Capítulosete

Ricardo

Inicialmente eu não entendi a saída repentina da Talita da casa da Marilia, mas quando ela saiu, Marilia me olhou com os olhos em chamas e sussurrando, para que Talia não ouvisse, me xingou e aí eu entendi tudo. Ela deve ter ouvido minha resposta cretina.

Achei que Marilia não soubesse sobre a atração que Talita e eu tínhamos um pelo o outro, que na verdade não era só atração e sim um sentimento, por isso mencionei a Rebeca, na intenção de saber se Marilia tinha algo contra Talita e eu nos relacionarmos, já que foi amiga das duas. No entanto, descobri que no início, quando Talita se mudou ela entendia a culpa, mas que naquele momento ela também achava que devíamos ficar juntos e que o destino também queria assim, já que nos uniu novamente sem que planejássemos.

Quando soube de tudo me senti um idiota e pensei que Talita devia estar me achando um mentiroso, com isso, me despedi de Marilia e quando cheguei em casa liguei para Talita incansáveis vezes, não sendo atendido em nenhuma, até que ela desligou o celular.

No dia seguinte, tinha reunião de pais e ela seria obrigada a falar comigo, então depois de passar a noite em claro pensando na minha vida, decidi que faria de tudo para mostrar a Talita que eu a queria sim para sempre comigo e éramos muito mais que amigos.

Cheguei à escola e me dirigi à sala da Talia, que tinha tido aula mais cedo e durante a reunião ficou brincando na brinquedoteca da escola. Assim que Talita me viu, me disse um bom dia sem sentimento e sem me olhar nos olhos me indicou onde sentar, depois voltou a olhar para os papéis, como se eu não tivesse nenhuma importância para ela.

Eu não tirava meus olhos dela e quanto mais a olhava, mais via que era linda e que eu a queria.

A reunião começou e Talita não me olhou em nenhum momento, eu queria sentir seu olhar em mim, queria que visse que a minha atenção era toda dela, mas nem uma vez sequer ela me olhou.

Os recados eram todos sobre a turma, sobre o recesso escolar que começaria no final daquela semana e sobre o presente de dia dos pais e a apresentação das crianças que teria logo no retorno das aulas.

No final da reunião eu deixei que todos os pais tirassem as suas dúvidas e saíssem antes de mim, para que quando eu fosse falar com ela estivéssemos a sós. Eu sabia que Talita estava no seu trabalho e não era o melhor lugar para conversarmos, mas eu precisava dizer para ela que éramos muitos mais que amigos e eu só tinha dito aquilo para preservá-la, por achar que Marilia não sabia de tudo.

— Pode assinar aqui, por favor. Na frente do nome da Talia. — Ainda sem me olhar, Talita deixou uma folha e uma caneta sobre a mesa, quando viu que me aproximei.

— Me desculpa? — perguntei e enfim ela me olhou. — Eu não sabia que Marilia sabia de tudo e preferi manter em um campo seguro... para te preservar.

— Tem certeza que foi isso? Porque todas as dúvidas e medos que eu tinha no passado voltaram a me assombrar.

Peguei sua mão e ela fechou os olhos.

— Eu tenho certeza que é você que eu quero.

— Você me quer ou quer apenas suprir o tesão reprimido por anos?

— Eu quero você inteira para a minha vida e para a vida da Talia. Quando você está por perto ilumina nossa vida.

— Agora que a Talia entende e me ama, não me afastarei da vida dela de novo.

— E quanto a mim? — Engoli para dizer que eu também a amava, mas eu nem sabia o que eu sentia e se era amor, paixão ou realmente apenas atração, porém, eu sabia que era algo a mais que apenas carnal e que eu queria para sempre.

— Preciso de um tempo.

— Talita...

— Não faz nem uma semana que nos reencontramos e foi tudo rápido demais. Só preciso de um tempo.

— Pergunte para a Marilia, eu disse para ela o quanto eu te quero.

Talita não respondeu e notando que ela não diria mais nada, falei:

— Tudo bem — não era o que eu queria e com o coração apertado continuei a falar: — Só não foge de novo, vou estar te esperando.

Saí da sala e mesmo contrariado e a querendo a cada segundo, dei o tempo e o espaço que ela precisava.