Capítulo três
Capítulotrês
Ricardo
Voltei para casa andando e anestesiado com o que eu tinha acabado de viver. O meu reencontro com a Talita foi tão repentino e inesperado quanto podia ser. Sorri feito um bobo.
Muitas vezes imaginei como seria quando eu a visse de novo um dia, me perguntava se sentiria o mesmo que senti há anos ou tudo já teria passado, mas percebi que não, não havia passado e estava tudo ali.
Quando me mudei pensei que só estava me afastando ainda mais desse momento, que estava indo para longe dela e até mesmo estava esperando uma ligação da Marilia a fim de passar o meu novo endereço para a Talita mandar os presentes da Talia, sem saber que na verdade, eu estava caminhando em sua direção.
Cheguei em casa e tentei fazer a parte burocrática do meu trabalho. Essa era uma das condições que eu exigia da empresa: que eu tivesse horários flexíveis e que pudesse trabalhar à distância para assim conseguir cuidar da minha filha, então por eu ser um bom funcionário eles me deixavam livre para fazer meu horário, desde que o serviço estivesse em ordem.
Eu sempre havia conseguido seguir a jornada tripla de pai, dono de casa e trabalhador, porém, não foi o que aconteceu naquele dia, fiquei avoado e perdido em pensamentos causados pelo reencontro inesperado, que passei a maior parte do tempo olhando para o nada e decidindo como lidaria com a quarta parte da minha vida que eu tinha deixado de lado por um longo tempo, a parte amorosa.
Minha cabeça estava a mil e sempre que eu tentava focar no relatório que eu estava redigindo, me perdia pensando na Talita e me perguntava como a minha vida tinha se encaminhado para junto da dela de novo, parecia coisa de Deus, do destino ou parecia que estávamos sendo unidos mesmo quando tentávamos nos afastar.
Será que realmente era tão errado quanto eu imaginava que era no passado? Porque naquele momento eu pensava que não.
O que mais me assustava, era que depois de cinco anos eu não me sentia mais tão culpado como no passado e até me sentia tentado a conquistá-la.
No final da tarde, quando me preparei para buscar minha filha, eu me sentia ansioso para saber como Talia tinha se saído no seu primeiro dia na escola nova e também estava ansioso, com um sorriso insistente no rosto, um frenesi no corpo todo e um frio na barriga por rever a Talita.
Assim que os portões da escola se abriram para que os pais pegassem seus filhos, eu me encaminhei a passos rápidos para a sala onde mais cedo tinha deixado a minha Talia e logo avistei uma pequena fila de pais se formando em frente à porta.
Um a um, cada pai foi pegando seus filhos e saíram em seguida, mas quando chegou a minha vez, um tanto sem graça a Talita pediu que eu esperasse um pouco, que ela precisava falar comigo, sendo assim, deixei os outros pais passarem na minha frente, enquanto via a minha Talia andar até mim com um sorriso radiante em seu rosto.
— Papai, a professora fada madrinha é muito legal, meus amiguinhos também e eu amei a escola. — Minha pequena estava animada e seus olhinhos brilhavam. Pela primeira vez desde que chegamos, eu estava verdadeiramente feliz com a mudança.
— Que ótimo, filha! Quero que me conte tudinho.
— Vou te contar. E, papi, já tenho uma melhor amiga, a Sofia.
— Viu, te falei que você faria novas amigas.
Ela balançou a cabecinha em positivo de maneira animada e ficamos esperando a Talita terminar de entregar os alunos para os pais. Até que logo ela nos chamou para entrar na sala e começou a falar:
— A Talia se deu super bem no seu primeiro dia. Já é amiga de todo mundo na sala. — Olhou para a minha filha, que a retribuiu seu sorriso. — Tenho uns recados para te passar que a coordenadora me orientou. — Ela me entregou umas folhas. — Aqui tem alguns materiais que você precisa providenciar, regras, horários e um questionário sobre a saúde da Talia que você precisa preencher com alergias, problemas de saúde, etc. caso tenha. Como ela entrou no final do primeiro semestre, logo entraremos em recesso e na segunda-feira teremos reunião de pais.
— Ah, legal — falei olhando para os papéis.
— Achei ótimo você trazê-la hoje, mesmo sendo sexta-feira.
— Soube que era dia de brinquedo e achei que seria mais fácil ela se enturmar em um dia como esse.
— Foi exatamente o que aconteceu. — Talita sorriu e ficamos em silêncio.
— Papai, eu prometi para a professora fada madrinha que ia mostrar pra ela que ainda tenho todos os livros que me deu e pedi para que ela os lesse para mim. Pode ser hoje?
Olhei para a Talita, um tanto sem expressão, porque eu queria que ela fosse em casa e até que tivesse mais contato com a sua afilhada. Contudo, eu não sabia como estava a sua vida pessoal, então falei:
— Sim... seria um prazer e se quiser pode levar outras pessoas. — Mantive tudo em um campo seguro.
— Não tenho outras pessoas... ainda.
Nos encaramos e o seu "ainda" fez um leve aperto passar por meu peito.
Um dia isso aconteceria.
— Então, Prô, por favorzinho. Vamos lá em casa? — Minha filha juntou as duas mãos como se estivesse implorando. — O papai faz o jantar. Ele é bom nisso.
Ela sorriu e pareceu em dúvida. Eu queria mais da companhia da Talita também, mas, além disso, eu queria que ela aceitasse, pois eu adoraria que Talia tivesse uma figura feminina para se inspirar.
— Infelizmente hoje tenho compromisso — respondeu, passando a mão carinhosamente no rosto da Talia. — Mas se o seu pai deixar, poderíamos ir ao shopping amanhã. — Ela me olhou como se pedisse permissão e eu encarei seus olhos verdes.
Talita ainda era tão bonita quanto me lembrava. Tinha um sorriso simpático, daqueles que você sente vontade de fazê-la sorrir só para vê-lo. Seus cabelos, ao contrário de cinco anos atrás que eram compridos, naquele momento estavam na altura do ombro, lisos e com uma franja que a deixava com um ar inocente. Seu corpo ainda era perfeito e mesmo estando coberto pelo jaleco de professora, que tinha seu nome bordado no peito, eu ainda assim conseguia ver suas coxas grossas na calça apertada que usava.
— Seria ótimo! A Talia precisa de um pouco de influência feminina e você é a madrinha dela — falei, olhando apenas em seus olhos ou ela notaria que eu estava a desejando.
Nos encaramos por alguns segundos, até que ela quebrou o silêncio:
— Então posso passar para pegá-la por volta das três ou quatro da tarde?
— O horário que for melhor para você.
— Me passa o número do seu telefone para que eu possa te avisar.
Ela me entregou seu aparelho para que eu anotasse o meu número nele e logo o entreguei de volta.
— Ficaremos esperando você ligar.
— Ligarei. — Me encarou com seu sorriso doce e eu estremeci, com a sensação que percorreu meu corpo em resposta a ele. Eu estava sentindo uma espécie de alegria, adrenalina e atração que estava difícil de controlar.
Talia se despediu com um abraço e eu acenei sem graça, dizendo um "até amanhã".
Na ida a pé até em casa, fui conversando com a minha filha que tagarelava sem parar.
— Eu amei a professora fada madrinha e ela é tão linda, né, papai?
— Sim, linda.
— Acho que vocês podiam namorar.
— E eu acho que você é muito pequenininha para dizer essas coisas. — Ela riu e mudou de assunto, animada começou a contar sobre os novos amigos.
Enquanto a minha filha falava, pensei que até ela com sua inocência, via em Talita e em mim um casal. Sorri.
Me lembrei de quando nós dois éramos amigos e de como era divertido, o quanto tínhamos coisas em comum e como era bom pensar em ter aquilo de novo. Com esse pensamento, decidi que o mínimo que eu buscaria era ser seu amigo novamente e, com toda certeza, decidi também que o que eu menos queria depois de todos os anos longe, era me afastar de Talita e se fosse para ter algo a mais que amizade, eu estava preparado e em busca para receber todos os bônus que a vida me oferecesse vindos dela.
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