A dança
Clara
Acordei nervosa, almocei nervosa, na verdade não almocei, passei o dia nervosa enquanto eu e Laura repetíamos mil vezes a coreografia, jogávamos garrafas e fazíamos drinks imaginários com água e corante para treinar, para que a noite não errássemos. Afinal vamos dançar, jogar garrafas e fazer drinks tudo de uma só vez. Só mulher para conseguir. E para ser sincera, se conseguirmos fazer como no ensaio, o cargo é nosso, porque modéstia a parte, ficou top! Isso se o nervoso e o medo de encarar os donos da Angels não me derrubarem antes de conseguir terminar a música.
Agora estou aqui sentada, aguardando os donos chegarem para a entrevista e enquanto isso, vejo que desde que eu e a Laura chegamos alguns rapazes no canto oposto da sala não param de nos olhar, falaram alguma coisa um para o outro como se falassem de nós e isso está me deixando mais nervosa do que eu estou. No meio deles tinha um mestiço muito gato, que me encarava incansavelmente e estou começando a ficar com vergonha, faz muito tempo que não flerto com ninguém e nem estou com cabeça para isso.
— Amiga, cadê esses donos que não chegam? — Enxuguei minhas mãos na calça preta social que eu estava usando, compondo o look todo preto que a Laura insistiu que devíamos usar.
— Calma amiga, já, já eles começam.
— Devem estar com dificuldade de subirem as escadas com suas barrigas enormes, a idade avançada e os bolsos cheios de dinheiro que tiram dos jovens que vamos embebedar se conseguirmos o cargo.
Olhei para a Laura e ela estava segurando o riso.
— O que foi? — Perguntei séria.
— Nada, não!
Alguns minutos se passaram e mais ninguém chegou depois de mim e da minha amiga. O mestiço levantou e achei que estava vindo falar comigo pelo modo que me olhou. Virei o rosto para o lado oposto para quebrar o contato visual e então ele começou a falar.
— Bom, vamos começar. Para quem não me conhece eu sou o Fernando e sou dono da Angels junto com os meus amigos João, Gustavo e Rodrigo... — O que? Dono? E eu esperando um velho, barrigudo e careca. Olhei para a Laura para ver na cara dela e claro, ela ria de mim. Vaca. Ela já sabia! E eu aqui achando que eles eram mais alguns candidatos ao cargo. Bom, se eu já estava nervosa... Agora estou mais. Te acalma Clara é só um homem como outro qualquer e não muda nada ele não ser um velho careca e barrigudo, a não ser pelo fato que ele tem um corpo lindo, um rosto lindo, um sorriso lindo e ele é lindo... Bosta.
Comecei a suar frio, as apresentações começaram e conforme se estendiam e alguns candidatos à vaga derrubavam copos, bebidas e garrafas eu ficava mais nervosa. Não sei se ficar por último foi bom ou ruim. Teve uns dois que fizeram uma apresentação com fogo que foi perfeita e a nossa dança ficaria no chinelo. Foi então que a nossa vez chegou e um dos Angels, o loiro e gato nos chamou, pelo que me lembro acho que se chame Gustavo. Nunca vi tanto homem bonito junto.
— Clara e Laura só podem ser vocês né? — Assentimos ao moreno que se chama Rodrigo e fomos em direção ao bar improvisado. Ficamos de frente para os quatro e era difícil me concentrar no que tinha que fazer com tanta beleza nos olhando de frente. Esses quatro eram muito bonitos. — Então, em que trabalhavam anteriormente?
— Eu trabalho... Trabalhava na imobiliária do meu pai e a Clara em um café.
— Então vocês tem experiência em trabalhar com o público certo? — Perguntou um negro lindo o João.
— Muita e sempre sorridente, mesmo com os clientes malas. — Respondeu a Laura.
— Gostei da sinceridade. — Falou o moreno lindo apontando a caneta para ela.
— E você Clara tem experiência com o publico também? — Me perguntou o Fernando me olhando nos olhos.
— Muita, antes de trabalhar no café trabalhei em um bar super movimentado na minha antiga cidade. — Menti e vi a Laura me olhando com um sorriso torto e o Fernando assentiu.
— Ok, então vamos começar? — O loiro, Gustavo, perguntou.
— Bora. — Eles riram da resposta alegre da minha amiga e eu também. Ela estava agindo como se tivesse feito isso a vida toda. Ainda bem que alguém consegue ficar relaxada.
Viramo-nos de costa para eles para começar nossa apresentação e me senti muito exposta. Essa calça apertada no meu quadril largo está marcando todas as minhas gordurinhas. E sei que depois que fugi de todo o meu sofrimento com o Jeferson e depois de comer tanta rosquinha no café, dei uma engordada e essa roupa justa deve estar marcando todos os quilos a mais.
A Laura estava ao meu lado, na minha direita e segurava uma garrafa na mão direita e eu uma coqueteleira na mão esquerda. Respirei fundo, soltei o ar, em seguida fechei meus olhos. Fiz uma oração para que desse certo. Não sei o porquê, mas algo me dizia que eu precisava fazer tudo certo e precisava desse emprego. Enxerguei os olhinhos felizes da minha Mayara, no sorriso e nos aplausos que ela deu todas as vezes que fizemos essa performance e acertamos tudo e isso meu encheu de auto confiança. Abri meus olhos, olhei para o lado para encarar a minha amiga. Ela me deu uma piscada de incentivo e sorriu quando os primeiros acordes da música começou a encher o ambiente.
I want to let you know
That you don't have to go
Don't wonder no more
What I think about you...
A batida mais forte entrou na música e com ela a Laura me jogou a garrafa que passou por cima da sua cabeça e eu a peguei com a minha mão direita, virando a vodka na coqueteleira com gelo. Deslizei o copo pelo balcão para a Laura, que o pegou e de uma vez só, com uma garrafa em cada mão, virou suco de laranja e licor de pêssego na coqueteleira. Quando atingiu a quantidade de bebida que precisava, ela jogou as duas garrafas para cima as pegando novamente e pousando as duas sobre o balcão. Eu e ela começamos a fazer passos de dança em que fazíamos ondinhas com o corpo sensualmente e sorríamos uma para outra. Trocamos de lado dançando a um passo de cada vez e batemos as mãos quando passamos uma do lado da outra. Peguei a coqueteleira, tampei e comecei a agita-la sem parar de dançar, joguei-a para a Laura que pegou com firmeza e fez os mesmos movimentos de chocalhar. Viramo-nos para frente e ficamos novamente de frente para os quatro, tentei não fazer contato visual com nenhum deles, para que a coragem não fosse embora. Voltamos a dançar antes de finalizar a bebida e fazíamos passos iguais, em que passávamos a mão pelo corpo, enquanto o refrão traduzido dizia o seguinte:
"Se é amor que você quer
Então você devia me fazer sua garota, sua garota
Se é amor que você precisa
Então, baby, venha e compartilhe meu mundo, meu mundo"
A música estava chegando ao final, peguei uma taça que mais parecia com meu corpo, (com a base mais cheia, o meio mais fino e abria na parte da boca), adicionei o suco de Cranberry e me afastei dançando para que a Laura colocasse a bebida que estava na coqueteleira. Ela se afastou do copo assim que terminou de colocar e eu me aproximei colocando uma fatia de laranja na boca do copo, um guarda chuvinha que decorou e deu um charme a bebida e por fim um canudo em espiral. Continuamos dançando, fazendo passos coreografados, os mesmos que fizemos no nosso último ano de escola. A música chegava ao final, viramos de costas e jogamos os braços para cima, rebolando e nos exibindo. Sinto que estou vermelha, é muita exposição essa dança, mas que estou gostando e me sentindo desejada, ahhh... Isso eu estou. Os últimos acordes soaram, nos viramos, oferecemos a bebida á eles e falamos juntas:
— Sexy and beach.
Só então me permiti levantar o olhar e olhar cada um deles que pareciam embasbacados. O moreno, Rodrigo começou a aplaudir. Fiquei vermelha de vergonha, olhei para o Fernando e não consegui decifrar o que o olhar dele me dizia.
https://youtu.be/hD5MRBzY1uM
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