Têm alegrias que não duram para sempre, assim como nenhum choro é infinito.

Prólogo

— Pai? Eu serei pai? Eu não estou acreditando, Aline!

— Sim, eu estou grávida. — Minha namorada balançava o papel com o resultado do exame de um lado para o outro, até parecia um pouco confusa, entretanto, seu sorriso vacilante era feliz. Eu a beijei, me abaixei e beijei sua barriga no meio da rua.

Estávamos juntos há apenas um ano e apesar de pouco tempo já planejávamos nos casar no final daquele mesmo ano e a notícia da gravidez, mesmo surpreendente e antecipando nossos planos, era uma notícia bem-vinda.

— Eu não queria que fosse assim, mas estou feliz — falou, emocionada.

— Eu também, meu amor, e eu sou o homem mais feliz do mundooo! — gritei, sorrindo. Além de feliz eu estava mais extrovertido, risonho e mais falante do que eu era.

Naquele mesmo dia liguei para os meus amigos de infância e os chamei para comemorar conosco a grande novidade e Ricardo e Jackson, junto com suas namoradas, foram animados até o restaurante em que havíamos combinado. Aline e eu estávamos acomodados em uma mesinha que ficava na parte externa do estabelecimento e quando todos chegaram se juntaram a nós.

Brindamos algumas vezes e eu nunca achei que uma notícia tão repentina me deixaria tão feliz, nunca me imaginei pai e apesar disso eu estava radiante, porém, antes mesmo que eu pudesse me acostumar com a felicidade, do lado de fora do restaurante e inicialmente vindo de longe, começamos a ouvir o som de sirenes se aproximando e antes que pudéssemos raciocinar e muito rapidamente o som chegou onde estávamos e com ele, bem a nossa frente, apareceu um carro fazendo a curva bruscamente e se perdendo nela.

Barulho de pneus cantando, seguido de tiros e gritos vindo dos carros, foi o que nos assustou e fez com que a nossa volta começasse uma grande correria.

Rapidamente percebi que polícia não parava de trocar tiros com os assaltantes e foi um desses tiros que em um segundo tirou de mim a alegria de viver, no momento em que uma bala perdida passou por mim sem me atingir e mesmo eu protegendo minha namorada com meu corpo, a bala a atingiu e pegou em cheio em seu peito.

Aline caiu como que em câmera lenta e eu já nem ouvia mais os tiros ou as sirenes na rua, não pensava se eu estava seguro ou se os tiros continuavam, apenas olhei em seus olhos que já estavam sem foco e repetidas vezes tentei acalmá-la dizendo que tudo ficaria bem, pedindo que ficasse comigo, mas Aline com dificuldade me respondia, com um fio de voz e com os olhos já perdendo o brilho que eu amava:

— Fica bem, está tudo bem... Está tudo bem... Está... Fica...

Até que depois disso nada mais ficou bem, a família que eu estava pronto para construir foi tirada de mim em um segundo e com ela foi meu sorriso, minha alegria, minha vontade de viver e tudo que eu sonhei.

E de mim foi tirada até a vontade de sonhar.