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Capítulo 21


Lipe

De cima do palco eu a vi nos braços de outro e a minha vontade era descer e acabar com aquilo. Olhei para Caio que tocava ao meu lado e ele sorriu e me deu um olhar de repreensão. Conhecia-me o suficiente para saber qual era minha vontade naquele momento.

Tão linda como nunca vi igual ou era a saudade que sentia dela que me deixava ainda mais encantado com sua beleza.

Antes de entrar no palco a vi de longe com o cara que dançava com ela. O vi dizer algo e Cyndi jogou a cabeça para trás rindo feliz, me lembrei de quando eu era o responsável por seus sorrisos e me lembrei de que o som da sua risada era a melhor melodia.

Não sabia que o casal de clientes que encheram o saco durante muitos dias e desembolsaram uma fortuna para que tocássemos em seu casamento eram amigos da Cyndi, só soubemos quando chegamos à mansão e Arabela se apresentou, me contou que ela era mais que sua amiga, era como uma irmã e queria vê-la feliz. Contou-me também que Cindy ainda me amava e sofria sem mim a cada segundo. Disse que Cyndi havia descoberto toda a verdade e só não me procurou por ter me visto com outras mulheres e isso fez com que eu me sentisse um imbecil. Depois de ouvir tudo eu não sabia se ria ou chorava.

Ao final da conversa Arabela perguntou se eu ainda amava a sua amiga e eu respondi:

— A amo com todas as minhas forças, como nunca amei e nem vou amar ninguém.

Ela sorriu.

— Você a quer de volta?

— Sim.

— Então tenho uma proposta para você.

Com um sorriso feliz de quem amava muito a amiga, Arabela me contou o que sonhava para aquela noite e eu aceitei sem titubear tudo que me propôs.

Já em cima do palco, em que via a minha Cyndi rindo nos braços de outro eu estava me segurando para descer daquele palco, esquecer qualquer combinado e puxá-la para mim, mas ao mesmo tempo duvidava se eu conseguiria reconquistá-la.

Cindy

— Eu vou te matar — falei para Arabela enquanto dançava.

— Você vai me agradecer. — Riu.

— Como conseguiu isso?

— Tudo de melhor que o dinheiro pode comprar.

Deu de ombros e sorrindo se afastou de mim.

— O que está acontecendo? — Paulo perguntou.

Pensei e decidi contar a verdade, não podia enganar o rapaz.

— Sou apaixonada pelo vocalista da banda.

Ele juntou as sobrancelhas, olhou para o palco e voltou a olhar para mim.

— Por isso que ele está me fuzilando com o olhar.

— Desculpa.

— Mas podemos ser amigos?

— Claro que podemos!

— Então não precisa se desculpar. No lugar dele eu também estaria encarando o cara que está com a mulher que eu amo da mesma maneira. — Sorri e deitei a cabeça em seu ombro. Paulo era um fofo.

— Ele não me ama mais.

Paulo riu sem discutir, o show seguiu e a Prince tocou muitos dos seus sucessos, mas também músicas escolhidas por meus amigos. Paulo ficou a noite toda ao meu lado e eu sentia que Arabela estava fugindo de mim, mas me lançava sorrisos cúmplices de longe.

Em um momento em que eu conversava com o Paulo e tomava a minha centésima bebida que eu usava para fugir do olhar penetrante do vocalista gato em cima do palco, vi a música parar e senti meu coração quente quando Lipe disse com sua voz rouca:

— Bom, pessoal. A noite está linda estamos aqui celebrando o amor e eu queria propor a você que ama alguém que está aqui que olhem para o amor de vocês e declamem o seu amor. Olhe para ele e diga. — Nesse momento Lipe olhou diretamente para mim. — Eu te amo, por mais que o tempo passe, eu sempre vou te amar.

As pessoas a nossa volta começaram a dizer, alheios ao olhar dele e Paulo falou:

— Bom, acho que ele é apaixonado por você sim — Paulo disse cheio de razão e eu o encarei.

— Não sei.

— É sim e seria muito burro se não fosse.

Sorri para Paulo.

— Muito galante você.

— Só a verdade. — Deu de ombros.

Mais algumas músicas e o show da Prince acabou, eles agradeceram e a cortina fechou, deixando o DJ tomar conta da festa estilo balada. As luzes que antes deixava um clima romântico se apagaram transformando o ambiente.

Sentada e observando tudo, eu sentia meu corpo quente e via estrelinhas surgirem na minha visão periférica. Também, depois de tantas bebidinhas isso tinha que acontecer.

Pedi licença ao Paulo e fui até a mesa de doces atrás de um pouco de glicose para ajudar a controlar as estrelas.

Comi um ou cinco docinhos e após ficar em pé, a conta por beber tanto chegou e precisava fazer xixi. O banheiro localizava-se um pouco afastado das tendas e antes de chegar lá, fui interceptada por alguém que me puxou pela mão me pegando de surpresa e me levou para trás de uma parede que dava para a janela de uma grande biblioteca.

De início me assustei, mas quando vi que era o Lipe o susto virou ansiedade e meu corpo todo reagiu, formigando de tensão.

— Precisamos conversar. — Estava tão próximo de mim, a centímetros, e quase me prensando contra a parede.

— Já conversamos tudo, você seguiu com a sua vida... e está tudo certo. Estou tentando seguir com a minha.

— Não segui. Continuo exatamente no mesmo lugar e do mesmo jeito.

Apertei meus lábios.

— Aqui não é o melhor lugar para conversarmos.

— Eu não posso esperar mais, não consigo ficar nem mais um minuto sem você.

— Você consegue e pelo o que pude ver, estava se saindo muito bem.

— Tudo o que foi noticiado era mentira. Não tive mais ninguém depois de você e só fingi para te preservar da mídia.

Ri sem vontade e o encarei. Não sabia se acreditava e não consegui dizer nada depois de ouvi-lo.

— Vamos esquecer tudo e recomeçar, Cyndi?

— E você acha que vai dar certo? Será que algo não vai acontecer e nos separar mais uma, duas ou sei lá quantas vezes?

— Eu não posso garantir isso, mas posso garantir que juntos tentaremos resolver cada problema que acontecer. — Encarou-me com seriedade esperando que eu dissesse algo.

Fiquei em silêncio pensando que eu também tinha muita culpa na nossa separação, omiti informações e acreditei em pessoas erradas. Eu o queria tanto de volta e também precisava me desculpar, mas antes que eu dissesse algo ele se declarou:

— Eu te amo, Cyndi. Volta pra mim?

Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Antes de responder, preciso me desculpar e assumir que tenho minha culpa em tudo que aconteceu. Fui uma burra, fiz muita coisa errada e preciso te pedir desculpas por desconfiar e te acusar.

— Cyndi, nada mais importa.

— Claro que importa e preciso que me desculpe por todas as vezes que te acusei injustamente.

Passou o dedo de leve em meu rosto.

— Te amo, Cyndi. Te amo no passado, no presente e no futuro. Me apaixonei por três mulheres na minha vida e todas elas eram você. E se você disser que me ama também, o que passou é passado e no futuro podemos resolver tudo.

Engoliu, encostou a sua testa na minha e repetiu:

— Três vezes amo você.

Respirei fundo tentando controlar a respiração ao ouvir isso e meu peito subia e descia com a emoção presa dentro dele, até que por fim as palavras presas dentro de mim por anos e desde que o reencontrei saltaram da minha boca.

— Eu também te amo. Te amo tanto que chega a doer.

Puxou-me para junto do seu corpo e me beijou com fervor, tão perto que se pudesse entraria em mim ali mesmo. Um beijo cheio de sentimento, com gosto de reconciliação e acerto de contas.

— Me fala que aquele cara com quem você estava não é nada para você.

— O Paulo?

— Não fala o nome dele.

Eu ri.

— Talvez eu devesse ir até ele e fazer tudo o que fez com as muitas mulheres que te vi no último mês.

— Está ótimo, porque não fiz absolutamente nada, apenas enganei a imprensa, tirei fotos e dormi. Mas você não vai mais voltar para perto dele sem mim, vi como te olha.

— Vou pensar.

— Não me provoque, mulher. — Eu ri. — Bom, ele pode olhar o quanto quiser, é nos meus braços que você vai estar a partir de agora.

Beijou-me e respirei fundo.

— Lipe, vamos recomeçar a partir de agora, sem mentiras, omissões e com confiança.

— Combinado.

— Então vamos recomeçar. Olá, muito prazer, me chamo Cyndi.

Abriu um largo sorriso.

— O prazer é todo meu. — Aproximou-se do meu ouvido e sussurrou: — Me apaixonei à primeira vista e pela quarta vez.

Sorri.

— E você sabe como fazer com que eu me apaixone a cada palavra.

— Quer ir embora daqui? — sugeri.

— Espera. Precisamos voltar para o casamento da sua amiga.

— Acho que ela não ficará triste se fugirmos. Inclusive ela que armou essa reconciliação. Danadinha. Você sabia que eu estava aqui?

— Não, só viemos tocar no casamento de um casal incrivelmente insistente e disposto a pagar qualquer quantia para nos ter aqui.

Ri.

— Minha amiga é muito minha amiga. — Lipe riu, me deu um beijo e o convidei: — E então vamos?

— Sei que está muito ansiosa para ter meu corpo nu, mas preciso voltar para a festa, porque... os caras estão lá e preciso avisar que deu tudo certo.

Assenti e sorri.

— Tudo bem, vamos voltar lá então, que também preciso agradecer e depois matar a Arabela. Mais tarde uso seu corpo nu. — Beijou-me.

— Sim, mais tarde.

— Só preciso ir ao banheiro.

Lipe me deu mais um beijo de arrancar suspiros e me acompanhou até o banheiro.

Quando me vi sem ele, me olhei no espelho e meu rosto estava rosado, meus lábios inchados e meu cabelo com uns fios fora do lugar. Era a prova do bem que uns minutos com ele me fazia.

Usei o banheiro e após sair dele o sorriso radiante ainda persistia em meu rosto, dei uma pequena corridinha para chegar até o amor da minha vida, que me esperava com as mãos nos bolsos da calça social que usava e tinha um sorriso ao me encarar. Quando cheguei perto dele o beijei.

— Você está incrivelmente linda hoje.

— E você também, espera só até eu te pegar.

Ele riu.

— Contando os minutos.

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