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Epílogo


Um ano depois

Cyndi

— Bora, gata, está quase na hora de você entrar. — Lipe me acelerou dando leves batidinhas na porta.

— Só mais um minuto.

Percebi por sua voz que ele provavelmente devia estar exibindo um sorriso nos lábios ao me chamar e eu também tinha nos meus. Aquele talvez seria o dia mais feliz e louco da minha vida.

Enquanto me arrumava pensei na mudança que minha vida teve em um ano. Suspirei. Lipe, eu e meus cachorros, que agora eram apaixonados por Lipe também e ele havia perdido o medo dos meus docinhos, morávamos em um apartamento luxuoso, mas mantive a minha antiga casa e muitas vezes nós dois fugíamos para lá. Era nosso refúgio e o lugar onde eu preservava a memória dos meus pais.

Consegui uma carreira no mundo da música e graças ao produtor da Prince que se tornou o meu, me consagrei como uma cantora de sucesso e naquele momento encontrava-me no camarim de um festival internacional de música, muito famoso e um pouco mais de um ano após a primeira vez que cantei em um palco com a Prince, tínhamos sido convidados a fazer uma apresentação ali.

Meu celular começou a tocar e era a Arabela me chamando para uma chamada de vídeo.

— Oi, gatona! — atendi e ela apareceu na tela com um sorriso radiante e segurando um bebezinho recém-nascido e cabeludo.

— Amiga, queria tanto estar aí.

— Você está no meu coração e o Ben é muito pequenininho para você sair com ele.

Deu um beijo em seu bebê. Mãe babona.

— Você está nervosa?

— Muito.

— Fica calma. E olha, tenho certeza que Lipe é o seu príncipe e vocês dois serão muito felizes durante a vida toda.

Respirei fundo.

— Obrigada, amiga. — Pisquei para conter as lágrimas. — Agora preciso ir, pois o show vai começar.

— Vai lá e arrasa!

— Deixa comigo. Ah, e veja ao vivo, que vamos transmitir pelas redes sociais.

Simm... Boa sorte e estarei vendo aqui de longe e cheia de alegria.

Encerrei a chamada com a minha amiga e foi a última antes de seguir para o palco. Já tinha falado por vídeo com a dona Fadinha, com a Rosabel e com a minha avó e todas me desejaram boa sorte e pensamentos positivos.

Meu relacionamento com a vó estava melhorando depois que ela entendeu que tinha errado comigo e estávamos no caminho para esquecer tudo. Havia me pedido perdão e entendeu que jogou em mim a revolta pela morte da minha mãe, depois disso fazia de tudo para me agradar, inclusive ela quem estava cuidado de Jaques, Jack e Jane para que eu pudesse viajar.

Ana e Lisbela ainda eram relutantes e seguiam vivendo suas vidas de futilidades. Têm coisas que nunca mudam. O bom era que a ausência das duas na minha vida não me fazia falta alguma.

A loja da dona Fátima cresceu muito depois que descobriram que de lá tinha saído a princesa da Prince e quanto a Rosabel, nossa amizade cresceu tanto que eu a tinha como uma irmã.

Levantei-me da poltrona, fiquei de pé de frente para o espelho e analisei meu reflexo nele: um vestido branco, de modelo tomara que caia e com a saia coberta com um tecido fino disposto em camadas, já em meus cabelos eu usava uma tiara delicada e mechas cacheadas caiam sobre o meu ombro. A maquiagem marcada no preto dava o toque da cantora de pop rock que me tornei.

Além do show importante, era o dia do nosso casamento.

Eu ia me casar com o Lipe, um ano após o pedido, em um festival de música internacional no meio de um parque cheio de árvores e com milhares de pessoas de testemunha. Se esse não era o melhor cenário de um conto de fadas moderno, eu não sabia qual era.

Ao me analisar me senti linda, mas faltava algo.

Coloquei a mão na cintura e fechei os olhos me lembrando da minha história com o meu futuro marido e nosso primeiro encontro me veio em mente, depois o segundo e... imediatamente um estalo me lembrou de uma peça. A jaqueta jeans!

Eu a amava, tinha sido da minha mãe e meu pai que deu a ela no último aniversário antes da morte dos dois. A guardei e a usava sempre como que para tê-los comigo.

Corri na mala pequena que levei para o festival e eu tinha certeza que a tinha levado comigo.

Onde ela está?... Onde ela está?... Aqui!

Sorrindo e com os olhos marejados vesti a jaqueta, dobrei as mangas e falei:

— Agora sim, perfeito! Obrigada por estarem comigo. — Fechei meus olhos e quase pude senti-los ali. Depois, com uma respiração profunda, saí do camarim e rumei para o palco.

Tenho certeza que estariam orgulhosos de mim.

Lipe não sabia o que ia acontecer apenas Cleber, Christian e Caio que eram meus cúmplices e me ajudaram com tudo. Eu sabia que ele ia curtir já que desde o casamento da Arabela que vinha me cobrando sobre quando viria o casamento afinal.

Até que enfim o nosso dia do sim havia chegado e após o show um juiz realizaria nosso casamento com toda a multidão de testemunha.

Enquanto nos apresentávamos eu admirava o lindo homem que se tornaria meu marido e ele era perfeito. Desde a história com a procura pela Cyndi, a banda assumiu um modelito mais romântico nas roupas, estilo príncipes, o que fez todo sentindo com o nome da banda também, e naquele momento, meu Lipe usava calça jeans, camisa branca de botões e suspensório com gravata. Mesmo sem saber, estava perfeito para o nosso casamento e eu suspirava sempre que o via.

O show foi uma loucura e os fãs sabiam cantar todas as nossas músicas e claro que tivemos que cantar Cyndi Lauper. No final dele eu estava radiante. Eu era uma cantora famosa e tinha cantado em um dos maiores festivais de música do mundo!

— Então, galera — chamei a atenção do público quando terminamos o show e Lipe me olhava com atenção. — Hoje é um dia muito importante para mim, a realização de um sonho por estar aqui com vocês, mas também, a realização do começo de uma vida a dois. — Vi Lipe juntar as sobrancelhas em desentendimento. Ao fundo os ajudantes de palco traziam uma mesa e um arco de flores que eu tinha pedido para providenciarem e o juiz de paz já se posicionava atrás da mesa, enquanto Lipe encarava tudo com um olhar curioso. — Há um ano eu fui pedida em casamento e desde então tenho ouvido a pergunta de quando enfim vamos nos casar e hoje eu respondo. — Virei-me para o meu futuro marido. — Felipe, vamos nos casar hoje. Ainda quer se casar comigo? — A multidão a nossa frente foi à loucura. Muitos nem entendiam a nossa língua, mas liam a tradução nos telões ao lado do palco e festejavam.

Com um olhar de admiração andou rapidamente até mim, me pegou em seus braços e me beijou com um sorriso feliz nos lábios, o que todos entenderam como um sim.

— Você é maluca, mulher, e por isso eu te amo — disse no meu ouvido.

— Eu também te amo.

A seguir o juiz realizou uma rápida cerimônia onde dissemos o sim e nos tornamos marido e mulher. Ao fundo a banda tocava a parte instrumental da música

Deixamos o palco debaixo de muitas palmas e nos bastidores recebi um buquê de rosas na cor amarela e rosé da organização do evento. Todos estavam muito felizes com nossa presença, com o show que demos com a música e com o enlace ao vivo e de surpresa que animou os presentes.

A comemoração do casamento seria em um pub simples perto do hotel em que estávamos hospedados, onde estaria apenas a equipe e a banda, no entanto, antes de irmos para lá, descemos do palco e atrás dele, onde tinha pouco movimento, Cleber, Christian, Caio, Lipe e eu conversamos sobre o que tinha acabado de acontecer.

— Vocês são muito loucos! — Cleber disse e ria.

— Lipe, mano, como a pessoa deixa de experimentar vários pratos, para comer o mesmo durante toda a vida? — Christian perguntou rindo.

— Quando você achar o seu prato preferido, delicioso, perfeito, com um sabor imensurável, aí você vai viciar e vai querer ele todos os dias, nem vai pensar em experimentar outros, porque aquele vai te sustentar, matar sua fome e ainda continuar te dando água na boca e vontade de comê-lo de novo. — Lipe respondeu me olhando.

— Achei sua pergunta idiota, Chris, mas amei a resposta do meu marido. — Rimos e puxei Lipe para um beijo.

— Bom, precisamos tirar uma foto dos recém-casados — Caio deu a ideia.

— Ah, sim, por favor — pedi, entreguei o meu celular ao Caio e me posicionei nos braços do meu amor.

Lipe me abraçou com um sorriso enorme em seu rosto, me puxou para perto e sussurrou em meu ouvido:

— Vou querer meu prato favorito em breve.

— Mais tarde eu também vou querer o meu.

— Te amo. — Fechou os olhos e cheirou meu rosto.

Fechei meus olhos, senti o seu amor e depois respondi:

— Eu também.

— Caralho! Eu sou muito fotógrafo! — Caio veio com o celular em nossa direção e o mostrou para nós, depois foi com os irmãos para longe ver algo em um lago perto dali.

Sozinhos encaramos a foto no celular e Caio tinha conseguido pegar um ângulo perfeito em que eu me aconchegava em Lipe e juntos exibíamos uma expressão apaixonada.

Encarei aquela foto e me lembrei de tudo que vivemos juntos e separados, do que precisamos passar para estar ali vivendo nosso final feliz. Cheguei à conclusão que tudo valeu a pena para tornar mais intenso o recomeço.

— Três vezes amo você, dona do meu coração, dona da voz que eu procurava e dona da minha vida.

— Também te amo, meu príncipe. Cantor e dono do microfone que eu amo pôr a boca.

Abriu um largo sorriso.

— Sua safada!

— Microfone de cantar! Você que tem mente poluída.

— Sei, Cindy... Sei. Masss... falando em safadeza, preciso te contar que tenho um presente para você no nosso quarto.

— Presente? Me conta!

— Surpresa.

— Não, senhor, pode me contar.

Com um sorriso malicioso nos lábios contou:

— Digamos que comprei uma cadeira erótica.

— Mentira!

— Juro. — Seu sorriso era enorme e lindo. — Nunca esqueci seu olhar para aquela que vimos no motel na primeira vez que fomos a um.

Ri alto.

— Ah, Felipe, você não existe! — Passei a mão em seu rosto. — Querido, me aguarde quando voltarmos para casa.

— Vou contar os minutos.

Puxou-me para perto e rimos, depois seguimos até o bar onde começaríamos a comemorar a nossa vida de casados, em busca do felizes para sempre no nosso lindo conto de fadas da vida moderna.

Fim...

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