Capítulo 10
Capítulo dez
Dentro do carro o silêncio era ensurdecedor, Martin parecia muito preocupado e eu pensativa sobre o flyer que ainda encontrava-se na minha mão. Queria perguntar, mas achei melhor deixá-lo quieto.
Antes de sairmos Martin comprou uma Coca para mim, o que melhorou a minha bebedeira e pelo menos naquele momento eu não estava tonta.
— Acho que agora as luzinhas piscantes sumiram da minha visão periférica — falei puxando assunto.
— Amanhã elas aparecerão em forma de ressaca.
— Cyndi disse que comer chocolate ajuda.
Ele riu sem muita vontade e olhou o retrovisor.
O encarei, o vi olhar pelo retrovisor novamente e seu olhar transmitia temor.
— Por que eu perguntaria?
— Porque você sempre faz isso.
— E por que não vamos para a casa?
— Você está perguntando.
— Acho que essa pergunta eu tenho direito.
— Porque estamos sendo seguidos.
— O quê? — quase gritei.
— Não pergunte. Não se preocupe que te protejo e garanto que te manterei em segurança. — Fui virar para olhar para trás, mas ele me parou. — Não faz isso.
Meu rosto transmitia medo e para me tranquilizar, Martin pegou minha mão, entrelaçou nossos dedos e disse:
— Fica calma. Vai ficar tudo bem. — Assenti, porque confiava nele e senti confiança em sua voz.
Cortando os veículos no caminho ele dirigiu depressa e eu me segurei ao banco do carro e ao cinto de segurança enquanto rezava para que nada acontecesse conosco.
Eu não sabia para onde Martin estava nos levando, nem fazia ideia de por que um homem e uma mulher que estavam em uma balada poderiam estar sendo seguidos.
Seria assalto? Mas por que Martin ficou todo estranho depois que mencionei o homem nos olhando?
Olhei para o papel com o símbolo e que deixei no vão entre os bancos. Perguntei-me se a minha história teria alguma relação com ele e por que o encontrei justo no meio daquela bagunça que estava sendo a minha noite?
Muitas perguntas rondavam meus pensamentos, mas como Martin dirigia com tanta tensão decidi não perguntá-las como ele me pediu.
O vi apertar um botão no painel do carro e uma voz preencheu o silêncio, vinda dos autofalantes:
— Fala, Chefe.
— Edson, estou sendo seguido, libera a entrada privativa que estou indo para lá.
— Quer que eu mande alguém?
— Sim, para a entrada da cidade. Manda um carro para o Beco da coruja e outro na avenida Samir. Pega o motorista. Ele dirigi um Civic preto.
— Ok. A caminho.
Desligou a chamada e olhou pelo retrovisor, entrando a seguir em uma rua movimentada.
— Quero perguntar, mas acho melhor não.
— Isso. — Martin exibia um rosto sério como nunca vi e achei melhor mesmo continuar sem dizer nada.
Eu sentia medo, meu coração batia acelerado e perguntas e mais perguntas borbulhavam em minha mente. Se fosse um ladrão por qual motivo Martin pediu para capturá-lo. Será que ele era da polícia? E quem é que o chamava de chefe?
Atravessamos a cidade em alta velocidade, continuando cortando veículos e virando ruas com rapidez, até que chegamos à cidade vizinha e após dirigir mais alguns minutos, ele entrou com o carro em um estacionamento no subsolo do que parecia um luxuoso hotel.
Depois que estacionou virou-se para mim e perguntou:
— Você está bem? — Assenti. — Você está pálida.
— Acho que vou vomitar.
— Respira. É a adrenalina misturada com a bebida.
— O que está acontecendo?
— Lembre-se, não pergunte. — Revirei os olhos ia xingá-lo, mas ele completou: — E não fique com medo.
— Tarde demais.
Notando que eu estava mesmo um pouco apavorada, Martin virou seu corpo de frente para mim e me tranquilizou:
— Vai ficar tudo bem, aqui estamos seguros. Vou tentar te contar tudo depois, mas por enquanto vamos apenas entrar e nos manter em segurança, ok? — Assenti em resposta. — O que você vai ver daqui a pouco é diferente de tudo que você já viu, por isso peço que fique perto de mim e... — Ele riu. — Não pergunte.
— Isso é injusto.
— Acredite, não é. Vamos.
Guardei o flyer que peguei na casa noturna na bolsa e pensei que investigaria sobre ele depois, descemos do carro e seguimos até uma rampa que dava para uma porta luxuosa. Assim que passei por ela entrei em um salão com carpete e poltronas vermelhas, um bar que ocupava toda uma lateral e do outro lado ficava uma espécie de ringue de luta.
Todo o espaço portava uma iluminação fraca, que dificultava ver muito ao longe e também o rosto das pessoas. Tive a impressão que a luz baixa fazia com que os frequentadores se escondessem e mesmo assim, pelos que passei pude ver que se vestiam bem, luxuosos e aparentavam ter dinheiro. Alguns até carregavam um semblante ameaçador.
— O que é aqui?
— Sem pergunta.
— Acho que você está com essa história de "sem perguntas" só para me irritar.
— Sim, eu adoro te ver com essa carinha de brava. — Desamarrou sua carranca e lançou-me um olhar divertido que nem parecia o Martin que me tratou com descaso em alguns momentos da noite.
Seguimos andando e ele olhava em volta como se procurasse por alguém, até que avistou um homem alto, que mais parecia um armário de bigode, andou a passos largos até ele e me arrastou junto, ainda me segurando pela mão.
— Pegaram? — perguntou sem nem cumprimentar o homem.
— Sim.
— Conhecem?
— Não e ainda não disse nada.
— Essa é Rosabel. — Tive a impressão de que me apresentou como se já tivesse falado de mim para o homem. — Esse é meu amigo Edson. — O homem balançou a cabeça como cumprimento e eu sorri.
Martin voltou a falar com o homem:
— Mas ele vai dizer, nem que... — Vendo que eu prestava atenção ele deu um meneio de cabeça ao Edson indicando que se afastassem de mim.
Soltou a minha mão e ambos deram alguns passos para longe, com certeza para que eu não ouvisse a conversa e conseguiram, porque não deu para ouvir nadinha e olha que tentei.
Os observei e a conversa entre os dois estava séria, com isso aproveitei que não prestavam atenção em mim para me afastar e explorar o ambiente já que segundo o Martin eu estava segura ali.
Comecei andando devagar, olhando tudo com curiosidade e vi pessoas conversando em alguns sofás vermelhos, passei entre panos pendurados do teto ao chão que davam um clima de mistério ao local e segui até uma espécie de sala com sofás com estofados vermelhos.
Olhei para trás e vi que Martin ainda conversava e gesticulava com o tal Edson, sendo assim, continuei a explorar tudo. Ia seguir em frente, mas notei um casal entrar por um corredor e imaginei que se estavam indo para lá, era liberado ao público, então fui também.
Alguns passos para dentro ouvi uma música com batida sexy preencher o lugar e vi algumas portas dispostas lado a lado indo até o fundo de um comprido corredor. Me perguntei o que seriam aquelas portas por onde casais entravam. No entanto, minha curiosidade pelas portas passou quando olhei para o outro lado e paralisei.
Pisquei como que para ter certeza que estava mesmo vendo o que via.
Ali um salão coberto apenas por uma cortina fina, que mais mostrava do que escondia, acomodava pessoas nuas em posições que eu não sabia como era humanamente possível fazê-las e nem um dos livros em que li sobre reprodução humana vi aquele tipo de coisa.
Pessoas e mais pessoas mantinham relações sexuais umas na frente das outras, sem vergonha ou pudor e eu não conseguia me mexer a não ser ficar olhando aquilo.
O espaço era grande e tinha muitas camas com lençóis vermelhos, poltronas, banheiras, cadeiras e alguns móveis que eu nem sabia identificar. Tudo que acomodava as pessoas em diversas posições.
Vi uma mulher sendo penetrada por dois homens, em outra cama vi duas mulheres lambendo um homem, em uma cadeira vi um homem sentado enquanto uma mulher fazia movimentos em seu órgão sexual.
Para onde se olhava se via gente fazendo sexo, em cada canto, de várias formas e alguns se tocavam enquanto só observavam os demais. Engoli em seco e me sentia paralisada vendo aquilo.
Ergui a mão até a boca e a tampei, meio escandalizada.
— Rosabel... — Martin apareceu ao meu lado e engoliu em seco antes de continuar a falar: — Desculpa por ver isso.
Saí do transe quando ouvi sua fala.
— Meu Deus... É assim que os casais fazem sexo normalmente? Com essas posições tão... flexíveis? — Dei um passo para chegar mais perto do salão e me sentia num misto de Deus me livre mais quem me dera.
Não sabia se era pecado, mas sentia-me muito curiosa para ver e até experimentar. As expressões nos rostos das pessoas pareciam dizer que aquilo era bom.
— Provavelmente o que você está vendo não é nada parecido com o que você já tenha visto em livros ou algo assim — Martin sussurrou no meu ouvido, me parando antes que eu entrasse no salão.
— Realmente nunca vi nada parecido. — Engoli em seco. — O que é aqui? É normal eles dividirem o mesmo espaço? Eles não sentem vergonha?
— Você não sabe mesmo o que quer dizer sem perguntas. Vem, aqui não é lugar para você.
Juntei as sobrancelhas e me senti uma criança com sua fala.
— Por que não? Acha que não posso ver ou fazer isso. — Apontei para as pessoas. — Só por que fui freira?
— Não é isso, é que... — Olhou dos meus olhos para a minha boca, depois desviou o olhar. — Acho melhor sairmos daqui e conversar em outro lugar... Você aqui... está me dando ideias... — Soltou o ar. — Vem.
Pegou-me pela mão, seguimos pelo salão nos esgueirando por entre as poucas pessoas, algumas até me olhavam e era claro como eu destoava naquele ambiente, com o meu vestido longo, lilás e virginal.
Talvez fosse por isso que ele queria me esconder, talvez sentisse vergonha de mim, da minha roupa, da minha falta de maquiagem e de salto sexy nos pés. Provavelmente sentia vergonha por eu parecer tão sem graça em um ambiente com pessoas tão desprendidas e sexys como o inferno. Inferno... Será que aquilo era pecado?
Dane-se! Não vou ficar pensando no pecado, porque deve ser pecado pensar no pecado. Argh! Xingar também deve ser pecado.
Ai, meu Deus!
Chegamos a um escritório e Martin fechou a porta quando passamos por ela, nos deixando a sós no cômodo. Naquele momento em que saí do meio de todo aquele sexo e estávamos apenas nós dois, fui invadida por vergonha e realmente eu era muito virginal para testemunhar aquilo, mas desejava não ser e experimentar tudo que aquelas pessoas estavam sentindo.
Fiquei irritada por pensar que Martin sentia vergonha de mim e me tratava como uma criança. Eu só queria ser tratada como uma mulher normal de vinte e cinco anos e até desejei que tivesse me pegado, rasgado minha roupa e feito comigo algo parecido com que as pessoas no salão faziam.
Em silêncio para não xingá-lo e explodir tudo que eu estava pensando, deixei a pequena bolsa que levava comigo sobre uma mesa perto da porta e observei o escritório. Vi alguns arquivos de um lado da parede, uma mesa com uma confortável cadeira atrás dela e um sofá confortável de frente para a porta.
Testemunhei Martin mexer em umas pastas que pegou no arquivo e ele não me dizia nada, até parecia me evitar, devia mesmo me comparar as mulheres daquele lugar e me achar tão sem graça quanto um melão... Bom, na realidade, eu era mais sem graça que o melão, ao menos a fruta era comestível enquanto eu, era certo que Martin não tinha o mínimo interesse de me comer.
— Você gosta de melão? — perguntei do nada e ele encarou-me sem entender e antes que perguntasse o que eu quis dizer, mudei a pergunta: — Você tem vergonha de mim?
— Ham?
— Você me trata como criança. Tem vergonha de mim? — Meu rosto estava muito sério.
— Claro que não! — respondeu como se eu tivesse perguntado algo sem sentido.
— Eu sei que não chego nem perto de ser como as mulheres que vi no salão ou de ser interessante e sexy como as que vi atrás daquela cortina. — Ele cruzou os braços na frente do peito, me dando toda a sua atenção e eu continuei a falar: — Por isso penso que me tirou tão rápido de lá, como se tirasse uma criança, por vergonha, por eu ser tão sem graça, virginal e diferente de qualquer coisa...
— Rosabel... — Olhou-me como se estivesse em uma batalha interna e que estava cansado de lutar. — Se você soubesse... — Deu a volta na mesa e me olhou intensamente, até que...
Um, dois, três passos rápidos em minha direção e Martin me beijou.
Com uma mão de cada lado do meu rosto puxou-me para junto e com sua língua passeou por minha boca a devorando como se quisesse muito aquilo, depois passou seu braço por minha cintura e me puxou para ele, me apertando de encontro ao seu corpo ao mesmo tempo em que sua outra mão foi para a minha nuca e se embrenhou em meus cabelos.
Desceu suas mãos por meu corpo, apertou a minha bunda me trazendo para ainda mais perto como se quisesse entrar em mim e eu desejava mais dele, meu corpo gritava por mais, estava quente e pedia por ele.
Até que quando estávamos sem fôlego Martin separou-se de mim, virou-se de costas e passou as mãos no rosto parecendo novamente lutar contra algo, como se não pudesse ter feito aquilo e seu gesto me irritou, porque eu o queria.
De novo me puxou para perto para me empurrar a seguir.
— Por que você faz isso? — perguntei muito irritada.
Não se virou para mim e se manteve de costas.
— Desde o meu quarto no convento, você me aproxima e me afasta, me aproxima depois me afasta e assim sempre. Por quê?
— Rosabel, não posso fazer isso com você.
— Isso o quê?
— Te corromper.
Ri.
O que ele pensava que era? O lobo mau?
Enfim encarou-me.
— Sei exatamente o que estou pedindo, sou uma mulher de vinte e cinco anos que sabe perfeitamente o que quer.
— Você não sabe... eu vivo muito perto da escuridão.
— Então me deixa ser sua luz.
Andou a passos largos em minha direção e de novo bem perto, pausadamente, perguntou:
Prendi o ar.
— Você — respondi sem pensar muito na loucura que era aquela resposta.
— Rosabel, se eu começar... não vou conseguir parar.
Minha respiração intensa entregava o que eu sentia.
— Depois que você começar, eu que não vou deixar que pare.
Acho que o ouvi dizer "meu Deus" antes de me beijar de novo.
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