NENHUM DOS MAROTOS estavam com sono naquele momento. Era madrugada, mas cada um deles se ocupavam com algo diferente. Remus lia um livro, marcando as coisas que achava importante. Sirius e Peter estavam ocupados jogando pedra, papel e tesoura. Já James estava ajeitando seus óculos, que caíram durante o treino de quadribol e acabaram quebrando um pouco, mas nada que não desse para arrumar.

— Oculus Reparo! — James apontou a varinha para o objeto, que voltou a sua forma normal, sem nenhum arranhão ou hastes quebradas — Cara, eu amo magia!

Sirius resmungou ao perder novamente para Peter, se levantando e se jogando na cama de James. O grupo normalmente ficava entediado naquele horário e nada melhor do que uma boa conversa para mudar isso.

— Ah, Sirius, não fique triste! Na próxima eu te deixo ganhar. — Peter ofereceu, com um sorrisinho. Estava brincando, mas Sirius levou aquilo como desafio. O Black podia ser bem competitivo.

— Você só ganhou de mim porque Remus está me irritando.

Peter olhou na direção de Remus, que fez uma careta ofendida, o que tirou uma risada do Pettigrew.

— Mas eu não estou falando nada! — Lupin retrucou.

— Exatamente! Em que mundo você está? Oláaa? Fale conosco, aluado! — Sirius o respondeu, cruzando os braços de forma birrenta.

— Sirius, eu estou ocupado.

— Lendo? — O Black zombou.

— Sim. — E então Remus voltou a folhear as páginas.

— Vamos falar de algo mais interessante! Por exemplo...

James balançou a cabeça negativamente, se inclinando para colocar a cabeça no travesseiro, esperando Sirius terminar a frase.

— Por exemplo o quê? — Potter perguntou.

— Não sei, estava esperando que vocês sugerissem algum tema. — Sirius deu de ombros.

— Uh, uh, eu sei um, eu sei um! — Peter levantou o braço de maneira animada — Frank me disse que ouviu de alguém que Remus está namorando!

Dois pares de olhos curiosos imediatamente se viraram na direção de Remus, que suspirou e fechou seu livro, marcando a página que parou. O garoto cruzou os braços, sustentando os olhares cheios de perguntas de Sirius e James.

Não demorou muito para que perguntas fossem feitas por Sirius e James, ao mesmo tempo.

— Com quem?

— Desde quando?

— Como aconteceu?

— Quem fez o pedido?

— Como foi o pedido?

— O que você estava vestindo?

— Sirius, a roupa não é importante. — O Potter se virou para o amigo, arqueando uma das sobrancelhas.

— Claro que é, quem vai fazer um pedido de namoro com uma roupa brega? Eu ein...

Remus optou por ignorar a conversa sobre moda, olhando para Peter.

— Isso é informação falsa, Pete, eu não estou namorando, certo?

Peter assentiu com a cabeça e James e Sirius se olharam com caretas ofendidas por terem sido ignorados.

— As pessoas só assumiram isso porque eu saí com ela. — Lupin continuou, simplório.

— Cara, se eu fosse namorar todo mundo que eu já fui em encontros... — Sirius murmurou, balançando a cabeça negativamente.

— Enquanto isso eu querendo um encontro só com uma pessoa... — James murmurou em seguida, também balançando a cabeça negativamente. Sirius deu uma risada zombeteira e levou um tapa no ombro por James.

— Aluado, você quer sair com Galithea novamente? — Peter perguntou, de repente, então a atenção dos marotos foram para ele.

Era uma boa pergunta que Remus já tinha parado para pensar sobre. Havia se divertido muito, e com certeza não se importaria de ter sua companhia mais vezes. Seu único medo era ficar próximo demais e acabar machucando ela. Não por psicológico e sim por ser um lobisomem.

De qualquer forma, não podia negar que desejava conhecer mais da vida da corvina.

— Eu gostaria, sim. — Ele respondeu, com um pequeno sorriso.

James e Sirius se encararam novamente, com ar malicioso. Não disseram nada, mas era possível imaginar o que estavam pensando. Remus revirou os olhos, abrindo o livro novamente.

— Vocês são ridículos...

— Ridiculamente lindos. — Potter adicionou e Sirius concordou com a cabeça.

Remus, mesmo que emburrado, sorriu um pouco, achando graça deles.

— Ei, Aluado. — Peter o chamou novamente. Ele tirou os olhos do livro para encarar o amigo — Você sabe que... Amanhã tem... Uh...

O clima pareceu pesar, James se sentou direito e Sirius olhou para Lupin tristemente. Eles sabiam do que Pettigrew estava falando.

E Remus também sabia. Sabia que tinha uma lua cheia para encarar e esse era o maior motivo pelo qual não estava com sono.

— Lua cheia. Não tenha medo de dizer, Pete. — Ele deu um sorrisinho triste, fechando o livro pela segunda vez — Eu sei. Já falei com Dumbledore, vou faltar algumas aulas. Tenho bebido a poção também, então o risco de dar tudo errado é menor, eu vou ficar bem.

Remus com certeza não acreditava nisso. Teve tempo para se acostumar com a dor da transformação, mas mesmo assim ainda doía. Era como se todos os seus ossos estivessem sendo quebrados ao mesmo tempo. Seus amigos também sabiam como era duro para ele, afinal, já haviam visto de perto. Mas trataram de colocar um sorriso no rosto, fingindo acreditar naquelas palavras.

— E se não ficar, sabe que estaremos lá com você, não é? Durante e após. Sempre. — James disse.

— Eu os pediria para não irem, mas já aprendi que eu não tenho escolha. Vocês sempre vão. — Remus tinha medo que algo os acontecesse, céus, e tinha muito... Mas sabia que nada os impediria de passar a transformação ao seu lado. Todas as vezes. Era muito grato por isso, apesar do receio que o atingia toda vez.

— Não mesmo. — Peter adicionou, com um sorrisinho.

James acabou dando um bocejo, que desencadeou outro em Sirius.

— Vejo que estamos com sono. Vai, vamos dormir. Temos um longo dia pela frente hoje, amanhã nós vemos isso. — Remus, colocando o livro embaixo de seu travesseiro, sugeriu, ajeitando-se para dormir.

Quatro "boa noite" soaram no dormitório antes que todos estivessem em suas devidas camas, prontos para descansar.

Talvez Peter, James e Sirius conseguissem dormir, mas Remus com certeza teria uma madrugada cheia de pensamentos indesejados pela frente.

📝

A AULA de transfiguração havia começado. Dessa vez não era em dupla, felizmente para Galli, que não tinha boas memórias envolvendo uma aula de transfiguração e sua dupla anterior, Sirius. Foi naquele dia que tudo começou a desandar.

Mas, sinceramente? Estava até contente com a evolução em seu relacionamento com Remus. Agora eram amigos. Ou pelo menos Galithea o considerava um.

A corvina percebeu que estava encarando Lupin, que não estava muito longe dela. Notou olheiras decorando seu rosto, indicando que ele provavelmente não estava dormindo bem o suficiente.

Naquele dia em específico estavam treinando o Geminio. Feitiço para duplicar objetos. Tinha uma pedra na mesa de cada aluno.

— Saibam que apesar do feitiço criar uma réplica exata, ao longo do tempo a cópia tende a apodrecer ou manchar, por isso, as cópias criadas pelo feitiço são consideradas sem valor. — Minerva explicou, observando alguns alunos executando o feitiço.

— Lá se vão meus grandes planos... — Sirius murmurou, alto o suficiente para a turma ouvir. Minerva o enviou um olhar de aviso e ele voltou o foco para a pedra.

Galithea ia tentar pela terceira vez, afinal, havia falhado nas outras duas, mas um cutucão em seu ombro a fez dar uma viradinha discreta.
James havia a cutucado e agora a encarava com um sorrisinho suspeito.

— O que foi? — ela questionou, em um sussurro.

— Passa isso para Lily, por favor? — Potter pediu, entregando um papelzinho para ela.

Tudo que ela conseguiu ler foi o "Lírio" escrito em letras grandes no verso. Ela reprimiu um sorrisinho, pegando o papel. Lily estava em sua frente, então tudo que precisou fazer foi também dar um cutucão nela. Quando o fez, a ruiva virou imediatamente. Já havia feito o feitiço e as duas pedras estavam em cima de sua mesa.

Galli deu o papel em sua mão e a Evans respondeu com um olhar confuso, mas o pegou mesmo assim.

— De quem é iss- — Tudo que a Evans precisou fazer foi ler o verso. O "lírio" entregava o autor do bilhetinho. A ruiva colocou no bolso, virando-se para prestar atenção nos fatos sobre replicação que McGonagall citava.

James cutucou Galithea novamente, que se virou outra vez. Ele murmurou um agradecimento, sorrindo. Ela respondeu com um joinha, retribuindo o sorriso, e então focou novamente em sua pedra.

Respirou fundo antes de levantar sua varinha e agitar sua mão:

— Geminio! — Felizmente, em questão de segundos, sua pedra duplicou. Havia conseguido fazer o feitiço. Ela sorriu, orgulhosa, dando outra espiadinha em Remus.

A pedra dele não estava duplicada e aquilo era estranho na visão de Galli. Remus não era de errar feitiços, principalmente em transfiguração. Talvez realmente estivesse tendo um dia ruim. Talvez fosse a mesma razão pela qual ele não dormiu naquela noite.

As perguntas rodeavam seus pensamentos pelo resto da aula, com a promessa mental de que, se tivesse tempo, perguntaria a ele se estava tudo bem.

📝

NÃO DEMOROU MUITO para a aula acabar. Agora as garotas estavam na comunal da grifinória, a pedido de Galithea. Ela queria falar com Remus e onde mais o encontraria, certo? Talvez na biblioteca, mas apostou na comunal.

Sua cabeça analisava mil cenários que poderiam ter acontecido para ele estar mal. Talvez tivesse brigado com alguém? Algo familiar? Eram várias as opções, mas ela parou de pensar quando ele entrou na comunal.

Melinoe olhou para Galli discretamente, indicando com a cabeça que ela deveria falar com ele. Remus parecia bem estressado, mas, mesmo assim, a Vespertine se levantou, andando até ele.

Lupin demorou um pouco para perceber que tinha alguém atrás de si, mas, quando percebeu, se virou. Quando viu de quem se tratava, forçou um sorriso. Galithea percebeu que aquilo não era genuíno, mas não disse nada.

— Oi. — Ele disse, colocando a mão nos bolsos.

— Oi, Remus... É... Eu só queria perguntar se está tudo bem com você. Parece meio cabisbaixo.

Ele mordeu o lábio inferior com certa força ao lembrar que não podia colocá-la no meio daquilo, então teria que mentir. Sim, tinha uma razão por trás, claro que tinha. Mas era uma que ela não podia saber.

— Ah, sim, estou bem. — Remus abriu outro sorrisinho forçado — Só estou meio enjoado, sabe? Sem forças. Devo ficar bem logo.

— Tem certeza? Quer dizer, eu posso te levar na enfermaria e-

Ele a cortou, balançando a cabeça negativamente.

— Não, não precisa, obrigado. — disse, tentando não prolongar aquela conversa. Quanto menos ela ficasse curiosa, melhor — Eu preciso ir agora. Tenho lições para terminar.

Ela não estava convencida, mas também não o pressionaria nem nada. Respondeu com um aceno de cabeça e um sorrisinho também forçado. Ele então andou na direção de seu dormitório e por ali ficou.

Galli voltou para o sofá, se jogando ali. Melinoe fez uma careta confusa.

— O que foi isso? — A loira questionou.

— Eu não faço a mínima ideia. — Galithea murmurou em resposta — Acho que ele não queria conversar. Mas pelo menos está bem... Eu acho.

A Malfoy deu de ombros, apoiando a cabeça nas costas do sofá.

Galithea poderia ir atrás de Sirius e força-lo a dizer o que houve. Estava curiosa e preocupada, mas não queria invadir a privacidade de Remus. Quando ele quisesse contar, contaria. E se fosse algo tão sério ele com certeza mencionaria algo, não é?

📝

"Querido diário... Acho que algo está acontecendo. Não comigo, mas com Remus. Ele estava esquisito hoje. Não é a primeira vez que o vejo assim, na verdade. Pensei que agora que somos pelo menos um pouquinho próximos eu fosse entender o que está havendo, mas ele não me disse nada. Respeito a escolha dele, claro, mas não deixo de me preocupar... Bem, amanhã eu tento conversar com ele novamente.
De resto, o dia foi ótimo. Fiz um feitiço incrível na aula de Minerva, mesmo que tenha demorado algumas tentativas. Ah, também acho que James finalmente está ganhando a atenção de Lily. Depois de seis anos tentando. Hoje ela recebeu um bilhetinho dele e ficou toda bobinha.

Até amanhã.
Galithea, 1977."