#𝟬𝟬 : MALDITO CAVALEIRO
PRÓLOGO...⠀ ⠀ MALDITO CAVALEIRO.
Toda crueldade surge da fraqueza.
── ⠀ ⠀SÊNECA.
COMEÇA COM TIROS.
Sempre começa assim agora.
Os ecos metálicos perfuram o ar como sinos de uma missa fúnebre - rápidos, implacáveis, anunciando a morte. Rowan não se incomoda mais. O som já não faz seu coração acelerar, nem a faz piscar. Está tudo muito normal agora. O cheiro acre de pólvora, o ferro viscoso do sangue impregnando cada partícula de oxigênio, a textura pegajosa sob as botas. Não é apenas familiar; é quase reconfortante. O caos tem uma cadência, um ritmo, e ela aprendeu a dançar.
As duas pistolas Colt M1911, apelidadas carinhosamente de Ebony e Ivory (não por ela) repousam em sua mão, firme, quase como se fizesse parte dela. O emblema do Ceifador gravado ao lado parece rir baixinho para ela. "Você não é muito diferente de nós agora, garota", dizem, zombando da ironia de ser a portadora da morte quando, muitas vezes, ela se sente mais um fantasma do que uma pessoa. Quando, muitas vezes, Rowan deveria ser uma protetora.
Mas, naquele instante, ela não é mais Rowan Hwang, mas sim DeathKo e precisa agir como tal. Pelo menos na frente dos outros, Rowan precisa manter a farsa, precisa fingir que está ali pelo mesmo motivo que todos os outros assassinos.
Ela conta dez balas no cartucho. Dois carregadores sobressalentes pesando nos bolsos da jaqueta de couro. Rowan faz as contas com uma precisão matemática que beira o instinto: não precisará de tanto. Hoje, pelo menos, o trabalho já foi metade feito antes mesmo de ela chegar.
A entrada da mansão é um altar para a carnificina. Corpos amontoados em ângulos grotescos, alguns com olhos arregalados que refletem o horror de seus últimos segundos, outros sem rostos para mostrar qualquer coisa - um trabalho de Faceless, ela imagina. Ele adora tirar a pele do rosto de sua vítimas. Sangue cobre o chão como uma tapeçaria escarlate, as paredes estão manchadas com respingos que sobem como pinceladas de um artista insano. Rowan atravessa a cena sem hesitar. Uma mão estendida bloqueia seu caminho, os dedos ainda agarrados a algo que não está mais lá. Ela pisa com força, ossos estalam como gravetos sob o peso da bota. Não há tempo para delicadezas.
Os mortos, em sua maioria, vestem ternos caros. Alguns têm máscaras de palhaço amassadas contra o rosto, outras peças de roupas extravagantes que agora parecem ridículas ao lado de buracos de bala e cortes profundos, e ela sabe que esses fazem parte da GUILD. São os amadores, aqueles que ainda estão em sua primeira noite. Aqueles que morrem primeiro seja por falta de coragem de puxar o gatilho ou por inconsequência. Os outros são seguranças. Soldados. Escudos humanos de Sanomiya. Contratados para protegê-lo, e todos falharam miseravelmente. Rowan não sente pena deles. Nem surpresa.
Os assassinos da GUILD não são refinados. Não têm disciplina militar ou táticas brilhantes. Mas têm algo mais perigoso: uma loucura que os torna imparáveis. Eles não calculam riscos, não têm medo de morrer, não hesitam em se sacrificar. Entregue uma missão a eles, um alvo com um preço, e eles vão até o fim - mesmo que o fim seja um mar de cadáveres.
A mansão é o palco de sua arte, e a exposição é grotesca. Sangue decora os quadros, desliza pelas escadas, forma poças espessas que grudam nos móveis destruídos. Rowan sente as vísceras escorregarem sob a sola das botas, ouve o som molhado que acompanha cada passo. Um pedaço de cérebro está pendurado no corrimão, os fios neuronais ainda pulsando de forma fantasmagórica. Ela não desvia o olhar. Não há nada ali que já não tenha visto antes.
Mas isso, ela sabe, isso é só o começo.
Lá fora, mais assassinos estão a caminho. Sanomiya ainda respira, e enquanto ele respirar, sua cabeça vale cada vez mais. O relógio é cruel, aumentando o valor da recompensa a cada hora que passa. É um jogo para alguns, uma brincadeira doentia de gato e rato, prolongando o sofrimento do alvo só para assistir o número subir. Ver a recompensa aumentar é quase tão satisfatório quanto puxar o gatilho.
Enquanto caminha em direção à piscina, Rowan ajusta a máscara dourada, as bordas geladas pressionando sua pele. O metal é liso, brilhante, e cobre cada contorno do rosto, moldado para esconder quem ela é. Apenas os olhos estão à mostra, o brilho escuro de sua íris filtrado pela luz mortiça da mansão. Ela odeia a máscara - odeia o peso simbólico e físico dela. Mas, como tudo no trabalho, é necessária. A máscara significa algo. Representa o que ela precisa ser: uma ideia, um fantasma, algo que ninguém possa rastrear quando os corpos forem contados.
Alguns assassinos ignoram essa formalidade, como se ostentar o próprio rosto fosse um desafio ao inevitável. Outros se perdem em exageros quase cômicos: máscaras de palhaços de látex, pinturas grotescas que escorrem com o suor e o sangue, fantasias de enfermeiras manchadas, roupas de couro ajustadas e macabras. Já viu até alguém trajando uma pele falsa de onça enquanto segurava uma katana, como se aquilo o tornasse mais intimidador. Rowan parou de se importar - os disfarces viraram ruído de fundo.
Ela, por outro lado, prefere o anonimato sem firulas. Uma jaqueta de couro preta e branca ajustada, que se molda ao corpo sem atrapalhar os movimentos. Abaixo dela, um colete à prova de balas que já salvou sua vida mais vezes do que ela gosta de lembrar. As calças, igualmente práticas, de um tecido resistente, abraçam suas pernas enquanto ela avança. A máscara completa a estética funcional, reluzindo sob as luzes da mansão para anunciar que ela não é mais Rowan Hwang, mas sim DeathKo. Mas, às vezes, ela mesma esquece desse detalhe.
Os passos dela ecoam enquanto seus olhos deslizam pelos corredores. Rowan sabe que sua roupa não é tão chamativa quanto as dos outros, mas ela gosta disso. Gosta da ideia de ser subestimada. Afinal, no jogo de sangue e pólvora da Guild, é o menor reflexo de uma lâmina que costuma fazer o corte mais profundo.
Antes de alcançar a porta que leva à área externa, Rowan congela ao ouvir o som de passos e vozes abafadas. Ela recua, instruções-se contra a parede com a prática de quem já fez isso muitas vezes. Segura Ebony contra o peito, dedos firmes no gatilho, enquanto Ivory permanece abaixada em sua outra mão, pronta para ser erguida num piscar de olhos.
── Droga, não acredito que estamos indo embora uma voz feminina ecoa pelo corredor, quase chorosa. ── A dona da voz está se aproximando das portas de vidro, a frustração escorrendo em cada palavra. ── Já está em 50 mil, Bee. Vamos perder 50 mil!
A outra bufa em resposta.
── Queen está desacordada, você levou um tiro...
── De raspão! ── interrompe a garota, exaltada, mas sua companheira não se deixa abalar.
── ...e todo mundo perdeu o Sanomiya de vista faz meia hora. Não temos chance contra aqueles idiotas sanguinários. ── continuou Bee. ── Vamos ser massacradas se tentarmos alcançar o alvo, e a situação vai ficar ainda pior daqui a pouco, quando o Knight chegar.
A voz de Bee é firme, definitiva, específica daquele tom prático de quem já decidiu sobreviver ao invés de arriscar.
Rowan observa enquanto as duas passam pela porta, arrastando o corpo desacordado da terceira integrante, que se apoia nelas como uma boneca sem vida. A líder, Queen, está mole, e seu rosto pintado parece mais macabro agora sob a luz oscilante da mansão. Todas elas vestem roupas de líderes de torcida, uma escolha deliberadamente bizarra que Rowan reconhece de relances anteriores.
Abelha, Morto e Rainha. Garotas loiras, todas com a mesma maquiagem grotesca - tinta branca e prata formando caveiras estilizadas ao redor dos olhos. Cada uma veste o uniforme idêntico, exceto pela inicial bordada em suas blusas: um B para Bee, um D para Dead e um Q para Queen. Bee e Dead costumam carregar pompons, enquanto Queen, a mais destemida, empunha uma pequena machadinha. Rowan já viu a ação antes, e não foi algo fácil de esquecer. Eles transformaram assassinato em um espetáculo. Garotas desmioladas com sorrisos infantis e habilidades letais acumuladas de seus anos como líderes de torcida. A julgar pela postura e pelo tom de voz, Rowan calcula que nenhuma delas tem mais do que 21 anos.
Elas passam por ela sem perceber, cegas pela confusão e pelo peso da líder inconsciente.
Apressadas, desaparecem ao atravessar a porta, rumo à noite caótica lá fora. Algo deu muito errado para elas dessa vez, isso é claro. E Rowan sabe que o pior ainda está por vir. Depois da meia-noite, sempre está.
Rowan deslizou pela porta de vidro com o cuidado de um predador. O ar ali fora era mais frio, o cheiro do cloro na piscina tentando - e falhando - encobrir o gosto metálico de sangue que parecia pairar em todo lugar. A água cintilava sob a luz das lâmpadas externas, a superfície limpa se mesclando a manchas de algo mais escuro, algo que se espalhava de forma lenta pelo líquido. Ela não precisava se aproximar para saber. Sangue. Sempre sangue.
Ela ajustou a máscara dourada com um toque rápido, a superfície reluzindo sob as luzes. Ebony e Ivory estavam firmes em suas mãos, o peso de cada uma reconfortante. Ao redor, a área da piscina parecia um campo de batalha em suspensão. Cadeiras tombadas, uma mesa de vidro quebrada, fragmentos espalhados pelo chão. A poucos metros, o bar de mármore preto, suas prateleiras de garrafas desalinhadas. Mas não era o caos que a incomodava. Era o silêncio.
Não o tipo de silêncio que vem da calma, mas o tipo que nasce de algo errado. Como um animal ferido escondido na floresta, esperando o predador passar. As vozes estavam distantes agora, silhuetas vasculhando pelo gramado extenso da mansão, brigando entre si. Todos estavam caçando o Sanomiya. Rowan caminhou devagar, os olhos varrendo o espaço. Ela sentiu antes de ver. Um movimento mínimo. Um deslocar de sombra atrás do bar.
Ela avançou, os passos leves, o som abafado pelo piso molhado. Quando contornou o balcão, o encontrou. Um homem, escondido como uma criança pega no flagra. Ele estava encolhido contra a parede, o corpo pequeno, os ombros curvados. Seu braço direito estava pressionado contra o peito, envolto em um tecido sujo e encharcado de sangue. Onde deveria haver uma mão, havia apenas um toco bruto, cortado de forma bruta.
Rowan inclinou a cabeça, observando-o com a curiosidade de quem analisa um inseto preso em um vidro.
── Você não deveria estar aqui.
Ele ergueu o olhar para ela. Os olhos estavam arregalados, inchados de pânico, o rosto branco como papel. Ele tentou falar, mas o que saiu foi um som gutural, entrecortado por um soluço.
Ela ergueu Ivory, apontando-a para o meio da testa dele. ── Onde está Sanomiya?
── E-eu não... não sei... ── A voz dele era quebrada, tremendo tanto quanto as mãos que tentavam segurar o braço mutilado. O suor e as lágrimas se misturando.
Rowan apertou o gatilho levemente, apenas o suficiente para que o clique ecoasse no espaço entre os dois. Ele saltou como se o tiro tivesse sido real, o corpo encolhendo-se ainda mais.
── Não minta para mim. Eu não sou paciente. Onde ele está?
Ela pressionou o cano de Ebony com mais força, aumentando o pânico daquele homem.
── B-bunker! Ele tem um bunker! ── A voz dele era um grito abafado, cuspido entre os dentes enquanto as lágrimas finalmente escorriam. ── Por favor... por favor...
Rowan não disse nada, apenas o observou. Seus olhos se estreitaram, avaliando a sinceridade desesperada que tremia na voz dele. Ele parecia tão inofensivo quanto um rato encurralado, mas ela sabia que até ratos podiam morder.
── Onde é o acesso?
── Na biblioteca... terceira fileira... na estante... por favor, eu juro.
Rowan o encarou por mais alguns segundos antes de abaixar a arma. Lentamente, enfiou Ebony no coldre preso à sua coxa e se agachou diante dele. Ele tentou recuar, mas não havia espaço. Ela puxou o crachá pendurado no uniforme ensanguentado dele com um movimento brusco e guardou no bolso interno da jaqueta.
Quando se levantou, não olhou para ele novamente. Ele estava tremendo, murmurando algo entre orações e pedidos de misericórdia. Rowan não respondeu. Apenas virou as costas e caminhou de volta para a mansão.
Se ele mentiu, ela voltaria. E garantiria que ele se arrependesse de cada palavra.
Rowan atravessou a mansão com pressa, os passos apressados fazendo eco nas paredes, enquanto os sons de violência ainda se espalhavam pelos cantos da casa. Gritos abafados, tiros esparsos. Os assassinos deviam estar se matando entre si, perseguindo pistas falsas e caindo nas próprias armadilhas. Esperava que não fosse cair em uma também.
A porta de vidro se abriu novamente. Seus sapatos deslizaram um pouco no piso molhado. O crachá no bolso da jaqueta pesava como uma lembrança do que estava por vir. Biblioteca. Terceira fileira. Na estante. O que o segurança em pânico havia dito repetia em sua cabeça. Se fosse mentira, ele não veria a manhã. Mas a voz dele, fina, tremendo, ainda a atormentava. Não era um pânico forjado.
O corredor que a levava à biblioteca estava escuro, as lâmpadas de teto quebradas e cacos de vidro espalhados por todo lado. Ela apressou os passos, os olhos alerta para qualquer movimento na escuridão. Ebony e Ivory estavam de volta às suas mãos, dedos firmes sobre os gatilhos. Mas não encontrou nada ao entrar, além de mais corpos. Três homens de terno preto, dois outros com moicanos e jaquetas de bandas de rock. Todos estendidos no chão, caídos em poças de sangue, mortos depois de um tiroteio que parecia ter durado horas.
Ao chegar à porta da biblioteca, parou. Dupla, de madeira maciça, uma entreaberta. O cheiro da tinta dos livros misturava-se com o sangue, mas havia algo mais. Pólvora. Ela reconhecia aquele cheiro. Predadora, ela avançou.
Empurrou a porta devagar, a mão direita pressionando com cuidado, enquanto a esquerda mantinha Ivory pronta. O som da madeira rangendo era abafado, um respiro na quietude que a envolvia. A terceira fileira estava logo à frente, mas seus instintos eram mais afiados que qualquer arma. Algo observava.
── Eu sei que você está aqui ── ela murmurou, a voz baixa, firme, mais um aviso do que ameaça.
Nada. Mas então, o som de uma bota raspando no piso de mármore. Ela se virou rápido, Ebony levantada, olhos fixos na escuridão, esperando o movimento. Cada sombra parecia ganhar vida.
── Não brinque comigo ── ela disse, avançando. ── Se quiser tentar, tente logo. Sou mais rápida do que você pensa.
Silêncio. Longo. Continuo. Nada se moveu.
Chegou à terceira fileira. O crachá estava em sua mão, já preparado. Exatamente como o segurança havia dito. Ela passou o crachá, o beep e o clique ressoando pela sala.
A estante começou a se mover, revelando uma abertura atrás dela.
Ainda não se virou. Sentia. A presença ali, observando. Esperando pelo seu próximo movimento.
── Vai me seguir ou me atacar? ── perguntou, sem olhar para trás. ── Escolha rápido.
Ainda assim, o silêncio. E o silêncio era, de certa forma, uma resposta. Ela bufou, exasperada, e entrou no túnel que a estante revelou, a luz automática acendendo conforme avançava. As paredes de concreto se fechavam em torno dela, estreitas, o ar mais frio, mais seco. O tipo de ar que fazia a pele arrepiar.
Ela sabia o que a aguardava no final do corredor. Sabia o que aconteceria quando encontrasse Sanomiya. Mas o problema, o verdadeiro problema, era que, enquanto descia, ela tinha certeza de que não estava sozinha. E não era só o chefe da Guild que esperava por ela.
Sanomiya estava sentado atrás de uma mesa metálica, iluminado pela luz fria do bunker. O lugar era grande, completamente cimentado. Não havia cor ali, a não ser as esculturas nas estantes de metal, peças adquiridas em leilões, como as obras de arte em sua mansão. O ambiente tinha o tipo de frieza que vinha com a desolação, não era bonito, era feito para ser prático, para ser um escape e, em uma cidade como Gotham, ainda mais depois do estrago que a toxina do medo fez, parecia ser necessário.
Entretanto, Rowan não se atentou ao lugar, mas sim ao homem atrás da mesa. Ren Sanomiya era um homem corpulento, o cabelo, escasso, colado ao couro cabeludo, oleoso. Os óculos escorriam por seu nariz achatado enquanto ele segurava uma pistola prateada com uma mão gorducha, trêmula e manchada de sangue como suas roupas. Parecia um rato encurralado, o tipo que tenta lutar mesmo sabendo que a morte já está ali, batendo na porta.
── Não dê mais um passo ── ele rosnou, a voz engasgada com desespero.
Rowan parou, pistolas abaixadas, mas os dedos ainda tocando os gatilhos. Sabia que ele não seria fácil. Homens como Sanomiya nunca foram. Mas ela precisava terminar aquilo sem mais mortes.
── Você perdeu ── ela disse, a voz fria. ── Não tem para onde fugir.
Ele soltou uma risada amarga, reverberando pelas paredes do bunker, a voz como um eco enfurecido.
── Fugir? ── ele cuspiu a palavra. ── Você acha que vim até aqui pra fugir? Esse lugar é meu, garota. Se alguém vai morrer aqui, é você.
Rowan deu um passo à frente, ignorando a pistola trêmula apontada para ela. Ele estava blefando, sabia disso. Tentando intimidá-la, tentando fazê-la hesitar.
── Eu posso acabar com isso rápido, Sanomiya. Não precisa ser mais doloroso do que já é.
Rowan sugeriu, tentando que ele entendesse o que ela queria dizer. O tempo deles estava se esgotando. Ela só tinha uma chance de tirá-lo dali com vida.
Os olhos dele se estreitaram por trás dos óculos.
── E você acha que eu vou confiar em você? ── retrucou, os olhos minúsculos dele se apertando.
Rowan guardou as pistolas nos coldres, a mão erguendo-se, mostrando a rendição. Ela não estava ali para fazer mais do que precisava.
── Estou falando sério. ── Ela começou a dar passos lentos até ele. ── Eu quero te ajudar.
── Eu não vou cair nessa, porra.
De repente, ele se levantou, a cadeira raspando contra o chão metálico com um som agudo enquanto ele disparava contra ela. Rowan se jogou para o lado, se escondendo atrás de uma estante cheia de esculturas. Através das brechas, ela observou enquanto ele caminhava pesadamente em direção à porta metálica do outro lado do bunker, o painel digital brilhando em vermelho.
── Sanomiya, não seja idiota ── ela alertou, o tom endurecendo. Rowan retirou Ebony do coldre ── Esse túnel não vai te levar a lugar nenhum.
Ele parou por um segundo, os ombros largos subindo e descendo com a respiração pesada, assustado.
── Vai sim ── ele disse, sem olhar para ela. ── Vai me levar para longe de você.
Ele correu, tropeçando nos próprios pés, mas determinado a alcançar o painel. Rowan xingou baixinho e avançou atrás dele, abaixando a arma. Ela não podia matá-lo, precisava dele vivo.
── Droga, Sanomiya, para! ── ela gritou, quase alcançando-o.
O disparo veio do nada, cortando o som abafado do bunker. O corpo de Sanomiya congelou no mesmo instante, os braços caindo ao lado do corpo, a pistola escorregando de seus dedos. Ele caiu de joelhos, os olhos arregalados antes de tombar de lado, o sangue formando uma poça crescente ao seu redor.
Rowan girou rapidamente, as pistolas já apontadas, mas ela sabia quem estava ali antes mesmo de vê-lo.
O Arkham Knight estava no alto da escada, com o rifle ainda levantado, uma nuvem de fumaça saindo do cano. Ele era uma figura imponente, uma sombra letal contra a luz fria que vinha de trás dele.
── Você demorou demais, Deathko ── ele disse, a voz baixa e metálica pelo modulador.
Rowan sentiu a fúria subir em ondas, queimando até os ossos.
── Esse não era o combinado! ── ela gritou, os punhos cerrados ao redor das armas. ── Essa morte era minha!
O Knight desceu os degraus com calma. Ele guardou o rifle nas costas enquanto falava, cada palavra carregada com provocação.
── Eu te dei a vantagem, te deixei a chance de ser rápida. Mas não, você teve que brincar com o rato.
── Eu estava controlando a situação! ── ela rebateu, os olhos faiscando.
Ele parou a poucos metros dela, inclinando a cabeça como se estivesse realmente considerando o que ela havia dito.
── Controlando? ── ele perguntou, um tom divertido no fundo da voz. ── Parece que perdeu o controle, Deathko. E, francamente, isso já está ficando patético.
Rowan sentiu a raiva borbulhar como óleo quente sob sua pele, fervendo e queimando até atingir sua garganta. A máscara dele obscurecia o rosto, mas não precisava de olhos para enxergar o sorriso presunçoso que ela sabia estar ali, pairando como um maldito fantasma. O deboche. A certeza de que ele sempre estaria um passo à frente. Era aquilo que incendiava a irritação e a fazia ferver, uma corrente elétrica que percorreu seu corpo até sua mão. Sem pensar, ergueu a arma, o dedo apertando o gatilho com um prazer quase primitivo.
Mas ele já estava em movimento, ágil demais, um borrão predatório. O Arkham Knight desviou com a precisão de alguém que sabia que ela falharia, o rifle descartado como se fosse um fardo inútil, a atenção dele toda focada nela. O som do metal batendo no chão reverberou pelo bunker, cortando o silêncio pesado como uma navalha afiada.
Ela tentou atirar de novo, mas ele já estava ali, preenchendo o espaço entre eles com uma velocidade que fez sua respiração engasgar no meio do peito.
Ele agarrou seu pulso direito, os dedos se fechando como uma coleira de ferro quente, torcendo o suficiente para que Ebony caísse de sua mão, o baque metálico ecoando pelo espaço silencioso. Rowan girou o corpo, instintiva, tentando atingir o capacete dele com o cabo de Ivory, mas ele a desarmou com facilidade irritante, a mão dele prendendo seu outro pulso, cada dedo dele como um grilhão que apertava até doer.
── Sempre tão previsível.
A voz dele era um murmúrio distorcido pelo modulador, mas havia algo ali - uma suavidade perigosa, como a ponta de uma faca roçando a pele dela. O calor do corpo dele irradiava, envolvendo-a, e Rowan odiou o modo como isso a deixava ciente demais de cada milímetro entre eles. Ou da falta de espaço.
── Me solta, desgraçado! ── ela rosnou, tentando se soltar, o corpo lutando contra o dele, mas cada tentativa parecia apenas reforçar o controle dele.
E, para piorar, ele riu.
A risada era baixa, rouca, quase íntima, e cada som reverberava como se ele estivesse sussurrando direto em seu ouvido.
Com um movimento rápido, ele torceu seus braços para trás, forçando-a contra a parede fria do bunker. O impacto arrancou o ar dos pulmões de Rowan, deixando-a sem fôlego, os seios pressionados contra o metal congelante que parecia mordê-la mesmo através da roupa.
── Sabe qual é o seu problema? ── ele perguntou, a voz tão perto que o calor do modulador acariciou sua orelha, quase como um toque. ── Você ainda acha que pode competir comigo.
Ele arrancou Ivory da mão dela, o som da arma caindo no chão de concreto ecoando entre eles enquanto o corpo de Sanomiya esfriava ao lado deles, e antes que ela pudesse sequer pensar em reagir, ele a prendeu ainda mais firmemente. Seu corpo colado ao dela, sufocante, inescapável. Uma das mãos dele segurava seus dois pulsos em suas costas, enquanto a outra pressionava sua cabeça contra o concreto frio, os dedos dele se espalhando em sua nuca com um toque possessivo e devastador.
Ela odiava isso. Odiava a forma como ele parecia saber exatamente como fazer o mundo dela encolher até que restasse apenas ele - o peso, o calor, o controle absoluto. E ela odiava ainda mais a própria pele traidora, quente demais, consciente demais de tudo.
── É isso? ── ela disparou entre dentes, ainda ofegante ── Isso é tudo que você tem? Me segurar contra uma parede e bancar o fodão?
O Arkham Knight soltou uma risada baixa, quase gutural, que fez algo se remexer dentro dela, uma mistura incômoda de raiva e... algo que ela se recusava a nomear. Algo que ela se recusava a aceitar que estava sentindo.
Bastardo, Rowan pensou.
── Não preciso de mais nada, ── ele respondeu, a voz baixa e gutural que a fez estremecer, apesar de si mesma. ── Você já perdeu.
E o pior de tudo foi como ele disse aquilo com uma calma devastadora, como se ele estivesse falando de mais do que apenas a missão - e, em algum lugar profundo, Rowan sabia que ele estava.
Enquanto a segurava, ele puxou o celular do bolso, tirou uma foto do corpo de Sanomiya no chão e enviou no aplicativo da GUILD para contar sua vitória. Rowan tentou se soltar durante aqueles segundos, mas falhou. Ele tinha mais força do que ela e a manteve em um aperto de ferro até conseguir o que queria.
Quando a imagem foi enviada e visualizada pelos empregadores, ele se afastou de repente, soltando os pulsos dela com uma brutalidade casual que a fez quase tropeçar para frente se não tivesse levado as mãos até a parede para se estabilizar. Rowan girou rapidamente, os olhos faiscando de fúria, mas ele já estava se afastando, as botas ecoando pelo corredor do bunker.
O gosto amargo da humilhação queimava em sua língua enquanto ele desaparecia na escuridão, sentindo um misto de sensações que nublam sua mente. Tudo o que ela conseguiu fazer foi se recostar contra a parede e praguejar.
Maldito cavaleiro.
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٬ notas da autora ⠀✦ ⠀Bem-vindos ao prólogo de DEATH DISCO! tivemos uma demora considerável, mas ele finalmente está entre nós. confesso que não ficou exatamente como eu queria, mas estou tentando não me cobrar tanto no prólogo. Esse é apenas o início e eu não posso entregar todas as explicações agora.
٬ 02 ⠀✦ ⠀Esse prólogo se passa "no presente", mas os próximos vão se passar antes, vão contar como a Rowan entrou na GUILD, como ela e o Jason se conheceram, como começou essa "parceria" deles, etc. E, como já deu pra perceber, ela não sabe se desce o cacete nele ou se desce no cacete dele. Tudo bem, Rowan. A gente te entendo 🕊
٬ 03 ⠀✦ ⠀Espero que vocês tenham tido uma boa leitura e que tenham gostado do prólogo de Death Disco. Não sei quando o próximo capítulo será lançado, mas vou me empenhar para que seja em breve. E, por favor, não se esqueçam de comentar o que acharam. Votos e comentários são sempre necessários para motivar um autor!
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