02. ㅤㅤㅤFINS QUE JUSTIFICAM OS MEIOS
Prisão de Alta Segurança, MACUSA.
A PRESIDENTE SERAFINA PICQUERY e Rudolph Spielman andam ritmadamente para uma porta de aparência sinistra, passando por sucessivas duplas de guardas em seu caminho.
— Imagino que vá ficar feliz em se livrar dele — Spielman disse de repente, chamando a atenção da presidente.
— Na verdade, ficaremos muito felizes em mantê-lo sob custódia aqui — ela respondeu rapidamente e não parecendo nem um pouco feliz com a situação.
— Seis meses já bastam — ele voltou a dizer. — Chegou a hora de ele responder por seus crimes na Europa.
Madame Picquery deu um risada alta, mas sem humor algum contido nela.
— Foi isso o que o senhor Lance o pediu para me dizer? — ela perguntou parecendo irritada. — Ele finalmente conseguiu o que queria, Grindelwald vai estar sob sua custódia. Me pergunto o por que de ele não ter vindo ele mesmo fazer o trabalho — Picquery murmurou, olhando Spielman de cima a baixo. — Será que ficou com medo de me ver depois disso?
Spielman soltou uma pequena risada sem graça. Não, ele desconfiava que Dorian Lance não temia nem mesmo a morte em pessoa.
— Eles me acharam mais adequado para o trabalho.
A presidente sorri e o olha de cima a baixo novamente, ela parecia não concordar com aquilo.
Eles então continuaram a andar pelo corredor, até pararem na última porta.
— Presidente Picquery, senhor Spielman — um homem os cumprimentou, ele parecia guardar a porta. — O prisioneiro está bem seguro e pronto para viagem.
O guarda, Abernathy, abre então uma portinhola na porta de alta segurança e mostra a Spielman e Picquery o prisioneiro na cela.
— Pelo que vejo, você foi com tudo para cima dele — Spielman comentou, observando a aparência nada boa de Gellert Grindelwald na cela.
Barbudo e de cabelos compridos, Grindelwald está sentado, imóvel, preso magicamente em uma cadeira. O ar por ali trêmula, carregado de feitiços.
Um filhote de Chupacabra — em parte lagarto, em parte um homúnculo, uma criatura das Américas que suga sangue — está acorrentado à cadeira de Grindelwald.
— Foi necessário. Ele é extremamente poderoso — a presidente Picquery começou a falar, ainda observando Gellert em sua cela. — Tivemos de trocar sua guarda três vezes... ele é muito... convincente. Por isso removemos sua língua.
Celas semelhantes a jaulas se elevam em diferentes níveis ao redor. Prisioneiros entoam em coro e batem nas grades, animados, enquanto Grindelwald, amarrado, é transportado para cima, suspenso magicamente pelo ar.
"Grindelwald! Grindelwald!", todos eles gritavam ensandecidos e animados.
Uma carruagem preta, puxada por oito Testrálios, está à espera. Os Aurores sobem ao banco do condutor e os demais empurram Grindelwald para dentro.
— A comunidade bruxa do mundo todo tem uma grande dívida com a senhora, presidente — Spielman diz, parecendo realmente grato, quando os Aurores terminam de colocar o prisioneiro na carruagem.
— Não o subestime — é tudo o que Picquery diz, um aviso.
Abernathy, o guarda de mais cedo, se aproxima de ambos.
— Senhor Spielman, encontramos a varinha dele escondida — ele diz, estendendo uma caixa preta e retangular na direção de Rudolph. — E também encontramos isto.
Ele estende na palma da mão um frasco contendo uma substância dourada e brilhante. Spielman estende o braço para o frasco, que está em uma corrente, e, depois de um instante de hesitação, Abernarthy o solta.
Dentro da carruagem, Grindelwald abre os olhos pela primeira vez. Ele ergue os olhos gélidos até o teto e depois mira fora da carruagem, observando.
Spielman agradece e, com um último aceno de cabeça em direção à presidente Picquery, ele entra na carruagem. A porta então se fecha e uma série de cadeados surge nas portas, emitindo estalos sinistros enquanto todos eles se fecham.
"Iáá!", o Auror que conduz grita e os Testrálios arrancam.
A carruagem despenca, depois sobe pela chuva torrencial. Outros Aurores vêm logo atrás, seguindo a carruagem, todos montados em vassouras.
Do lado de dentro da carruagem, Spielman e Grindelwald estão sentados, olhando-se fixamente, flanqueados por Aurores, todos apontando as varinhas para Grindelwald. A caixa com a varinha de Grindelwald está no colo de Spielman, ele ergue o frasco, pendurado na corrente.
— Acabou-se a língua afiada, hein? — ele pergunta com um sorriso maldoso.
Mas então, algo inesperado começa a acontecer.
Grindelwald começa a se contorcer em seu assento, o que chama a atenção dos Aurores sentados ao lado. Spielman observa enquanto o rosto do homem se contorce e então, se transforma em outra pessoa... o guarda de mais cedo, Abernathy.
Spielman arfa em choque, seu sorriso sumindo rápido dos lábios.
A carruagem começa a se remexer, algo parece estar acontecendo também ao lado de fora, de repente dá uma guinada, mergulhando todos eles na escuridão daquela noite.
A carruagem balança perigosamente, as duas portas abrem com força repentinamente e o vento forte da noite adentra a carruagem, tão sobrenaturalmente forte que lança os dois Aurores da outra extremidade para fora da carruagem. Spielman se segura o mais forte que consegue, tentando não ser lançado para fora também. Ele tenta alcançar sua varinha, mas a observa se desfazer em pó. Em pânico, ele olha para fora e então, vê o rosto de Grindelwald, o verdadeiro desta vez...
Ministério da Magia, Londres.
Newt Scamander está sentado sozinho em uma área de espera sombria, olhando distraidamente o vazio. Depois de um momento, ele sente algo puxar seu pulso. Ele olha para baixo e vê Pickett, um Tronquilho. Ele está pendurado em um fio solto do punho de seu casaco.
O fio de repente se rompe e Pickett cai. O botão do casaco de Newt rola por um corredor e, por um momento, Newt e Pickett apenas o observam rolar.
Um segundo se passa, e então os dois vão atrás do botão. Newt consegue chegar primeiro, por pouco, quase perdendo para Pickett. Enquanto se abaixa risonho para pegar o botão, ele se vê diante de um par de sapatos femininos.
— Eles estão aguardando você, Newt.
Ele se levanta e então, está cara a cara com Leta Lestrange, bonita e sorridente. Newt enfia o botão e Pickett no bolso.
— Leta... o que está fazendo aqui? — ele murmura um tanto surpreso.
— Teseu achou que seria bom se eu fizesse parte da família do Ministério — ela se pôs a explicar, um pequeno sorriso nos lábios.
— Ele realmente usou as palavras "família do Ministério"? — ele pergunta e ela ri.
Eles partem juntos pelo corredor, em um silêncio um tanto constrangedor e tenso.
— Na verdade, isto é a cara do meu irmão.
Leta concordou logo ao lado.
— Teseu ficou decepcionado por você não ter podido vir jantar conosco — ela falou. — Em nenhuma das noites em que o convidamos.
Newt leva uma mão ao cabelo ruivo e desgrenhado.
— Bom, eu tenho andado ocupado.
— Ele é seu irmão, Newt, gosta da sua companhia — Leta voltou a falar, mas parou por um instante, ponderando suas próximas palavras. — E eu também — ela por fim, resolveu dizer.
Newt Scamander não responde, ele vê Pickett subindo em sua lapela e mostra o bolso do peito do paletó para ele.
— Ei, você aí! — ele diz acusadoramente. — Para dentro, Pick — ele ralha, feito uma mãe para o pequeno Tronquilho.
— Por que criaturas estranhas gostam tanto de você? — Leta pergunta, observando a cena.
— Bom, não existem criaturas estranhas... — ele começa a responder, mas é subitamente cortado por Leta.
— "... só gente intolerante" — ela completa, rolando os olhos e rindo.
Ela está sorrindo de novo e Newt — discretamente — ri daquilo também.
— Quanto tempo você pegou de detenção por dizer isso a Predergast? — ela pergunta ainda rindo, parecendo nostálgica, perdida em lembranças dos tempos da escola.
— Sabe de uma coisa, acho que daquela vez foi um mês — ele responde rápido.
— E eu pus uma Bomba de Bosta embaixo da mesa dele para me juntar a você, lembra? — ela pergunta animada.
Eles chegam às portas meio apavorantes — para Newt — e oficiais que levam à sala de reuniões. Teseu Scamander aparece, surgindo de dentro das portas.
— Não, para falar a verdade, não me lembro disso — Newt responde, agora observando seu irmão.
Sentindo-se mal com a resposta, o sorriso de Leta Lestrange some.
Newt contorna Teseu, ambos se parecem muito em aparência, porém, era inegável que Teseu Scamander era muito mais sociável que seu irmão, de maneiras mais tranquilas. Teseu dá uma piscadela para Leta antes de se virar para Newt.
— Olá, Newt — ele cumprimenta seu irmão.
— Teseu. Estávamos agora mesmo falando sobre Newt aparecer para jantar — Leta comenta.
— É mesmo? Bom... — ele murmura sorridente, mas então seu sorriso some e ele enfia as mãos nos bolsos da calça de linho, olhando sério para Newt. — ... olha, antes de entrarmos aí, eu...
— ... é minha quinta tentativa, Teseu — Newt fala de repente. — Conheço o método.
Teseu ergue uma sobrancelha na direção de Newt. Ele não tinha muita certeza daquilo.
— Esta não será como das outras vezes — ele informa. — Esta será... — ele murmura, mas então muda de ideia, seja lá o que ele fosse dizer. — Só procure manter a mente aberta, está bem? E ser talvez um pouco menos...
Um gesto mudo indica Pickett, o casaco azul de Newt e seu cabelo desarrumado.
— ... como eu mesmo? — Newt indaga.
Teseu solta um suspiro e se coloca ao lado de seu irmão, o agarrando de mal jeito pelos ombros e o conduzindo até as portas.
— Ora, não fará mal. Vem, vamos entrar.
Newt e Teseu entram na sala de audiências, onde Torquil Travers, Arnold Guzman, Rudolph Spielman — que ainda traz hematomas da fuga de Grindelwald e uma mordida ensanguentada visível no pescoço — e Dorian Lance, já estão sentados.
Há duas cadeiras vagas, que Newt e Teseu ocupam.
Newt lança um olhar para Teseu logo ao lado, uma pergunta muda. Ele estava acostumado com Torquil e Arnold nas audições, mas Rudolph e Dorian? Aquilo era deveras estranho...
Teseu apenas responde com um pequeno sorriso, ao qual não convence nem um pouco Newt.
— Que tenha início a audiência — Travers diz de repente, chamando-os a atenção.
A pena mais ao canto na sala, posta sobre a mesa de mármore, começa a escrever sobre o pergaminho, tomando notas da audiência. Travers abre diante de si uma pasta contendo fotos de procurado de Newt Scamander e da destruição pós-Obscurial em Nova York.
— Você quer o fim da proibição para fazer viagens internacionais. Por quê? — Travers pergunta diretamente à Newt.
— Por que gosto de fazer viagens internacionais — Newt Scamander responde simplesmente.
Há silêncio novamente na sala escura, todos olhando na direção de Newt. Ele se remexe desconfortável em sua cadeira e olha para cada um ali, até parar em Lance, ele está com o maxilar trincado, parece irritado enquanto remexe os dedos no mármore da mesa, ele parecia não gostar de estar ali tanto quanto Newt. Scamander também não pôde deixar de notar o contraste daquele dia em que viu e falou com o senhor Lance no metrô destruído de Nova York, para agora. Ele parecia mudado, perigoso.
— Indivíduo pouco cooperativo e evasivo sobre os motivos para a última viagem ao exterior — Spielman falou de repente, lendo a própria pasta e surpreendendo Newt, que olhou para Dorian mais uma vez.
Ele não havia dito para eles?
Newt então notou o silêncio, todos olhando para ele, esperando que ele dissesse algo.
— Foi uma viagem de estudo. Eu coletava material para meu livro sobre criaturas mágicas... — se pôs a explicar.
— Você destruiu metade de Nova York — Travers disse, o interrompendo.
— Não, na verdade, isto está incorreto em dois aspectos...
— Newt! — Teseu chamou a atenção logo ao lado, sussurrando severamente para o irmão.
Newt para e franze a testa.
— Senhor Scamander, está claro que o senhor está frustrado e, para falar com franqueza, nós também estamos — Guzman começou a dizer. — Como espírito conciliatório, gostaríamos de lhe fazer uma proposta.
Newt olha cautelosamente para Teseu, que assente, dizendo com os olhos "ouça".
— Que tipo de proposta? — Newt finalmente pergunta.
— O comitê concordará em suspender sua proibição de viajar com uma condição — Travers responde e aquilo preocupa Newt.
Newt espera inquieto e, pela primeira vez, Dorian Lance se faz realmente presente ali.
— Você ingressa no Ministério — ele diz sem enrolar. — Especificamente, no departamento de seu irmão.
Newt pisca os olhos, tentando assimilar aquilo tudo. Agora a presença de Dorian e Spielman faziam sentido... ou começavam a fazer.
— Não, eu... — ele começa, mas para. Não sabe bem o que dizer. — Esse não é o meu tipo de... Teseu é Auror — falou apontando para Teseu logo ao lado, como se o acusasse de algo. — Creio que meus talentos são em outra área...
Há uma pequena pausa. Dorian pela primeira vez retira os olhos de Newt e então troca olhares com Teseu, que se remexe em seu lugar, parecendo uma criança que acaba de decepcionar o seu mentor.
— Senhor Scamander — é Guzman quem quebra o silêncio. — Os mundos bruxo e não bruxo vêm se mantendo em paz há mais de um século. Grindelwald quer ver esta paz destruída e a mensagem dele, para certos membros de nossa comunidade, é muito sedutora. Muitos sangues-puros acreditam que é seu direito de nascença governar não apenas nosso mundo, mas também o mundo não-bruxo. Eles vêem Grindelwald como seu herói, e Grindelwald vê este menino como um meio de transformar tudo isso em realidade.
Ao ouvir isto, Newt franze o cenho, observando o rosto de Credence surgir na superfície da mesa de mármore escuro.
— Sinto muito — Newt falou, franzindo o cenho em confusão. — Está falando de Credence como se ele ainda estivesse entre nós.
— Ele sobreviveu, Newt — Teseu revelou logo ao lado.
Newt para de súbito, com os olhos fixos em Teseu, que afirma. Ele estava falando a verdade.
— Ele ainda está vivo. Deixou Nova York meses atrás — Dorian Lance começa a dizer, o que traz a atenção de Newt para ele. — Está em algum lugar da Europa. Onde, exatamente, não sabemos, mas...
— E quer que eu vá caçar Credence? — Newt pergunta de súbito, as mãos apertando os braços da cadeira onde estava sentando. — Para matá-lo?
Dorian suspirou, voltando a se encostar em sua cadeira e pareceu desistir do que quer que estivesse acontecendo ali. Ele parecia impaciente e, do outro lado da mesa, Teseu o lançou um olhar, "calma", ele pareceu suplicar dali. Mas não pareceu funcionar, Dorian simplesmente se manteve calado e, Teseu então soltou um suspiro trêmulo. Era óbvio que não conseguiriam fazer Newt aceitar o trabalho e Lance já sabia disso. Teseu lambeu os lábios secos, nervoso, ele deveria ter conversado melhor com Newt.
Quando todos perceberam que Dorian não diria mais nada e que a escolha dele já estava feita — qualquer que essa fosse — , então, uma nova voz surgiu na sala escura, vinda das sombras.
— O velho Scamander de sempre.
Newt se sobressalta com aquela voz. E então, ele vê Grimmson avançar para luz. Marcado e brutal, ele é um mercenário caçador de criaturas.
— O que ele está fazendo aqui? — Newt indaga furioso.
— Assumindo o trabalho que você é frouxo demais para fazer — Grimmson responde, um sorriso perigoso nos lábios.
Ele caminha até eles enquanto a imagem espectral de Credence tremula na superfície encantada da mesa.
— É isto? — ele pergunta apontando para a imagem e então olha para Dorian, que apenas concorda com a cabeça e o enxota com uma das mãos.
Newt se levanta, furioso, e parte intempestivamente para a porta.
— Documentação de viagem indeferida! — grita Travers para que ele possa ouvir antes de sair da sala.
Grimmson anda até o lugar de Newt e então se senta, de frente para o comitê.
— Bem, cavalheiros, imagino que isto signifique que o trabalho é meu.
Dorian rola os olhos e no mesmo momento se levanta, surpreendendo a todos na mesa.
— Onde está indo? — Travers pergunta, observando Dorian andar em direção a porta. — Ainda não acabamos aqui.
Dorian se vira, mãos nos bolsos e uma cara nada boa.
— Eu já acabei — ele olha para Grimmson sentado na mesa do comitê e seu rosto se contorce em desgosto, que ele não esconde. — Cada dia mais parecemos cavar nosso próprio caminho para o fundo do poço.
Spielman e Guzman olham surpresos para Dorian, enquanto isso, Travers lança um olhar de alerta para o mesmo.
— Sei que não gosta de mim, senhor, mas farei um bom trabalho, isto eu lhe garanto — Grimmson diz, olhando para Dorian. — Eu trabalho melhor que aquele garoto frouxo, pode acreditar.
— Eu prefiro o garoto frouxo — ele responde e volta a se virar e, sem dizer mais nada, deixa a sala de audiências.
— Newt! — Teseu chamou, indo atrás de seu irmão, tentando alcançá-lo.
Newt então para de supetão, virando-se para Teseu.
— Acha que gosto da ideia de chamar Grimmson mais do que você? — Teseu pergunta, parecendo impaciente.
— Escute, não quero ouvir falar de fins justificando os meios, Teseu — Newt respondeu, parecendo um tanto impaciente também.
— Acho que você precisa tirar a cabeça da areia! — Teseu exclamou, ficando bem próximo de Newt.
— Tudo bem, está certo, pode começar — Newt murmurou. — Que egoísta... irresponsável...
— Você sabe que está chegando o momento em que todos terão de escolher um lado. Até você — Teseu apontou.
— Não tenho lados.
— Newt...
Newt se vira para partir, mas Teseu corre atrás dele e segura o braço do irmão para contê-lo, puxando-o para um abraço repentino.
— Vem cá — Teseu diz, pegando Newt de surpresa.
Newt não retribui o abraço, mas também não se desvencilha do irmão.
— Eles estão vigiando você — Teseu sussurra de repente no ouvido de Newt e o sente ficar mais rígido em seu aperto.
Teseu se desvencilha e repara que há sons de passos atrás dos dois, ele se vira e vê Dorian Lance vindo em direção de ambos.
— Senhor Lance, senhor — Teseu diz depressa, parecendo ele o rígido ali agora.
— Teseu — Dorian cumprimenta, mas logo se vira em direção de Newt. — Posso ter um momento de seu tempo, senhor Scamander?
Newt olha de Dorian para Teseu, que dá um pequeno passo para trás, onde Dorian não pode vê-lo, e então balança a cabeça na direção do irmão, o indicando para ir com Dorian.
Ele abriu a boca para recusar, mas então a fechou. Newt não havia gostado do decorrer das coisas na sala de audiência e não concordava em nada com o que Dorian Lance havia feito ali, mas ele também se lembrava dele em Nova York e em como ele havia o ajudado, além também de Tina e Jacob. Dorian Lance até mesmo tinha conseguido uma boa promoção para Tina, conversando com a presidente Picquery.
Newt suspirou e então concordou com a cabeça.
— Ótimo — Dorian respondeu. — Me acompanhe até a minha sala, senhor Scamander.
Teseu deu um último olhar na direção de Newt enquanto ele e Lance saiam pelo corredor. Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça e soltou um grande suspiro, ele esperava que o que quer que o senhor Lance tivesse a falar com Newt, acabasse ajudando-o a pensar melhor no caso e o fizesse mudar de ideia quanto a tudo aquilo.
Newt acompanhou Dorian Lance, por um longo corredor de ladrilhos escuros, até eles pararem de frente para uma porta protuberante, com uma placa em dourado bem ao meio. "Dorian Thaddeus Lance, Diretor de Segurança Mágica", era o que dizia ali.
Dorian abriu a porta de madeira escura e indicou que Newt entrasse na frente. Ele colocou os pés para dentro e se surpreendeu com o tamanho do escritório.
Era uma sala de tamanho retangular e com os mesmos ladrilhos escuros do corredor lá fora, porém, ali dentro as coisas pareciam mais vivas, literalmente. Ao fundo, havia uma escrivaninha de madeira escura e brilhante, haviam vários papéis e pergaminhos sobre a tampa, penas se mexiam sozinhas, rabiscando anotações em pergaminhos. Atrás da escrivaninha de mogno havia uma estante enorme e cheia de livros, alguns deles se abriam, se alto folheavam e então, voltavam a se colocar em seus devidos lugares na estante, era como se algo ou alguém, estivesse procurando por um livro, ou assunto em específico, mas não encontrava, então voltava a procurar. Do outro lado da sala, Newt viu dois sofás dispostos um ao lado do outro, com almofadas e um pequeno cobertor dobrado perfeitamente — ele não se surpreenderia se dissessem que Lance acabava ficando por ali por dias — e, ao lado das almofadas, um gato cinzento dormia, porém, percebendo que havia visitas, ele bocejou, se espreguiçou e então saltou para fora do sofá, indo em direção das pernas de seu dono, que andou até a cadeira do outro lado da mesa de mogno e se sentou.
— Por favor, sente-se, senhor Scamander — Dorian disse, apontando para a cadeira de frente para ele e do outro lado da mesa.
Newt se sentou e então, no mesmo momento, o gato pulou na mesa, o encarando, como quem o vigia de perto.
— Esse é Oswin, não se sinta incomodado com ele. É verdade que ele encara um pouco demais, mas está fazendo apenas o seu trabalho — Dorian disse e no mesmo instante o gato miou, como que concordando.
Newt se remexeu em sua cadeira, ele não se sentia à vontade ali. E, percebendo os papéis na mesa de Lance, ele viu vários cartazes de procurado, mas a grande maioria ali eram com o rosto de Grindelwald, assim como as anotações em cima da mesa.
Com um movimento de mão, Dorian mandou todos os papéis para longe, que saíram da mesa de mogno e flutuaram e se arrumaram na mesa do outro lado da sala, deixando a escrivaninha vazia, apenas com o gato ali em cima.
— Hm... olá, Oswin — Newt cumprimentou o gato, que ele agora sabia ser quem vigiava a sala de Dorian Lance em sua ausência. — Senhor Lance... se o senhor me trouxe até aqui para falar sobre o assunto de mais cedo... não irei mudar de ideia.
Newt observou Dorian suspirou e passar uma mão sobre a barba em seu queixo.
— Aceita chá, senhor Scamander? — ele ofereceu de repente, mas não esperou por uma resposta e, com mais balançar de mãos, xícaras, pires, colheres e bule flutuaram até a mesa, se servindo em frente à eles. — Espero que não se importe, acho que preciso de um pouco de chá.
Um pequeno pote de açúcar flutuou em direção à xícara de Newt, mas antes que conseguisse alcançar o chá dentro da xícara, Newt tampou o conteúdo com uma mão — ele não gostava de chá muito doce.
— Eu havia pedido para Teseu conversar com você e talvez fazer com que o senhor aceitasse a proposta de hoje — Dorian revelou entre uma sorvida e outra em seu chá.
— Eu imaginei — Newt respondeu, também experimentando o chá.
— Deveria ter imaginado que você recusaria logo de cara.
— Eu sinto muito, senhor, mas...
Dorian ergueu uma mão, interrompendo Newt.
— Menti mais cedo, quando disse que não sabia onde Credence estava — ele revelou e Newt o olhou surpreso através de sua xícara de chá, devolvendo-a à mesa. — Na verdade, sei exatamente onde ele está agora mesmo. Está em Paris, fazendo parte de um circo itinerante.
Newt olhou ao redor na sala e depois para o gato na mesa, que ainda o encarava — perguntando a si mesmo se estavam os escutando ali, se aquilo era algum tipo de teste quanto à ele.
— Então Grimmson está indo para lá — não foi uma pergunta e, no timbre de voz de Newt, ele deixou-se perceber que estava irritado, enojado.
— Não. Ninguém mais sabe disso. Nem Grimmson, nem Teseu, somente eu e você — Dorian revelou, ainda bebendo seu chá. — A situação nunca esteve pior, sabe, senhor Scamander. É difícil saber que não posso confiar nem mesmo em meus colegas de trabalho... — Dorian murmurou e passou uma mão sobre os cabelos. — E não se preocupe, aqui dentro não podem nos ouvir ou seguir.
É claro que ele sabia que Newt estava sendo vigiado, assim como Teseu havia o avisado. Ali, naquela sala, a presença de magia era forte, Newt conseguia sentir no ar todo tipo de magia e encantamentos, mas ele desconfiava que todos os encantamentos e magias ali vinham diretamente do homem à sua frente.
— Me desculpe, senhor Lance, mas não estou entendendo — Newt se pôs a falar. — Por que me dizer isso?
— Por que não confio em Grimmson e nem tanto quero que Credence seja morto — ele respondeu rápido. — Eu esperava que Teseu conversasse e o fizesse aceitar o trabalho, assim, depois, eu poderia conversar com o senhor e então Grimmson não seria um problema — Dorian soltou mais um suspiro pesado, ele parecia estar carregando muitos problemas em suas costas ultimamente. — Mas, bom, já que esse não é o caso, o que eu peço é que o senhor vá clandestinamente até Paris e encontre Credence e o traga até aqui. Grindelwald quer o garoto e é um perigo caso ele o consiga alcançar antes de nós.
Newt afastou a xícara de chá e então olhou para Dorian, ele tinha muitas perguntas.
— E o que exatamente aconteceria a Credence quando eu o trouxesse para cá?
Dorian sorriu com aquilo.
— Nada de mal, isso eu garanto. Se eu o quisesse morto, deixaria Grimmson fazer seu trabalho e, se não me importasse, deixaria que Grindelwald colocasse as mãos nele — ele respondeu dando de ombros. — Não me leve a mal, senhor Scamander, mas se meus planos envolvessem fazer mal àquela criança, por que eu estaria aqui desperdiçando meu tempo com o senhor?
Newt entendia que o motivo de Dorian estar tentando envolver outro naquilo, era por que ele simplesmente não podia sair dali. Lance era o Diretor de Segurança Mágica, e, pelo visto, estava fazendo as coisas pelas costas do Ministério, se ele desse um passo em falso, logo descobririam seus planos. Newt somente não entendia o por que de ele ter sido o escolhido — o por que de Dorian parecer confiar nele.
— Eu sei o que vi em Nova York — Dorian disse de repente, como se tivesse adivinhado os pensamentos de Newt. — Sei que não faria mal algum à Credence, senhor Scamander.
— Não posso sair do país — foi tudo o que Newt respondeu.
— Posso dar um jeito nisso — Dorian respondeu imediatamente. — O senhor sairá do país sem que ninguém perceba. Também irei lhe dar a localização exata de Credence. Apenas, infelizmente, mas obviamente, não poderemos manter contato. Então estarei confiando totalmente e plenamente no senhor. O que me diz?
— Irei até Paris.
Dorian sorriu satisfeito, feliz com a resposta rápida de Newt.
— Ótimo. E, lembre-se, senhor Scamander, não comente sobre isso com ninguém, nem mesmo Teseu. Se lhe perguntarem, diga que tentei o fazer mudar de ideia quanto à reunião de hoje, afinal, não é novidade o meu desgosto por Grimmson — Dorian comentou e Newt concordou com a cabeça, escondendo um sorriso quando voltou a tomar seu chá. — Ah! E cuidado com os Aurores por Londres, eles estarão lhe vigiando de perto. Mais chá?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro