Capítulo 11
Mais um dia em que acordei cansada, pois fiquei a noite toda repensando a leitura com o Félix e mal dormi. Quando acordei relembrei a história do livro e me senti ansiosa para saber mais do que ia acontecer com os personagens e também para novamente interagir com o Félix.
Era incrível como ele era agradável, simpático e até engraçado, em nada lembrava o homem intragável que conheci nos meus primeiros dias morando ali.
Peguei-me pensando se não estava indo rápido demais com a intimidade, afinal, naquele momento ele estava se tornando meu amigo, mas antes disso era o milionário para quem eu trabalhava e podiam pensar que eu era uma interesseira ou sei lá...
Talvez, na leitura daquela noite eu pudesse colocar uma distância entre nós, ir mais devagar com a intimidade e nos manter em um campo seguro e respeitável.
Depois de me arrumar para mais um dia de trabalho, passei na cozinha bem rapidinho para pegar um café e logo segui para o escritório. Seria mais um dia enfurnada em uma sala e cheia de coisas para fazer.
Quando eu soube como seria o funcionamento de tudo aqui, achei que fosse estranhar a rotina de trabalhar e morar no mesmo lugar, entretanto, eu estava adorando. Era prático, como trabalhar em home office, com a diferença de que eu me arrumava todos os dias como se realmente fosse sair e a mansão era tão grande que o simples fato de ter que sair do quarto para o escritório, era como se eu realmente estivesse deixando minha casa para trabalhar.
Algumas horas mais tarde eu já havia terminado de conferir a folha de pagamento dos funcionários e quando fui conferir alguns documentos, notei que precisavam de assinaturas do Félix, com isso, fui até seu escritório e assim que apareci na porta o encontrei no telefone, demonstrando estar muito irritado.
Não demorou até que me viu parada na porta segurando os papéis, então com um aceno me mandou entrar, olhou os documentos e de imediato percebeu do que se tratava. Rapidamente assinou e me entregou, sem tirar o telefone do ouvido.
Para não o incomodar, com um aceno rápido me despedi, sem conversar ou dizer uma só palavra, então em resposta Félix me lançou uma piscada em meio a um rosto sério que qualquer mulher normal molharia a calcinha ao ver esse gesto.
Andei em direção à porta, mas antes de sair o ouvi dizer: "vou dar um jeito e encontrar uma saída, mas não vou fazer isso com qualquer mulher". Achei melhor apertar o passo e sair logo da sua sala para que não ouvisse mais da sua conversa.
Na hora do almoço, assim que apareci na cozinha fui recebida por olhares insinuadores, que me fitavam com atenção. Bem, mais atenção que o habitual e mais atenção do que mais cedo quando passei para pegar o café.
— O que foi, meninas?
— Bom, Clóvis nos contou que você e o Félix estão ficando amigos — Madalena ria.
Juntei as sobrancelhas e sorri para as caras estranhas que me faziam.
— Sim, depois do que passamos, não tinha como não nos tornarmos.
— Seria muito bom se Félix namorasse, sempre foi tão ranzinza que alguém em sua vida o faria bem — Viviane pensou alto.
— Ei, vocês acham que eu e o Félix... — Notei seus sorrisos antes que pudesse terminar a pergunta e conclui que sim, elas estavam cogitando um envolvimento amoroso entre Félix e eu. — Não! Nada a ver, não inventem coisas onde não tem. Nos tornamos amigos, apenas amigos.
— Mas de uma amizade pode nascer um sentimento mais forte, sentimentos são fáceis de mudar, Arabela — Cecília disse sonhadora, citando o trecho de uma música.
— Meninas, não vejam romance onde não tem. Clóvis é um fofoqueiro.
— Ouvi meu nome? — O mordomo fofoqueiro entrou na cozinha.
— Sim, o senhor me parece muito fofoqueiro. — Ele deu um sorriso largo.
— Não sou fofoqueiro, minha querida, apenas fiz um comentário sobre algo pelo qual sinto um enorme apreço e torço para que se torne real.
Ri balançando a cabeça em negativo.
— Mas sinto lhe informar que não vai.
— Está bem — concordou, mas vi um sorriso em seu rosto que dizia o contrário. — O tempo é algo precioso e que coloca tudo no lugar.
Depois de tanta falação decidi me servir e quando me sentei para comer, Zipe entrou alegre na cozinha e gritou quando me viu:
— Bela!
— Oi, garotão! — o cumprimentei já recebendo um abraço caloroso como os que ele dava em Félix sempre que o via.
— Bela, o patrão me contou mais cedo, que vamos à praia no final de semana e que você vai também.
— Olha, vamos ver se tem sol e se tudo der certo nós vamos. — Tentei não deixar nada muito certo, entusiasmar o menino para depois o decepcionar se der errado.
— Vocês ficaram amigos?
— Sim — respondi e coloquei uma garfada de comida na boca, meio que para não ter que responder mais nada.
— Oba! Bem que ele estava mais feliz hoje. Nem brigou com Paulo, por não ter cuidado direito da Meia-noite.
— Deixa a Bela almoçar, filho, porque ela tem que voltar ao trabalho — Madalena repreendeu o neto, pegou um chocolate e deu ao menino. — Toma, vai brincar e daqui a pouco você tem que fazer dever de casa. — Zipe nem se despediu e saiu feliz com seu chocolate, como se para evitar o assunto lição de casa.
Depois de mais conversa aleatória com as meninas e com o Clóvis, terminei o almoço e voltei para o escritório, onde fiquei o resto do dia.
Não vi mais o Félix até encerrar o expediente, o que foi ruim, pois não sabia como estava o seu humor, principalmente após vê-lo naquela ligação que pareceu irritá-lo demais. Com isso, fiquei em dúvida se ele ia querer a leitura que tínhamos combinado para aquela noite. Talvez tivesse algo para resolver.
Pensei também que ele podia não ter gostado do tempo que passamos juntos ou podia estar cansado e enquanto tomava banho e depois, enquanto trocava de roupa, fiquei pensando em como eu saberia se ele estava ou não disposto a ler.
Cogitei mandar mensagem em seu telefone, que eu havia anotado no meu celular para caso houvesse alguma emergência na mansão, mas achei muito invasivo, já que não tinha sido ele quem tinha me dado o número.
Por fim, decidi ficar no quarto e para passar o tempo conversei com a minha amiga, que me contou que tinha feito a maior loucura da sua vida e cantado para uma multidão. Cindy tinha uma voz linda e eu fiquei feliz que a tivesse mostrado para mais pessoas que não apenas para mim, no entanto, fiquei preocupada, pois sua avó não gostava que ela cantasse e se soubesse daria um escândalo.
Tentei acalmar minha amiga e a aconselhei manter o sigilo e se caso chegasse aos ouvidos de sua avó, falei para que ela criasse coragem e assumisse a sua vontade de cantar. No final da nossa conversa ela me disse estar com saudade e sentindo a minha falta e eu respondi que logo nos veríamos de novo.
Logo nos veríamos... ao pensar nisso também pensei que para ver Cindy ou eu teria que encerrar o contrato de trabalho e voltar ou ela teria que vir me ver. Eu estava gostando tanto de estar ali, que encerrar o contrato não era uma opção.
Lembrei-me do motivo da minha alegria com meu trabalho e rapidamente Félix me veio em mente. Já passava das oito da noite sem ter nem um movimento seu sobre a nossa leitura.
Ele podia ter ligado ou pedido para alguém me chamar, mas nada. Me senti triste, pois eu havia gostado tanto do momento que passamos juntos e achei que ele também tivesse.
Certa hora me deu fome e resolvi ir até a cozinha ver o que as meninas tinham deixado para a noite. Coloquei um short larguinho, uma camiseta casual e amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo alto, depois calcei os chinelos e quando abri a porta para sair, me surpreendi ao dar de cara com o Félix parado no corredor.
Encaramo-nos e eu meio que não sabia o que dizer, então ele perguntou:
— Me abandonou? — Seus olhos pareciam irritados e também surpresos, como se não esperasse que eu abrisse a porta naquele momento.
— Achei que não quisesse...
— Eu quero e estava te esperando — falou rapidamente.
— Você estava nervoso quando nos vimos mais cedo e pensei que talvez não estivesse num bom dia para a leitura.
— Justamente por isso preciso da leitura hoje, preciso de um... me acalmar. — O encarei e antes que eu pudesse dizer algo, ele perguntou: — Você não quer ler? — Seu rosto parecia tomado por ansiedade, talvez, e até tristeza.
— Quero... Quero sim.
Ele sorriu.
— Então vamos? — Fiquei feliz e ri da sua ansiedade. Félix queria o nosso momento tanto quanto eu.
Fechei a porta atrás de mim e sorrindo o perguntei:
— Posso só comer algo antes? Estou morta de fome.
— Vamos, eu também estou.
Começamos a andar pelo corredor e curiosa o perguntei:
— Por que estava parado no meio do corredor?
— Estava pensando qual era o seu quarto.
— Veio me procurar?
— Sim.
— E por que não bateu quando encontrou.
— Eu não encontrei, estava ali pensando qual daquelas portas era a do seu quarto e como faria para achá-lo, além de estar pensando no medo de que Clóvis ou Madalena me encontrassem ali e arrancassem o meu couro.
Rimos.
— Não pensou em usar o celular para me achar?
— Não.
— Félix! Você vive na vida moderna. — Riu parecendo leve e seu sorriso me fez rir.
— Você me deixou desnorteado.
— Eu?
— Sim, você.
— Não vejo por quê.
— Por ter me abandonado. — Fez cara de triste e eu ri.
— Não te abandonei e não vou te abandonar.
— Jura?
— Juradinho! Amigos não abandonam.
Olhou-me sem dizer nada, sorri para ele que me sorriu de volta.
Às vezes, um sorriso e um olhar podem dizer mais que palavras e eu esperava que ele notasse isso.
.
.
Félix
Por mais que fosse injusto jogar o peso de me tirar e colocar na escuridão em Arabela, não tinha como não fazer, pois percebi que ela era o meu ponto de luz naquele momento em que mais uma novidade ruim havia aparecido para me estressar. E a nossa amizade era o que me impedia de voltar a beber como um louco e a ter pensamentos em que eu mandava tudo à merda, até mesmo a minha vida.
Fiquei andando de um lado para o outro na biblioteca, esperando ansioso por ela, pelo momento em que passaria pela porta e me recompensaria com um sorriso e quando notei que Arabela não chegaria, esbravejei e me xinguei alto por permitir que em tão pouco tempo a presença dela me fazer tão bem e a ausência me deixar irritado.
Decidi procurar saber o que aconteceu e saí da biblioteca para procurá-la. Nunca fui de ir atrás de mulher nenhuma, eram elas sempre que apareciam aos montes aos meus pés e me bajulavam a todo o momento, querendo não a mim, mas o meu dinheiro.
Andei pelo corredor sem saber direito onde encontrá-la, não sabia qual era o seu quarto e nunca, até aquele momento, me interessei em saber qual era o quarto dos funcionários. O medo de bater no quarto da Madalena ou do Clóvis me assombrava.
No entanto, enquanto eu estava parado no meio do corredor e pensando como encontrá-la, Arabela abriu a porta e, por sorte, eu estava parado de frente para o quarto dela.
Só podia ser o destino!
Conversamos e me senti aliviado quando notei que tudo não passou de um mal-entendido e ela queria nosso momento tanto quanto eu, no entanto, me assustei com o quanto já estava viciado em sua companhia e até me senti carente por não ter mais ninguém como amiga, que não fosse ela.
Fizemos um lanche enquanto ríamos do nosso desencontro maluco por suposições e depois fomos para a biblioteca.
— Onde paramos? — perguntou.
Peguei o livro sobre a mesa, que tinha a página marcada por uma folha qualquer que eu havia colocado nele na noite anterior.
— Paramos na parte em que a protagonista é explorada pela família, briga com o namorado pé no saco e tenta convencer o patrão que ele tem motivos para viver.
Arabela colocou a mão na cintura e perguntou:
— Você não está gostando do livro?
— Estou, mas coitada dessa moça.
Riu.
— Sim, nisso você tem razão. Mas vamos voltar à leitura?
— Vamos!
Animado me deitei no sofá e novamente bati no lugar ao meu lado, para que Arabela deitasse no meu braço, entretanto, notei certa relutância em seu olhar. Pareceu analisar o local, até que se acomodou ao meu lado, mas não deitou, apenas sentou-se ereta, como se não quisesse se encostar.
— Algum problema? — perguntei.
— Não, mas prefiro... ficar sentada. Acabei de comer.
Estranhei a sua justificativa, mas fiz sua vontade e sentei-me ao seu lado para começarmos a ler.
Lemos páginas e mais páginas, debatemos, rimos e conversamos um pouco durante a leitura. Nisso, eu só conseguia pensar o quanto a protagonista era enrolada com tudo e me irritava com ela, já Arabela a defendia dizendo que era uma boa pessoa.
Com o passar do tempo, fomos cansando de ficar sentados e naturalmente Arabela foi se aconchegando, eu a puxei para perto e logo estávamos os dois deitados.
Acomodada em meu braço ela lia as páginas para mim, pois reclamei que não conseguia enxergar as letras tão longe. Sua voz era delicada e eu ria quando Arabela queria mudar a voz conforme as falas dos personagens ou fazia algum comentário no meio da leitura, do tipo: "que idiota" "não acredito" "Ai, meu Deus".
Era mais de meia-noite quando já estávamos muito depois da metade do livro e nos encaminhávamos para o final.
— Temos que ir dormir? — Acreditei que Arabela estivesse afirmando, mas sua afirmação saiu mais como uma pergunta.
— Você quer ir?
— É que eu queria tanto saber como é o final.
— Então vamos terminar o livro.
— Você não está cansado?
— Não.
— Tem certeza?
Sorri da sua insistência.
— Sim.
— Então vamos terminar. — Voltou a deitar no meu braço e a ler para mim.
Horas depois estávamos no final do livro, havíamos apenas feito uma pausa para um chá e trocamos as posições para que eu lesse também, mas naquele momento quem lia era ela.
A voz da Arabela estava cada vez mais embargada com a conclusão do livro e quando chegou o momento decisivo, em que a morte de um personagem se tornou real, ela começou a chorar compulsivamente a ponto de não conseguir ler.
Sorri, fiquei com pena, peguei o livro de sua mão e a abracei, depois continuei lendo para ela até que o final chegou, encerrando a história com a leitura de uma carta que o personagem que morreu deixou.
Arabela chorava quietinha no meu ombro, quando falei:
— Fim.
— Ai, que triste. Eu não aceito esse final — falou, se levantando do meu ombro e enxugando uma lágrima depois que se sentou. — Eu não acredito que ele escolheu morrer.
— Têm pessoas que, às vezes, preferem a morte à realidade que vivem — falei, ficando sério, fechando o livro e me levantando para guardá-lo na estante, ao mesmo tempo em que me lembrava das tantas vezes que desejei ter morrido junto com meus pais ou depois, quando fiz muitas loucuras e arrisquei a minha vida na intenção de perdê-la. — Têm dores que é pior que a morte.
Arabela não notou que eu estava falando da minha história e disse:
— Não aceito essa morte.
Virei-me para ela que já estava de pé perto de mim e seus olhos estavam inchados pelo choro, assim como seus lábios.
Sorri e a puxei para perto, depois limpei seu rosto.
— Não fica assim é só um livro.
Ela me olhou, meio sorrindo.
— Não é só um livro, é o pior livro que li. Me desgraçou, me fez soluçar de chorar e eu amei... e odiei. Por que ele morreu? — sua voz estava embargada de novo.
Ri e a puxei de novo para um abraço.
— Se foi tão intenso, fico feliz que tenha lido comigo.
— O livro foi ótimo, mas você foi a melhor coisa da leitura — percebi que pareceu falar sem pensar e se arrependeu imediatamente, porque ficou paralisada em meu abraço, então para mostrá-la que não estava sozinha no sentimento, falei:
— Sinceramente, a leitura nem estava me importando, eu estava aqui mais pela companhia.
Arabela se afastou e me olhou sem dizer nada, encarei seus olhos de volta e depois desci até a sua boca que estava tão chamativa a ponto de me deixar louco para beijá-la.
Senti minha respiração acelerada no momento em que eu pensava se seguia em frente e a agarrava ou me afastava.
Eu sabia que se provasse da sua boca seria um caminho sem volta, no entanto, pensei que o caminho já estava desse modo desde que coloquei meus olhos nela. Com isso, em segundos pensando entre avançar ou recuar, avancei e a puxei para um beijo.
Lentamente senti sua boca na minha enquanto meus lábios experimentavam a textura dos seus, que estavam macios pelo choro.
Minhas mãos a puxaram para mais perto, quando meus braços se entrelaçaram em sua cintura a levando de encontro ao meu corpo e com calma e delicadeza, enfiei a minha língua em sua boca.
Com uma dança lenta e sexy as nossas bocas se conectaram, assim como nossos corpos, que com o abraço apertado era como se eu quisesse entrar dentro dela. E eu queria.
A queria tanto e não tinha certeza que a queria dessa maneira, até vê-la tão linda e atraente, parada bem na minha frente depois de dizer que gostava da minha companhia.
Devagar e, passo a passo, ao mesmo tempo em que nos beijávamos, empurrei seu corpo com o meu até que chegamos de volta ao sofá. Com cuidado a deitei nele e pousei meu corpo sobre o seu, me acomodando no meio das suas pernas e ali era o céu.
Coloquei minha mão na sua nuca, embrenhando meus dedos nos seus cabelos, e senti seu corpo quente embaixo do meu, esfreguei a pélvis de encontro ao local onde ficava seu ponto mais sensível, fazendo com que Arabela soltasse um pequeno, quase inaudível, gemido de encontro à minha boca, o que me fez arrepiar de tesão.
Parecia rápido demais e ao mesmo tempo parecia no momento certo. Eu não sabia por que estava a querendo tanto, mas sabia que queria e isso era o que interessava.
Suas mãos entraram por baixo da minha camisa e me apertou como se pedisse mais, com isso notei que ela me queria também, que me desejava.
Tirei a camisa a dando livre acesso ao meu corpo e vi em seu olhar o desejo queimar, mas após alguns minutos em que nos aproveitávamos, suas mãos entraram entre nós e me afastaram, imediatamente deixando o vazio tomar conta do espaço que antes estava seu corpo.
— Espera... isso não é certo.
Encarei-a.
— Por que não? Somos livres.
— Somos patrão e funcionária.
— E o que que tem?
— Acabamos de nos conhecer e nem tem um mês. — Arabela me afastou e se levantou. Eu passei a mão no rosto em frustração e ela continuou a falar: — Acho melhor continuarmos apenas amigos.
Porra! Apenas amigos é pra foder.
— Eu quero... — Deixou a frase inacabada, parecia envergonhada e não saber ao certo o que queria.
— Tudo bem, eu entendo e peço desculpas... Entendi errado e... não vai mais acontecer.
Sentia-me um merda.
— Você não entendeu errado. — Ela estava me confundindo.
Era difícil entender as mulheres ou eu era um asno. Ela queria então?
— Conversamos depois, Félix.
Arabela encerrou o assunto, eu assenti e estava frustrado a ponto de nem conseguir encará-la, mas a respondi:
— Claro... até depois.
Em seguida virou-se de costas e saiu da biblioteca, me deixando com a cara do homem mais idiota do mundo.
Foda-se! Melhor assim.
Virei-me em direção a uma mesa no canto, em que ficavam algumas bebidas e me servi de um copo generoso de uísque.
Mal Arabela havia deixado a biblioteca e já senti sua ausência, então ao contrário de mais cedo, deixei a escuridão me tomar e lembrei-me de uma fala do Clóvis em que ele dizia que eu tinha que fazer o que meus pais me pediram.
Não queria que a minha vida fosse assim, mas se sempre, mesmo quando eu tentava fazer tudo certo, eu voltava para a escuridão, então o que me restava era isso.
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