Capítulo 7
Capítulo sete
Coloquei um brinco de argola, fiz uma maquiagem leve e coloquei uma calça jeans com uma blusa de pano fino, preta e de mangas compridas. Dei um passo para trás e me avaliei antes de enfim descer para esperar o Mateus e, para a minha alegria, fiquei feliz com o resultado.
Eu não estava parecendo doente a não ser por meu cabelo um pouco ralo, mas que disfarcei colocando uma tiara e o penteando para trás, pelo menos eu ainda tinha cabelo, talvez por a quimioterapia não ser a mais forte eu não havia precisado raspar careca ainda. Eu me achei bonita.
Quanto tempo eu não colocava um salto?
Desci as escadas que davam para a sala e logo dei de cara com o Mateus me esperando e ele estava ainda mais lindo do que eu o via diariamente, usava uma calça preta e uma camisa jeans de mangas longas e de botões e estava com as mãos nos bolsos da calça, olhando janela afora. Quando notou a minha presença, se virou para mim e abriu um sorriso lindo.
— Quem é você, mulher, e o que você fez com a minha amiga? — Eu ri e dei uma voltinha depois de descer o último degrau da escada.
— Gostou?
— Você está linda.
— Obrigada, mas não exagera, estou arrumadinha.
Ele ergueu uma sobrancelha para mim como quem me dissesse apenas com o olhar que eu estava enganada e para mudar de assunto e já me sentindo com vergonha, perguntei:
— Cadê seus pais?
— Advinha?
— Não vão?
Ele balançou a cabeça em positivo.
— Disseram que vão ficar vendo a novela, que sair à noite em uma quinta-feira para eles é cansativo e que é para a gente se divertir por eles.
— Ah, que pena!
— Essa cara de decepção é por que vai sair só comigo?
Ri.
— Não, é que eu queria mesmo que eles fossem, mas me contento só com você — falei, ri do meu deboche e ele riu de volta.
— Não estou valendo nada mesmo, viu! Vamos?
— Sim.
Saímos da sala e a caminhonete do Mateus estava parada ali perto, entramos no carro, ele o ligou e ligou o rádio que começou a tocar a música Pra você guardei o amor do Nando Reis e Ana Cañas, depois com o carro em movimento seguimos pela estrada de terra, em silêncio enquanto a música tomava conta do ambiente.
Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir
Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir [..]
— Adoro essa música — falei.
— Eu também.
— Você é romântico? Isso é novo para mim.
— Ei, não desdenhe do meu lado doce.
— Se você tivesse um lado doce, com certeza já teria comido, porque você sempre foi uma formiga. — Ele riu e respondeu:
— Eu sou inteiro um doce. Um doce de pessoa.
— Também acho. — Ele tirou os olhos da estrada e me olhou com um sorriso convencido, enquanto olhei para fora do carro e me senti envergonhada.
[...] Guardei Sem ter porquê
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar
Achei
Vendo em você
Explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar[...]
Ele cantou essa parte da música baixo e percebi que sempre a ouvia e prestei atenção na letra que tinha acabado de tocar e nas estrofes a seguir:
[...] Pra você guardei o amor
Que aprendi vem dos meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que o arco-íris
Risca ao levitar [...]
Contive um suspiro e pensei que se Mateus amasse alguém essa pessoa seria sortuda de tê-lo, pois certamente o teria por completo e intensamente, porque ele sabia como agradar, era realmente um doce de pessoa e amável como ele só.
Chegamos no bar e Mateus por todo tempo foi muito cavalheiro: me ajudou a descer do carro me estendendo a mão que eu aceite de bom grado, depois sem soltá-la ele me guiou até a mesa que já havia reservado com antecedência e sempre me dava a preferência para passar, colocando a mão levemente na minha cintura para me guiar até o local onde íamos nos acomodar.
Assim que nos sentamos um garçom foi até onde estávamos, pegou nossos pedidos e ao me ver pedir um suco Mateus também pediu o mesmo, com isso pensei que talvez fosse para que eu não me sentisse mal por não poder beber algo alcoólico.
O lugar era bonito, com paredes cinzas como se estivessem sem acabamento, mas as luminárias por todo o ambiente davam um tom acolhedor e aconchegante, assim como as cadeiras acolchoadas na cor vinho. As grandes janelas de vidros que iam do chão ao teto davam o toque sofisticado ao local.
Nossa mesa ficava próxima ao pequeno palco onde o cantor se apresentaria, mas no momento em que chegamos apenas tocava uma música baixa nos alto-falantes espalhados pelo bar.
— Que lindo este lugar.
— Também acho, já estive aqui algumas vezes quando vim visitar o pai e a mãe. Até cheguei a me encontrar com o pessoal do tempo da escola.
— Ah, que legal. Imagino que você deva ter sido muito popular na escola pelo o que dona Zilda disse sobre você ser mulherengo.
Ele riu.
— Um pouco. Com as meninas.
— Sem vergonha! E ainda assume. — Fiz cara de abismada e ele riu ainda mais.
— E você?
Dei de ombros.
— Eu sempre fui mais tranquila, a Sheila que era da pá virada, como diz nossas mães. — Ri. — Eu meio que penso que não tive motivos para viver intensamente, sabe? Sempre fui muito tranquila quanto a tudo, não lembro de ter sofrido por amor e quando os poucos relacionamentos que eu tinha terminavam, para mim eles apenas terminavam. Eu não me lembro de sofrer.
— Estranho você me contar esse seu lado desligada para o amor, porque sempre te achei tão delicada e romântica.
— E sou muito romântica. Adoro um livro de romance.
Ele riu.
— Tô rindo, mas te entendo, porque tenho a mesma impressão, apesar de eu nunca nem ter tido algo que chegasse perto de um relacionamento.
— Mas por que não?
— Simplesmente não apareceu ninguém.
Franzi a testa como se não acreditasse.
— Lindo desse jeito e não apareceu ninguém?
— Me acha lindo?
Fiquei com vergonha, mas não fugi e respondi:
— Acho.
— Você também é linda.
Assenti, sorri e continuei o assunto sem demonstrar que eu tinha amado o elogio e que ouvi-lo dizer fez muito bem a minha autoestima, com isso o contei:
— Já eu, o último que tive acabou logo quando eu descobri a doença, como te contei, eu sofri mais pela situação, por pensar que ele me deixou por eu estar doente e pensei que têm pessoas que só gostam das outras enquanto elas estão inteiras. Mas também logo me recuperei e dei graças a Deus, pois eu não conseguiria viver em paz pensando que a pessoa só estava comigo por pena.
— Mas ele foi um verdadeiro babaca.
— Você ficaria com alguém por pena?
— Não, mas pelo o que você me contou ele estava com você há um tempo, ou seja, era para gostar de você e se tinha algum sentimento não tinha que ter te deixado em um momento difícil. Foi covarde.
— Talvez ele nem gostasse de mim mesmo. Nunca fui tão atraente a ponto de alguém me amar e mudar sua vida por minha causa.
Ele ficou em silêncio, limpou a garganta e disse:
— Tenho certeza que sim, você só não o enxergou ainda.
— Devo ser cega então, porque foram muitos anos entre escola, faculdade e vida de balada e ninguém nunca apareceu, fora o babaca do Alexandre.
Ele riu.
Nossa atenção foi tomada quando o dono do bar pegou o microfone e anunciou o cantor. A banda de três pessoas começou a tocar uma batida calma, o cantor assumiu o microfone e o público aplaudiu.
Percebi que o cantor era mesmo bem popular ali e era claro que as pessoas já o conheciam pelo modo como o receberam. Depois de se apresentar para os que eram novatos no bar, como eu, eles começaram a tocar Só hoje da banda Jota Quest.
— Amo essa música — falei e Mateus riu em resposta.
Cantei e curti música após música, cada uma que era cantada ali me lembrava de momentos da minha vida em que fui muito feliz, além de que o cantor era ótimo e sua voz tocava o coração.
Vi que diversas vezes Mateus me encarava sorrindo, como se estivesse contente em ver que eu estava me divertindo e eu realmente estava, naquele momento eu até esqueci que eu estava doente e me senti jovem de novo.
No final da noite quando o cantor encerrou a sua apresentação, eu estava extasiada.
— Gostou? — Mateus perguntou quando o cantor deixou o palco.
— Se eu gostei? Eu amei! Agora entendo por que ele é tão popular aqui. Com essa voz linda só podia ser mesmo. — Ele riu e eu o lembrei de alguns momentos que certas músicas cantadas lá me lembraram da nossa infância: — Eu não acredito que ele cantou , essa música me lembra tanto de quando o meu pai tocava quando a gente era criança, lembra? — Eu estava realmente muito empolgada.
Mateus assentiu.
— Se eu soubesse que você ia gostar tanto, a gente podia ter vindo antes.
— Ah, eu gostei e com certeza virei de novo... viremos? — perguntei, depois de perceber que eu estava animada até demais.
— Claro, quando você quiser. — Sorri satisfeita.
Logo o local começou a esvaziar e decidimos ir embora também. Mateus fez questão de pagar o que consumimos e depois fomos para a saída do bar onde um manobrista trouxe o carro.
Sendo novamente muito cavalheiro Mateus abriu a porta para que eu entrasse, correu para ocupar o banco do motorista e enquanto eu o via fazer isso fiquei observando o carro e senti que até os bancos de couro pareciam levar o cheiro do dono. O cheiro que me fazia tão bem.
Mateus entrou e assumiu o banco ao meu lado e vendo-o ali, tive que comentar.
— Esse carro é muito bonito.
Ele sorriu.
— Você acha? Eu me orgulho muito de tê-lo.
— Tem cara de carro de homem fazendeiro.
— Só me falta a fazenda, mas logo eu conquisto.
Eu sorri para ele e Mateus logo ligou o carro.
— Eu tenho tanto orgulho de você — falei, ele me olhou rapidamente e respondeu:
— É reciproco.
Assenti e como se para ocupar o silêncio que ficou entre nós, Mateus ligou o rádio e pulou umas músicas até chegar na
Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar[...]
— Podemos ir? — me perguntou e eu um tanto desligada apenas balancei a cabeça em afirmativo e continuei aproveitando a música, então Mateus falou: — Não podemos não, mocinha. — Com isso, veio para bem perto de mim, ficou a centímetros da minha boca e a minha respiração falhou, meu coração intensificou a batida e imaginei que ele fosse me beijar, mas Mateus apenas se aproximou de mim para pegar o cinto de segurança, o passou por mim e o afivelou. — Prontinho, agora podemos ir, você está segura. — Piscou.
Minha respiração voltou e o meu coração retomou a sua batida normal.
O que você pensou, Liara sua burra? Que vergonha!
Fiquei me xingando mentalmente e pensando que eu devia estar muito carente para imaginar e até mesmo desejar que Mateus tivesse me beijado.
[...]Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será
Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras[...]
Somente a música era ouvida dentro do carro, depois quando ela acabou outra começou, até que chegamos em casa e durante o caminho todo eu realmente estava rezando para Mateus não ter notado o meu momento de carência, humilhação e vergonha.
Passamos pela casa dos seus pais que ficava bem na entrada do sítio e as luzes já estavam todas apagadas, com isso imaginei que eles já estivessem dormindo por causa do tardar da hora.
Andamos com o carro mais alguns metros pela estrada que tinha palmeiras de ambos os lados e o caminho levava até a casa.
Quando o carro parou em frente à escada que levaria até a porta da frente, Mateus me perguntou:
— Você está cansada ou com sono?
Balancei a cabeça em negativa sem entender a pergunta.
— Fica comigo mais um pouco?
Assenti, mas parecia que eu tinha perdido a fala pela surpresa de não saber o que ele estava planejando ou pela vergonha e o desejo que senti por ele há pouco.
Com a minha resposta positiva, Mateus continuou descendo a estrada de terra por mais alguns metros dentro do sítio e com a sua caminhonete grande só o ronco do motor era ouvido. Quando a estacionou próxima do lago, ele desceu e dando a volta no carro foi até a minha porta e a abriu.
— Vem. — Me estendeu a mão.
Tenho certeza que fiquei o olhando nitidamente sem entender, mas peguei sua mão e desci do carro, depois Mateus colocou a minha mão no seu braço, abriu a porta do banco de trás e pegou duas mantas.
Andamos em direção ao lago, ambos em silêncio e ele parecia estar pensativo e até mesmo planejando algo.
— O que estamos fazendo?
Ele sorriu.
— Quero te lembrar uma coisa.
Estávamos sendo clareados pela luz da lua que estava cheia e linda em meio ao céu estrelado. Mateus também tinha deixado os faróis da caminhonete acesos, o que iluminava por onde andávamos.
No momento que estávamos de frente para o lago, Mateus estendeu uma manta no chão onde sentou-se encostado à uma árvore, deu dois tapinhas para que eu me sentasse ao seu lado e sem esperar assim eu fiz. Me acomodei bem próxima a ele e Mateus jogou a outra manta sobre nós, fazendo com que eu me aconchegasse ainda mais ao seu corpo e para me trazer para mais perto ele passou o braço por meus ombros e eu deitei em seu peito, o que foi e acolhedor.
Ficamos assim por um tempo, em silêncio e olhando para a água serena do lago que estava a alguns metros a nossa frente. Mateus fazia círculos lentos com o indicador no meu ombro e esse carinho leve fazia o meu corpo se arrepiar.
O céu estava incrivelmente limpo e claro aquela noite e a lua cheia estava mesmo um espetáculo junto das estrelas.
— Hoje é lua cheia e se tiver lobisomem? — quebrei o silêncio falando a primeira bobeira que me veio à cabeça e ele sorriu.
— Eu te protejo.
— E se tiver sapo? — Ele sorriu novamente.
— Provavelmente ele vai ter mais medo de você que o contrário.
— Duvido, porque eu tenho muito medo dele.
— Tá, não deixo nenhum sapo chegar perto de você, medrosa.
Ri.
— Meu herói.
— Sim, o Power Ranger verde, que depois virou branco e sou o par romântico da Ranger rosa.
Fiquei em silêncio, pois na nossa brincadeira quando crianças e como já tínhamos lembrado, eu era a Ranger rosa, então mudei de assunto:
— Acho que desde que estou aqui, nunca vi o céu tão estrelado. E, Mateus, você disse que queria me lembrar de algo, o que era?
Ele respirou fundo e disse:
— Quando a gente estava vindo na estrada vi a lua e lembrei logo da nossa infância. Você se lembra que quando éramos pequenos e ficávamos olhando o céu, você falava que era a lua? — Ele apontou para a lua.
Franzi a testa, puxei na memória e sorri.
— Ah, lembro, e eu dizia que você e a Sheila eram as duas estrelas menores, porque vocês sempre me trataram como bebê por eu ser apenas dois anos menor, então quando fui escolher a brincadeira eu disse que eu era a lua, só para ser maior que vocês.
Ri com a lembrança.
— E eu sempre me senti exatamente assim perto de você.
Desencostei-me do seu peito e o encarei com a testa franzida, sem entender.
— Não entendi.
— De nós três você foi sempre a que se destacou, a que iluminava o ambiente e apesar de a Sheila ser a doida e a engraçada — Ele riu. — , para mim enquanto ela era só uma estrela, você realmente era a lua.
Fiquei sem saber o que dizer e mais uma vez a minha respiração falhou.
— Que... lindo isso... não sei o que dizer...
Ele ergueu a mão, passou no contorno do meu rosto e eu fechei os olhos ao sentir o seu toque novamente. E como da outra vez que ele o tinha feito, naquele momento também me arrepiou, entretanto, antes que eu pudesse abrir meus olhos, senti os lábios do Mateus tocando os meus.
De primeiro momento eu paralisei, eu queria tanto beijá-lo e achei que esse momento quase aconteceu tantas vezes, que quando realmente aconteceu, eu paralisei, porém, quando Mateus colocou as suas mãos uma de cada lado do meu rosto e me puxou para ele, como se quisesse muito aquele beijo, eu mexi meus lábios mostrando que eu também queria aquilo e intensifiquei abrindo meus lábios e deixando que a sua língua invadisse a minha boca.
O beijo parecia tão certo e tão perfeito, como se tivesse que ter acontecido há muito tempo.
Deixando me levar e para que ele sentisse que eu o queria, o abracei jogando meus braços pelo seu ombro e o puxando para mim.
Fazia tanto tempo que eu não me sentia viva como eu estava me sentindo naquele momento, tanto tempo que não sentia o meu coração acelerado daquele modo e pulando descompassado por alguém, tanto tempo sem sentir falta de ar por estar vivendo algo bom que eu só queria mais daquela sensação, então o beijei, beijei e beijei. Me joguei por cima do seu corpo e como uma perna de cada lado eu me sentei sobre o seu colo, enquanto ele subia e descia suas mãos pelas minhas costas, puxando o meu corpo para junto do dele.
Ali percebi como eu queria aquele beijo, como era bom me sentir viva.
Entretanto, após todos os sentimentos bons iniciais, uma sensação ruim começou a brotar devagar na minha cabeça fazendo a excitação passar e me atingiu me trazendo para a realidade no momento em que me lembrei da bagunça que a minha vida se encontrava.
Logo pensei que estava me enganando e começando algo que era certo que não teria futuro, algo que poderia me machucar depois, que me daria mais um motivo para dor na minha vida que já estava tão bagunçada, ou pior, eu bagunçaria a vida dele e eu gostava tanto do Mateus que eu não queria confundi-lo ou prendê-lo a mim que mal tinha uma perspectiva de vida ou de cura, não queria que ele se sentisse obrigado a ficar comigo quando a excitação passasse e só a rotina sobrasse.
Ele não merecia uma mulher pela metade que não podia satisfazê-lo como homem ou com um futuro, que sendo bem pessimista, eu nem sabia se tinha.
Com todos esses pensamentos borbulhando dentro de mim, coloquei a mão em seu peito e levemente o afastei, parando o beijo que eu estava gostando tanto, mas que eu não podia gostar. Eu não podia fazer isso comigo e menos com ele.
— Mateus... Nós precisamos parar... não podemos.
Ele olhou nos meus olhos e eu mudei meu olhar para não encará-lo.
— Por que não?
— Eu não posso te dar o que você precisa. — Meu peito doía e eu me sentia decepcionada naquele momento, porque não era algo que eu quisesse parar, mas sim que eu precisava.
— Eu não preciso de nada e não estou te pedindo nada.
— Não sei o porquê chegamos no ponto que estamos agora e acho que não devemos passar dele.
Me afastei um pouco mais do Mateus e saí do seu colo.
— Liara, não tem nada que nos impeça de ficarmos juntos.
— Claro que tem.
— Então me diz o que, porque eu não sei.
— Eu estou doente e eu não quero ser um fardo.
Me levantei, pensei em dizer algo mais, mas se eu dissesse mais uma palavra que fosse, eu ia chorar. Sem entender o motivo do meu coração estar tão apertado e sentindo tanto não poder continuar com o Mateus, eu me distanciei dele e comecei a andar à passos rápidos em direção à casa.
— Espera, Liara. Não vai sozinha.
Sem olhar para trás eu continuei andando quase correndo e vi quando ele largou tudo lá na grama e veio correndo atrás de mim, andou ao meu lado, parecia procurar as palavras, mas não disse nada e permaneceu assim, até que preocupado falou:
— Acho melhor você não andar tão rápido, pode não te fazer bem.
— Viu é disso que eu estou falando, você não merece estar com alguém e ter que ter esse tipo de preocupação — eu o respondi, ofegante e ainda andando.
— Mas eu me preocupo com quem eu gosto e isso não tem a ver com a doença. Eu só quero te ver bem.
— Sabe o que não me faz bem? — Parei e o encarei com os olhos marejados. — Essa doença maldita que está acabando comigo e eu não quero ter nada a mais para pensar que não seja lutar contra ela — falei tudo de uma vez e ele ficou em silêncio, então voltei a andar sendo seguida por ele e quando chegamos em casa o ouvi dizer:
— Me desculpa, Liara.
Não olhei para ele, não olhei para trás e entrei na casa, subindo as escadas correndo direto para o meu quarto e fechei a porta com força quando passei por ela.
Sentei-me na minha cama, estava ofegante e revivi toda a noite até chegar no momento em que Mateus me beijou. Com a lembrança fechei meus olhos e respirei fundo pensando o quão bom tinha sido o beijo até o momento que acabou.
Por que ele havia beijado uma amiga de infância doente?
Ele é tão lindo e pode ter quem ele quiser.
Respirei fundo mais uma vez e mais uma vez...
Tentei acalmar minhas emoções que borbulhavam dentro de mim em um misto de raiva, medo, confusão, revolta e desejo e tentei sufocar todos esses sentimentos, enquanto por todo tempo eu só pedia a Deus que eu fosse novamente uma pessoa saudável e pudesse viver intensamente tudo que a vida pudesse me dar
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