Capítulo 13
Sábado chegou e com ele a minha folga.
Na noite após a volta do Félix, eu havia dormido como uma pedra, pois depois de tantas noites mal dormidas, enfim havia chegado a hora de dormir bem.
Tentei não pensar muito sobre nós, e sobre a chateação por ele ter passado tantos dias fora e me evitado após me beijar, porém, era impossível não admitir que a beleza dele mexia comigo.
Ver novamente seu rosto lindo, que após quase duas semanas não tinha mais marcas da luta com os bandidos, tinha feito meu corpo pedir mais dele que somente um beijo.
Mais uma vez aproveitaria a minha folga com meu amigo Zipe, tínhamos marcado de ir à praia novamente e quando cheguei à cozinha para tomar café, ele já estava eufórico e me esperando.
— Meu Deus, menino, você não desanima por nada?
— Nem um pouco. Antes de você chegar não tinha ninguém para ir à praia comigo. — Ficou pensativo. — Bom, tinha o Félix, mas ele parou e fiquei sem ninguém. — Sorriu largamente. — Agora que tenho você, preciso aproveitar.
— Tenha modos e obedeça a Bela, se ela me disser que você aprontou e desobedeceu, você não vai mais — Madalena instruiu.
— Sim, vovó.
Como da outra vez, Madalena preparou uma cesta recheada de coisas gostosas e depois do meu café, parti com o Zipe para curtir mais um dia de sol.
Assim que descemos as escadarias de madeira que levava à praia, senti a areia branquinha tocar os meus pés, ao mesmo tempo em que a brisa vinda do mar com o cheiro de água salgada tocou meu rosto e eu fechei os olhos para recebê-la.
Zipe começou a correr como o menino danado que era, com os braços abertos e imitando um avião, enquanto eu ria dele e admirava a cena.
Logo me acomodei em uma espreguiçadeira e coloquei meus óculos de sol.
— Bela, vamos na água? — Encarei sua carinha pidona e não resisti.
— Tá bom, lindinho, vamos.
Tirei o vestido soltinho que usava e fiquei apenas com o biquíni, depois tirei os óculos e Zipe e eu corremos em direção ao mar para mergulhar na água calma.
Brincamos de pegar e eu mal conseguia correr de tanto que ria do Zipe, além de ficar para trás por ser sedentária, brincamos também de quem chegava mais rápido na margem e claro que o Zipe ganhou.
Quando já estava exausta, avisei ao menino que voltaria para a espreguiçadeira, que não ficava longe de onde ele estava, e que podia continuar na água que eu ficaria de olho nele de fora.
Torci meu cabelo enquanto andava e balancei as mãos para me livrar da água em excesso, já na espreguiçadeira coloquei novamente meus óculos e me sentei de frente para o mar, observando o Zipe brincar.
Logo vi o menino balançando a mão em um aceno feliz e eu retribuí achando que era para mim, no entanto, fui surpreendida por uma voz grossa e uma presença imponente se acomodando na espreguiçadeira ao lado.
— Bom dia. Posso aproveitar o sábado com vocês?
Encarei o homem lindo ao meu lado e Félix estava sem camisa e óculos de sol, usava uma bermuda curta azul-marinho e foi difícil me controlar para não babar no seu abdômen marcado, juntamente com suas pernas torneadas que me deixaram sem ar.
— Bom dia. A praia é sua... literalmente.
— Não é minha, só a propriedade que é... e as espreguiçadeiras e os quiosques e a lancha e os jets skis.
— Exibido. — Riu.
— E então, posso ou não posso?
— Claro que pode.
— Viu,
Dei um sorriso amigável e ficamos em silêncio, olhando para o Zipe que nadava sozinho.
— Fazia tempo que eu não descia aqui. Antes de você chegar, eu estava desenvolvendo certa raiva do mar. Não entendia por que isso depois de anos do acidente. O mar não me alegrava mais e aos poucos parei de vir. — Riu sem vontade. — Coitado do Zipe, ficou sem companhia, mas agora, graças a você estou de volta.
— Não sei se tenho algo a ver com isso.
— Por que acha que estou aqui? — Me olhou e engoli em seco.
Quando Félix me dizia coisas como aquelas meu corpo reagia imediatamente.
Não conseguia ver seus olhos por causa dos óculos escuros e foi bom ele também não ver os meus, porque estaria escrito o quanto sua fala tinha mexido comigo.
— Acho que não foi exatamente por minha causa e sim que você só precisava de um amigo.
— Foi você.
Silêncio.
— Consegue contar como foi o acidente? — perguntei e em resposta ele assentiu e começou a falar.
— Teve uma pane no motor, a lancha ficou desgovernada e bateu em alta velocidade de encontro ao píer da praia em que estávamos indo. Os dois... meus pais... — Engoliu. — Morreram na hora e eu fiquei uma semana internado com duas costelas quebradas por alguns destroços que me atingiram. — Apontou para a sua costela, onde vi uma cicatriz de uns dez centímetros que até então não tinha notado.
— Sinto muito.
— Eu também.
Ficamos em silêncio novamente até que ele disse:
— Depois de dez anos ainda dói, mesmo querendo matar os dois no momento, mas depois que você apareceu muita coisa mudou para mim e em mim. Não sei explicar.
Raiva dos pais...
— Como eu disse, você precisava de um amigo. A amizade pode ajudar em muitas situações.
— Sim. — Voltamos a olhar o Zipe no mar.
— Desculpa por ter te beijado e estragado a nossa amizade — pediu com a voz rouca que me arrepiou.
— Não estragou. — Eu olhava apenas para o mar. — Se você não tivesse feito, eu o faria. — Vi que ele virou a cabeça para olhar em minha direção e eu não o encarei.
— O que é engraçado?
— Ham?
— Você sorriu.
— Ah, nada. Pensamentos...
Félix assentiu com um sorriso curioso nos lábios e voltamos a olhar o mar.
— Senhor Orsini... — falei ainda olhando.
— Félix — me corrigiu e eu sorri. Gostava de provocá-lo.
O encarando me lembrei do momento em que voltei, louca de tesão, de volta para ele na noite do beijo. Queria contar, queria que ele soubesse que voltei, que tinha gostado e relembrado o beijo por todos aqueles dias que ficou longe, até mesmo tinha sonhado em repeti-lo. Então sem muito pensar comecei a contar:
— Eu voltei para a biblioteca naquela noite...
— O quê? — praticamente gritou.
— Na noite do beijo... cheguei no meu quarto, me arrependi e voltei.
— Voltou?
— Voltei.
O vi apertar os lábios.
— Por que voltou?
Suspirei.
— Por você, mas infelizmente você não estava mais lá. — A intensidade era presente entre nós.
Queria saber no que ele pensava e provavelmente Félix também gostaria de saber o mesmo sobre mim, no entanto, uma voz vinda da água nos tirou do momento:
— Ei, vocês dois! Venham para água.
Sorri, me levantei em um pulo e ia para a água quando ele me segurou.
— Ainda não terminamos.
Sorri.
— Vou para a água, você não vem?
Soltei-me, corri em direção ao mar e mergulhei para tirar o calor que meu corpo sentia por conta da conversa anterior, depois joguei água no Zipe que respondeu jogando em mim também, até que não demorou, Félix se juntou a nós e jogou água no Zipe.
— Posso brincar também?
— Claro, patrão. — Zipe jogou água de volta.
Foi um momento de alegria e descontração, nunca vi Félix daquela maneira e ele parecia genuinamente feliz.
Quando já havíamos comido todo lanche da cesta e estávamos muito cansados de brincar na água e fora dela, decidimos subir de volta para a mansão.
No caminho o Zipe disse que aquele era o dia mais legal de sua vida e saiu correndo na frente para contar para a sua avó.
— Ele ficou bem feliz, né? — quebrei o silêncio.
— Eu também e nem tenho oito anos, apesar de Clóvis me chamar de menino.
Sorri e continuamos andando mais um pouco até que Félix convidou:
— O que acha de assistirmos ao filme hoje?
— Filme?
— A adaptação do livro.
— Não esqueceu o nosso combinado?
Sorriu.
— Nem por um minuto.
— Mentiroso!
— Tá, talvez por um minuto, mas você topa?
— Topo.
Ficamos em silêncio e andamos assim até a mansão, mas o meu corpo estava gritando, em chamas, excitado e fazendo planos para aquela noite com Félix.
Ao nos despedirmos no corredor que levava para o meu quarto e ele para o elevador, Félix me perguntou:
— Que horas te espero?
— Não sei... talvez à noite?
— Por mim podemos assistir agora.
Sorri.
— Então tá bom, vou tomar banho e depois assistimos.
— Quer almoçar? Posso pedir para levarem algo para a sala de filmes.
— Comi tantos lanches da Madalena que ainda estou um pouco cheia.
— Eu também.
— Gosta de doce?
— Sou uma formiga.
— Então deixa comigo que vou pedir para o pessoal da cozinha preparar algo para a nossa tarde.
Tentei disfarçar, mas talvez a minha cara entregou que eu estava pensando algo desagradável.
— O que foi? — Félix perguntou.
— Nada, só que... fico com vergonha, por talvez pensarem mal de mim ao saberem da nossa aproximação.
— Ninguém vai, porque aqui todos te amam e também se alguém pensar deixe que pense. — Passou o dedo de leve no meu rosto e piscou um olho em meio a um sorriso lindo, que tive que me controlar para não suspirar.
— Aonde vamos assistir?
— Conheceu a minha sala de filmes?
— Ah, o seu cinema particular? Sim.
— Então te espero lá em... uma hora?
— Combinado. — Sorri.
— Até mais tarde.
— Até.
Comecei a andar em direção ao meu quarto e senti os olhos do Félix nas minhas costas, ao mesmo tempo em que parecia que uma revoada de borboletas estava tomando conta do meu estômago.
Dessa vez não vou passar vontade e hoje o Félix não me escapa!
Entrei no meu quarto, fechei a porta e corri me preparar para a tarde no escurinho do cinema.
Depilei, hidratei e coloquei a minha melhor lingerie.
.
.
Félix
Rever Arabela foi muito melhor do que imaginei. Voltei um tanto arredio e esperando um reencontro cheio de falta de tato e constrangimento, no entanto, Arabela e eu voltamos a ser amigos de novo.
O que foi como um safanão, para me mostrar que eu não precisava da vida que havia levado na última semana, pois percebi que só de olhá-la e trocarmos algumas palavras, o prazer e a sensação de bem-estar que sua presença me causava, os dias de orgia não chegavam nem perto de proporcionar algo parecido.
Tomei banho, me arrumei para a nossa tarde de filme e prometi para mim que me comportaria, não avançaria o sinal e iria devagar com a nossa relação.
Por mais que ela tivesse me dito que tinha voltado para mim na noite em que nos beijamos, não significava que naquele dia ela estava a fim também, então manteria tudo no campo amigável.
Perto do horário combinado fui para a sala de filmes e já tinha pedido para os funcionários arrumarem tudo para mim, tanto o filme quanto os comes e bebes e depois nos deixarem a sós, que se caso eu precisasse, os chamaria.
Fiquei andando de um lado para o outro, como se fosse um adolescente ansioso esperando a sua garota. Seguido a esse pensamento lembrei-me que nunca quis ficar de casal, mas se a Arabela quisesse, eu queria.
Corrigi-me lembrando que aquele era um programa de amigos.
Estava sonhando acordado relembrando o momento em que ela disse que havia voltado por mim quando Arabela entrou devagar na sala e chamou a minha atenção para a entrada.
Linda...
Usava um vestido florido na altura dos joelhos e chinelos, já seus cabelos estavam amarrados em um coque, com alguns fios soltos que caíam por seu ombro. Parecia completamente à vontade e para mim estava incrivelmente linda. Bela.
— Oi!
— Oi, entra e fica à vontade.
— Você é muito metido, com este cinema em casa.
Sorri sem graça, porque meu dinheiro algumas vezes me deixava tímido.
— Não vou dizer que não é nada demais, porque sei que boa parte da população não tem uma sala de filme como esta.
— A casa dos meus pais inteira, provavelmente, caberia dentro deste cômodo.
Arabela estava olhando para cima, como se admirasse tudo.
— Gostaria de conhecer seus pais.
— Você ia adorá-los e eles a você. São uns lindos, de bem com a vida, casados há anos e parecem namorar até hoje.
— Meus pais eram exatamente assim. Sempre de bom humor, apaixonados e cheios de gracinhas um com o outro e comigo. Viviam pregando peças. — Ri sem vontade, pensando na última que me deixaram.
Ela apertou os lábios, meu olhou como se sentisse minhas dores e eu mudei de assunto, porque não queria que nosso momento seguisse para esse lado.
— Olha, vem dar uma olhada se você gosta do que pedi para prepararem para nós.
A chamei para ir até uma espécie de bar que ficava no canto da sala, onde meus funcionários haviam arrumado tudo.
— Que delícia!
— Pode se servir. Tudo seu. — Inclusive eu, quis completar, mas achei melhor não.
Parecendo uma criança com os olhos brilhando ao ver os doces, sentou-se na poltrona alta de frente para o balcão, pegou um morango e mergulhou no ganache, depois o levou à boca e o chupou.
Engoli em seco e tive que usar todo meu autocontrole para manter meu pau adormecido depois de ver aquela cena. Uma cena tão simples, mas que a minha mente pervertida vagou ao ver seus lábios cheios, em torno do morango vermelho e foi inevitável não imaginá-los em torno de outra coisa.
— Você está bem? — Arabela perguntou.
— Sim! — respondi de imediato.
— Come também, isso está uma delícia.
Pegou outro morango, mergulhou na ganache e apoiando a outra mão embaixo para não sujar, colocou em frente à minha boca.
— Prova.
Abri a minha boca para receber o morango e sem querer ela tocou meu lábio superior e depois chupou o dedo para lamber o pouco de chocolate que tinha nele.
Porra!
Tive que mudar o olhar de lado para me manter um homem respeitador e não avançar para cima dela ali mesmo.
— Gostoso, né?
— Sim. — Eu parecia um idiota e só sabia responder sim para tudo que ela dizia ou perguntava.
— Parece que duas crianças que vão assistir ao filme, considerando o banquete de guloseimas que você organizou.
— E quem disse que não somos um pouco criança?
— Eu posso até ser, mas você... no início achei que era um velho ranzinza de cem anos.
Gargalhei.
— Não vou te julgar, porque acho que realmente essa é uma boa descrição para como eu era antes de virar seu amigo. "Como eu era antes de você" — Fiz aspas quando usei o nome do filme que íamos assistir na minha sala. — Agora olha para mim, vou assistir um romance e comer chocolate.
Ela riu.
— Eu gosto de você ranzinza.
— Gosta, é? — Arabela assentiu, sorrindo. — Sendo assim, posso virar uma fera, às vezes, se você quiser.
— Gosto, mas prefiro que você seja um príncipe. — Ri, pensei que estava longe de ser um e ela continuou: — Apesar de que já vi um meme, que depois que a Disney criou A Bela e a Fera, qualquer animal se acha príncipe.
Gargalhei.
— Espero que não seja meu caso e que eu esteja mais para fera mesmo.
— Não é seu caso e você está mais para um príncipe.
Senti-me tímido e mudei de assunto:
— Vamos ver o filme?
— Vamos. — Bateu uma palma, animada.
Começamos a andar em direção às poltronas e falei:
— Só me promete que não vai chorar de novo.
— Vou chorar.
Ri e a acusei:
— Chorona.
— Sou e não nego.
Acomodamo-nos um ao lado do outro na segunda fileira de poltronas, que ficavam em frente ao telão e apertamos os botões para deixá-las mais confortáveis, depois ajustei o ar-condicionado e apaguei a luz para que a sala ficasse iluminada apenas pela claridade do filme.
Apertei o play e começamos a debater as semelhanças e as diferenças do livro para a adaptação em filme. Eu sempre dizia que imaginava algo diferente e ela às vezes concordava e às vezes discordava de mim.
Senti vontade de me aproximar dela, mas aquele braço da poltrona que nos separava estava me irritando, mesmo eu querendo me manter respeitoso, queria que ela ficasse mais perto de mim, além de que notei que Arabela não parava de se mexer, como se algo a incomodasse, foi então que poucos minutos tinham passado quando sugeri:
— Que tal se tirássemos o braço que separa as nossas poltronas? Acho que vamos ficar mais confortáveis e teremos mais espaço.
— Por mim tudo bem.
Com um gesto fácil tirei o maldito braço que nos separava e poucos minutos depois notei Arabela virar para o meu lado, naturalmente ficando próxima ao meu ombro, com isso aproveitei a deixa e sendo uma pessoa carinhosa, totalmente sem segundas intenções, ergui o braço para que ela deitasse em meu peito.
Imediatamente o toque da sua mão sobre mim, fez meu corpo todo reagir e dei graças por a sala estar escura ou ela notaria como seu toque me deixava.
O perfume do seu cabelo invadiu meu olfato e me trouxe lembranças da biblioteca, dos seus lábios macios e do seu corpo sob o meu.
Imaginei o que podia ter acontecido naquele dia se eu estivesse lá quando Arabela voltou e fiquei duro como uma rocha com o pensamento obsceno que me atingiu. Até tive que me mexer para tentar aliviar a vontade que eu estava de virar meu corpo sobre o dela e saborear cada pedacinho da sua pele.
Engoli meus pensamentos e eu nem sabia mais de porra nenhuma que acontecia no filme, se ela me perguntasse algo provavelmente eu responderia apenas "hum".
Ambos estávamos tão silenciosos que até parecia que Arabela pensava o mesmo que eu ou estava muito concentrada no maldito filme.
Foi então que me tornei o cara mais sortudo do mundo quando Arabela me pegou de surpresa, virou seu corpo sobre o meu, montou-se sobre mim e com uma mão de cada lado do meu rosto me beijou de modo intenso e sexy pra caralho, fazendo meu pau pulsar dentro do short.
Caralho! E eu pensando em me segurar para respeitá-la.
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