nem tudo que vivo tem forma, tão certo é um defeito
Taylor havia perdido parte da madrugada de sono com os olhos abertos, após Jamie já ter ido dormir. Quando finalmente os fechou, não demorou muito para abri-los novamente. Às cinco da manhã acordou, e viu Jamie ainda dormindo, respirando calmamente.
A observou por um momento, então pensou em como estava onde queria estar. Reconhecidamente, logo após o Met Gala, ela chegou em casa e pesquisou o nome de Jamie no Google. Encontrou a conta dela no Instagram e até viu uma fanpage de fãs brasileiros da garota. Suas digitais provavelmente estavam nas histórias das páginas, mas ela não se importava. Ela estava realmente interessada em saber quem era a garota. E mesmo que tentasse contar para si mesma que era inocentemente no início, ela sabia que no fundo de sua mente a verdade já estava gritando.
Eram pouco mais de seis da manhã quando Jamie se mexeu na cama. Ela abriu os olhos, se ajeitou de modo a sentar-se e alcançou o celular na pequena mesa de cabeceira. Fazia isso sempre, via o que tinha perdido pela noite, então quando tinha certeza de que não muita coisa tinha acontecido, deixava o aparelho de lado.
Taylor observou aquilo, virou de lado na cama e jogou os braços por sobre o tronco da mais nova, passando de leve os dedos em seu abdômen.
— Nós precisamos nos levantar — Jamie comentou, quando deixou o celular de lado.
Ela reparou nas mensagens que tinha recebido de Kit, e outras também de seu agente. Então marcou mentalmente que deveria retornar em breve.
— Que horas você precisa ir embora? — Taylor perguntou, lembrando-se de como Jamie tinha um compromisso em Londres, e um voo para pegar em algumas horas.
— Meu voo é em três horas ou algo assim, então não posso demorar mais do que uma hora aqui — Jamie respondeu, lembrando a Taylor que precisaria sair em pelo menos uma hora, já que antes de seguir na direção do JFK, precisava passar no apartamento em que estava "ficando" no Bowery - tinha passado menos tempo ali do que outras vezes, mas algumas malas ainda estavam por lá — Preciso passar no apartamento do Jeremy para pegar minhas coisas.
— Então... Café da manhã? — Taylor deixou o corpo de Jamie, sentindo de imediato falta do contato, mas se levantou.
— Claro — Jamie concordou, jogando de lado parte do edredom que ainda cobria seus pés, e seguiu Taylor. A mais velha atravessou metade do quarto, em direção ao banheiro, e sentiu as mãos de Jamie em seus ombros. Ela se virou, envolvendo os braços em volta da cintura da garota, e sorriu calmamente ao ver a situação. Jamie deixou um beijo no cabelo dela e saiu dizendo que ia tomar banho no banheiro da sala da frente, depois elas se encontrariam lá embaixo na cozinha.
O que fizeram, mas não antes de Taylor passar alguns minutos debaixo d'água. Na saída, ainda parou para ajeitar os lençóis da cama, e só então desceu.
Jamie estava atrás do balcão, olhando para a grande janela que deixava entrar o movimento da rua. Vestindo jeans escuros e um suéter com desenho de trança tripla em uma cor creme clara. A peça foi confeccionada em lã, com fios mais grossos. Ela não tinha nada nos pés, se não uma meia com pequenos desenhos da Tardis, e isso era normal. Dentro de casa, ou usava meias nos pés ou apenas ficava descalça. Mas no piso da sala, ao lado do sofá, o adidas samba classic já desbotado descansava.
Taylor não estava diferente de qualquer outro dia. Moletom parecia ser sua melhor escolha nos tempos que vinha tendo. Era simples, fácil e confortável. Dessa vez era uma calça cinza, com um moletom que na verdade era de Jamie, em um tom escuro de vermelho, com a indicação da universidade de Bristol logo na frente - onde Jamie havia estudado.
— O que você está fazendo? — Taylor perguntou.
— Seu café da manhã de sempre — Jamie respondeu — Crepes de trigo sarraceno com presunto, queijo parmesão e um ovo estrelado por cima. Algo assim, certo?
Ela se lembra, Taylor pensou consigo mesma.
A mais velha se inclinou sobre o balcão e observou Jamie encher um copo até a metade com suco de laranja e arrastá-lo na sua direção.
Parecia bobo, mas havia tão pouco tempo que estavam nisso e ainda assim, Jamie parecia conhecê-la melhor do que ninguém. Das coisas mais importantes às mais simples, assim, como o que ela gostava de comer pela manhã. Ela provavelmente só contou uma vez, então algum tempo se passou e ela ainda se lembrava. Era uma rotina simples, e já estava clara na cabeça de Jamie.
— Quando você acha que vai voltar de Londres? — Taylor perguntou, levando o copo aos lábios. Ela bebeu parte do suco e colocou o copo de volta no balcão.
— Talvez em uma semana ou menos que isso... — Jamie deu de ombros — Eu tenho o Desfile de Moda da Burberry. Prometi a Kit que o acompanharia, hm... — Ela deu uma mordida na maçã que havia fatiado antes, quando Taylor ainda estava se preparando. Então ela arrastou o prato de Taylor em sua direção e se posicionou do outro lado da bancada — E Charlie me mandou uma mensagem, recebi uma resposta da última audição que fiz, o filme de Yorgos... o papel é meu — disse ela, cautelosa, mas animada. Aquela era uma ótima notícia, mas também uma notícia indireta de que em breve Jamie estaria de volta à rotina de filmagem, o que significava menos tempo livre e menos tempo com Taylor. Claro, a mais velha não poderia exigir que a garota de Londres parasse tudo só por ela. Jamie tinha uma vida antes de Taylor e continuaria a tê-la mesmo com aquilo que tinham, seja o que quer que fosse.
— Eu deveria voltar a trabalhar também — observou Taylor, como se tivesse parado em algum momento, quando a verdade era longe daquela — Escrevi algumas coisas, mas nada está certo — ela não se importava, mas no fundo sabia que tudo parecia tão certo. As músicas que ela estava escrevendo eram especialmente sobre Jamie e o que estava sentindo. O próximo álbum com certeza seria mais leve e apaixonante, pelo menos esse era o plano que tinha em mente. Não que Jamie soubesse, e isso era algo que Taylor precisava contar. Como ela se sentiria sobre ter músicas escritas sobre ela? — Como você se sentiria sobre ter músicas escritas sobre você? — ela despejou de uma só vez, e Jamie a encarou por um momento, sem saber como responder.
— Bem? — ela respondeu, ou perguntou. Percebendo o quão confuso aquilo tinha soado, ela continuou — Quero dizer, eu me sentiria bem — Jamie explicou — É só... é estranho pensar que você escreveu algo sobre mim. Mas é a forma como você exterioriza as coisas, então...
— As pessoas não precisam saber — Taylor deixou claro. E eu nem quero que eles saibam, ela pensou. Pela primeira vez, tinha algo só para ela, sem os olhos do mundo focados em cada pequeno passo que ela dava no relacionamento que estava construindo, e era uma mudança bem-vinda. Ela não reclamaria se continuassem assim.
— Mas você quer que as pessoas saibam? — Jamie perguntou.
— Você notou que estamos sempre perguntando o que cada uma de nós quer? — observou Taylor.
— Acho bom esclarecermos em que degrau estamos — comentou a mais nova — Não gostaria de ver você incomodada no meio disso tudo. Se estivermos juntas nisso, espero que seja qual for o caminho que tomarmos, o façamos com os dois lados em mente. Isso não é para ser ruim, Taylor.
— Eu sei, eu sei... — ela concordou — É só-Faz muito tempo desde que estive em um relacionamento como esse.
— Como esse? Em que as pessoas conversam? — Jamie brincou, com um tom de verdade no final da frase, e Taylor riu de leve, não deixando de concordar.
Parecia repetitivo voltar aos seus relacionamentos anteriores e compará-los com o atual, mas era inevitável.
— Sobre querer que as pessoas saibam... — Taylor insistiu no assunto — Eu gosto de como tudo aconteceu. Eu não gostaria de ver você jogada na loucura que tem sido minha vida, e isso também não a faria nenhum bem. Minha imagem está péssima, ser vista comigo é a última coisa que você iria querer.
— Isso não é realmente algo que me incomodaria — disse Jamie, referindo-se claramente à imagem a que Taylor falava. Ela não era esse tipo de pessoa, mesmo quando deveria ser, estando no meio em que estava. As pessoas passariam uma por cima das outras se tivessem a oportunidade, Jamie apenas não conseguia pensar daquele jeito.
— Eu tenho alguns grandes inimigos — Taylor deixou claro, um tom beirando a brincadeira em sua voz, mas ela quis dizer aquilo — Eu posso nomeá-los. Kanye, Calvin, Katy... E não estou tentando te enganar, Jamie.
— Eu sei onde estou colocando meus pés, babe — ela assegurou, e deixou escapar a última parte, o que inevitavelmente fez Taylor pensar em como "babe" parecia bem-vindo partindo dos lábios da garota.
Naquele dia Taylor quis acompanhar Jamie ao aeroporto, mas a garota a fez mudar de ideia, não querendo chamar a atenção errada. Então elas se despediram na garagem do apartamento em Cornelia Street, e o Escalade de Taylor, dirigido por seu motorista, deixou o local e levou Jamie para o apartamento no Bowery e depois para o JFK.
Ainda naquela semana, Jamie estava chegando ao evento da Burberry, logo após passar pelo red carpet, e parar para tirar algumas fotos - sozinha, mas outras acompanhada de Kit - quando recebeu uma mensagem de Taylor, perguntando se poderia ligar para ela. Parecia a hora errada, mas Taylor sabia onde Jamie estava, para enviar uma mensagem para ela perguntando se poderia ligar, era quase certo que algo parecia ter acontecido.
Ela digitou um breve "sim", sumiu entre as pessoas em direção a um dos corredores da Makers House, e quando viu, estava entrando sorrateiramente em um dos banheiros do local, atendendo a ligação de Taylor.
— Aconteceu alguma coisa? — Jamie perguntou preocupada.
— Acabei entrando no Twitter no meu celular e vi um vídeo de ontem de um show do Kanye — comentou ela — Ele cantou aquela música estúpida, e- não sei, apenas mexeu comigo — ela explicou, e logo pensou como parecia idiota, tendo se deixado ser afetada por aquilo.
— Quer falar sobre isso? — Jamie disse.
— Você está ocupada, certo!? — Taylor lembrou — Eu não deveria ter ligado, eu só- eu senti que ia enlouquecer, estou sozinha, e acho que falar com Hayes, o segurança que está aqui hoje, não vai ajudar em nada, a única coisa que ele sabe é ficar ali, cuidando para que ninguém queira invadir minha casa ou se aproximar de mim — brincou na última parte, como fazia em situações como aquela.
— Eu não ligo se você ligou — Jamie assegurou — Se eu estou sendo honesta, minha empolgação em ver pessoas andando por aí com roupas que custam metade de uma casa não é tão grande.
— É um pouco impressionante o quanto você gosta de ficar em casa em vez de ir a qualquer outro lugar — observou Taylor.
— Eu sou uma alma velha — Jamie retrucou — Foi isso que chamou sua atenção, Cat Lady.
— Cat Lady? Uau, eu só tenho dois gatos. Dois gatos é divertido, três gatos e então você pode me chamar de Cat Lady.
— Me lembre daqui a dois ou três anos — comentou Jamie.
— Você vai me aturar por dois ou três anos? — Taylor perguntou, brincando, claro, mas querendo muito uma resposta certa sobre aquilo.
— Vou "aturar" você pelo resto da minha vida, Taylor — Jamie disse, confiante no que estava dizendo.
— Eu realmente queria que você estivesse aqui comigo — ela murmurou.
— Dois dias e tenho um voo marcado.
— Vou buscá-la no aeroporto — Taylor disse, e sabendo que Jamie tentaria fazê-la pensar novamente sobre aquilo, para que não atraíssem atenção, ela continuou — Isso não é uma discussão. Vou ser discreta.
— Tudo bem — foi tudo o que a mais nova disse.
— Você deveria ir agora, acho que já tomei bastante do seu tempo.
— Te ligo quando chegar em casa — Jamie disse.
— Eu espero.
Jamie voltou para onde Kit a esperava, e tentou manter sua atenção no que estava acontecendo a sua volta, mas parecia alheia a maioria das coisas. Ela e o mais velho tiveram uma conversa tranquila, em meio ao desfile e à inspiração de tudo aquilo, mas foi só quando chegaram em casa que sentiram alívio interior. Kit tinha brigado com Rose, por alguma besteira qualquer, então ele passou a noite no apartamento de Jamie em Primrose Hill. Pela manhã voltaria para a casa que dividia com a namorada não muito longe de onde estava, mas por enquanto se contentaria em irritar a irmã.
Como prometido, Jamie ligou para Taylor e elas conversaram até que a garota mais nova precisasse dormir.
Dois dias depois, Jamie estava saindo de um avião no aeroporto JFK, e Taylor estava esperando na frente. Quando ela entrou no carro, Taylor não esperou para puxá-la para um beijo suave e gentil e, de mãos dadas, eles desceram a entrada da garagem para seu apartamento na Cornelia Street.
— Como foi sua reunião com 13 Management? — Jamie perguntou, lembrando de como Taylor havia comentado, por meio de mensagens, que eles iriam se encontrar, apenas para falar sobre o próximo álbum. Elas estavam na cozinha. Meredith estava acomodada no colo de Jamie, sentada na cadeira em frente ao banco - sendo ela uma das outras duas pessoas que a gata sustentava uma aproximação. Mesmo com Taylor ela tinha seus dias, mas com Jamie, ela parecia adorá-la. Taylor estava preparando duas xícaras de chá. Preto para Jamie e Hortelã para ela.
— Já conversamos sobre o que vamos fazer — respondeu Taylor, mas ela parecia irritada com alguma coisa, levantando o assunto.
— Você não está contando a história toda — Jamie comentou.
— Sinto que preciso dizer algo sobre tudo o que aconteceu — respondeu Taylor, e foi clara sobre o que estava falando — Ficar quieta só faz parecer que estou complacente com toda essa merda, quando a realidade é bem diferente , mas não quero sair por aí fazendo entrevistas como se eu realmente precisasse ser emocional. Isso faz sentido?
— Totalmente — Jamie concordou.
— Então, acho que preciso falar sobre algumas coisas sobre o novo álbum. O que me leva ao ponto de que o álbum otimista que eu queria lançar como uma continuação do que foi a última era não vai acontecer.
— Então sem músicas com declarações para mim? — Jamie brincou e pegou um pano de prato voando em sua direção, junto com uma risada nasal de Taylor — Você tem uma ideia em mente?
— Eu estava assistindo Game Of Thrones... — ela começou.
— Nunca acaba bem — ela ironizou, de seu próprio jeito.
— Sério, eu realmente gosto da capacidade da história de mostrar essas personagens femininas boas e fortes, e elas nunca esquecem de nada.
— Você diz... vingança.
— Não é vingança — Taylor se defendeu.
— Não teria problema se fosse — Jamie esclareceu.
— Só acho que não preciso perdoar para seguir em frente, posso guardar rancor dessas pessoas que fizeram dos meus últimos meses um inferno e depois seguir em frente.
— Você totalmente escreveu uma música sobre isso.
— Talvez eu tenha escrito — Taylor encolheu os ombros — Look What You Made Me Do. Eu a escrevi em uma das últimas noites que perdi o sono. Não sei ao certo para onde vou com ela, porque sinto que algo ainda falta, mas quero a gravar logo e ver o que Jack acha. Se tudo correr bem, eu não tenho dúvidas de que tem potencial para ser um lead single.
— Do álbum sem nome — Jamie comentou.
— E sem uma tracklist completa — acrescentou Taylor. Ela mergulhou dois sachês em copos de água quente e entregou um para Jamie — Mas sim, do álbum sem nome.
— Obrigada — Jamie disse — Hm, Kit está em LA, mas estará aqui na cidade no próximo fim de semana. Ele quer te conhecer — ela falou.
— Ele me conhece — Taylor disse, mas ela sabia exatamente do que Jamie estava falando. Então, de repente, ela ficou nervosa.
— Você me entendeu.
— Podemos fazer algo aqui — ela comentou — Não acho que seja especialmente bom para nós duas sairmos pela cidade.
— Ou podemos ir ao Gemma's no Bowery Hotel — Jamie sugeriu — Não é tão movimentado quanto os outros restaurantes, as pessoas nem vão se importar com a garota loira jantando comigo — ela levantou as sobrancelhas.
— É uma ideia — Taylor deu de ombros.
— Vou avisar Kit — Jamie disse, pensando que deveria fazer isso antes de dormir naquela noite, e ela fez.
Ao se deitar ao lado de Taylor, ela viu que a mais velha pegou um dos livros que sempre carregava consigo, The Goldfinch, e mergulhou na leitura antes que o sono a dominasse. Enquanto isso, Jamie clicou no contato do irmão e colocou o celular no ouvido, ouvindo a ligação sendo feita, até o momento em que ele atendeu. Então eles se cumprimentaram, conversaram um pouco e finalmente Jamie perguntou sua opinião sobre jantar no Gemma quando ele estivesse na cidade. Tudo isso sob o olhar de Taylor, mesmo sem perceber.
A mais velha parecia focada em Jamie, não na conversa deles. Nela, e apenas nela.
Aí ela se pegou pensando em algumas coisas e, quando percebeu, pegou o caderninho que estava ao lado da cama e anotou algumas coisas que talvez nem usasse.
Não era uma música nem nada, eram apenas seus pensamentos, e de alguma forma ela precisava colocá-los para fora.
Ela roía as unhas e ria quando estava nervosa. Prometia o mundo às pessoas porque pensava que era isso que elas queriam dela. Taylor gostava de dar às pessoas o que elas queriam, mas acabou percebendo que precisava parar. Bateu na madeira e fez planos, despejou desejos em números da sorte e cílios, e nos últimos meses suas superstições talvez fossem as únicas sobreviventes do naufrágio de parte de sua vida pessoal e profissional.
A vida parecia boa demais nos últimos dias, e isso era por causa de Jamie, o que a assustava. Ela não conseguiu reconhecer o rosto da garota que amava até que tiraram a tinta brilhante que a pintaram desde o início da carreira, porque quando ela se transformou naquela garota sem cor, quase ninguém ficou ao seu lado, mas Jamie estava lá. Taylor jogou fora a bandeira da vitória que carregou por alguns anos, sendo aclamada como a queridinha de muitos, e só então viu quem a queria mesmo assim... Jamie a queria daquele jeito.
Muitas coisas pareciam ruins, mas Taylor pensou que ficaria grata por aqueles dias terríveis porque parecia que tudo ficaria bem.
E ela só esperava que estivesse certa.
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