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Querer e não poder


Mariana

Que ódio!

Que ódio que estava sentindo de mim!

Eu não devia estar me sentindo assim por ver que o João estava seguindo em frente, eu devia estar feliz, afinal, ele estando com outra, não seria uma tentação para mim e aí o meu casamento sairia. Mas o coração não é enganado tão fácil assim e o meu estava apertado, me mostrando que não estou preparada para dizer adeus.

— Você podia ao menos disfarçar.

— O quê? — perguntei para a Isa, que falou baixo para que só eu a ouvisse.

— Você está nitidamente irritada.

— Não estou.

— Está. E você sabe que está passando por isso por que quer.

— Não quero nada! E não é assim tão simples.

— Deixe de ser tão manipulável, dê um foda-se para tudo que te prende e se joga na melanina do negão. — cutuquei ela para que ficasse quieta e ri alto.

— Van, tem mais vinho? — perguntei para a minha cunhada que pediu para empregada buscar.

— Você não achou essa Mônica sem graça? — minha amiga perguntou baixo mais uma vez.

— Ela é bonita.

Isa fez uma careta.

— Não igual a você. E não combina com o meu amigo.

— Não mesmo.

— Só você combina com o João.

— Eu vou me casar!

— Com o João? — Isa perguntou mais alto do que deveria.

— O que tem eu? — João perguntou.

Isa pareceu pensar e falou em seguida:

— Estávamos falando de primeira vez e a Mari acabou de me contar que a dela foi com você.

— Isabela! — chamei a atenção da Isa e senti meu rosto pegar fogo.

João não disse nada, mas vi um sorriso sem graça, e ao mesmo tempo exibido, em seu rosto, no pequeno instante em que a minha vergonha me permitiu o olhar.

No mesmo minuto, Mônica se afastou para atender ao celular e voltou instantes após, com um olhar triste.

— Pessoal, agradeço a noite, mas terei que ir embora. Houve um problema na família e precisam de mim. — ela anunciou.

— Ahhh... Que pena. — Isa falou ironicamente e levou um cutucão do marido.

— Nossa que ruim. É algo grave? — Vanessa perguntou.

— Não, coisa simples de família, mas como sou a filha mais velha, eu que resolvo. — Mônica riu sem jeito.

— Eu te levo. — João cavalheiro como sempre, se ofereceu para levá-la e eu me irritei com o cavalheirismo dele.

— Não precisa. Meu irmão está aqui perto e já está vindo me buscar.

Mônica se despediu de nós e João decidiu sair para levá-la até a saída. Não tinha se passado muito tempo quando ele voltou. Podia ter ido embora com a amiguinha.

— Ahhhh, que pena a amiguinha foi embora. Tá triste, João? — Isa perguntou sorrindo e ela tinha bebido demais, pois a fala estava arrastada.

João apenas sorriu, não respondeu e emendou numa conversa com Jean e Miguel. Então Isa sussurrou para mim:

— Foi tarde. Agora o João é todo seu.

— Para, Isabela!

Ela riu e eu continuei:

— Vocês agem como se o Breno não existisse e eu fosse solteira.

— E ele existe? Não o estou vendo aqui. E outra, que noivo apaixonado, em sã consciência, deixa a noiva linda organizar sozinha o casamento e viaja para longe?

— Não é assim, ele...

— É assim sim, Mari. Ele tinha que estar aqui com você.

Preferi não debater com ela que Breno tinha que estar no escritório em Portugal, mas a sementinha da discórdia já tinha sido plantada pela Isa e aí me pus a pensar que se ele realmente quisesse, poderia passar até seis meses longe do escritório. Se quisesse.

Arghhh... Eu tinha que parar de pensar. Eu estava confusa e todo o álcool que ingeri, estava me deixando mais.

— Vamos embora, meu bem? — Jean chamou a Isa.

Ahhh... Tão cedo. — Minha cunhada Vanessa reclamou, já com a voz levemente alterada e tirou sorrisos do meu irmão.

— Acho que alguém bebeu demais. — Miguel deu um beijo na Van e tirou a taça da sua mão.

— Todos nós. — Isa ergueu a taça para o Miguel, deu mais um gole e Jean, sorrindo, tirou a taça de sua mão logo em seguida.

— Sim, todos nós. — ele concordou com a esposa. — E quero ver quem vai cuidar do Arthur amanhã, já que nós dois estaremos de ressaca.

Isa fez uma careta.

Entre reclamações da Isa e da Van, que não queriam encerrar a noite, Miguel e Isa se despediram de nós e se levantaram para sair, com a promessa de um novo encontro em breve. Minha amiga ria muito e estava um tantinho bêbada, o que nos fazia rir também. Assim que eles se foram, avisei ao meu irmão que eu também precisava ir embora.

— Eu te levo. — logo João se ofereceu e claro que eu que não queria que ele me levasse. Só ia me levar por que a bonita dele já tinha ido. Caso contrário, ele não estaria nem aí para como eu iria embora.

— Não precisa. — respondi rispidamente e muito irritada. Mais do que deveria. O que estava acontecendo comigo?

Vi que João, assim como eu, não entendia o motivo da minha ira e fez sinal de desentendimento para o meu irmão, que riu em resposta.

— Deixa o João te levar, Mari. — Miguel falou.

— Eu chamo um táxi. Vim de táxi, volto de táxi.

— Eu trouxe um capacete a mais, posso te levar.

— Claro que trouxe! Você tinha companhia!

Eu estava com ciúmes. Estava com raiva de mim por estar sentindo esse ciúme infantil, de alguém que nem era nada meu. Mas ter o visto com outra, desde a hora que cheguei estava me fazendo ficar com o coração apertado e com uma sensação de perda.

— Vai com o João, Mari. Tenho certeza que você vai gostar muito mais de ir grudadinha nele, do que em um táxi com um desconhecido. — Vanessa falou rindo e sua voz saiu meio enrolada. Acho que João foi o único ali, que não vi beber tanto. Eu bebi sem moderação. Não iria embora dirigindo mesmo. Talvez seja por isso que estou me sentindo assim. Só pode ser a bebida aumentando tudo.

— Vou esperar o táxi lá fora. — Falei, dei um beijo no meu irmão e na minha cunhada, Passei pelo João, o lancei um olhar reprovador e segui para a saída. Da porta, antes de sair, ouvi um pouco da conversa deles, quando o João perguntou:

— O que eu fiz?

Vanessa riu e falou:

— Que bonitinho esses dois né, amor?

— Amigo, vai lá levar a minha irmã até em casa e descobre.

Parei de ouvir a conversa deles e eu estava irritada. Meu irmão e cunhada não podiam estar incentivando isso! Eles tinham que dizer para o João ficar o mais longe possível de mim. Eu tinha Breno! Andei rapidamente até o portão e pedi para que o segurança ficasse comigo até que o táxi chegasse.

Eu estava levemente ou totalmente alcoolizada.

Não demorou muito e percebi a presença do João ao meu lado, vi quando ele em um meneio de cabeça, indicou para o segurança que ele podia ir e assim ele fez, nos deixando a sós, para a minha perdição.

— Vamos comigo? — falou e parecia com medo da minha reação.

Eu só o olhei, voltei a olhar para frente e ele falou novamente:

— Cancela esse táxi, eu te levo.

Ainda não respondi.

— Eu estou aqui disponível. Não tem necessidade de você ir de táxi.

Sorri sem vontade e por fim decidi falar.

— Está disponível agora.

Ele me olhava sem entender.

Mariana para de demonstrar tanto ciúmes! Me repreendi mentalmente.

— Por que você está tão brava comigo?

Fechei os olhos, soltei o ar e não queria assumir nem para ele, nem para mim, que o motivo da minha ira, era por ele estar com outra que não era eu. Sendo que eu mesma, tenho outro e ainda vou me casar com ele. Assumindo isso, vejo o quanto eu estou sendo egoísta.

— Desculpa, João. Eu não sei, mas sei que...

— Você não queria que eu estivesse com a Mônica. — ele completou a frase.

Assenti envergonhada.

— E você acha que eu queria que você estivesse noiva?

Não tive coragem de olhá-lo, mas respondi:

— É tudo tão complicado, se dependesse de mim...

— Mas depende de você!

— Não só de mim. Tem muita coisa envolvida.

— Inclusive eu. Você não acha que mereço um pouco da sua consideração?

Soltei o ar, cansada.

— Eu não acho nada, eu não sei de nada. — esfreguei o meu rosto mostrando sinal de confusão.

— Desculpa não queria te cobrar nada.

— Não está me cobrando, mas não sei o que eu quero. — internamente eu sabia exatamente o que eu queria. Queria ficar com o João.

— Se não sabe o que quer, então me deixa seguir. — ele falou alto, parecendo cansado, irritado e ofendido.

— Não! — eu gritei.

— Então fica comigo. — ele gritou.

Eu fechei meus olhos, suspirei e João sussurrou sedutoramente:

— Você só precisa me dizer sim e serei completamente seu.

Meu corpo todo queria dizer sim.

Sim...

Minha vontade era dizer que sim. Que era ele que eu queria e sempre quis. Que eu ainda o amo, que ele era a minha escolha... Mas o Breno me veio à cabeça, sem que eu pudesse impedir. Virei- me para o João e o encarei sem dizer nada.

— Um sim. — falou dando mais um passo em minha direção.

Olhos nos olhos... Eu tinha que colocar um fim...

Ele passou a mão no meu rosto, fazendo borboletas voarem no meu estômago...

Eu tinha que colocar um fim...

João chegou mais perto...

Eu tinha que colocar um fim...

Aí eu o agarrei e o beijei.

Eu sabia que não podia, eu sabia... Mas o desejo e a vontade de sentir seus lábios nos meus, suas mãos em mim e seu corpo tão junto ao meu, falou mais alto, aí eu avancei sobre ele. Suguei seus lábios em busca do meu prazer, segurei seu rosto entre as mãos e o seu beijo era tão bom... Era o melhor... Porque eu o amava... Eu o amava!

Contudo, lembrei-me novamente o motivo pelo qual não posso amá-lo e me separai dele rapidamente como se ele desse choque.

— Não. Não posso... Não posso! — fechei os olhos.

— Você pode! — vi o desespero em seu olhar e o quanto ele me queria também.

— Não posso! Não posso e não depende só de mim. Não posso fazer isso com o Breno.

— Mariana. — Ele disse me olhando intensamente.

Lágrimas brotavam em meus olhos.

— Acho que já tivemos nossa chance e ela já passou. Eu quero... — engoli o caroço que se formava em minha garganta. — Não, não posso deixar o Breno assim.

— Então mais uma vez você prefere me deixar? — seu rosto parecia carregado de dor e eu estava um misto de vontade de jogar tudo para o alto e me jogar nos braços dele. Eu lutava contra o sentimento de ter que cumprir um dever.

João deu um passo em minha direção novamente, mas eu o parei.

— Não quero te deixar, mas é muita bagagem e muito que enfrentar. — lágrima escorreu pelo meu rosto. — Ficar com você exigi muito e eu sou uma covarde.

O táxi chegou.

— Então é assim? Você cumpre regras e é o fim? Você tem certeza disso?

— Eu não tenho certeza de absolutamente nada. Não, na verdade a única coisa da qual eu tenho certeza, é de que eu não quero ser a causadora do sofrimento de ninguém.

Virei-me para ir em direção ao táxi, mas ouvi a voz dele me dizer antes que eu entrasse:

— Então não seja a causadora do seu.

O olhei com um olhar triste e entrei no banco de trás do táxi. Não o olhei mais, mas segui ainda sentindo o gosto do seu beijo, seu cheiro na minha roupa e a vontade de ser dele invadindo cada centímetro do meu corpo, mas de uma coisa eu tinha certeza: o meu coração já era inteiramente dele, desde anos atrás e seria sempre.

Para sempre.

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