Quando meus pais resolveram que íamos mudar de cidade não importei, pois sei que qualquer lugar que eu fosse sempre me sentiria bem. O trajeto para o novo lar foi bem cansativo, Bobe não ficava quieto por um segundo, mas eu sempre o alimentava com ração e assim ele se acalmava.

Parece que já havíamos chegado ao novo lar, papai parou o carro e desceu. Espiei pela janela do carro a casa, meus pais disseram que quem morava nesta casa antes era uma velha senhora falecida, que se chamava Matilde.

O baú de mudança parou em frente a casa, para o desembarque, e Bobe não parava quieto, sorri e o peguei no colo, mamãe sorriu também e saiu do carro.

"Querido, você trouxe os potes do Bobe?" perguntou mamãe.
Papai respondeu que sim.

Bobe estava muito impaciente dentro do carro e saltou do meu colo, abri a porta do carro e assim Bobe me arrastou até a porta da nova casa.

"Bobe, seu danado!" disse entre risos, o Bobe só parou quando chegamos na porta, acariciei a cabeça dele e disse baixinho em seu ouvido "Meu fofuxinho".
Meu pai carregou algumas malas e minha mãe algumas caixas pequenas, percebi que estavam ocupados com as mãos e abri a porta para meu pais. Adentramos na casa, era um lugar aconchegante e simples, fiquei muito curiosa para ver os outros cômodos, mas o pessoal do baú de mudança estavam trazendo as caixas maiores, então esperei para ver se tinha todas as caixas, quando foi a última caixa já ia correndo pela casa, mas a grama lá fora me chamou mais atenção, queria senti-la, correr descalça por aquele belo gramado. Sem mais nem menos tirei as minhas sapatilhas saí pela porta. Comecei a correr por aquele extenso gramado, sentindo a grama em meus dedos do pé.

E de repente a porta abriu com meus pais saindo e sorrindo, Bobe estava na corrente, papai não gostava de deixar Bobe solto.

"Gostou filha?" ouvi meu pai perguntar, sorri com grande euforia, eu não havia só gostado, eu amei aquele lugar.

"Claro pai... Olha essa grama!" exclamei. "A cor da casa, essa cerca baixa de madeira... Até esses azulejos que formam esse caminho da calçada até a casa... Amei tudo." assim fui até o papai e beijei sua testa e logo depois a testa de mamãe. Comecei a chamar Bobe ele estava com mamãe, ela o soltou e assim Bobe veio correndo ao meu encontro, ou melhor me derrubou no chão uns cinco segundos depois, Bobe não parava quieto começou a tentar lamber meu rosto e eu não conseguia parar de gargalhar por um segundo. Mas mamãe chamou Bobe assim fazendo com que Bobe saísse de cima de mim, e de repente senti que alguém me olhava, ou estava me observando por muito tempo?
Sem resistir olhei para a casa a frente e dirigi meus olhos a uma pequena janela, mas no instante que a olhei alguém havia se abaixado, era um garoto deduzi pelo cabelo curto pois apenas isso havia visto. Será se ele estava me observando? Se estivesse, seria por muito tempo? Será se havia me visto correndo pela grama, e me achava estranha?
As perguntas não saíam da minha mente e de repente me senti envergonhada por ter olhado pela janela, não devia ter feito isso! Me levantei do chão rapidamente e fui para dentro de casa fechando a porta atrás de mim.

"O que foi filhota?" perguntou papai sorrindo abrindo algumas caixas.

"Porque a pergunta pai?" o perguntei colocando meus cabelos para trás.

"Está vermelha" disse papai pegando uma caixa e se dirigindo ao corredor.

"O senhor sabe que sempre fico assim quando começo a correr" disse pegando um espelho de uma caixa aberta, assim comprovando um leve rubor em minhas bochechas, guardei o espelho de novo na caixa, e fui até o corredor.

"O senhor precisa de ajuda?" perguntei a papai o que poderia ser útil.

"Ajude sua mãe" disse papai apontando a cabeça para o final do corredor.

"Mamãe?" perguntei entrando na porta que parece que iria ser o quarto de meus pais.

"Querida veja se gosta do quarto ao lado.." disse mamãe ocupada com as caixas. Concordei com a cabeça e adentrei no quarto, era pequeno com as paredes pintadas cor creme o que achei que talvez um dia tivesse sido um belo rosa claro, mas devido os anos a pintura devia sido envelhecida.

Me dirigi até a sala e peguei uma caixa onde havia escrito:

Pertences da Raiane ❀

Assim fui carregando a caixa até o meu mais novo quarto, a minha cama e minha penteadeira já estavam no quarto, forei minha cama com meu lençol rosa claro com estampa de flores, e meus utensílios na penteadeira, eu tinha poucas coisas. Abri a janela para entrar um ar fresco, ela tinha vista para o quintal, onde lá estava Bobe preso na coleira, sorri para ele e o mesmo latiu em resposta.
Do nada lembrei do garoto da janela, será se ele ainda se encontra lá?