Capítulo 29
(Ícaro)
Chegamos ao acampamento por volta de 8:00 e vamos direto para a fila do café. Como sempre, alguns jovens vêm perguntar sobre a Safira, mas na verdade não há nenhuma novidade, a história é sempre a mesma: coma por tempo indeterminado.
Antes de pegar seu café Cauã passa por todas as mesas cumprimentando os jovens e perguntando como eles estão, fazendo questão de avisar que, pelo menos nesses últimos dois dias de acampamento, haverá provas.
— E aí, como foi ontem, no hospital? — Amanda pergunta assim que sento ao seu lado.
— Horrível!
— Horrível?! — Pergunta, horrorizada. — O que aconteceu?!
— Sarah arrumou um novo amigo! — Falo com ironia.
— Novo amigo?! Que história é essa?
— Estavam no maior grude lá! Parece que ele é soldado, eles moram perto e não sei o quê!
— E qual o problema nisso? Espera! Ele é soldado?! Quantos anos ele tem? — Pergunta.
— Acho que 19, sei lá!
— E por que você está com ciúmes? Viu os dois se beijando, por acaso? Porque parece que agora a Sarah está mordida por causa do nosso beijo!
— Um: eu não estou com ciúmes. Dois: eles não se beijaram. E três: o combinado foi não falar mais do beijo.
— Um: você está com ciúmes, sim. Dois: você não sabe se rolou beijo. E três: sua melhor amiga descumpriu o trato primeiro!
Bufo. — Certo. E por que ela ficou mordida?
— Tomou as dores, remoendo o passado. Poxa, nós já nos entendemos depois daquilo! Não havia necessidade em falar disso de novo!
— Tomou as dores de quem?
— Por causa do Kaynon. — Fala.
— O que houve com o Kaynon?
— Ele me enganou.
— Te enganou? — Rio. — Como assim?
— Me enganou, ué! Fingiu que iria me beijar e não beijou!
— E por que você queria beijá-lo?
— Eu não queria beijá-lo! — Revira os olhos.
— Então por que está reclamando?
— Eu não estou reclamando! — Bufa. — Ah, quer saber?! Vou sentar com as meninas! — Fala, se levantando com o copo e o sanduíche na mão e indo em direção à outra mesa, onde estão Letícia e outras meninas da dança.
Dou de ombros e continuo comendo, voltando a pensar em Sarah e Levi, e no que eles devem estar fazendo agora.
— Sozinho?! — Ouço a voz do meu melhor amigo atrás de mim. — O que te deixou tão melodramático dessa vez, Fonseca?
— Sarah arrumou um novo amigo; Amanda está flertando com o Kaynon, mas veio falar do nosso beijo de janeiro; Ítalo virou um zumbi ambulante... Quer mais?
Pedro senta ao meu lado e olha para frente. — Vamos, é a última chance que vou te dar, senão, quando vier de chororô pro meu lado porque foi trocado, eu te dou uma surra! E estou falando a verdade. — Ergue as sobrancelhas. — Pela milésima vez, Ícaro: você tem certeza que não gosta da Sarah?
— Argh! — Bufo em tom alto, fazendo com que alguns jovens das mesas próximas virem em minha direção, mas apenas ignoro. — Para de perguntar isso! Eu estou cansado! Eu não gosto da Sarah, Pedro! Não gosto da Sarah! Não. Gosto. Será que é tão difícil entender?! Yo no gusto. (1) I don't like... (2) — Penso um pouco. — Não me faça falar em outras línguas, porque eu não sei mais!
Ele sorri e vira o rosto para o lado. — Tudo bem! Tudo bem! Não precisa ficar todo nervosinho!
Bufo novamente. — Eu apenas sinto ciúmes da minha melhor amiga, ok? Não significa que eu goste dela. Que saco!
— Ok. Você não gosta da Sarah... — Fala.
— Isso. Eu não gosto dela.
— Agora é só repetir até você acreditar! — Sorri com ironia.
Olho irritado para ele. — Babaca!
— Ah, o amor! — Cantarola, e dessa vez acabo sorrindo.
— Por que mesmo você é o meu melhor amigo? — Pergunto.
— Porque você precisa de alguém pra te dizer que gosta da Sarah. — Ergue uma sobrancelha.
— Você é um Zé-mané mesmo!
— E você é um Zé-apaixonado. Pela Sarah, claro! — Gargalha.
— Ah, olha só quem está naquela mesa! — Provoco-o. — Não é a Aila?
Pedro então para de sorrir, olha para mim e ergue os braços em sinal de rendição. — Ícaro não gosta da Sarah. Ícaro não gosta da Sarah. — Repete com os olhos fechados.
— Isso! Assim que eu gosto. — Sorrio.
⁂
— Muito bem, pessoal! A primeira prova de hoje, para irmos gradativamente, será de perguntas e respostas bíblicas, e essa todos sabem, então, organizem suas equipes! — Cauã fala ao microfone e logo após as equipes se reúnem, cada uma em uma das mesas do salão. — Lembrando que cada resposta correta vale 40 pontos.
— Estamos sem uma componente. — Bruna, uma das garotas da nossa equipe, fala, se referindo à Sama.
— A equipe Vermelha está sem duas componentes. Então não vamos reclamar. A gente consegue! — Cássio, nosso líder, responde. — Estamos em terceiro lugar, vamos subir nesse placar, ein? — Incentiva, então a equipe se anima.
— Primeira pergunta, para a equipe Azul... — Cauã começa. — Quem escreveu o livro de Sofonias?
— Não foi Sofonias? — Giulia pergunta em voz baixa.
Mário sorri. — É uma pegadinha!
Olho para a mesa da equipe Azul, onde Ester acaba de se levantar. — Sofonias. — Fala com convicção.
— Resposta correta! — Grita, e então eles comemoram. — 40 pontos para a equipe Azul! Equipe Verde: quem viu Jesus pela primeira vez, após a sua morte?
— Nossa, que difícil! Alguém sabe? — Mikael.
— Espera! Teve aquela mulher que foi visitar o túmulo de Jesus! Foi até quando um anjo apareceu a ela! — Helena fala, em um susto, depois de uns segundos.
— Sim! — Beatriz se anima. — Não foi Maria?
— Maria?! Qual Maria?! — Luíza.
— 10 segundos! — Cauã anuncia, e Helena balança as mãos em sinal de nervosismo.
— Foi a irmã de Lázaro? — Sheila pergunta.
— Acho que foi Maria Madalena, não foi? — Nicolas.
— Cinco... Quatro... — Os jovens começam a contagem regressiva.
— Fala qualquer um aí, Cássio! — Diz Paulo.
Cássio então levanta de uma vez e grita. — Maria Madalena.
Cauã nos encara por um tempo e depois solta um sorriso. — Resposta correta! 40 pontos!
— Yes! — Helena comemora.
— Equipe Laranja: por quem Sansão foi traído? — Cauã continua.
Yasmin levanta-se imediatamente. — Dalila.
— Ah, essa foi muito fácil! — Luíza reclama.
— Resposta correta! 40 pontos! — Ele fala enquanto Sam está ao seu lado com o cronômetro e o caderno, anotando a pontuação. — Equipe Vermelha: de todas as pessoas que saíram do Egito, quantas entraram na Terra Prometida? — Cauã pergunta e a equipe Vermelha responde apenas nos 2 segundos finais.
— Duas: Josué e Calebe. — Rebeca responde.
— Excelente! Nem precisavam dizer os nomes, mas está certíssimo! 40 pontos! Equipe Amarela: quantos anjos apareceram a Abraão e Sara dizendo que eles teriam um filho? — Cauã indaga, e eles não se pronunciam em nenhum momento da contagem. — E aí, não sabem? — Alfineta, então Luana levanta e responde, cheia de dúvida.
— Dois?
— Resposta errada! Foram três! E, caso queiram conferir depois, está lá em Gênesis, capítulo 18 e versículo 2. Equipe Branca: quem fez o ferro de um machado flutuar?
— Elizeu. — Jamily responde depois de alguns segundos.
— Corretíssimo! 40 pontos para a equipe Branca! E vamos para a última rodada, que será um pouco mais difícil! Equipe Azul: qual a idade de Noé quando o dilúvio veio à Terra?
Eles levam tempo e respondem nos 7 segundos finais. — 120. — Abigail fala com as sobrancelhas erguidas.
— Errado! A resposta correta é 600 anos, e está lá em Gênesis, capítulo 7 e versículo 6. Equipe Verde: por quantas barras de prata José do Egito foi vendido pelos seus irmãos?
— Caramba, que difícil! — Enzo.
— Não faço a menor ideia! — Falo.
— Sei lá! Umas 50? — Vitória.
— Não, 50 não! Acho que foram menos! — Helena.
— Não adianta ficar chutando. Alguém sabe, galera? — Cássio pergunta.
— Ninguém sabe! A gente tem que chutar! — Gabriel.
— Vou falar 10, então! — Lúcio.
— Não é muito pouco? — Karen.
— É, já que ninguém sabe, chuta aí qualquer número! — Cássio.
Então Lúcio se levanta e fala com sua voz ecoante. — 30 moedas.
— Resposta errada! — Cauã fala e depois cantarola uma música de derrota. — A resposta correta é 20 moedas! Depois confiram em Gênesis 37.28. Agora... Equipe Laranja: qual o nome do avô de Davi?
— Jessé. — Débora responde depois de um tempo.
— Resposta incorreta! Jessé foi o pai de Davi. O avô de Davi foi Obede. Podem ver em Rute 4.22 ou Mateus 1.5 e 6. Ninguém acertou nenhuma pergunta dessa rodada até agora! Vamos ver se a coisa vai mudar! Equipe Vermelha: qual o menor livro da bíblia?
Lídia levanta quando faltam apenas 3 segundos. — Primeira João?
— Resposta errada! — Cauã anuncia. — O menor livro da bíblia é Segunda João, com apenas 13 versículos! Próxima... Equipe Amarela: em que livro está localizado o menor capítulo da bíblia?
— Salmos. — Maysa responde sem muita delonga.
— Resposta correta! O menor capítulo da bíblia está em Salmos, que é o 117, com apenas 2 versículos. Última pergunta, para a equipe Branca: em quais livros da bíblia não encontramos a palavra "Deus"?
A equipe pensa um pouco e no último segundo Emile levanta. — Ester e Cantares.
— Resposta... Exata! 40 pontos! Muito bem! — Ele vira para a Sam e demora cerca de dois minutos. — E os placares atuais são: em primeiro lugar, equipe Branca, com 1780 pontos! Em segundo, equipe Azul, com 1655! Em terceiro, as equipes Verde e Vermelha, ambas com 1610 pontos! Quarto lugar: equipe Amarela, com 1595! E em último: a equipe Laranja, com apenas 1405! Agora, vamos para as provas práticas!
⁂
Fizemos ainda quatro provas hoje à tarde, acrescentando mais 240 pontos à equipe Azul; 300 à nossa equipe; 186 à equipe Laranja; 220 à Vermelha; 210 à Amarela; e 340 à Branca; fato que nos deixa em segundo lugar na competição.
Jantamos e, antes do culto, tiramos um período para orar pela Safira.
A ministração de hoje é feita pelo próprio Cauã, que fala sobre a ceia, já que é o nosso último culto pela noite e, como de costume, nós ceiamos.
Ele fala a diferença entre a ceia de Páscoa no Antigo e no Novo Testamento: ambas significam libertação, mas no Antigo Testamento significou a libertação do povo hebreu que era escravo no Egito, e no Novo, significa a libertação da humanidade do pecado.
Antes de Jesus, os hebreus comemoravam a páscoa comendo ervas amargas e pães sem fermento, além de sacrificar um cordeiro. Cada uma dessas coisas tem o seu significado.
As ervas amargas serviam para lembrar dos anos amargos de escravidão que o povo israelita passou no Egito; o pão sem fermento servia para lembrar que eles fugiram tão rápido daquela terra que nem mesmo deu tempo para terminar de preparar o pão; e o sacrifício do cordeiro era para lembrar dos cordeiros que foram mortos para livrar os filhos primogênitos dos hebreus — quando o Anjo da Morte passou pelo Egito afim de matar todos os filhos mais velhos de cada família, na última praga —, onde o seu sangue foi passado nos umbrais das portas de cada casa.
O Egito era uma terra de idolatria, prostituição e pecado, e atualmente serve para representar o mundo, que nos influencia a pecar a todo momento.
Metaforicamente falando, as ervas amargas, hoje, representam que, assim como os hebreus eram escravos do Egito, nós éramos escravos do pecado (Gálatas 4.3-5), e não tínhamos acesso à presença de Deus, mas, quando Jesus morreu naquela cruz, o véu do templo se rasgou.
Aquele véu — ou cortina — se localizava enfrente ao Santo dos Santos, local do tabernáculo onde ficava a arca da aliança, símbolo da presença de Deus. Naquele lugar apenas os sacerdotes poderiam entrar, e o véu era justamente para impedir que as outras pessoas tivessem acesso a ele. Com o véu rasgado, todas as pessoas podiam, agora, ter acesso ao Santo dos Santos e à presença de Deus, assim como temos hoje, basta orarmos.
O pão sem fermento significa agora a nossa vida, que foi livre do pecado através do sacrifício de Cristo na cruz. Na linguagem figurada, o pão representa a nossa vida, e o fermento, o pecado (1Coríntios 5.7-8). O peso do pecado que estava sobre nós caiu sobre Jesus, portanto, podemos ser livres agora, toda vez que nos arrependemos verdadeiramente e pedimos perdão a Deus.
Por último, Jesus morreu na cruz como um verdadeiro cordeiro sendo sacrificado, e o seu sangue foi como o sangue dos cordeiros que, naquela época, no Egito, salvou a vida dos primogênitos (Romanos 5.9). Por conta do sangue (morte) de Jesus, nós recebemos a vida verdadeira e podemos ser chamados de amigos de Deus, pois, se o pecado entrou no mundo por meio de um só homem — Adão —, a salvação também entrou no mundo por meio de um só homem — Jesus — (Romanos 5.15).
Naquele tempo, para as pessoas receberem o perdão de Deus por algum pecado, precisavam ir ao tabernáculo e levar um animal para ser sacrificado, mas Jesus, através da sua morte, representou o sacrifício animal, e hoje a graça de Deus é abundante sobre nós para nos perdoar verdadeiramente (Romanos 5.20).
Por isso, na ceia, nós comemos o pão e bebemos um cálice de vinho, para lembrar, respectivamente, do corpo e do sangue de Jesus, que se sacrificou para nos libertar. Se não por ele, a salvação não seria para todos nós.
Hoje podemos dizer que somos livres: livres do Egito, do mundo e do pecado, porque Jesus nos amou tanto, que foi capaz de aceitar entregar a própria vida por nós (João 3.16).
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(1) "Eu não gosto", em espanhol.
(2) "Eu não gosto", em inglês.
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