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Capítulo 12


Cyndi

A noite do show não foi um sonho e aquela do motel tinha me provado isso sendo mil vezes melhor do que a primeira e eu esperava que mesmo Lipe não sabendo que era eu da outra vez, também tivesse gostado do que tivemos. Apesar de tantas mulheres terem passado por ele.

— Espero que eu tenha conseguido te mostrar como tem que ser — disse ao mesmo tempo que colocava a cueca e eu puxei o lençol para me cobrir.

— Foi realmente maravilhoso. — Me senti envergonhada. — Penso que você deve estar acostumado com esse efeito que consegue causar, já que conhece tantas mulheres pela vida.

— Se eu disser que nem uma foi como você, vai parecer um pouco clichê, mas de todas as mulheres que passaram na minha vida, nenhuma me marcou como você.

— Marquei?

— Sim.

Vi que ficou sério, me encarou como se quisesse dizer algo, engoliu e depois olhou para a TV, então me apressei em encerrar a noite:

— Eu preciso ir embora.

— Não pode passar a noite?

— Minha avó me mataria. — Ele riu.

— Tudo bem, não queria, mas a hora que você quiser ir, eu te levo.

Levantei-me enrolada no lençol e ele também fez o mesmo, peguei uma toalha e decidi tomar um banho antes de ir, mas ao me levantar fiquei de frente para a poltrona erótica e sonhadora passei a mão de leve no móvel, que era estreito com um encosto curto e com uma forma ondulada que facilmente se moldaria ao corpo. Imediatamente me perdi pensando nas infinitas posições que davam para serem feitas ali.

— Se quiser voltar na sexta, podemos testá-la — Lipe me tirou do meu devaneio.

Queria dizer que sim, mas fiquei envergonhada, só sorri e depois fui para o banho.

Assim que saí do banheiro, Lipe entrou, disse que seria rápido e que logo me levaria para casa. Estava preocupado com o meu horário e eu achei isso fofo.

Na hora de fazer o pagamento do que gastamos, também era feito pelo aplicativo e me senti culpada por ele não me deixar contribuir. Protestou veementemente sobre a ideia de eu ajudá-lo a pagar.

Após o acerto de contas, saímos do motel e eu fui olhando para fora do carro e pensando no que eu estava fazendo.

Conheci-o de forma repentina, tão rápido me envolvi e já havíamos transado duas vezes eu usando identidades distintas. Pensei que eu tinha que contar que era a Cyndi do show, mas naquele momento um concurso estava sendo organizado por sua equipe por minha causa e eu me perguntava como me meti naquela confusão.

O carro ia seguindo pela estrada e o silêncio era presente dentro dele, notei que Lipe me olhou algumas vezes e até ligou a música para quebrar o silêncio constrangedor.

— Tem algo errado? — enfim perguntou.

— Não, acho que é só a brisa do vinho.

Riu.

— Pensei que não tinha sido tão bom assim, aqui imaginando se te deixei traumatizada sendo o seu segundo homem ruim de cama.

O encarei e ri.

— De maneira nenhuma. — Estiquei a minha mão e peguei a dele que estava pousada em cima do câmbio. De imediato estranhou o gesto, mas depois sorriu, envolveu a minha mão com a sua e levou até os seus lábios deixando um beijo sobre o dorso. Isso encheu meu coração. — Você foi... incrível.

Lipe tirou os olhos da estrada e me encarou com um sorriso largo.

— Precisa me dizer o seu endereço, estamos quase chegando.

— Pode me deixar na loja.

— Não vou te deixar andar sozinha a essa hora da noite.

— Está tudo bem, estou acostumada.

— Nem pensar. Não vou ficar em paz.

Ri.

bom, mas então você para na esquina.

— Combinado. — Sorriu. — Me sinto um adolescente.

— Acho ótimo, porque não tive a minha, então vivo minha adolescência agora com você. — Lipe sorriu, mas não foi um sorriso que atingiu aos olhos.

Já passava da meia-noite quando o carro parou na rua da minha casa, a uns cento e cinquenta metros do portão da minha casa. Notei que a luz da sala ainda se encontrava acesa, indicando que alguém estava lá.

— Bom, chegamos — disse e eu me sentia estranha, odiava despedidas. — Não consegue mesmo ir ao show amanhã?

Apertei os lábios, não querendo desapontá-lo, mas já imaginava a briga que teria naquela noite, imagina se eu saísse em outra seguida.

— Podemos nos ver outro dia. No sábado, que começam as audições do concurso. Acho que amanhã será difícil para mim.

— Tudo bem. — Parecia mesmo desapontado. — De qualquer forma, vou deixar o telefone do meu segurança com você, se mudar de ideia, liga que ele vem te buscar. O show será a mais ou menos quarenta minutos daqui.

— Combinado — concordei, mas já sabia que não iria.

— Pode me passar o número do seu telefone? Aí te mando o contato dele.

Passei o número para ele que anotou no celular e disse que iria me enviar um "oi" para que eu soubesse que era ele.

— Bom, agora vou indo — falei e o clima estranho voltou entre nós. — Boa noite, Lipe.

— Boa noite, Cyndi.

Sorri, levei a mão na maçaneta para sair, mas ele me parou, virou meu rosto em sua direção e devorou minha boca em um beijo delicioso.

— Boa noite, Cyndi.

Suspirei e sorri.

— Boa noite.

Fui andando para a casa e quando estava a poucos passos do portão, o carro do Lipe pareou comigo, entrei e ele se foi.

Dei um respiro fundo antes de chegar à porta da sala. Eu odiava brigas. Coloquei a minha chave na fechadura, mas para a minha surpresa estava aberta e quando entrei minha avó dormia no sofá. Com cuidado fechei a porta e estava indo para o meu quarto quando ouvi:

— Isso são horas, Cyndi? — Voltei.

— Oi, vó. Boa noite. Demorei mais do que deveria, mas agora vou dormir, porque trabalho amanhã.

— Se for continuar com essa vida cheia de pecados e de coisas do mundo, pode sair da minha casa.

Engoli o caroço que se formou na minha garganta e quando vi já tinha dito o que não deveria:

— A casa é minha.

Minha avó sentou-se, me encarou com o rosto coberto de surpresa e raiva.

— Vai me jogar isso na cara agora, sua ingrata!

— Vó, eu só quero dormir.

— Isso, continua assim, faça como a sua mãe e me desobedeça que seu fim será como o dela que se casou com um músico sem futuro e acabou morta.

Tentei me segurar, mas explodi:

— Não fala assim dos meus pais! — Minha avó arregalou os olhos. — Pode me tratar mal, pode me podar, pode fazer o que quiser comigo, mas não fala mal deles.

Não esperei a réplica e saí pela porta dos fundos indo em direção ao meu quarto.

Minha vida foi de um momento incrível para um momento doloroso em minutos.

Assim que entrei, tranquei a porta do meu refúgio e me joguei na cama em um choro dolorido. Ela não podia falar deles daquela forma. Imediatamente meus cachorros se aproximaram e me encheram do amor que eu precisava.

Eu me sentia em um misto de "que se foda tudo" e de "não me deixem sozinha", mas não podia permitir que a minha avó falasse dos meus pais daquela maneira e se fosse para ser assim não as queria mais por perto.

Andava com muito sono, tudo por acordar cedo para não encontrar com minha avó e tias, além de dormir tarde após sair com o Lipe e chorar em seguida por causa do desentendimento com a minha avó.

Me sentia uma covarde em fugir, mas preferia assim a ter que bater de frente com as três e minha fuga estava dando certo, já que fazia dois dias que eu não via Lisbela e Ana Constância.

No caminho para a loja repensei na forma como falei com a minha avó e me senti culpada por dizer que a casa era minha, era a verdade, mas eu não queria ser ingrata e ter que jogar isso na cara dela. Me doía.

Cheguei à loja, abri tudo e as horas pareciam não passar, principalmente por eu ter esquecido meu celular. Queria enviar uma mensagem para o Lipe e responder o "oi" que me enviou na noite anterior. Era para ter feito isso assim que entrei em casa e aí começado uma conversa casual com ele dizendo que salvei o seu número ou sei lá, porém, aconteceu o embate com a vó, chorei e quando peguei o celular já era tarde.

Talvez ele pudesse estar pensando que eu estava o esnobando por não tê-lo respondido, principalmente depois da nossa noite maravilhosa de sexo, mas a realidade era que apesar de eu ter amado cada segundo que passei ao seu lado e estar contando os minutos para repeti-la, eu tinha mais coisas com o que lidar.

Durante o dia me xinguei mentalmente várias vezes por ter esquecido o celular, porque ao menos a conversa com Lipe poderia me manter acordada e um pouco mais feliz.

Quase dormi apoiada no balcão e justo naquele dia o movimento estava fraco, o que facilitava o meu sono.

Na hora do almoço dona Fátima apareceu dizendo que estava entrevistando algumas candidatas e logo eu teria uma colega de trabalho, mas a certifiquei que estava tudo bem e eu dava conta. E embora o cansaço estivesse pesando, para mim realmente estava tudo bem trabalhar mais. Ao menos o meu salário seria maior naquele mês.

O dia passou arrastando e por diversas vezes pensei em Lipe e desejei ir ao show que ele havia me convidado para aquele dia. Queria revê-lo cantando e ouvir sua voz rouca e sexy.

No final do expediente, fechei a loja e segui para a casa sabendo que encontraria Ana e Lisbela lá, além da minha avó que com certeza estava bufando de raiva por minha causa, porém, me apeguei em oração para que não visse ninguém. Só que para o meu azar...

— Que bom que você chegou. — Ouvi Lisbela falar assim que abri a porta da sala e pelo seu tom logo percebi que não era nada bom para mim.

Sentadas no sofá estavam as três. Minha avó tinha uma nuvem no olhar, assim como Ana Constância que parecia muito dona de si. As encarei e não sabia o que dizer.

— Cyndi, eu e as meninas vamos nos mudar — minha avó disse de uma vez e sem introdução. Imediatamente aquelas palavras bateram em mim como um martelo em um prego. O abandono, o sentimento de solidão, de não ter ninguém comigo, voltaram com tudo — Você sabe que sempre estivemos aqui quando você precisou, mas você me humilhou ontem, quando disse que a casa era sua. Não vou admitir isso.

— Vó, eu não disse com essa intenção. É que a senhora disse que era para eu ir e...

— Estou vendo que ao contrário das suas tias, você quer seguir pelo caminho do pecado e acho melhor seguirmos o nosso que é o caminho do senhor. Amém? — perguntou, olhando para as minhas tias que responderam em uníssono:

— Amém! — Descaradamente seguravam o riso.

— Você não limpa mais nossa casa, não faz mais o jantar e nós temos que fazer nossa própria comida — Lisbela disse com indignação e pensei em dizer que elas tinham mãos, mas me freei, porque não queria que elas fossem embora.

— Eu não quero que vocês vão embora.

— Agora é tarde. Tem coisas que não voltam e a palavra é uma delas — Minha avó falou com olhar de desdém e repensei se ela gostava de mim, pois ao me ver dizendo que gostaria que elas ficassem, mesmo quando eu não tinha culpa de nada, se manteve impassível.

— Vó a minha mãe não gostaria disso.

— Pensasse antes de me maltratar daquela maneira.

— Maltratar? — Eu estava me sentindo tão injustiçada. — Não te maltratei, vó.

— Agora vou me arrumar que hoje tem grupo de oração. — Minha avó se levantou para sair da sala, como se tivesse lidando com uma mosca que a incomodava, depois seguiu para o seu quarto dando o assunto por encerrado.

— Do que adianta ir para a igreja? — falei, mas ela não ouviu.

Continuei plantada, de pé na sala e quando ergui meu olhar e encarei minhas tias, ambas me observavam com expressões indecifráveis, mas que no fundo eu conseguia ver um pequeno ar se deboche.

— Por que vocês não gostam de mim? Por que me desprezam tanto? A gente podia se dar bem e sermos uma família feliz. O que eu fiz para vocês?

— Você existe! Isso que você fez. Com esse seu cabelo loiro, com esse seu jeito doce que conquista a todos... eca. — Ana Constância falou com nojo.

— E quem não se dá bem com a gente é você, Cyndi. — Lisbela cruzou o braço na frente do peito.

— Sim, sempre querendo o que todo mundo quer e conseguindo — Ana Constância concordou.

Juntei as sobrancelhas sem entender do que falavam e me sentindo uma boba por continuar ali discutindo e ouvindo tanta maldade, decidi pôr um fim e ir para o meu quarto.

— Querem saber? Fiquem com seus venenos. — Comecei a andar.

— Vai mesmo, vai lá ficar sozinha, já que não tem ninguém por você nem para você — Ana Constância disse e as duas riram.

As duas sabiam o ponto que me machucava, respirei fundo e continuei andando.

No meu quarto a solidão bateu forte e tentando controlar o choro, disse para mim:

— Não vou chorar, não vou chorar e não vou chorar.

Relembrei a fala da Ana dizendo que eu não tinha ninguém e me lembrei que eu tinha sim, tinha a Arabela que estava longe e eu tinha um novo amigo, tinha o Lipe e eu precisava dele naquele momento.

Procurei meu celular no meu quarto e eu não lembrava onde tinha deixado, até que encontrei caído no chão ao lado da minha cama.

Estava quase sem bateria quando liguei e assim que entrei no aplicativo de mensagem vi o "Oi" do Lipe, seguido do contato do segurança e mais uma mensagem do final da tarde em que ele mandou outro "Oi" e um emoji que parecia triste. Nunca sabia decifrar os emojis. Pensei que ele tinha enviado o segundo "Oi" por ter estranhado o meu sumiço.

Enfim decidi respondê-lo para quem sabe uma troca de mensagens me acalmasse, mas ele não me respondeu de volta e imaginei que estivesse ocupado com o show.

Deixei o celular de lado e deitei na minha cama para brincar com meus cachorros, mas mesmo com aquelas carinhas lindas me fazendo sorrir, a fala da minha tia ecoava em meus pensamentos.

"Vai lá ficar sozinha"

— Vocês são ótimas companhias, mas não vou ficar aqui dando esse gostinho para elas, vou fazer uma loucura e ir atrás dele — falei para meus cachorros.

Levantei, peguei meu celular e disquei o número do segurança do Lipe.

— Alô, aqui é a Cyndi, amiga do Lipe, ele me passou seu número caso eu decidisse ir ao show e eu gostaria de ir — falei tudo de uma vez para não desistir.

— Olá. Me envia a localização de onde te buscar que em quarenta minutos estarei aí.

Com uma praticidade inacreditável, como nunca resolvi nada na minha vida e sem pensar muito, combinei com o segurança, coloquei meu celular para carregar enquanto me arrumava e em meia hora estava pronta para sair.

De início não sabia o que vestir, mas coloquei uma calça preta e uma blusinha branca, com uma bota preta de cano curto, a seguir rumei para esperá-lo.

Graças a Deus não encontrei ninguém no caminho da casa até o portão, provavelmente minha avó tinha ido ao grupo de oração e as minhas tias tinham aproveitado para sair.

Meu coração batia acelerado e meus sentimentos estavam uma bagunça. Pensava que estava colocando uma carga emocional grande em uma relação que estava apenas começando, só que naquele momento Lipe era a única pessoa a quem eu podia recorrer para tirar de dentro de mim o sentimento de solidão. Só queria alguém que gostasse de mim na mesma intensidade.

Já passava das dez da noite, pensei que o show já devia estar acontecendo e me culpei por não ter decidido ir antes. Torci para que o segurança acelerasse e assim eu chegasse ao menos para pegar o finalzinho do show.

O segurança, Jackson, era muito simpático e fomos durante o caminho conversando sobre assuntos aleatórios e sobre a vida dos bastidores dos shows. Ele era muito falante e me contou sobre o seu trabalho e que já havia protegido pessoas muito ricas e até mesmo perigosas que foram presas. Contou-me um episódio sobre um amigo que se apaixonou pela mulher do patrão e deu maior confusão, mas disse que a mulher merecia um novo amor por antes viver um relacionamento abusivo e que seu amigo a deu isso.

Com a conversa despretensiosa com o segurança, nem vi o tempo passar e quando chegamos à arena esportiva onde acontecia o show, o carro em que estávamos entrou por um portão exclusivo e ao apresentar um crachá logo Jackson foi liberado para passar com o carro.

Descemos e ele foi ao meu lado, me instruindo por onde tínhamos que ir para chegarmos ao palco, no entanto, quando eu estava me aproximando, vi as luzes se apagarem e o show ser encerrado.

Fiquei triste, porque não consegui vê-los se apresentar, mas ao menos conseguiria conversar com o Lipe e esquecer um pouco o que me afligia.

Enquanto caminhava por uma rampa comprida cercada da estrutura metálica de que era feito o palco, repensava o quanto eu era realmente sozinha. Não tinha uma família que me amava, minha única amiga estava longe e a única pessoa que eu tinha para mim naquele momento era alguém que eu tinha acabado de conhecer e que se tornou um pau amigo.

Não queria me envolver sentimentalmente com o Lipe, mas ainda assim, lá estava eu, carente e recorrendo a ele como uma bengala emocional, após ser desprezada por minha família e no dia seguinte a termos transado.

Fechei meus olhos e balancei a cabeça discretamente para afastar os pensamentos decadentes e deixar os sentimentos bons aflorarem, como, por exemplo, o sentimento bom que experimentava sempre que estava ao lado dele e também por estar no meio da música que era algo que me fazia tão bem.

Cheguei ao espaço que antecedia o palco, ansiosa para vê-lo. Ainda com um sorriso no rosto o procurei por entre as pessoas que ali estavam, no entanto, assim que meu olhar o encontrou, Lipe beijava uma mulher.

Meu coração pulou um compasso e minha respiração ficou ofegante.

Idiota! Sou uma idiota!

Vi que me encarou e seus olhos estavam cheios de culpa, mas não dei tempo para que me fizesse passar a vergonha de me perguntar o que eu fazia ali ou nem isso, que apenas me descartasse como se nem me conhecesse e sumisse para o camarim com a conquista da noite, como fez comigo quando eu era a Cyndi de cabelo rosa.

A raiva me subiu e percebi o quanto eu estava me envolvendo emocionalmente rápido demais com ele. Devia estar atrás de mim apenas por sexo e eu ali buscando conforto para a minha falta de carinho.

Burra!

Como uma menina boba, apaixonada pelo primeiro cara que a tratou com atenção, eu me deixei levar, mas precisava por um basta na minha humilhação, então virei-me e decidi sair dali sem conversar.

A raiva estava borbulhando e não era dele, era raiva de mim. Só queria sumir de perto dele e deixar que concluísse sua noite como quisesse, sem que eu estivesse lá o atrapalhando.

Lipe

A noite com a Cyndi no motel tinha sido incrível e o resto dela depois que cheguei no hotel passei revivendo cada minuto, até que me forcei a dormir ou ia estar puro sono no dia seguinte.

Eu estava muito confuso. Cyndi me parecia uma mulher que conseguia ser ao mesmo tempo meiga e doce e logo se transformar em sexy, intensa e excitante na cama, de modo que me causava confusão.

Em contrapartida meus pensamentos também se perdiam em outra Cyndi, principalmente naquele momento em que eu me encontrava em uma mesa de reuniões na sala que alugamos no hotel e o vídeo da cantora era repassado diversas vezes no telão.

Sua voz muito afinada chegava aos meus ouvidos como um carinho e seus olhos castanhos encarando ao público mostravam a tamanha presença de palco que tinha, provavelmente de alguém que já havia estado em um por muitas vezes.

Perguntava-me que cantora se escondia atrás daquela peruca rosa e da roupa espalhafatosa. Além de me lembrar da mulher fogosa e gostosa pra cacete com quem dividi um momento quente.

Sentia-me um canalha por estar dividindo meus pensamentos entre duas mulheres. Nunca havia passado por isso e por mais mulherengo que eu tivesse sido, era sempre uma de cada vez que ocupava meus pensamentos, na verdade, nunca nenhuma das que passaram pela minha cama ocupou meu pensamento, sempre foi a Cyndi da infância... que naquele momento voltou na vida adulta.

A reunião se estendeu por mais de uma hora e a equipe de marketing nos instruiu como devíamos nos comportar nas redes. Decidimos que íamos usar a ideia da busca pela cantora, baseando-se no conto de fadas da Cinderela e nós seriamos como os príncipes que ao invés de terem um sapatinho, tinham como referência para a busca da princesa, a voz.

De início achei meio brega para uma banda de rock, mas considerando que o nome da banda era Prince e no contexto geral com os posts meio hardcore fofos que o marketing montou para as redes sociais acabamos curtindo a ideia. Afinal, vendíamos um rock romântico mesmo, caberia um conto de fadas moderno no contexto.

Durante o dia olhei o celular e nem uma mensagem da Cyndi.

Final de tarde chegou e já estava na hora de irmos para o local do novo show. Entramos na van que nos levaria para a cidade vizinha de onde estava localizado o hotel e a ansiedade pré-show já me deixava elétrico.

Olhei mais algumas vezes no celular para ver se Cyndi tinha me enviado alguma mensagem, mas não chegou nada e mais uma vez enviei um "oi" para ela.

Deixei Jackson, o meu segurança, avisado que se alguma mulher o ligasse era para ele buscá-la imediatamente, mesmo que o show já tivesse começado.

— Que tanto que você olha para esse celular, Lipe? — Caio que estava sentado ao meu lado, perguntou.

Dei de ombros.

— Nada de mais.

— Vamos quebrar tudo nesse show hoje, hein, cambada? — Cleber gritou do fundo da van.

Simmmm... — Christian concordou.

— Cara, já tem mais de cento e cinquenta cantoras inscritas para a seleção se sábado. — Caio disse olhando para o seu celular, onde lia a informação no grupo que tínhamos com o marketing.

— Caralho! Isso vai dar trabalho — Cleber falou admirado.

— Se encontrar a cantora verdadeira, está ótimo — meio que esbravejei, olhando para fora da van.

— Você decida o que você quer, Lipe. Está perdido no mundo das Cyndis — Christian brincou e todos riram.

— Quero cantar. Por enquanto só isso. — A questão de a Cyndi não responder minha mensagem estava me deixando um pouco mal-humorado.

— Cantar música ou cantar mulheres? — Cleber, engraçadinho como sempre, fez piada e amenizou o meu mau humor.

— Os dois. — Rimos, conversei com meus amigos sobre assuntos leves e com eles ao meu lado não tinha como ficar irritado por muito tempo, sempre faziam com que eu esquecesse um pouco o que me incomodava.

Alguns minutos depois chegamos na arena onde seria o show. Era um campo de futebol com arquibancadas por todo o seu entorno e o palco foi montado de um dos lados. O lugar era bem grande e já sabíamos que os ingressos foram todos vendidos e graças aos céus, logo todo o espaço estaria lotado, com um público gigante cantando nossas músicas.

Imediatamente uma expectadora que eu gostaria muito que estivesse presente invadiu meus pensamentos e novamente peguei meu celular para ver se chegou alguma mensagem da Cyndi, mas não tinha nada.

Queria que ao menos ela respondesse o meu "oi" ou me dissesse qualquer coisa que me certificasse que tínhamos uma relação depois da noite que vivemos, nem que fosse amizade. Só queria que ela me desse um sinal.

Passamos o som e os instrumentos estavam no ponto, era só esperar o momento de nos apresentarmos.

Diferente do show do festival, aquele seria um show só nosso e quem estava nele era para nos prestigiar o que ainda me causava um pouco de admiração em pensar onde conseguimos chegar.

A hora do show chegou e de trás do palco conseguíamos ouvir o barulho do público que nos aguardava ansioso. As luzes do palco piscaram e os dois telões posicionados um de cada lado dele anunciavam a contagem regressiva para assumirmos o controle de tudo e colocar a multidão para cantar.

Mais uma vez antes de entrar, retirei o meu celular do bolso e olhei na tela na esperança que tivesse alguma mensagem da Cyndi, mas mais uma vez não tinha nada.

Ela realmente tinha me esnobado e a sensação de não receber um contato no dia seguinte após o sexo, não era legal. Eu havia me tornado o que eu mais temia, o cara que espera uma mensagem de uma mulher.

Ao final da contagem regressiva subimos para fazer o que nos fazia bem: cantar e tocar. Fomos ovacionados e as palmas eram músicas para o meu ouvido.

Ouvi a galera cantando minhas letras e sempre voltava imediatamente ao momento que as compus, voltei no tempo quando o refrão de uma delas disse:

Eu não fui o que você pensava, fui o que te amava...

Lembrei-me de quando fui embora da escola sofrendo por um amor infantil e o momento me marcou até a vida adulta. E pensei que novamente estava ali esperando por ela e querendo mais do meu reencontro com a Cyndi, que talvez ela não quisesse me dar.

Segurei o microfone e com os olhos fechados senti cada palavra que cantava. Eu queria negar que estava me envolvendo novamente, porém, a ansiedade com a falta de resposta dela me dizia o contrário. Além da confusão com a busca pela Cyndi cantora e com o reencontro com a Cyndi do passado, a qual eu devia contar sobre quem eu era e o quanto ela tinha me marcado antes que nos perdêssemos um do outro novamente.

Fiz um solo de guitarra que levou o público à loucura e mesmo quando eu estava fazendo o que amava, que era tocar e cantar, as Cyndis não saíam do meu pensamento, a do passado me atingia e me questionei se o sentimento estava voltando com força e eu estava novamente me apaixonando por ela.

Eu precisava esquecer, parar de pensar e não deixar que apenas um dia de sua ausência, de falta de contato e o sentimento de ter sido rejeitado mexesse comigo daquele jeito.

Depois de duas horas, anunciamos que o show estava no final e que tocaríamos a última música, mas o público começou a gritar como se pedisse por algo que eu não conseguia entender.

Olhei para os caras que deram de ombros como se não entendessem também, vi minha equipe chamar o Cleber que estava mais próximo e ele sorrindo foi até o microfone e me iluminou quando perguntou:

— Então vocês querem subir no palco? Gostaram da última ideia do meu amigo aqui. — Cleber bateu no meu ombro. — Vamos fazer assim, ele novamente vai escolher outra Cinderela da música, para subir e cantar a saideira com a gente. — Todos gritaram felizes.

Tomei entendimento e sorri, aquilo ia virar uma marca nos shows e eu achei muito divertido. Olhei para as pessoas a minha frente e escolhi uma moça qualquer que pulava desesperadamente na minha frente, pedindo para que eu a escolhesse.

Logo um dos seguranças a auxiliaram a pular a grade e no caminho para o palco pulava como uma doida, enquanto eu a esperava. Em meu pensamento revivi um momento parecido com aquele.

Quando enfim subiu no palco e se aproximou de mim, me agarrou e eu só sabia rir do desespero da mulher. Foi difícil me desvencilhar dela para conseguirmos cantar.

A entreguei um microfone, caso também quisesse me acompanhar como a Cyndi do último show, que surpreendeu a todos. No entanto, a calmaria que a Cyndi exibiu ao subir no palco, exceto pelo nervoso costumeiro por estar diante de uma multidão, aquela ali na minha frente parecia não ter, estava muito eufórica. Ela ria, pulava e batia palma, fazendo as pessoas a nossa frente rir e a mim também.

Comecei a cantar a última música olhando para ela que segurava o microfone com força na frente do peito e me olhava com paixão e um largo sorriso. Achei que gostaria de cantar também e quando chegou o refrão, balancei a cabeça em sua direção indicando que podia cantar, no entanto, quando abriu a boca sua voz saiu esganiçada, desafinada e errou a letra. Todos riram, inclusive ela mesma riu da sua atuação como cantora e correu para me agarrar novamente.

Rindo, terminei de cantar com ela pendurada no meu pescoço, de forma que quase me faltou o ar e uma música nunca tinha me parecido tão comprida. Ao final, as luzes do palco se apagaram e a banda saiu ouvindo pedidos de mais um, mas já tínhamos terminado.

Arrastei a doida da moça comigo para os bastidores, para tirarmos fotos e darmos brindes da banda para ela, entretanto, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela me segurou com uma mão de cada lado do meu rosto e me tascou um beijo na boca, que eu não consegui me esquivar. Estava sendo assediado sem dó nem piedade.

Alguns segundos depois quando enfim a afastei da minha boca, disfarçando minha falta de interesse no beijo com um sorriso e tentando não ser indelicado, falei:

— Calma, moça.

A minha volta todos riam, mas quando olhei para o lado, a Cyndi estava me olhando a alguns metros dali, com um olhar congelado, que logo virou frio e de decepção, depois virou-se e saiu da sala em que estávamos.

Ela tinha entendido tudo errado. Porra!

Deixei a moça de lado e a minha equipe cuidaria dela, corri atrás da Cindy pelos corredores que levariam à saída do palco e ela andava com pressa, quase correndo.

Sentia-me surpreso por vê-la ali, não sabia como havia chegado e por mais que eu estivesse correndo atrás dela naquele momento para explicar um mal-entendido, eu sorria feliz por ter ela ido ao meu encontro, apesar de ter dito que não ia.

Com muito custo consegui alcançá-la a peguei pelo braço e a parei.

— Espera. Por que está indo embora assim?

Olhou-me com seriedade.

— Volta lá, não quero te atrapalhar — falou e engoliu em seco.

— Não, você não atrapalha...

— Você estava beijando uma mulher e eu sei que ela seria sua conquista da noite se eu não estivesse parada e te olhando como uma boba, não seria?

— Claro que não. — Cindy riu para o que eu disse e desviou seu olhar do meu.

— Eu vi, Lipe e está tudo bem. — Voltou a andar e eu entrei na sua frente a parando.

— Não viu.

Ela riu em desdém e balançou a cabeça em negativa.

— Olha, Felipe, não tenho que te cobrar nada e nem sei por que estou aqui, não sei por que pensei que... não sei... — Suas mãos se mexiam parecendo nervosa e eu a puxei para mim e a beijei.

Só queria beijá-la, ela estava com ciúmes e ficava linda com ciúmes. Apertei-a nos meus braços e a beijei, mas ela se debateu, me afastou e sem dizer nada virou-se para continuar andando para longe de mim, só que eu não ia desistir dela fácil e com passos largos a alcancei e mais uma vez a peguei pela mão e a virei para mim.

— Cyndi, aquela doida que me beijou, não fui eu. Eu não queria nada com ela, todos lá em cima podem te dizer. Eu estava ansioso para pegar meu celular e ver se enfim você tinha me respondido.

Ela me olhou ainda com seriedade e não disse nada, então perguntei:

— Por que não respondeu minha mensagem hoje? — Se manteve em silêncio e desviou o olhar do meu. — Eu não quero nada com ninguém... não depois da noite que tive com você... que não sai do meu pensamento. Estava puto por você não ter me respondido. Fiquei como um idiota olhando o celular a cada minuto para ver se tinha uma mensagem sua.

Vi-a engolir. Parecia pensar em algo que a deixava triste e enfim me olhou.

— Você não está mentindo para mim e eu não estou te atrapalhando?

— Não.

Cyndi me encarava com um olhar triste, que parecia carregar uma dor maior do que a situação em que estávamos vivendo e reafirmei:

— Eu juro. Não tenho por que mentir. Eu gosto da sua companhia.

Vi-a novamente tirar o olhar do meu, apertar os lábios e respirar fundo, em seguida começou a chorar copiosamente e a minha única reação foi puxá-la para um abraço.

Não achei que estivesse chorando porque me viu beijando outra, aquele choro cheio de dor era por algo maior e eu não sabia o que fazer ou dizer para consolá-la, só queria que ela parasse.

— Que vergonha. Me desculpa... me desculpa... eu sou... aí me desculpa — falou nervosa.

— Para, não se desculpe. Quer conversar sobre o que está acontecendo? — Ficou em silêncio e eu notei que sim, mas não queria admitir. — Olha, só preciso voltar lá para cima porque tenho que resolver umas coisas pós-show, mas é rápido, vem comigo e depois daqui a gente conversa.

— Não, não quero ver ninguém com essa cara de choro. — Enxugou o rosto. — Sou ridícula.

— Não é. — Pensei o que eu faria. — Então faz assim, me espera aqui, que só vou pegar um carro com os seguranças. Resolvo tudo depois. Vai ser rápido. — Ela assentiu parecendo mais calma, no entanto, cheia de vergonha e seu olhar não cruzava com o meu.

Dei um beijo casto em sua boca e subi a passos largos e rápidos em direção ao local onde a banda e a nossa equipe estava.

Não demorei nem cinco minutos, tirei foto com a moça beijoqueira peguei a chave do carro com o Jackson e descobri que tinha sido ele quem a buscou. Depois pedi a Caio que resolvesse qualquer coisa em meu lugar e desci correndo até a rampa onde a Cyndi me esperava, entretanto, olhei em volta, fui até o estacionamento, procurei por toda parte e ela não estava mais lá.

Peguei meu celular para ligar e tinha uma mensagem dela.

"Desculpa por meu descontrole. Não é nada com você, apenas eu e meu emocional destrambelhado. Preciso ir embora, nos falamos depois. Mais uma vez me desculpa pela cena."

Ri com raiva. Ela estava passando por algo maior e não era para eu tê-la deixado sozinha.

Esse negócio de ter que lidar com os sentimentos e as mulheres era mais difícil do que eu imaginava. Que porra!


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