia esquecido a ideia.

Após dizer o que estava me afligindo mudei meus olhos dos seus novamente e como sempre sendo um doce de pessoa, irmã Sandra disse para me acalmar:

— Acho completamente normal. Sabe, Rosabel, antes de eu dedicar a minha vida ao senhor, fui casada. — A olhei. — Mas fiquei viúva um mês depois, caí em uma tristeza profunda e foi a religião que me salvou de acabar com a minha própria vida. Comecei a ajudar na comunidade, depois me vi cada vez mais envolta, até que decidi que essa vida que levamos, a dedicação a Deus e a quem necessita de mim, era o que eu precisava e o que me fazia feliz. Já você, viveu aqui desde que nasceu e não teve escolha.

Assenti e não sabia o que dizer. Nunca ouvi sobre o seu passado, não conhecia sua história de vida e concordava com o que ela pensava sobre a minha, então perguntei:

— Mas como sei que quero mesmo outra vida se só conheci essa? Eu amo morar aqui, amo a minha devoção a Deus e tenho plena certeza da minha fé. Acho que a minha vocação é servir a Deus e ao próximo.

— Você pode servir a Deus tendo uma família, sendo mãe, trabalhando, dedicando a sua vida a quem precisa. Deus nos fez livre para escolher. Podemos ser livres e ainda sim fiéis a ele.

Balancei a cabeça em positivo.

— Mesmo que eu queira experimentar outro caminho, como eu faria isso?

Irmã Sandra riu.

— Desde pequenininha que você sempre foi curiosa, avida a querer descobrir tudo, ansiosa para aprender e eu sempre soube que viver aqui teria tempo contado para você.

Eu fiquei sem palavras.

— Se você quiser mesmo isso, posso ver com a minha irmã se ela pode te acolher. Assim como nós, também é devota a Deus, mas decidiu pelo casamento e ficou viúva. Tenho certeza que vai ter prazer nisso. O sonho dela era ter uma filha.

Encarei o sorriso amistoso da irmã Sandra e em silêncio pensei na minha vida ali que era segura, calma, rotineira e a que eu conhecia desde sempre. Avaliei que fora dos muros do convento, a vida de uma mulher não freira era algo que eu não tinha experimentado, seria algo novo, cheio de descobertas, perigos e pecados.

— E se eu pecar demais?

— Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra. — Sorriu com acolhimento, dizendo as palavras de Jesus. — Basta se arrepender de verdade e não repetir.

Assenti.

— E se eu estiver errada e quiser voltar?

— Se for de todo o seu coração, tenho certeza que nem uma porta aqui irá se fechar para você.

Tirei meus olhos dos dela e olhei cada uma das irmãs que interagiam na sala. Eram a minha família. Será que me afastar delas era o que eu queria?

Precisava pensar se valia a pena.

Após a conversa com a irmã Sandra, passei mais uma semana pensando e repensando a minha vontade de mudar de vida. Eu nunca perderia a minha vontade de adorar, de ajudar o próximo e nem a minha fé, mas algo em mim gritava e pedia para ser libertado, precisava escutar o que meu interior pedia ou viveria para sempre com dúvidas sobre a minha vocação.

Em um dia após o almoço em que eu ajudava a irmã Sandra a trocar uma irmã acamada e que sofria de Alzheimer, falei após criar coragem:

— Acho que aceito a sua oferta, se não for atrapalhar sua irmã, claro. E posso ajudá-la com o que for preciso. Ajudo com a casa, vou trabalhar para ajudá-la com as despesas também e vou tentar nem ser vista.

Ela riu.

— Rosabel, ela vai querer a sua companhia mais que qualquer coisa, está ansiosa para te receber desde que comentei sobre a sua ida. Meu sobrinho saiu de casa, para morar sozinho e ela anda um pouco solitária. Sensação do ninho vazio, sabe? — Ri. — Será um prazer para ela te receber.

Sorri, respirei fundo e pensei que tudo estava tomando um caminho e o que parecia irreal, ia acontecer. Eu moraria fora do convento.

— Não sei se estou fazendo a coisa certa, mas só posso te agradecer por me ajudar e apoiar.

— Sempre te tive como uma filha.

— E eu sempre a vi como mãe. — Pisquei para conter algumas lágrimas.

— Converse com a Madre amanhã e a minha irmã vai vir te buscar no final de semana.

Senti a ansiedade tomar meu corpo e concordei balançando a cabeça em positivo.

— Não será uma conversa fácil.

— Não, mas você vai dar conta. — Deu um tapinha de leve no meu ombro. — Agora vamos terminar aqui que ainda temos que ir ao asilo.

O sábado amanheceu, fiz minhas orações, participei da missa e do meu último café da manhã no convento. A Madre não estava nada feliz com a minha saída e tentou de todas as maneiras me convencer a não ir, inclusive disse coisas barbaras sobre como poderia ser minha vida fora das dependências do convento e sem a segurança que viver ali me oferecia, no entanto, eu sabia que o inimigo estava à espreita em qualquer lugar que eu fosse. Inclusive me lembrei da noite em que um homem havia invadido o meu quarto, mas não contei a ninguém sobre o acontecido, nem mesmo para a irmã Sandra.

— Não chorem, vou continuar vendo vocês e ajudando a igreja com o que posso.

— Vamos sentir falta da sua alegria e das suas trapalhadas — disse uma das irmãs.

— Quem vai ficar irritada nos jogos de vôlei? — perguntou a outra.

— E quem vai ser o foco da Madre no seu lugar? — outra questionou.

Eu ri.

— Tenho certeza que vocês vão dar conta de tudo sem mim. Agora vou indo, porque logo a irmã da irmã Sandra vai estar me esperando no portão.

Peguei a mala pequena com os meus poucos pertences do chão e a pendurei no ombro. Pela primeira vez eu vestia uma calça jeans, camiseta e uma sapatilha. Roupa essa que as irmãs pegaram nas doações para o bazar que fazíamos uma vez por mês no salão paroquial.

Além das que eu vestia, me deram mais algumas roupas e prometi que seria apenas um empréstimo e que assim que arrumasse um emprego voltaria para pagar tudo e doar mais para o bazar.

Dentro da mala levava os objetos que foram deixados comigo no dia que fui abandonada no convento: a roupinha e uma manta, uma bolsinha branca tipo um necessaire com um emblema desenhado no cantinho que parecia uma espécie de flor dentro de um círculo e uma pulseirinha que o pingente era a mesma flor com círculo, além dos meus documentos e a minha bíblia com meu terço. Esses eram os meus pertences de uma vida toda, que cabiam dentro de uma mala pequena de lona.

Segurando as lágrimas que insistiam em tomar meu rosto, fui andando em direção a saída do salão do convento, sendo fitada pelas mulheres que me acompanharam por toda a minha vida, quando faltavam poucos passos para sair, virei-me novamente para elas e me despedi.

— Obrigada por tudo. — Chorando elas me acenaram e antes que eu fosse de vez, vi a Madre no canto do salão me olhando com seriedade, acenei com tristeza porque eu gostava dela apesar de pegar tanto no meu pé, era uma espécie de avó, no entanto, ela se virou sem responder meu aceno e se foi.

— Não liga, ela só está triste também — irmã Sandra me consolou.

Acenei mais uma vez para as outra freiras que riam e choravam com nossa despedida, a seguir eu e a irmã Sandra seguimos rumo ao portão de saída.

Enquanto eu dava um passo após o outro em direção a minha nova vida, fui olhando as paredes, o chão, o teto, sentindo o cheiro e eu tinha a impressão de que já estava com saudade antes mesmo de ir.

— Vai dar tudo certo — Irmã Sandra me consolou.

— Eu sei, mas já sinto saudade.

Ela riu.

— E vai sentir mais, mas pode matar a saudade vindo nos visitar.

Chegamos ao portão e do lado de fora um carro vermelho com uma mulher que se parecia muito com a irmã Sandra estava estacionado. Ela saiu do lado do motorista e com um sorriso nos lábios andou até nós.

Ao contrário da irmã Sandra que, às vezes, era visível alguns cabelos brancos saindo para fora do véu, sua irmã provavelmente pintava o cabelo de preto, usava uma maquiagem leve e apesar de ser mais velha, parecia mais nova que a irmã, porém, ambas tinham o mesmo sorriso amistoso e o olhar acolhedor.

— Que alegria enfim conhecer a minha mais nova filha do coração. — Abriu os braços e andou em minha direção para me puxar para um abraço.

— Rosabel, ela é a minha irmã, Cássia. Cássia, essa é a Rosabel — Irmã Sandra nos apresentou e depois deu um abraço em cumprimento na sua irmã.

— Espero não estar te dando trabalho — falei envergonhada quando as duas se separaram. — E prometo ajudar no que for preciso.

Ambas se olharam e riram.

— Você não sabe a alegria que estou em te receber, é você quem está me salvando da solidão que fico quando estou em casa.

— E se prepara, Cássia, que essa menina ama falar, você não vai ficar mais falando sozinha. — Ri. — E como está o Martin?

Cássia torceu a boca.

— Aquele ingrato? Mal aparece para me ver, vive lá com a empresa de entretenimento, que segundo ele precisa de atenção, e com isso esquece de mim.

— Duvido que você o deixe te esquecer.

— Não deixo mesmo e apesar de andar um pouco sumido, tudo que peço ele faz, sempre foi obediente e isso não mudou depois de adulto.

— Me lembro bem. Um bom menino.

Sorri por ver as duas falando como se fosse de uma criança, de quem provavelmente era um homem feito e dono de uma empresa.

— Mas o Tin que me aguarde, vou pedir a ajuda dele para apresentar Rosabel a pessoas da idade dela — dona Cássia falou, como se criasse um plano em sua mente.

— Se ele tem uma empresa, eu ficaria feliz em trabalhar se fosse possível.

— Olha, não é uma má ideia, mas vemos isso depois. — Assenti feliz. — Vamos? — dona Cássia perguntou.

— Vamos.

— Pode ficar tranquila que cuidarei muito bem da Rosabel, , irmã? — Irmã Sandra assentiu e com um sorriso pediu:

— Mande um abraço ao meu sobrinho e diga que sinto saudade dele. O vi ainda era um menino. Diga que quero conhecê-lo pessoalmente agora como um homem formado e não só por fotos.

— Pode deixar que direi.

As duas riram.

— Quem sabe Rosabel não consegue arrastá-lo para a missa e vocês se vejam lá.

Sorri e já tentava imaginar o tal Martin, ao mesmo tempo que rezava para que ele fosse legal e gostasse de mim.

— Vamos ver... Quem sabe.

Dona Cássia e irmã Sandra se abraçaram em despedida, trocaram mais algumas palavras, até que chegou a minha vez de me despedir.

— Vou sentir tanto a sua falta — choraminguei.

— Vou sentir a sua também, mas não fique toda chorosa e aproveite o mundo que está se abrindo para você. Lembre-se sempre dos ensinamentos e seja uma boa pessoa. Sal da terra e luz do mundo.

Engoli o choro.

— Sim, serei sal da terra e luz do mundo. — Minha voz saiu embargada.

A abracei forte, sem mais palavras e apenas o silêncio permeou nossa despedida.

— Obrigada — agradeci. — Por tudo.

— Seja feliz — respondeu com os olhos marejados e seu sorriso acolhedor de sempre.

Ainda segurando o choro segui para o carro, onde dona Cássia me esperava. Entrei, fechei a porta do passageiro e coloquei o cinto de segurança, depois apertei a pequena mala de lona em direção ao peito e acenei devagar para a minha amiga de anos, enquanto o carro se afastava e Dona Cássia seguia pela estrada, deixando a irmã para trás nos acenando freneticamente.

Vendo-a ficar distante, minha decisão me atingiu como um martelo e a dúvida de se eu tinha feito a escolha certa, me fez chorar compulsivamente a ponto de não conseguir mais segurar as lágrimas.

Doía-me muito deixar o que sempre conheci como lar e sentia o medo pelo que estava por vir, entretanto, repensei e a dúvida se dissipou e por fim fiquei segura da minha decisão.

— Acalma o coração, meu amor, tudo vai dar certo.

Assenti enquanto limpava as lágrimas. Não queria que a dona da minha nova casa pensasse que eu era uma chorona.

— Vou colocar uma música para te animar. Você vai ver, um mundo cheio de coisas boas te espera. Novas amizades, novos horizontes e muitas outras coisas legais que vai conhecer.

Olhei para aquela mulher tão otimista ao meu lado e foi inevitável não sorrir, imediatamente me senti mais leve e até mesmo feliz, principalmente quando ela começou a me contar histórias da sua adolescência e vida adulta, que eram muito engraçadas e me fizeram rir largamente e até me abrir quando contei também algumas traquinagens que fiz no convento quando criança.

De cara me apaixonei por dona Cássia. Uma mulher alegre, moderna e otimista de um jeito que me fazia pensar que tudo na vida ia dar certo.

— Sabe onde vamos agora para que se anime?

— Não faço ideia, mas acho que não tenho planos para hoje. — Riu da minha piada.

— Vou te levar ao shopping e como presente de boas-vindas vou te dar roupas e sapatos novos.

— Não, de jeito nenhum, não posso aceitar que gaste seu dinheiro comigo.

— É um presente e presente não se nega. Ficarei ofendida.

A encarei e ela insistiu:

— Aceita, é com o dinheiro do meu filho mesmo. — Deu de ombros e eu ri.

— Tudo bem, mas só dessa vez e quando eu começar a trabalhar vou retribuir.

— Combinado!

Andamos de carro por volta de uma hora, atravessamos toda a cidade, bem distante de onde era convento, até que chegamos na parte em que muitos prédios preenchiam o espaço e o trânsito era mais intenso.

Dona Cássia dirigiu por entre os carros, ao mesmo tempo em que me mostrava lugares interessantes que eu precisava conhecer e contava histórias sobre alguns deles.

Não demorou muito até que chegamos ao shopping e eu nunca tinha ido àquele, na realidade, tinha ido a um shopping apenas uma vez, quando fizemos uma ação e levamos as crianças do orfanato para ver um desenho famoso que passava no cinema.

O cheiro, as pessoas, o brilho das vitrines e tudo ali me enchiam os olhos e chamava atenção. Pela primeira vez, saí em público e não olharam com curiosidade para minhas roupas, isso sempre acontecia com o hábito e o véu. Naquele momento me senti uma mulher normal. Sorri.

— Vamos ali. Aquela loja é ótima e tem muita roupa bonita para a sua idade — Dona Cássia disse, apontando para uma loja mais à frente no corredor.

Seguimos até ela e quando entramos fiquei admirada com a quantidade de roupa bonita espalhada pelo espaço. Haviam muitas araras que separavam diversos setores com roupas curtas, longas, com brilho e sem, haviam vestidos, saias e lingerie. Manequins expostos com combinações de peças lindas e eu nunca tinha usado nada que fosse parecido com aquilo.

Quando criança usei roupas de doação, mas não demorou até que logo comecei a vestir o hábito que foi o modelo que me cobriu até aquele mesmo dia mais cedo.

— Do que você gosta? — Dona Cássia perguntou.

Olhei em volta e não fazia ideia, tudo me parecia lindo e nada parecia combinar comigo. Foi então que vendo a minha confusão, ela andou até um suporte onde se encontrava alguns folhetos e me entregou.

— Aqui você consegue ter uma ideia do que te agrada e aí pedimos igual para os atendentes.

Sorri me sentindo envergonhada e comecei a folhear, prestando atenção em cada modelo que as mulheres no catálogo usavam.

— Eu não sei o que aqui ficaria bem em mim. — Dei de ombros nitidamente desorientada. — Sempre usei o hábito.

Dona Cássia sorriu.

— Qualquer coisa que escolher ficará bem em você, mas vou te ajudar com o que eu acho que você vai gostar.

Analisou meu corpo como que para ver o tamanho e pediu que eu esperasse sentada em frente ao provador que ela pegaria tudo e traria para eu experimentar.

Não muito tempo depois dona Cássia voltou com uma bolsa enorme, cheia de roupas e disse:

— Aqui, Rosabel. A vendedora me ajudou a escolher algumas peças e são todas lindas. Vá experimentar e saia aqui para que eu veja como ficou cada uma. — Parecia tão animada, como se vestisse uma boneca e eu até sorri.

Entrei para o provador enquanto dona Cássia me esperava sentada em um sofá do lado de fora e comecei a saga das roupas. Experimentei primeiro um vestido longo, lilás e de alças finas que deixavam meu colo a mostra e modelava a cintura, confesso que achei maravilhoso, mas me senti um pouco nua mostrando o colo.

Saí do provador tomada pela vergonha e praticamente me escondendo atrás do meu cabelo comprido.

— Maravilhosa! — Dona Cássia exclamou quando me viu. — Caiu como uma luva.

— Não está mostrando demais?

— De maneira nenhuma. Está é mostrando pouco. Você está linda! — Sorri. — Vá, reserve esse e experimente os demais.

Voltei para o provador e a próxima roupa era uma combinação de short jeans e uma blusinha de mangas com decote "V" que também ao sair do provador dona Cássia disse que estava lindo e me mandou provar o resto. Provei calça jeans, um casaco preto com um vestido curto e algumas baby looks e blusinhas, experimentei sapato, tênis e sandálias.

Sentia-me ao mesmo tempo linda e diferente com aquelas roupas e era uma sensação engraçada.

Ao final da maratona de prova, saí do provador carregando comigo a sacola de roupas e pensando não saber qual escolher, mas o vestido lilás havia me encantado.

— Vamos ficar com tudo! — Dona Cássia disse já andando em direção ao caixa.

— O quê? Não!

— Sim. É presente e presente não se recusa.

Saiu andando e tive que apertar o passo para alcançá-la. No caminho para o pagamento ainda parou na sessão de lingerie e colocou algumas peças na frente do meu corpo, testando o tamanho e as colocou a seguir dentro da grande bolsa.

Sentia-me feliz, empolgada e ao mesmo tempo como se estivesse abusando da boa vontade da boa mulher, no entanto, quando eu tentava dialogar que não precisava de tudo aquilo, ela me olhava com desdém e usava a desculpa de que presente não se podia recusar.

Saímos da loja após algumas horas, carregadas de sacolas e fomos para a praça de alimentação onde almoçamos, conversamos sobre nossas vidas e sobre planos do que íamos fazer.

— Não quero que fique presa a mim. Quero que conheça gente nova, saia e se divirta. Você não estudou no convento, certo?

— Fiz faculdade de teologia, mas gostaria de ter feito enfermagem.

— Pois acho que deveria fazer.

— Gostaria de trabalhar, para retribuir tudo isso. — Olhei para as sacolas e para o almoço que dona Cássia pagou.

— Não fala bobagem, não precisa retribuir nada, mas como você já falou de trabalho algumas vezes, uma amiga minha tem uma loja e está precisando de atendente, se você quiser...

— Quero, quero sim. — Me animei.

— O salário não deve ser muito.

— Não me importo com o valor, quero trabalhar seja no que for. Também não me importo que seja serviço pesado, no convento eu fazia o trabalho braçal e até gostava.

Dona Cássia sorriu.

— Você é ótima. — Deu dois tapinhas na minha mão. — Vou falar com a minha amiga mais tarde. — Assenti animada.

Após o almoço enfim seguimos para a casa onde eu moraria daquele dia em diante e assim que dona Cássia estacionou em frente ao portão automático enquanto ele abria, já me apaixonei por meu novo lar.

Ficava em uma rua que me pareceu sossegada, mas a casa era cercada por muros altos. Uma casa grande, de dois andares, com garagem para dois carros na frente e pintada de branco com telhado de telhas de barro.

O portão automático e de ferro se abriu e passamos por ele para que dona Cássia estacionasse na garagem. Soltei meu cinto e dei a volta no carro para segui-la até o porta-malas onde estavam as sacolas, mas no momento em que ia acompanhá-la ouvi um miado e a perguntei:

— Ouviu isso?

— O quê?

Novamente um miadinho baixinho voltou a encher meus ouvidos.

— Um miado.

Dona Cássia juntou as sobrancelhas.

— Não ouvi nada.

Andei até o portão de onde pensei estar vindo o barulho e ali quietinho, um gatinho de pelo branquinho parecia perdido e com medo.

— Oi, amiguinho — o cumprimentei, abaixei na sua altura e imediatamente o pequenininho se aconchegou em mim.

— Deve ter sido abandonado aqui. — Dona Cássia me observava. — Tadinho de você, eu te entendo tanto.

— Anda, traga-o, vamos dar a ele um pouco de leite e depois vemos uma casa para ele.

Abri um largo sorriso, o peguei no colo, depois as sacolas e seguimos para a porta de entrada da casa.

— Seja bem-vinda ao seu novo lar, minha querida. — Dona Cássia abriu a porta da sala para mim com um sorriso no rosto e me senti muito acolhida.

Entramos e ela me apresentou cada cantinho, me dizendo que eu podia ficar à vontade. A sala era ampla com uma televisão enorme na parede, que a do convento parecia uma caixinha de fósforo perto dela. Os sofás na cor marrom contrastavam com o tapete bege e faziam uma bonita combinação com a cortina branca que cobria a janela de madeira.

— Muito linda sua sala.

— Eu a amo e sei que você vai amar também.

Fomos para um corredor, passamos por um banheiro e uma sala que era como se fosse um escritório com estante de livros e sofá. A seguir chegamos na cozinha com móveis planejados, armários altos e uma mesa redonda muito aconchegante.

Dona Cássia colocou uma tigela de leite para o gatinho.

— Deixe-o aqui e vamos ver o resto, depois voltamos para vê-lo.

Assenti, pousei o bichano perto da tigela de leite e voltamos para a sala, depois subimos a escada que dava para um corredor no segundo andar, que tinha portas para ambos os lados.

A primeira era o quarto da dona Cássia que dava para o fundo do quintal e para um jardim que ela gostava de cuidar. Contou-me que foi o seu falecido marido que o fez e por isso ela o manteve.

Depois seguimos para o quarto em frente a outro que era de costura e artesanato que dona Cássia fazia nas horas vagas, ao lado do quarto dela ficava o antigo do seu filho e era simples, mas tinha um toque masculino. No final do corredor um banheiro e por fim seguimos para a última porta do lado do quarto de costura e de frente para o quarto do seu filho.

— Este é o seu. Espero que goste. — Dona Cássia disse, empurrando a porta para que eu entrasse. — Não tive tempo de colocar muito detalhe, mas com o tempo você vai decorando do seu jeito.

Entrei e nele tinha uma cama de solteiro, um guarda-roupas grande que ocupava toda a parede, uma mesa com uma cadeira, uma televisão na parede e uma janela que dava para a rua.

Eu ia ter uma TV só para mim!

— Já amei. Tenho uma televisão no quarto.

Dona Cássia sorriu da minha empolgação com a TV.

— Sim e têm vários streamings para você desfrutar. — Juntei as sobrancelhas e ela se apressou em explicar: — São... como canais de TV com outros canais dentro, onde você pode assistir séries, filmes, documentários. É bem legal.

Abri um largo sorriso e me aproximei para abraçá-la.

— Acho que esse é o melhor dia da minha vida.

— Este é o primeiro dos melhores dias da sua vida.

Suspirei.

— Tomara.

Descemos para ver como estava o gatinho e comportado ele dormia calmamente ao lado da tigela de leite. O encarei e meu coração partiu por tê-lo que mandar embora para algum abrigo. Sempre quis ter um bichinho de estimação, uma vez até tentei esconder um cachorrinho, mas a Madre descobriu e se desfez dele. Chorei até secar as lágrimas.

— Você quer ficar com ele, ?

Ham? Não! A senhora já está me acolhendo, não tenho direito de querer mais nada.

Ela riu.

— Vamos ficar com ele. Sei que já se apaixonou e esse gatinho te fará companhia quando eu não estiver. Às vezes, quase todo final de semana, saio em excursão com o baile da terceira idade e você ficará sozinha, se ficarmos com ele ao menos terá companhia. E parece ser tão bonzinho.

Meus olhos se acenderam.

— Posso mesmo?

— Sim, qual o nome dará?

— Ai, meu Deus. Sempre quis ter um bichinho. A senhora nem notará a bagunça dele.

Dona Cássia sorriu.

— Ah, eu quero notar. Gosto de gatos, mas nunca pude ter também, porque meu filho dizia ter alergia ao pelo. — Entortou a boca e balançou a cabeça em negativo como se fosse bobagem e eu ri.

Encarei o bichinho dormindo calminho.

— Vou chamá-lo de Papa.

— Papa? Como o chefe da igreja?

— Sim.

Ela gargalhou.

— Gostei. Seja bem-vindo, Papa. — E o dorminhoco nem se mexeu.

Naquele dia levamos o gato ao veterinário, onde tomou as vacinas necessárias e antipulgas, depois tomou banho e quando chegamos em casa, fiquei até anoitecer guardando as roupas novas, arrumando meu novo quarto e brincando com o Papa que depois que acordou e de barriguinha cheia, não parou um minuto brincando com tudo que se mexia, como todo gato.

Só saí do quarto para me juntar a dona Cássia e juntas vermos uma série na sala, com nosso novo amiguinho deitado confortavelmente no tapete.

Quando me deitei para dormir pela primeira vez fora do convento, senti saudade e enfim notei a mudança na minha vida, no entanto, eu me encontrava tão feliz com o que estava vivendo, que sufoquei a saudade no peito e dei espaço a curiosidade e a ansiedade para viver tudo de novo que me esperava.

Ao pé da cama, Papa dormia como um anjinho.

Sorri.

Tudo parecia estar dando certo.

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