Capítulo 3
*Arabela
Depois da minha aventura na madrugada, com muito custo consegui dormir, mas antes coloquei o celular para despertar, para que assim eu não me empolgasse com o sono novamente.
Quando acordei, poucas horas depois, estava disposta e pronta para fazer o que me competia naquela casa, que era trabalhar.
Antes de sair do quarto coloquei uma roupa confortável e principalmente comportada para que não me constrangesse novamente. Ainda não me conformava que meu chefe, o deus todo poderoso da Orsini Enterprises, tinha me visto praticamente nua.
Por que diabos eu não coloquei a roupa comportada novamente antes de sair do quarto?
Apesar de ser uma sexta-feira, eu queria ficar a par de tudo sobre o funcionamento da mansão e da parte administrativa, não queria deixar para começar na segunda, principalmente depois de ter passado uma péssima primeira impressão na noite anterior.
Além da roupa, me sentia morta de vergonha por ter sido pega bisbilhotando e só de repensar a cena da noite anterior, eu queria morrer e até fechei meus olhos, os apertando e soltei o ar em frustração, depois balancei a cabeça, tentando dissipar a lembrança constrangedora.
Recuperada da minha autopiedade, decidi que ia ficar por dentro de tudo que a parte administrativa precisava que eu fizesse e começar o mais rápido possível a mostrar serviço.
Saí do meu quarto e segui para a cozinha atrás de um pouco de café, não costumava comer muito de manhã, mas o meu amado café eu tinha que tomar, para que o meu humor melhorasse.
Assim que cheguei à grande e arejada cozinha, avistei Clóvis delegando tarefas e estava acompanhado de mais duas mulheres mais jovens por volta dos trinta anos e também de uma senhora que aparentava ter entre cinquenta ou sessenta anos de idade.
— Acordou cedo, Bela! — Clóvis disse com um sorriso amistoso ao notar a minha presença.
— Sim, ontem dormi demais. — Sorri sem jeito.
— Bom que descansou bastante. Deixe-me apresentá-la às minhas queridas mãos de fadas da cozinha. Essa é a nossa chefe da cozinha, a querida Madalena e essas são Cecília e Viviane que a auxiliam no que for preciso nesse departamento.
— Prazer em conhecê-las. — Dei um sorriso amistoso a todas, que retribuíram com sorrisos ainda maiores que o meu e me desejaram boas-vindas.
De cara gostei delas, eu amava pessoas que sorriam e tive a impressão de que seus sorrisos eram sinceros, de forma que atingiam os olhos, e eu amei isso.
— Essa é a Arabela, que ficará no lugar do último administrador.
— Coitada! — dona Madalena retrucou baixo.
Franzi as sobrancelhas e ela se apressou em corrigir.
— Agitada! A... casa... hoje está agitada. — Parecia sem graça e vi as demais mulheres reprimirem o riso, ao mesmo tempo em que Clóvis as lançava um olhar de repreensão e mudava de assunto a seguir:
— Bela, tome seu café que quero te mostrar os andares de cima da mansão e a área externa.
— Será que depois de conhecer tudo, eu já consiga começar o meu primeiro dia de trabalho?
— Parece ansiosa para começar, não é?
— Muito, amo a minha profissão.
— Pode começar mais tarde ou deixe isso para a segunda-feira.
Sorri.
— Creio que o contratante não vá gostar muito que eu postergue as minhas atividades, então o quanto antes eu começar, acredito que será melhor.
— Humpf... — Clóvis bufou. — O menino Orsini pensa que é ele quem manda na mansão, mas na verdade quem manda sou eu — falou em um tom cúmplice.
— Sendo assim, tenho que mostrar serviço para você.
Clóvis sorriu e eu já gostava muito dele também.
— Então ande e tome café, que estou com o dia cheio — falou ainda sorrindo e fingindo impaciência, depois apontou para que me sentasse de frente para as mulheres que estavam apoiadas à ilha da cozinha me observando com curiosidade.
Uma das mulheres, a Viviane, que era muito bonita, tinha a pele bem clarinha e os cabelos claros, que naquele momento se soltavam um pouco da touca de tecido que usava, me serviu uma fatia de bolo de fubá, enquanto a outra, a Cecília, que tinha a pele morena, cabelos cacheados e olhos castanhos perguntou o que eu queria para beber e após a minha resposta apaixonada ao citar o café, ela me serviu com o meu líquido preferido e fresquinho.
— Vocês são sempre assim, esses anjos? — perguntei.
— Nunca, mas antes de você chegar Clóvis nos disse que você era uma ótima pessoa — Madalena disse ao mesmo tempo em que limpava as mãos no avental.
Sorri e olhei para Clóvis.
— Mas ele só teve poucos minutos de conversa comigo.
— Minha querida, preciso apenas de um segundo para gostar de alguém e saber se ela é uma boa ou uma péssima pessoa.
— Então fico feliz e saiba que a recíproca é verdadeira.
Comecei a comer e o bolo estava uma delícia, assim como o café, enquanto isso, ouvi Clóvis perguntar para a Madalena se ela havia visto o menino Orsini naquela manhã e com o rosto com pena, ela o respondeu:
— O vi era bem cedo, o dia mal tinha nascido e já estava saindo rumo às baias. O seu humor estava péssimo. Mal abriu a boca para responder ao meu bom dia. Olha, às vezes tenho vontade de niná-lo, mas têm vezes... — A vi arregalar os olhos como se demostrasse uma grande vontade de estrangulá-lo.
Imediatamente relembrei do encontro que tive com o tal menino Orsini na noite anterior e ele foi completamente desagradável, agiu com tamanha grosseria e até mesmo falta de educação, apenas por me ver pegando em seus livros. Tudo bem que eu também não gostava que mexessem nos meus, mas eu não xingaria ninguém daquela maneira.
Provavelmente o seu mau humor seria minha culpa, por ter me visto mexendo em suas coisas.
— Qual o nome do menino Orsini? — Mesmo sem querer, falei menino Orsini com muito desdém. — Só o conheço por esse nome ou por senhor Orsini, que era como nos referíamos a ele na Orsini Enterprises, mas nunca soube o primeiro nome do meu patrão.
— Félix. Chama-se Félix para todos aqui e ele faz questão que os funcionários o chamem pelo nome, só Clóvis o chama pelo sobrenome — Cecília falou revirando os olhos, mas rindo.
— Vi o menino crescer e o tenho como um filho. Sempre respeitei o seu pai, o senhor Orsini, que era um homem muito bom, honesto e um verdadeiro lorde — falou saudoso. — Após seu falecimento, transferi o respeito e a admiração que tinha pelo pai, ao filho — Clóvis respondeu e voltou a olhar um caderno que estava sobre a bancada, onde anotou algo. — E Félix também é uma boa pessoa, muito educado, bondoso e um lorde como o pai.
— Não foi isso que percebi ontem — falei sem pensar e todos os olhos se voltaram para mim, então cheia de vergonha tive que explicar: — É que ontem... eu estava sem sono de madrugada e decidi ir até a biblioteca pegar um livro para ler...
— Vish... — Madalena fez uma careta.
— Hum... — Cecília resmungou com pesar.
— Eita... — Viviane se assustou.
— Meu Deus! — Clóvis exclamou.
— O que foi? — perguntei, vendo suas caras de assustadas, ficando assustada também e notando que o que eu disse era muito pior do que eu pensava.
— Ninguém mexe na biblioteca a não ser que tenha a aprovação de Félix — Madalena falou com a voz cheia de receio.
— Não que ele seja egoísta ou nada disso, só que a biblioteca era o xodó da sua mãe.
— Eu não sabia disso, achei que ele não estava em casa e pensei em pegar, ler e devolver sem que o dono percebesse a ausência.
— O menino Orsini decidiu retornar antes.
— Se eu soubesse que era tão importante para ele, juro que não teria mexido — falei arrependida.
— Tenho certeza que quando conversar com ele, aí não se importará que pegue livros para ler — Clóvis disse tentando protegê-lo.
— Pelo modo com que ele me tratou ontem, creio que se importe sim. Na verdade, vou pedir que minha mãe me envie meu e-reader aí não precisarei pegar os livros dele.
— Acho que a primeira impressão foi ruim para ambos, mas não o julgue antes de conhecê-lo de verdade. Ele era um rapaz muito diferente do que é hoje, mas a morte dos seus pais o transformou — Madalena falou pesarosa.
— O que aconteceu com os pais dele? — perguntei e comi mais uma fatia de bolo.
— Morreram em um acidente de lancha. A família toda estava nela em alto mar... Só o menino escapou. — Clóvis disse também com pesar e notei que todos gostavam muito não só de Félix, mas da família toda e a perda foi difícil para eles também.
— Faz quanto tempo?
— Dez anos... O menino tinha apenas dezenove anos — Clóvis respondeu.
— Nossa que...
— Não sabia que pagava os meus funcionários para ficarem falando sobre a minha vida — a mesma voz grossa que me assustou na noite anterior, me assustou novamente e preencheu o ambiente, interrompendo o que eu ia dizer.
Meu rosto ficou quente de vergonha, pois pela segunda vez fui pega em uma situação comprometedora, que de forma alguma me representava como profissional.
Logo uma comoção na cozinha começou e as mulheres se puseram a agilizar os afazeres, menos Madalena que encarava ao Félix com a sobrancelha arqueada, claramente incomodada e Clóvis que tinha a mesma expressão irritada da Madalena em seu rosto.
Não se estendendo mais, Félix pegou uma garrafinha de água na geladeira e falou:
— Clóvis, logo o veterinário virá te procurar. Faça o pagamento a ele... — Virou-se para sair, mas parou onde estava e completou: — Por favor.
Sem esperar resposta, o bonito homem com cara de bravo, saiu da cozinha deixando o silêncio tomar conta das pessoas no ambiente e Clóvis, parecendo sem jeito, pediu licença e o acompanhou.
.
.
*Félix
Revirei na cama a noite toda até que não aguentei mais ficar nela e antes que o sol saísse por completo lá estava eu: de pé e mais uma vez de mau humor.
Fui até o meu escritório, onde encontrei a pasta com o contrato da nova funcionária. Arabela...
Então este é o nome dela?
Confesso que na primeira vez que peguei aquele contrato, não dei muita atenção, mas naquele momento eu queria saber mais sobre aquela mulher intrometida, queria analisar cada parte do seu currículo e cada cláusula do seu contrato de trabalho.
Conforme fui lendo com atenção, encontrei a parte que foi adicionada especialmente no contrato dela e o diferenciava do contrato do funcionário anterior. Naquele o meu advogado tinha adicionado uma multa caso ela desistisse do trabalho.
Eu odiei aquilo, era como se eu estivesse prendendo alguém e a obrigando ficar onde não quer estar, mas segundo ele, aquela funcionária tinha sido muito bem indicada e a multa seria uma forma de forçá-la a ficar até que se acostumasse com o trabalho e com o meu jeito de ser.
Meu jeito de ser... Pessoas mais delicadas que não aguentam um tratamento mais... rústico.
Deixei os papéis jogados na mesa do meu escritório e fiquei olhando pela janela o alaranjado do dia que já estava com sol. Amava as pinturas da natureza e queria sair, sentir a brisa da manhã e ouvir o barulho dos pássaros.
Já do lado de fora e caminhando em direção aos estábulos, me lembrei de quando caminhava com o meu pai e me doeu novamente. Mesmo tendo passado dez anos da tragédia, eu ainda a sentia.
Vivi vários momentos do luto: fiquei depressivo, me joguei na noite com muitas mulheres e baladas, viajei e até usei drogas. Foi uma vida vergonhosa, tanto, que os advogados da empresa tiveram que usar muito dinheiro para apagar o rastro de atitudes erradas que eu tive, porém, há dois anos eu havia sossegado e me dedicado à empresa e à vida solitária de um CEO de vinte e poucos anos e com muito dinheiro.
Cansei do sexo casual, pois para mim todas as mulheres só me viam como um homem rico que podia bancá-las. Cansei e decidi de novo voltar ao estágio mau humor e tristeza.
Cheguei ao estábulo e alisei a minha égua da raça Frísio, era a única com a raça diferente dos outros cavalos ali, os demais eram Palomino, a raça favorita do meu pai.
A minha Meia-noite era um doce de animal e foi a melhor psicóloga que tive nos últimos cinco anos, desde que a comprei.
Fiquei alguns minutos ali conversando com ela e a contando sobre a noite anterior:
— E foi assim que conheci a minha nova funcionária, que ainda estou descobrindo se é uma bisbilhoteira ou apenas uma apaixonada por livros e que fala e pergunta demais.
A égua relinchou como se estivesse me respondendo e eu alisei sua crina. Os animais eram muito mais agradáveis que os humanos, no entanto, por mais que eu amasse interagir com a Meia-noite, eu precisava interagir novamente com a Arabela e descobrir se ela era tão insolente quanto achei que fosse.
Voltei para a mansão e entrei pela porta da frente, tinha a esperança que ela já estivesse acordada, andei de mansinho por ali e espiei todos os cômodos na intenção de encontrá-la, mas ao menos ali não a vi. Olhei no relógio e realmente ainda era cedo para que Arabela já estivesse de pé.
Decidi não acessar o corredor que levava aos quartos dos funcionários, pois se meu mordomo me visse ali, teria que me explicar e com certeza me comprometeria no processo.
Clóvis era como um pai e muitas vezes eu tinha certo receio em relação a ele. Dizer medo seria feio para um homem do meu tamanho, mas eu o respeitava. Muitas vezes chorei nos ombros do Clóvis e outras no de Madalena.
Olhei no escritório em que ela trabalharia e nada, mas como era cedo ainda não estava na hora de estar ali, depois segui para a cozinha e quando me aproximei, logo comecei a ouvir uma conversa animada vinda de lá, até que ouvi meu nome e parei onde estava.
Revirei os olhos ao ouvir que a conversa falava sobre a minha vida de merda e sobre o meu humor, que se já estava péssimo, ao ouvir a conversa piorou.
Interrompi o bate-papo dos meus funcionários com uma frase ofensiva e no momento que entrei na cozinha os olhos assustados da Arabela foi a primeira coisa que vi e em seguida foram os olhos repreensivos da Madalena.
Até me senti um pouco culpado por assustar Arabela pela segunda vez em menos de vinte e quatro horas, mas foda-se!
Peguei a minha água e saí da cozinha com a minha irritação costumeira, mas não demorou nada até eu ser interceptado por meu mordomo enxerido.
— Isso são modos, Félix? — Comigo era o contrário, quando Clóvis me chamava apenas pelo primeiro nome, era que ele estava irritado.
Revirei os olhos e me virei de frente para ele, que estava com as mãos para trás, o peito estufado e sua barriga robusta evidente.
— O que foi, Clóvis?
— O que foi? Oras! Você está assustando a senhorita Bela. A pobrezinha chegou ontem. Quer que ela vá embora antes mesmo de começar?
Bufei.
— Se for para ser uma imprestável, será um favor que me fará.
— Não fale assim, menino, você sabe que precisa dela... digo dos serviços dela.
— Não preciso não.
— Precisa e você vai ver que vai precisar ainda mais. — Ia perguntar o motivo, mas ele continuou: — Espero que mais tarde peça desculpas por sua rispidez. Agora vou voltar para a cozinha. — Ia saindo, mas retornou a me olhar. — Ah, e não quero que nos incomode no nosso tour pela mansão. — Virou-se de costas para mim e empinou o nariz, nitidamente irritado. Pude até ouvi-lo dizer um "francamente".
Sorri.
Meu mordomo é uma figura.
Parei de sorrir.
Nem fodendo que vou pedir desculpas por não ter feito nada.
.
.
*Arabela
Não demorou muito até que Clóvis retornou à cozinha.
Ouvimos a conversa dos dois no corredor, no entanto, não dava para entender o que diziam, apenas que Clóvis parecia bravo. Eu me senti mal por ter começado o assunto e por na noite anterior ter passado uma péssima primeira impressão ao nosso patrão... No caso, uma segunda impressão também.
— Me desculpem por isso, creio que ele esteja assim por minha causa. Sabem... pela biblioteca e agora pelo assunto.
— Não é por sua causa, ele vive assim e está cada vez pior — Madalena reclamou.
— Não vamos julgá-lo, sabemos que não foi fácil — Clóvis o defendeu quando voltou e as mulheres assentiram tristes.
— Vamos fazer carne assada, que é o prato preferido do Félix? — Cecília perguntou.
— Sim, e saladas — Viviane completou.
— E suco de maracujá — foi a vez de Clóvis dizer.
Madalena balançou a cabeça em positivo e disse:
— Isso, vamos fazer os pratos que ele gosta, quem sabe com a sua comida favorita seu humor não melhore.
Logo começaram a se movimentar pela cozinha ao mesmo tempo em que eu me levantei e levei minha xícara até a pia. Ia limpar o que sujei quando Clóvis me repreendeu e disse para que eu deixasse a louça onde estava e continuássemos o nosso novo tour pela mansão.
Despedi-me das meninas da cozinha, que pediram que eu voltasse mais tarde para conversarmos mais.
A seguir Clóvis e eu subimos para o segundo andar da mansão, onde ele começou a me mostrar cada canto da casa que eu ainda não conhecia. O primeiro cômodo a ser apresentado, foi um que me deixou de boca aberta, era uma enorme sala com poltronas pretas, que pareciam extremamente confortáveis, dispostas em fileiras como em uma arquibancada, uma mais abaixo da outra, e de frente para um grande telão.
Ele tem um cinema em casa!
— O menino Orsini quase não usa essa sala.
— Meu Deus! Como pode ter um cinema em casa e não usar?
— Talvez seja por não ter companhia.
Como um homem como ele pode não ter?
Fiquei com pena por pensar que ele tinha tudo, mas não tinha o principal: pessoas para desfrutar tudo com ele.
— Deve ser triste não ter ninguém que nos ama.
— Ele tem. Todos nós aqui o amamos, mas ele não quer ser amado.
Pobre menino rico!
Achei melhor não responder que ele era um idiota e seguimos para o outro cômodo, ao mesmo tempo em que Clóvis me contava sobre os diversos bailes que a falecida senhora Ester fazia na mansão.
— Eram tempos de ouro! O menino Orsini era o mais boêmio dos três e enchia a casa de amigos.
— Agora não consigo imaginá-lo assim.
— Ele sempre foi o famoso boa praça. Tinha muitos amigos, era mimado pelos pais e querido por todos, mas depois da fatalidade... afastou cada um deles, se entregou muitas vezes às bebidas, várias mulheres e depois quando não era isso, se manteve apenas pensando na empresa, no trabalho e mais trabalho.
Revirei os olhos, porque a tristeza não podia ser motivo para afastar as pessoas que amamos e, melhor, as pessoas que amamos não devem nos deixar nos piores momentos, devem ficar mesmo quando mostramos o pior lado.
— Não revire os olhos, você ainda vai conhecer o outro lado do Félix.
— Desculpe — respondi apenas, mas pensei em responder que dispensava e só queria fazer meu trabalho, no entanto, Clóvis gostava muito do Félix e eu não queria entristecê-lo.
Passamos por uma sala que parecia um pub com balcão e bebidas por todas as partes, tinha também uma mesa de sinuca, além de videogames e uma TV gigante que pensei nunca ter visto uma tão grande.
Mais uma vez Clóvis falou vagamente sobre as mulheres que Félix já levou ali e provavelmente aquele cômodo era seu inferninho particular.
Tudo ali era muito moderno ou muito grande e claramente os Orsinis não economizaram quando o assunto foi a casa. Com a ideia de tudo muito grande em mente, sendo muito tarada, enquanto seguíamos para o próximo cômodo, imaginei o que mais Félix tinha que era grande. Ele era lindo e isso eu não podia negar, mas será que era bem dotado?
Balancei a cabeça discretamente dispersando os pensamentos profanos e assim parei de pensar obscenidades sobre o meu patrão.
Naquele andar vi também diversos quartos e suítes, que Clóvis me disse ser de hóspedes, e eram tão grandes que provavelmente deviam ter o tamanho da casa dos meus pais. Cada quarto com seu banheiro e vista do lago ou da praia.
Subimos mais um lance de escadas e nesse andar Clóvis me mostrou o que era outro escritório e me contou que aquele era o do Félix, que eu ficaria com o do térreo. Depois passamos por um closet que tinha muitas roupas que só podiam ser do Félix. Dentro havia um banheiro com uma banheira gigante com hidromassagem. Um luxo.
Saímos desse espaço, seguimos para o final do corredor onde paramos em frente ao que seria o último quarto... O quarto do Félix.
— O menino Orsini não gosta que entrem em seu quarto, então vamos pulá-lo — Clóvis sorriu e eu me senti desapontada. Queria saber como era o quarto de um homem tão sisudo e tão rico.
Será que era todo preto ou cheio de ouro?
Fizemos todo o caminho de volta, enquanto Clóvis me contava mais histórias sobre a casa, sobre os funcionários, sobre o Félix e eu prestava atenção em tudo.
Chegamos ao térreo e o mordomo disse:
— Quer mesmo começar hoje o trabalho ou quer conhecer o lado de fora da mansão?
— Sim, prefiro começar o trabalho. Estamos no começo do dia.
— Pode aproveitá-lo conhecendo a propriedade.
— Prefiro fazer o que vim fazer aqui, que é trabalhar.
— Andar pela propriedade e conhecer tudo também são o seu trabalho.
Sorri.
— Prometo fazer isso assim que me inteirar de toda a parte chata. — Ele assentiu e seguimos para o escritório.
No dia anterior eu tinha visto rapidamente o escritório em que eu trabalharia, enquanto Clóvis me mostrava cada cômodo, mas naquele momento em que eu sabia que ali seria onde eu passaria a maior parte do meu dia, observei tudo com atenção.
Era um lugar confortável, como tudo naquela casa, tinha uma grande mesa com um computador, impressora e itens de papelaria, uma estante com muitas pastas, que provavelmente eram onde estavam os documentos de toda a propriedade, dos funcionários etc. Havia também um sofá de couro e no chão um tapete felpudo completava a decoração.
— Estou ansiosa para começar a trabalhar.
— Ora! Então vamos lá, senhorita — Clóvis falou animado.
Logo ligou o computador e quando ia começar a me explicar o que me competia ali, avistamos uma figura alta e de semblante sério entrar no escritório e dizer:
— Pode cuidar dos seus afazeres, Clóvis, eu mostro tudo para ela.
— Claro! Espero que cumpra o nosso combinado.
O mordomo sorriu forçado e eu tive a impressão de que o combinado deles tinha a ver comigo. Sem dizer mais nada, apenas depois de mais uma ou duas mesuras, Clóvis saiu da sala e me deixou a sós com o Félix.
Eu não tinha medo dele, não era nem de perto medo, mas certo receio sim, afinal, nas duas vezes em que estive no mesmo ambiente que ele, Félix não tinha sido nada cortês.
Exalava autoconfiança, carregava um olhar penetrante, como se me analisasse e seu maxilar estava serrado como se me odiasse e estivesse esperando que eu fizesse algo de errado a qualquer momento.
Não podia negar que Félix parecia uma fera prestes a atacar sua presa, mas eu não seria uma presa fácil, se era isso que ele pensava.
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