Capítulo 5
Capítulo cinco
Chegou o dia de mais uma sessão de quimioterapia e eu já estava me sentindo enjoada antes mesmo de chegar ao hospital. Mateus estava dirigindo o seu carro, que por sinal era uma caminhonete enorme e linda e mais uma vez me peguei pensando o porquê ele decidiu voltar a trabalhar no sítio. Seu carro era muito bom e para tê-lo ele tinha que ter um poder aquisitivo um tanto alto... Bom, ele podia ter juntado dinheiro, ter feito várias parcelas... Enfim, preferi me manter discreta e não perguntar mais da sua vida, já que percebi que ele não gostava muito de falar e também não era da minha conta.
Um dia antes ele tinha ido comigo ao hospital para receber a pré-químio, que era uma espécie de preparatório para o meu organismo receber a quimioterapia real e com isso diminuía os enjoos, dores de estômago e etc. E Mateus começou a ser solicito comigo já no dia anterior.
No dia seguinte chegamos na ala de oncologia do hospital e a salinha onde eu recebia a medicação era pequena, mas individual, tinham várias delas uma do lado da outra. Dentro tinha uma poltrona para mim e uma para o meu acompanhante, que ficava bem ao lado da minha e as duas poltronas eram separadas apenas pelo aparelho pelo qual eu recebia a medicação, que era pequeno e ficava suspenso em um suporte com rodinhas, como os de colocar soro. Em frente as poltronas tinham uma pequena mesa e uma cadeira e a sala era fechada por três paredes e a quarta ao invés de ter uma porta, era fechada por uma cortina.
Na parede ao meu lado tinha um relógio no qual eu conseguia contar as intermináveis horas que demoravam a passar enquanto eu recebia a minha dose de cura. Antes eu pensava que era uma dose de tormento e sempre ia chorando para a químio, mas depois me forcei a pensar diferente, pois eu estava indo atrás da minha cura e era isso que me mantinha forte a cada sessão, então mesmo quando eu desanimava e queria chorar por passar o dia no hospital, eu me forçava a pensar que era apenas uma pedra no meio do caminho e eu não ia desviar dela e sim ia chutá-la para longe.
Mateus fez bem seu papel de acompanhante e ficou o tempo todo ao meu lado, perguntando em que ele podia me ajudar, se eu estava confortável, se eu estava com fome e até abusei dele pedindo para que ele buscasse chocolate para mim, pois era a única coisa que eu tinha vontade de comer.
Em um certo momento eu estava de olhos fechados e tentando dormir, para quem sabe assim eu tivesse a impressão que a hora passasse mais rápido, pois eu e Mateus já tínhamos conversado sobre diversos assuntos e eu até achava que o estava chateando, foi então que me pegando de surpresa e talvez por pensar que eu havia adormecido, Mateus colocou sua mão sobre a minha e fez carinho com o polegar no dorso dela.
Me mantive de olhos fechados e aproveitei o carinho que há tempos eu não recebia, mas alguns minutos depois os abri para encará-lo e ele estava com os seus fechados também, como se aproveitasse o toque das nossas mãos e isso me fez sorrir. Voltei a fechar meus olhos e aproveitar o seu toque carinhoso e me sentindo mimada.
Saímos do hospital e eu estava completamente grogue e a pulseirinha vermelha que a enfermeira sempre colocava no meu pulso indicando que tinha risco de queda, sempre fazia todo sentindo após eu tomar a medicação. Me sentia tonta e enjoada e ao chegarmos em casa fui para o meu quarto carregada no colo por Mateus, mesmo eu dizendo que não precisava, mas ele insistiu, me colocou na cama e eu adormeci.
Acordei no dia seguinte ainda me sentindo sonolenta, me olhei e eu usava um pijama de alcinhas, minha calcinha e mais nada. Me assustei e não me lembrava de ter trocado de roupa, apenas de chegar e dormir.
Olhei em volta e deitado em um colchão no chão ao lado da minha cama, Mateus estava usando uma calça de moletom e uma camiseta branca, dormia tranquilamente e deve ter passado o tempo todo cuidando de mim.
Pisquei para tentar entender o que estava acontecendo e fiquei com pena do Mateus ter que passar por aquilo e assim como todos a minha volta, mudar seus planos para cuidar de mim.
Levantei-me fui ao banheiro e uma tontura fez tudo a minha volta rodar, mas me mantive passo a passo, até que encostei no batente da porta do banheiro e quando tateei para acender a luz acabei derrubando uma embalagem de desodorante que estava na beirada da pia, que fez barulho ao cair no chão e acordou o Mateus.
— O que está acontecendo? — Ele levantou em um pulo e eu mesmo sem vontade, sorri do seu jeito preocupado.
— Nada, apenas estou indo ao banheiro.
— Se precisar de ajuda eu estou aqui.
— Tudo bem.
Fui ao banheiro e quando saí ele estava sentado no colchão e me olhou ainda parecendo preocupado.
— Não me lembro de ter trocado a minha roupa.
— Foi a minha mãe.
— Hum... achei que você tivesse me visto nua? — falei sem graça e ele sorriu.
— Olha, por mais que fosse muito tentador, não vi não. Você estava grogue e minha mãe te ajudou a tirar a que estava usando e te colocou essa que você está, aí me mandou dormir aqui para se caso você precisasse de algo durante a noite, eu estivesse ao seu lado para ajudá-la.
— Ah. — foi o que eu consegui responder ainda testando a sua fala anterior mentalmente e pensando que ele ficou tentado em me ver nua.
— Eu preciso usar o banheiro, escovar os dentes e etc. Você está bem mesmo, posso ir ou você quer que eu te espere para descer para o café.
— Estou bem, pode ir.
Com isso ele assentiu e ia saindo, mas eu o chamei e disse:
— Mateus... Obrigada.
Ele sorriu, foi até mim e me deu um beijo na bochecha como se parecesse aliviado por eu estar bem e o agradecendo.
— Disponha. Estarei sempre aqui para você.
Uma sensação boa percorreu meu corpo ao ouvir sua fala e em resposta naquele momento eu só soube sorrir.
Desci para tomar café da manhã alguns minutos depois, já vestida descentemente e o Mateus parecia uma sombra, onde eu pisava ele pisava, de onde eu tirava meu pé ele colocava o dele, não sabia o que fazer para me agradar e até a dona Zilda ria do jeito que ele estava me tratando.
— Você está bem mesmo? — perguntou pela milésima vez.
— Juro que se você perguntar de novo, eu ligo para o meu pai e peço para ele trocar meu acompanhante.
Ele riu.
— Ué, eu me preocupo com você.
— Sim, estou ótima e até estou estranhando, porque dessa vez eu não tive nenhuma reação tão agressiva da quimioterapia. Acho que você me deu sorte.
— Ah, eu sou conhecido como pé de coelho. — Ri e balancei a cabeça em negativo.
— Fio, você tá mais para pé de galinha, mulherengo do jeito que você é — dona Zilda falou entrando novamente na cozinha e se intrometendo na nossa conversa.
— Que horror, mãe!
— Horror? Horror foi o que eu passei com um monte de menininha querendo você quando você ficou rapaz. É que você não viu, Liara.
— Que bom que eu não vi, porque imagino e certamente eu seria uma das menininhas — falei sem pensar enquanto levava a xícara de café até a boca e só imaginando que se o Mateus estava bonito naquele momento, com certeza ele também era lindo quando um pouco mais novo.
— Seria? — ele me perguntou com um sorriso insinuador.
— Digo, se você não fosse você e eu não fosse eu, Mateus! — falei impaciente e envergonhada. — Porque você... é bem bonito e se você não fosse meu amigo de infância, talvez eu me interessasse. Isso que eu quis dizer. — Eu estava completamente embaraçada.
— Ele entendeu e tá só te aporrinhando, Liarinha — dona Zilda falou, rindo e Mateus ainda tinha um sorriso orgulhoso repuxando os cantos da sua boca e isso me fez sorrir.
— Como sempre, né? A alegria dele e da Sheila sempre foi me aporrinhar.
— Sheila era a divertida e você...
— Era a chata — completei.
— Era a que ficava uma graça brava e ainda fica. — Revirei os olhos e ele riu.
Eu estava gostando de tê-lo como minha companhia diária e seu sorriso amistoso e lindo fazia com que tudo parecesse mais fácil de suportar, era como se Mateus fosse o ânimo que estava me faltando para acordar a cada manhã.
Depois que ele chegou no sítio eu não tive mais insônia e acordava feliz pensando em algo para provocá-lo ou já pensando na gracinha que ele ia fazer para me animar e mesmo tendo alguns dias em que eu passasse o dia deitada por causa da moleza que a quimioterapia me deixava, eu ficava satisfeita que ele fosse até o meu quarto saber como eu estava ou assistisse a um filme comigo e me fizesse companhia.
Tinha vezes que mesmo quando eu estava bem fraca eu ficava deitada nas redes na varanda de onde eu podia vê-lo e me animar um pouco.
A troca Mateus por Sheila foi ótima, pois assim eu não me sentia tão culpada por fazer a minha irmã desistir da vida dela para viver a minha, pois eu nunca tinha visto ninguém que gostasse tanto de viver, aproveitar a vida e trabalhar na sua área como a Sheila e vê-la presa a mim estava me matando. Já com o Mateus eu me sentia menos culpada, pois ele dizia amar o sítio e amava morar e trabalhar ali, sendo assim, eu não estava mais me sentindo como um fardo em fazê-lo ficar comigo.
Cinco dias após a quimioterapia eu me sentia bem, disposta e estava até com o rosto corado. A sacada do meu quarto tinha virado o meu lugar favorito da casa, onde eu passava a maior parte do tempo e até já tinha levado uma cadeira para lá. Entretanto, diferente de quando cheguei no sítio, eu não ficava ali apenas para apreciar a paisagem e pensar na minha tristeza, mas sim para ver o Mateus que sempre me dava um tchau, fazia algum comentário engraçado ou me provocava de alguma forma e essas pequenas interações da nossa amizade acabaram se tornando a alegria do meu dia.
Senhor Antônio, pai de Mateus que havia se recuperado da gripe e já estava leve e faceiro andando por todo o sítio e fazendo o trabalho de sempre, também era um amor de pessoa e lá de baixo sempre perguntava se eu queria que ele levasse alguma fruta das árvores que tinham no sítio e muitas vezes eu dizia que sim, mesmo sem vontade de comê-las, só para vê-lo sorrir, pois eu via que ele tinha prazer em me agradar.
Ele era bem mais velho que dona Zilda, mas sempre nos contaram que se apaixonaram à primeira vista, apesar de terem lutado contra o amor por conta da diferença de idade, entretanto mesmo com os contras da sociedade e dos pais dela, ambos insistiram no amor até que eles se casaram.
Segundo dona Zilda, senhor Antônio sempre dizia que chegaria o dia em que ela teria que cuidar de um velho enquanto ainda estaria na flor da idade, já ela rebatia dizendo que o amaria independente de qualquer coisa e também era possível que ele tivesse que cuidar dela. Nós sempre achamos isso muito engraçado e lindo, até mesmo a Sheila que não era nada romântica, quando eles começavam a contar as histórias deles de juventude, eu a via suspirar.
Da sacada, como no primeiro dia que o vi no sítio, observei Mateus trabalhando e toda a sua beleza, imaginei quanta sorte teria a mulher que conquistasse o seu coração, pois além de lindo ele era uma pessoa excelente e de um coração enorme.
Quem deixaria a sua vida cheia de saúde para cuidar de uma doente?
Mesmo que meu pai pagasse uma fortuna para ele, o que eu achava impossível, eu sentia que Mateus não estava fazendo aquilo por salário e fazia tudo por mim, por amizade e por diversas vezes suspeitei sobre o verdadeiro motivo dele ter voltado ao sítio.
Lá de baixo, quando me viu na sacada, ele acenou com um sorriso nos lábios e me encarou por alguns minutos como se perguntasse se estava tudo bem e com um meneio de cabeça em meio a um sorriso eu o respondi mesmo sem dizer uma palavra.
Sem saber por que, me coloquei no lugar do senhor Antônio e eu entendia o que ele sentia em relação a dona Zilda ser mais jovem e principalmente quando ele mencionava com tristeza sobre ela ter que cuidá-lo em uma possível doença. Ali da sacada eu me imaginei tendo algo a mais com alguém e seria igual, a pessoa que ficasse comigo seria o cuidador de uma doente e não teria a vida normal que merecia ter. Imediatamente me lembrei do meu ex-namorado que me deixou logo que soube da minha doença e eu nem podia julgá-lo, pois o fardo seria pesado demais para quem ficasse comigo naquele momento.
Sem que eu pudesse controlar meus pensamentos e o observando a sacada, me imaginei em um relacionamento amoroso com o Mateus: ele cheio de vida e saúde e eu sempre sem ânimo por conta das químios, pensei em como seria se ao invés de meu amigo ele fosse meu namorado e não gostei da sensação.
Imediatamente me desencostei da grade que cercava a minha sacada e entrei para dentro do quarto, sentei-me na minha cama e logo tentei afastar os pensamentos confusos da minha cabeça. Mateus era meu amigo, praticamente meu irmão e cuidador e não adiantava eu fantasiar algo que nunca aconteceria.
Me deitei na cama e fechei meus olhos com as mãos, suspirei começando a ficar irritada e pensei que só podia ser a minha depressão causada pela doença, que estavam fazendo com que eu tivesse pensamentos tão sem nexo quanto a tudo e principalmente ao Mateus.
Os dias passaram voando e eu já estava na sessão número nove do ciclo de doze quimioterapias e diferente da primeira sessão que Mateus presenciou, a seguinte me desgastou bastante e dei muito trabalho para ele.
De início, Mateus não sabia muito bem como reagir, mas logo começou a ler sobre a minha situação, conversava com meus médicos e aprendeu o que tinha que fazer para que eu melhorasse e a cada sensação ruim que eu sentia, ele estava ali para me auxiliar.
Em uma das noites em que eu estava enjoada e corri para o banheiro para vomitar, ele estava dormindo no colchão ao meu lado e foi atrás de mim. Fiquei morrendo de vergonha com ele ali alisando as minhas costas e mostrando que estava ao meu lado para me ajudar no que eu precisasse e mesmo quando gritei para ele sair e o xinguei para que não me visse naquela situação deplorável, Mateus ficou.
Ele ficou, mesmo em um péssimo momento... ele ficou.
Mateus era um anjo na minha vida e a cada gesto, o carinho que eu sentia por ele só aumentava. Fazia de tudo para me agradar, principalmente quando batia a deprê e eu ficava triste e muitas vezes queria parar de lutar, nessas horas ele fazia de tudo para me mostrar o quanto eu era importante para todos a minha volta.
A gente assistia filmes juntos, ficávamos no estábulo conversando com os cavalos e andávamos pelo sítio, conversávamos sobre absolutamente tudo e quanto mais eu ficava perto dele, mais eu queria ficar. Seu cheiro era como um bálsamo e sempre que eu me sentia triste era só senti-lo que eu ficava feliz, seu toque fazia com que eu sempre me sentisse bem, por exemplo quando caminhávamos que ele me abraçava ou fazia alguma brincadeira e colocava a mão no meu ombro ou quando pegava na minha mão e com isso aos poucos ia me deixando viciada em seus carinhos, fazendo que de uma maneira ou outra eu achasse um jeito de tocá-lo ou fazer com que ele me tocasse.
Em uma tarde em que o sol já estava se pondo e eu estava me sentindo muito bem, Mateus insistiu para que eu fosse com ele em um lugar que eu ainda não tinha ido desde que eu tinha voltado para o sítio, então descemos andando todo o caminho que levava ao lago e depois contornamos toda a sua volta até chegarmos ao Ipê rosa.
— Sabe que sempre que eu venho aqui, fico admirando essa que é a minha árvore preferida lá do outro lado, mas nunca penso em contornar o lago para chegar aqui, sei lá por que.
— Certeza que por preguiça, preguiçosa!
— Não sou preguiçosa, mas com a doença fico mole. — Simulei um olhar triste.
— Não use a doença como desculpa, dona Liara.
Segurei o riso.
— Ela precisa servir para alguma coisa.
— Cara de pau!
Sorri e ele falou:
— Quero que veja uma coisa.
Mateus pegou a minha mão e me levou até próximo ao tronco do Ipê, então apontou para onde ainda estava gravado o nome dele, o meu e um coração em volta. O olhei com descrença, ri e revivi o momento em fizemos aquela marcação, passei o dedo indicador sobre os nomes e ergui as sobrancelhas em admiração e alegria com a lembrança daquele momento na infância.
— Como isso sobreviveu a todo esse tempo? Tem... sei lá... mais de quinze anos que fizemos?
— Por aí. — Ele deu de ombros e parecia feliz com a minha reação.
Mais uma vez me aproximei do tronco e passei meu dedo por cima da escrita.
— Ai, tô emocionada.
Ele riu e me contou:
— Uns anos depois da marcação original eu parei aqui embaixo do seu Ipê e refiz nossa escrita. Eu não queria que apagasse.
— Meu Ipê?
— Sempre foi seu.
Passei a mão no seu rosto.
— Acho que essa foi a parte mais linda da minha vida. Ainda bem que você não deixou apagar.
Ele sorriu para mim. Um sorriso perfeito entre uma barba por fazer que tocou direto no meu coração e me fez pensar no quanto ele era lindo por dentro e por fora e o quanto eu era grata por tê-lo ali comigo.
Me aproximei ainda mais e o abracei sem dizer nada. Eu apenas queria senti-lo, revivendo toda a cena da infância e lembrando o que eu sempre o dizia quando ele me ajudava, falei:
— Você sempre foi o meu herói.
Eu ia também dar um beijo em sua bochecha como fazia na infância e quando ergui meu rosto para fazê-lo o beijo pegou no canto da sua boca, fazendo com que meu coração acelerasse e envergonhada eu me afastasse de cabeça baixa.
— Desculpa, acho que fiquei emocionada demais e acabei perdendo o rumo certo... literalmente. — Eu estava de cabeça baixa.
Então ele se abaixou, olhou nos meus olhos bem de perto e eu engoli em seco sem conseguir segurar o seu olhar e fechei meus olhos. Foi aí que senti Mateus beijar a minha bochecha.
— Desculpada, pinguinho.
Abri meus olhos e ele estava rindo.
— Paraaaaa... — O empurrei e me afastei.
Depois fingindo que nada aconteceu, pedi para que fossemos ver os porquinhos, enquanto eu sentia seu olhar risonho me seguindo e parecendo se divertir comigo, entretanto dentro de mim o coração ainda batia acelerado, o ar ainda parecia faltar nos pulmões e eu suspirava tentando disfarçar as minhas bochechas vermelhas, parecendo uma adolescente ao lado do garoto que gosta.
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