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Capítulo 15


No sábado fui dormir cedo e no domingo acordei cedo também, mas quando olhei ao meu lado e Arabela não estava mais ali, senti como se faltasse algo muito importante.

Relembrei a noite anterior com um sorriso enorme no rosto e sendo o maior dos clichês, eu podia dizer que pensei ter sido um sonho.

Sorri confirmando o quão bom tinha sido o meu momento com ela e esperava que Arabela se sentisse do mesmo modo. Queria que para ela tivesse sido inesquecível.

Imediatamente tive uma ideia e tentando parecer romântico pensei em mandar rosas para o seu quarto, no entanto queria algo mais... Sólido. Algo que ela pudesse guardar e se lembrar de mim quando visse.

Sem pensar na hora que era, liguei para o dono de uma joalheria famosa na cidade e que havia sido muito amigo dos meus pais e pedi que me atendesse. No início da ligação notei sua voz um pouco irritada, por ter sido acordado tão cedo em um domingo, porém, quando o pedi que me enviasse foto dos modelos de colares mais caros e mais bonitos que tinha em sua loja, sua voz como em um passe de mágica se tornou amistosa e solícita. Ah, o dinheiro...

As joias das fotos eram todas muito exageradas e nenhuma combinava com a Arabela, até que depois de muitos modelos ele me enviou a foto de uma que enfim achei que tinha muito a ver com ela.

O colar tinha sua corrente em ouro rosa, cravejado em diamantes e seu pingente tinha o formato de uma rosa, tão delicada quanto a Arabela.

No mesmo instante imaginei aquela joia em seu pescoço e pedi que o homem arrumasse um jeito de fazê-la chegar à mansão o mais rápido possível, o prometi um valor significativo se conseguisse isso e, claro, em menos de uma hora os seguranças me avisaram que a joia estava com eles.

Levantei-me em um pulo e fui até a porta da frente pegar a minha encomenda. Para a minha sorte, o senhor Feliciano, o jardineiro, acordava cedo e o pedi se podia colher uma rosa para mim. Pagava aos meus funcionários muito bem e por isso faziam tudo que eu pedia.

Já com a rosa e a joia em mãos, escrevi um bilhete bem ao modo que gostávamos: citando livros.

"Foi o tempo que dedicastes à rosa que a fez tão importante – O pequeno príncipe.

Arabela, obrigado pelo tempo investido em mim e agradeço por cada segundo ao seu lado. Sem dúvida foram os melhores em anos e me arrisco dizer...

de toda minha vida."

Achei intenso, mas eu gostava de fazer as coisas de forma que marcassem e além do mais, não era mentira.

Era por volta das oito da manhã quando deixei o presente, o bilhete e a rosa em frente à porta dela, depois rumei em direção à sala de refeições, para tomar café da manhã e como sempre a mesa estava posta para mim.

Ainda me perguntava como meus funcionários conseguiam manter tudo tão impecável e no lugar. Sempre que eu precisava ou queria algo, lá estava para mim, como se adivinhassem meus pensamentos.

Sentei-me na cadeira, na ponta da mesa de dez lugares e olhei à minha frente, os lugares completamente vazios. Tantos anos vendo aquela cena e ainda não havia me acostumado com a solidão.

Balancei a cabeça para dissipar os pensamentos sombrios e tentei não cair na escuridão. A minha manhã estava feliz demais para isso.

Comecei a comer tudo de gostoso que os empregados dispuseram na mesa para mim, até que meu celular tocou para testar a minha paciência.

— O que é? — vociferei ao atender.

— Bom dia, Félix. — meu advogado disse já conhecendo meu humor. Eu nunca gostei muito dele mesmo, então não fazia questão de ser simpático.

— Estava sendo um bom dia, até você me ligar. Sei que vai me trazer problema.

— Só liguei para te lembrar que falta pouco para o final do seu prazo. É no seu aniversário de trinta anos.

— Eu sei exatamente quando é, e você parece que quer me ver na pior. Sem necessidade de estragar o meu dia com esse tipo de ligação. Não achou nada que invalide o documento?

— Não. Continua tudo como antes, sem saída.

— E pra que caralho está me ligando?

— Só para te avisar que o tempo está correndo.

Sem me despedir desliguei o celular e dei um tapa na mesa cheio de irritação, no entanto, quando virei-me para o lado Arabela estava parada na porta e me encarando com os olhos assustados.

— Posso voltar outra hora — falou.

— Não. — Respirei. — Desculpa...

— Eu que tenho que pedir desculpas, por entrar aqui assim...

— Você está linda — mudei de assunto e avistei em sua mão a caixinha da joalheria.

Vendo que eu olhava para o objeto, ela falou:

— Você tem algo a ver com isso?

— Depende, se você gostou sim, se não gostou, não.

Ela abriu um sorriso enorme, que atingiu meu coração.

— Eu amei! E o bilhete... me emocionou. A rosa é linda demais — Fiquei me sentindo o melhor homem do mundo. —, mas não posso aceitar o colar.

— Por quê? Não gostou?

Ela riu.

— Eu amei, mas é um presente... caro. Muito caro.

Soprei, com alguns passos cheguei perto dela e disse com a voz baixa:

— Nada é caro demais para você.

— Não posso aceitar.

— Não foi caro.

— Eu sei que foi.

— Vai me fazer essa desfeita?

— Senhor Orsini...

— Félix! — a corrigi, ela sorriu e me lembrei do momento em que ela disse o meu nome, praticamente gemendo. — Aceite, comprei com muito carinho e acordei o joalheiro praticamente de madrugada.

— Você não fez isso!

Dei de ombros como se não fosse nada.

— Fiz e se você não aceitar vou devolver e ele terá perdido o seu sono à toa.

Arabela deu um sorriso lindo.

— Você é tão ruim.

— Nunca te disse que eu era bom.

— Não mesmo, porque no fundo você sabe que não é bom, você é ótimo.

— Decida-se sobre o que pensa a meu respeito, senhorita Bela — falei bem perto do seu ouvido e ela se arrepiou.

— Aqui não. — Olhou em volta, como se conferisse se alguém nos via.

— Vamos voltar para o meu quarto? Inclusive, por que me deixou sozinho nele?

— Melhor evitar que os funcionários comentem.

Bufei.

— É tão ruim assim ser vista comigo?

— Já te falei sobre a nossa ligação de patrão e funcionária.

— Uma bobagem. Agora me diga que aceita o meu presente e me deixa colocar no seu pescoço?

Arabela me olhou e seu rosto era sério como se analisasse a situação.

— Por que me deu esse presente caro?

— Nem pensei no preço, pensei que ficaria lindo no seu pescoço e apenas queria te agradar com algo bonito. Pouco importa se é caro ou barato.

— Para mim importa e ficaria feliz apenas com o bilhete. Com um presente caro assim, me sinto comprada... pelo o que tivemos.

Fiquei sério.

— Não se sinta assim. Nem toda a minha fortuna pagaria a noite de ontem.

Percebi que a tinha tocado, cruzei os braços na frente do peito e com uma sobrancelha arqueada a encarei. Como sempre me afrontava apenas com o olhar e me encarou de volta, entretanto, sua feição naquele momento era feliz e no instante em que percebi que estava quase ganhando a batalha, falei:

— Aceite o meu presente, Arabela. Juro que ele não tem outro objetivo a não ser te agradar.

Ela soltou o ar que segurava, sorriu e disse:

— Eu aceito.

Sentindo-me vitorioso, peguei a caixa da sua mão, tirei o colar dele e o coloquei em seu pescoço, depois voltei a ficar na sua frente e a encarei de perto.

Só de tocá-la já queria levá-la de volta para a minha cama.

— Você é uma mulher difícil.

— Não sou difícil, só que tenho princípios — sussurrou bem perto de mim e aí fui eu que arrepiei.

Sem me controlar, a empurrei até um canto que ficava entre uma parede e uma cristaleira e a prensei contra a parede com meu corpo, ergui o queixo dela e a beijei.

— Espero que seus princípios não me proíbam de fazer isso ou você acabará comigo.

— Talvez eu proíba.

Beijei-a de novo com voracidade, até que ela me parou.

— Félix... aqui não.

— Desculpa, mas não resisto à sua boca.

Ouvimos barulho de alguém se aproximando e nos distanciamos parecendo dois adolescentes. Logo Cecília apareceu e colocou um bolo na mesa, nos olhou e saiu com um sorriso cheio de malícia.

— Tem certeza que vai querer continuar escondido? — perguntei.

— Sim. Não dizem que escondido é mais gostoso?

Riu.

— Quer tomar café comigo ou também não pode?

— Não sei, o que você acha?

— Anda logo, mulher complicada! — A peguei pela mão e a levei até a mesa para tomarmos café juntos e ela sorriu durante o caminho.

A minha vida com a Arabela por perto era sempre mais colorida, me pegava rindo como um imbecil e cada vez mais eu a queria por perto.

Não sabia decifrar o que eu sentia, só sabia que era diferente de tudo que já vivi e se por acaso, alguém perguntasse se eu estava virando um bobo apaixonado, provavelmente a resposta seria sim.

Eu tinha um plano e ele era fazer Arabela se apaixonar por mim, no entanto, talvez o contrário já tivesse acontecendo.

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