Prefácio
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❝Se você soubesse o quão rápido irão te esquecer quando você morrer, não estaria deixando de fazer tanta coisa por medo do que vão pensar.❞
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O livro de poesias que você está prestes a ler existe graças à minha mais absurda, genuína e obsessiva paixão pela música, composição e arte. Em meio ao ano de 2020, o mais terrível de minha vida ouso dizer, de todas as nossas vidas —, algumas das únicas coisas que ainda me prendiam a este plano eram meus álbuns e artistas favoritos, que abasteciam minha mente de ideias que não conseguia expor de outra maneira que não fossem versos. As letras e acordes do conjunto das obras de meus álbuns favoritos, a cada segundo, me faziam lembrar de sensações e que já senti à flor da pele — chegava a ser fantasmagórico, se quer saber —, e, por isso, comecei a vomitar minhas palavras no papel até me esgotar por completo.
Nessa época, eu estava em um dos milhares de processos de revisão de meu livro de fantasia As Crônicas de Epona: A Odisseia de Anika, que costumava outrora postar na plataforma de leituras Wattpad. Dei uma pausa nesse processo em setembro de 2020, quando toda vez que me pressionava a escrever e a ir contra o bloqueio criativo, minha cabeça dava curto-circuito. Sem brincadeira, houve um momento em que ela começou a girar tanto que pensei ter de fato virado o próprio planeta Vênus, formando tempestades e girando numa órbita sinistra. Ansiedade não é um problema a ser diminuído ou invisibilizado, e eu percebi que era isso o que eu estava fazendo comigo mesma. Estava me pressionando e jogando esse problema para debaixo do tapete, para poder agradar e entregar o melhor aos meus leitores; mas como dar o seu melhor quando você não está bem para fazê-lo? É como sair para pescar sem a vara.
Eu percebi que estava me tornando o maior obstáculo para melhorar e continuar a escrever minha história de fantasia — e qualquer outra história que viesse depois dela.
Então, eu parei. Disse chega e decidi ir dormir e tentar deixar as ideias fluírem por este cérebro que nunca sai da tomada de 220 volts. Ouvindo música, comecei a escrever poemas... Sem pensar em nenhum leitor. Sem me importar com o que iriam dizer. Não escrevi para a crítica, e nem para evitar qualquer comentário sem noção daqueles que acreditam que ser escritor é como seguir uma receita de bolo.
Eu escrevi para mim. Escrevi porque precisava.
Histórias Fantasmas de Vênus são contos poéticos que nasceram do processo de redescoberta de minha própria escrita — para quem eu estou escrevendo? Por quê?
Foi graças a este livro, no qual você está prestes a mergulhar, que percebi que tenho histórias a contar, não importa o que irão pensar. Parece tão óbvio, mas vivendo numa era em que números de votos e comentários numa plataforma que transforma arte em mercadoria barata falam mais alto do que a poesia em si, isso pode ser difícil de enxergar para muitas pessoas. Foi difícil para mim.
Portanto, preciso que você saiba, queridoleitor, que eu não escrevi e não estou expondo este livro ao mundo com ointuito de ganhar na loteria. Digo, se acontecer, que bom! Mas eu tenhohistórias para contar, palavras para vomitar. Há batidas deste coraçãoturbulento e errante que precisam ser traduzidas para o português. Se aspessoas irão gostar ou não, não é isso o que determina meu sucesso — porquenúmeros não são sucesso. Eu estou terminando um projeto que comecei.
Estou contando uma história que foi criada aqui,dentro da minha própria cabecinha dura. Isso já é estar no topo domundo para alguém com uma mente tão cheia e barulhenta como a minha.
Eu não sou nenhuma Clarice Lispector, e esses poemas estão longe de serem os versos mais belos e profundos do mundo. Entretanto, são palavras que saíram do meu coração direto para as páginas de meus diários. Eu precisava vomitar as palavras que volta e meia paravam entaladas na garganta. E agora elas estão aí.
Que bom.
Há muitas pessoas para quem adoraria dedicar este livro, além de agradecer pelo apoio e agradecer principalmente por existirem, porque sua mera existência ao meu lado tem sido o suficiente para me inspirar a escrever versos brancos sobre amor, ódio, dor, amizade, solidão, e sobre, acima de tudo, força.
Entretanto, como a lista é tão gigante quefacilmente preencheria 200 páginas, irei mencionar aqui somente a pessoa queocupa o topo dessa lista. Ela é a única pessoa em quem tenho uma certezaabsoluta e cientificamente comprovada de que jamais irá me abandonar: eu mesma.
Para minha eu do passado: caso você já tenha o poder de ser uma viajante e consiga atravessar os salões escuros do futuro que tanto teme, espero que saiba que não há tártaro que você não consiga atravessar, ou precipício do qual você não consiga escalar de volta para a vida. Você ainda é jovem, e o mundo é seu. Portanto, levante-se e vá conquistá-lo. Que se dane o que os outros irão dizer, ou pensar.
Você cria mil e uma histórias diferentes toda noite, quando coloca sua cabeça no travesseiro. A cada madrugada, quando o mundo dorme, e você esquece que os outros existem, você desbloqueia a senha do cadeado da sua mente e começa a contar para os seus travesseiros e seus cobertores as mil e uma aventuras interplanetárias que vive nos seus devaneios mais loucos.
E daí que algumas talvez não façam sentido? E daí que talvez haja um furo aqui ou ali? Você ainda é uma criadora, uma artista, e ninguém inventaria cores tão vibrantes quanto as que você cria nos seus sonhos toda noite.
Quem pode te dizer o contrário?
Você tem histórias a contar. O que os outros irão fazer com isso — como o mundo irá digerir essas aventuras vividas por você — já não é mais problema seu.
Você é a protagonista da sua própria história. Pare de ter medo do que os coadjuvantes irão dizer nos comentários de rodapé e vá vivê-la.
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Diz a lenda que alguém achou estes poemas na sua correspondência.
Cada verso contava histórias boas demais para ficarem presas em segredo, num baú de uma cama de madeira, numa casa periférica de uma cidade latina esquecida.
Um passarinho me contou que elas vêm de algum lugar há 41 milhões de quilômetros de distância daqui.
Parece que alguém entrou no olho do furacão e sobreviveu para contar histórias. Sobreviveu para florescer suas pétalas duras.
E eu sou testemunha.
Eu posso dizer que é verdade, porque eu juro que vi de perto estas histórias fantasmas direto de Vênus.
E desafio saber quem poderá me provar o contrário.
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