Capítulo 28
(Vitor)
— Ai, meu Deus! O que houve?! — Lia pergunta com desespero assim que entramos no quarto e vemos nossa melhor amiga desmaiada.
Cauã passa os braços sob ela e coloca-a na cama cuidadosamente, então me aproximo.
— Na terceira gaveta do lado direito do guarda-roupa tem uma caixinha branca com um aparelho de medir pressão. Pode pegar pra mim? — Ele pede à Lia, que prontamente corre para atendê-lo.
Sam está pálida e com os lábios mais escuros que o normal. Meus instintos médicos me apontam para a possível causa do seu desmaio.
— A pressão deve ter baixado. Me dá licença, Cauã? — Peço e me coloco à sua frente assim que Lia trás o aparelho.
Seguro suas mãos para constatar o que eu já desconfiava: ela está suando frio. Coloco a pequena máquina ao redor do seu pulso e espero enquanto ouço os bipes.
— Cinco por oito! Está muito baixa! — Exclamo e retiro o aparelho do seu pulso, logo passando os braços sob seu corpo, tirando-a da cama e colocando-a no chão novamente. — Cauã, tem café pronto aqui? — Pergunto sem tirar o olhar da minha amiga.
— Não. Mas se precisar, eu faço. — Responde, já se levantando da cama.
— Por favor! — Peço, então ele sai do quarto.
— Amor, se puder trazer um pouco de sal nós já vamos acelerando o processo! — Digo à minha esposa, que apenas assente e se retira.
Ajoelho-me no chão enfrente a ela e seguro seus pés, erguendo suas pernas e apoiando-as na cama, que não é muito alta, formando um ângulo de aproximadamente quarenta e cinco graus com o chão.
Impulsiono um pouco seus joelhos para baixo, garantindo que suas pernas fiquem eretas e isso melhore a circulação sanguínea para o cérebro e o coração. Logo após, corro até o banheiro e lavo rapidamente minhas mãos.
Assim que chego, Lia já está me esperando com uma xícara pequena em mãos, então me sento no chão ao lado da Sam, pego uma pitada de sal e, aproveitando que sua boca já está entreaberta, puxo seu queixo para baixo e ponho os dedos entre os seus dentes, passando o sal debaixo da sua língua.
Faço isso mais algumas vezes, com um intervalo de alguns segundos, até que Cauã chega com uma xícara de café preto.
— O café é para quê mesmo? — Pergunta. Todas as pessoas me fazem a mesma pergunta quando eu peço café para alguém com pressão baixa.
— A cafeína aumenta a circulação sanguínea, o que faz com que aumentem os batimentos cardíacos e, consequentemente, a pressão. — Explico enquanto limpo meus dedos na minha calça jeans preta. — Sam! — Chamo-a e aperto levemente o seu ombro. — Acorda, moça! — Falo e alterno o movimento com batidas leve nas suas bochechas. Enquanto ela não recupera a consciência, termino a explicação para o Cauã. — Tomar um suco de laranja com bagaço ou comer um biscoito salgado também ajuda, porque estimula a digestão e causa a mesma reação para aumentar a pressão.
— Nossa, que interessante! — Exclama.
— A Medicina é interessante! — Falo e assinto com a cabeça. — Já está na hora da senhora acordar, Samuela! — Chamo-a novamente e a coloco nos braços, erguendo-a do chão. Sento na cama com ela e apoio suas costas em meu braço esquerdo, que passa por trás do seu pescoço e equilibra sua coluna. — Vamos, Sam, não nos preocupe desse jeito! Não é preciso essa demora toda! Você está bem, vamos lá, acorde! — Balanço um pouco seu corpo, mas nada.
Cauã me lança um olhar desesperado. — O que isso significa, Vitor? Ela está demorando muito acordar? É normal?!
— Tranquilo! Você precisa passar tranquilidade quando ela acordar! Nem todos demoram assim, mas não sabemos que horas ela desmaiou, então pode fazer pouco tempo! Não é hora de se preocupar. — Falo a ele, acrescentando uma nota mental: não ainda.
Vamos lá, Sam, você já me deu sustos demais na nossa adolescência, não faça isso comigo de novo! Nós já somos velhos, essa brincadeira não tem a menor graça! Acorda logo!
— Amor, acorda, por favor! — Cauã se aproxima e segura sua mão, dando-lhe um beijo.
— Aperta um pouco acima do joelho dela! — Falo. — Vai estimular a dor e ela pode recuperar a consciência mais rápido. — Digo a Cauã e ele logo faz o que eu disse. — Vamos, Sam, não exagere nos dramas! Isso já foi suficiente por hoje! — Suplico em voz baixa perto do seu ouvido, me perguntando há quanto tempo ela pode estar desmaiada, porque já se passaram cerca de dez minutos apenas do momento em que eu e Lia ouvimos o grito do Cauã até agora.
Ainda estou fazendo análises médicas do que possa estar acontecendo de mais grave quando sinto seu corpo se mexer.
— Pronto! A bela adormecida está acordando! — Exclamo com um sorriso.
— Ah, graças a Deus! — Cauã exclama.
Sam abre os olhos devagar e solta um gemido leve. Faço um sinal para Cauã e ele me entrega a xícara de café.
— Antes de qualquer pergunta, beba todo esse café! — Digo a ela enquanto levo a xícara à sua boca. Sem resistir, ela apenas vai bebendo e nem mesmo ergue os braços para segurar a xícara, o que é normal, já que seu corpo deve estar se sentindo muito fraco.
Suspiro e relaxo um pouco, percebendo que meus músculos todos estavam contraídos. Com todo esse drama acontecendo com a Safira, eu me lembro cada vez mais do que passei com a Sam no acampamento de 2015 e de como eu tive medo de perdê-la. Nossa amizade pode ter esfriado muito, mas eu não sei o que faria caso alguma coisa de ruim acontecesse com ela!
Ela logo termina de beber o café e pergunta o que aconteceu, ainda com a respiração ofegante e a voz fraca.
— Sua pressão baixou muito, meu amor! — Cauã explica.
— Provavelmente porque você estava muito preocupada com a Safira. — Completo. — Vai precisar acalmar um pouco suas emoções, Sam! Tente relaxar ou se distrair com alguma coisa, toda essa preocupação não vai melhorar em nada a situação, muito pelo contrário! Tudo fica apenas mais tenso, e você só acarreta preocupações ao seu marido! — Digo em tom sério e sinalizo com a cabeça para que Cauã fique ao seu lado.
Assim que ele chega, passa os braços pelas suas costas e ela apoia a cabeça no seu ombro. É quando eu me levanto.
Apesar de ainda estar pálida, vejo seu rosto ficar um pouco vermelho e então ela começa a chorar.
— Desculpa! — Pede.
— Não precisa se desculpar, vida! Está tudo bem! — Cauã repete enquanto amacia seu cabelo.
— Ela está de TPM? — Sussurro para Lia.
— É só a condição normal de drama, depois passa! — Minha esposa responde com outro sussurro e então sorrimos.
— Estamos indo para o quarto de hóspedes. — Aviso. — Descansa, Sam! Boa noite! — Então nos despedimos, saímos do quarto e trancamos a porta atrás de nós. — Ainda bem que você não é dramática desse jeito, meu bem! Não daria certo! — Sorrio. — Eu morreria de desgosto!
— Se você ameaçasse morrer de desgosto, eu te mataria antes que você morresse! — Ela semicerra os olhos.
— O quê?! — Pergunto, e depois de pensar um pouco no que disse ela começa a sorrir. — Eu não morreria do mesmo jeito?
— Sim, mas seria morte matada, não morte morrida!
Gargalho. — Se a Sam estivesse aqui, começaria a chorar porque estamos falando de morte!
Lia bate em meu ombro. — Não implica, Vitor! É o jeito dela!
— I just said the true, darling! (1) — Sorrio, então minha esposa balança a cabeça e anda até a pia, para terminar de lavar as louças.
(1) "Eu apenas disse a verdade, querida!"
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