Capítulo 12
(Leonardo)
Felicidade. É tudo o que me define agora. Sem dúvidas eu nunca me senti tão realizado na vida, não é como se eu tivesse ganhado um troféu para colocar na sala, é como se eu tivesse vencido todas as competições do mundo, e nenhum troféu seria tão suficiente para me deixar mais radiante do que o sorriso dela, segurar a mão dela, abraçá-la, beijá-la, senti-la.
A conheço desde os meus 2 anos de idade. Sempre a achei muito linda, mas só fui conhecê-la melhor quando pedi seu número, há uns meses atrás.
De fato a Safira é uma garota incrível, e consegue deixar qualquer cara babando só por vê-la. Não poderia deixar passar minha chance. Ela se tornou alguém muito especial pra mim. Ainda mais agora, que é minha namorada.
Sem dúvidas vou cuidar muito bem dela, pois merece todo o amor do mundo. Só pensei que as coisas fossem demorar um pouco mais para acontecer, pensei que ela seria mais difícil, e de fato fiquei surpreso quando eu mal a pedi em namoro e ela já foi aceitando. Não esperava por isso, mas se ela abriu tanto espaço só pode mesmo estar apaixonada e sentindo o mesmo por mim, e isso eu não poderia deixar escapar de modo algum.
- Leonardo, preciso falar com você. - Ítalo chega sério enfrente à minha cama muito depois do toque de recolher, quando praticamente todos já estão dormindo.
- O que você faz acordado a essa hora? Amanhã a gente conversa, cara, vai pro teu dormitório! - Falo ao balançar a cabeça. Que ideia sem noção do Ítalo de querer conversar de madrugada, no escuro!
- Nós realmente precisamos conversar, Leonardo. Na varanda. Te espero lá. - Ele fala compassadamente e se vira, andando devagar como se estivesse contando os centímetros de cada passada.
Inicialmente acho estranho, mas pelo horário e pela seriedade com que ele está imagino que possa ter acontecido alguma coisa com alguém da nossa família. Penso no nosso pai e me pergunto se houve algum acidente com ele. Fico um pouco tenso.
Apesar de já estar com roupa de dormir e com sono, decido ir até lá e ouvir o que ele tem a dizer, porque além de tudo estou bem curioso.
- Então o que é tão importante para estarmos aqui às duas da manhã? - Pergunto, mas ele apenas respira fundo e continua a me encarar sério com um olhar que, por incrível que pareça, chega a me assustar.
- O que está acontecendo entre você e a Safira? - Ítalo pergunta e, por mais que eu tente, não consigo segurar o riso. Começo a rir tanto que preciso me controlar para não começar a gargalhar alto, mas depois de alguns minutos paro ao perceber que meu irmão continua sério, e agora percebo seus punhos fechados sobre o corrimão de madeira da varanda e seu cenho contraído.
- Desculpa, Ítalo, mas que tipo de pergunta é essa?! Me chamou aqui para falar sobre isso?! - Pergunto ainda com resquícios de sorriso no rosto e começo a andar na direção da porta, mas ele segura meu ombro.
- O que você quer com ela, Leonardo? Eu juro que se for brincar com ela como fez com a Yara eu v...
- Ei, ei, ei! - Me viro já com o cenho também franzido. - Eu nunca brinquei com os sentimentos de ninguém, Ítalo. Esse seu ciumezinho ridículo vai acabar me enchendo, já basta que ela fale o tempo inteiro de você! Nem venha com essa história de amiguinho protetor, não precisa mais cuidar dela, deixa isso comigo agora. Aliás, nós estamos namorando, o que você não deve saber porque sua "melhor amiga" não contou. - Faço um sinal de aspas com as mãos e sinto meu sangue ferver. Eu já estava me controlando mesmo, mas essa foi a gota d'água. Eu não vou aceitar toda essa amizade entre eles dois, agora a Safira é minha namorada.
- Ela contou sim, Leonardo, contou como sempre me conta todos os segredos desde que éramos crianças, e por acaso você não esteve com ela nesses outros momentos, né?! - Enquanto ele fala eu fecho meus punhos e me controlo para não socar a sua cara. - Eu só quero dizer que se você machucá-la, decepcioná-la ou feri-la de qualquer forma vai se arrepender. E que eu não vou me afastar dela em nenhum segundo por causa desse namoro ridículo de vocês dois! O que você quer, Leonardo?! Eu vou logo avisando que se tocar um dedo ne...
- Abaixa a bola, Ítalo! - Me aproximo. - Você está passando dos limites! Está insinuando o quê? Que eu estou namorando com ela só pra me aproveitar porque ela é linda?! Eu realmente gosto dela, Ítalo, e não vamos terminar só porque você não aceita isso. - Respiro fundo e ficamos nos encarando por uns segundos. - Pensei que tivesse algo importante a dizer. - Balanço a cabeça. - Boa noite.
Vou para o meu quarto e o deixo sozinho na varanda. Não sei se ele ainda demora sair, mas assim que deito na cama começo a pensar na amizade exagerada desses dois. Eu não vou conseguir me segurar por muito tempo com tanta proximidade. Até parece que minha namorada gosta mais do melhor amigo do que de mim!
⁂
- Então, o que aconteceu? - Pergunto enquanto seguro suas mãos, mas ela logo se desvencilha. Respiro fundo e olho para cima. Já estava ruim com minha namorada falando do meu irmão o tempo inteiro; depois ele vem me encher o saco com ciúmes; e agora ela nem permite meus carinhos?! Isso não está me agradando nem um pouco!
Ia sentar ao seu lado no café da manhã, mas acabei me atrasando e ela já estava rodeada por outras meninas. Assim que terminei me recostei em uma das colunas do salão e fiquei esperando que ela se aproximasse, mas fez exatamente o contrário. Assim que me viu desviou o caminho e foi direto para fora, na direção da piscina.
Fiquei observando-a de longe e me perguntando por qual motivo ela estaria tão estranha. Eu sabia que ela não queria que as pessoas soubessem, mas eu queria pelo menos conversar, passar um tempo ao seu lado, conhecê-la ainda melhor, e simplesmente ficar por perto, mesmo sem poder segurar sua mão ou acariciar seus cabelos.
Ou o Ítalo encheu demais a cabeça dela ou ela estava querendo dar uma de difícil. Só porque aceitou o namoro de imediato e agora queria passar uma imagem de que não está tão disponível assim pra mim. Eu não sei se ela pensa que nosso relacionamento é uma brincadeira, mas eu estou levando bem a sério, aliás, como nunca levei relacionamento algum.
Apesar de não fazer nem um dia que estamos namorando, eu já a conheço melhor há alguns meses e, sem dúvidas, já estava interessado nela há um bom tempo. Eu realmente quero algo sério. Ela é diferente.
O Ítalo tinha um pouco de embasamento para dizer que eu possa ter brincado com a Yara, mas talvez ela tenha entendido errado. Eu não queria algo sério com ela, deixei bem claro que era só pra passar o tempo e que não queria prolongar nada, mas ela acabou se apaixonando de verdade e contando para todos que estávamos "namorando". Decidi dar um basta nisso antes que o alarido crescesse, e com isso ela se chateou. Nós passamos apenas um mês juntos, mas ela intensificou tudo, não era o que eu queria.
Mas isso é passado. Já faz mais de um ano e eu não estava em perfeitas condições sentimentais. Tinha acabado outro relacionamento há alguns meses e só queria tentar esquecer.
De qualquer maneira, é exatamente o oposto do que sinto agora pela Safira. Estar com ela me dá cada vez mais vontade de estar com ela e por mais tempo ainda. Ela tem algo que minhas antigas namoradas (não que eu tenha tido muitas) não tinham, e isso me atrai de todas as formas. Eu realmente quero aprender a amá-la a cada dia e cuidar dela com todo o meu carinho, fazendo-a sempre feliz. E só queria que ela parasse de fugir e me assumisse logo.
Eu tenho vontade de contar para o mundo inteiro que eu finalmente consegui o que mais queria na vida, mas essa barreira que ela está criando me deixa até apreensivo.
Quando cansei de esperar que ela viesse até mim eu fui procurá-la. Ela estava sentada nos degraus da pequena escada da casa das meninas, então me aproximei e perguntei se estava tudo bem ou se tinha acontecido alguma coisa; ela disse que estava mais ou menos e que precisava conversar comigo, mas que tinha que ser em outro lugar. Então pediu que viéssemos para o coreto assim que as provas terminassem.
Agora estamos aqui.
Sento ao seu lado.
- Por que você está estranha desse jeito comigo? Fiz algo errado? - Pergunto preocupado enquanto tento trazer à memória alguma furada que eu possa ter cometido.
- Não... Você não fez nada errado... - Ela fala com uma expressão triste.
- Não está deixando nem eu segurar sua mão... Estou preocupado, princesa! Está sentindo alguma coisa?
Ver uma pessoa sorridente e feliz tão triste como a Safira está agora é doloroso. Ainda mais quando essa pessoa é a pessoa que menos quero ver triste. Dezenas de coisas passam pela minha cabeça. Penso se ela está com algum problema de saúde, se brigou com o Ítalo, se teve algum problema familiar, se um parente sofreu um acidente e muitas outras coisas.
- Vou dizer logo, sem enrolações. - Ela fala e eu sinto que estou ficando tenso. Talvez porque a única coisa que eu não queira que ela fale possa ser a coisa mais provável agora. - Eu... Eu gostei muito de te conhecer e ontem foi muito especial pra mim. Não quero que pense que nossa relação não significa nada, até porque você é um cara incrível e eu realmente fiquei feliz em estarmos juntos, mas... Isso não vai dar certo Leo! Você é uma pessoa legal, mas minha decisão foi muito precipitada. - Ela joga as palavras sobre mim e prende os lábios, provavelmente esperando que eu diga alguma coisa. Sinto como se eu estivesse debaixo de um elefante.
- Como assim, princesa? Não estou entendo aonde você quer chegar... Nós já nos conhecemos há muito tempo... E nesses últimos meses nossa relação melhorou muito, não foi tão rápido assim, como se fôssemos estranhos... - Ficamos um período em silêncio e eu continuo tentando entendê-la, até que lembro de ontem. Da minha briga com o Ítalo. Com certeza ele falou algo pra ela. - Foi o Ítalo que...
- Não! - Ela me corta com um tom um pouco mais elevado. - O Ítalo não tem nada a ver com isso! Por favor, para de ficar tentando colocá-lo como motivo para os nossos problemas! - Diz e então leva as mãos ao rosto. Eu simplesmente não sei o que fazer. Só quero abraçá-la, pedir que ela esqueça essa história e dizer que tudo vai ficar bem, que as coisas vão se ajustar com os meses. Eu não posso acreditar que ela está tentando terminar com apenas um dia de namoro, e eu nem ao menos consigo entender o porquê.
- Safira, calma! Vai ficar tudo bem! Seja lá o que estiver acontecendo nós vamos dar um jeito, vamos resolver juntos, como faremos daqui em diante. Olha, eu estou aqui, princesa, nós vamos prosseguir e tudo vai se ajustar! - Tento medir as palavras e tentar fazê-la mudar de ideia.
- Não Leo, você não está entendendo. Eu estou confusa, sabe? Não importa se passaram muitos meses ou anos, eu não tenho certeza das coisas ainda. Só queria que déssemos um tempo para eu entender o que realmente sinto por você, se é algo fixo ou não.
Se é algo fixo. Ou não.
Essa frase ecoa e se prolonga na minha mente enquanto consigo sentir perfeitamente uma estaca entrando em meu peito. O que ela está dizendo com isso?! Que não gosta de mim e que se enganou?! Que tudo não passou de uma ilusão?! Que tomou a decisão errada e que nós dois não valemos à pena pra ela?!
Parece que algo se contorce dentro de mim.
Sinto como se um balde de água gelada tivesse caído sobre a minha cabeça. Algo como uma verdadeira e profunda desilusão, como se nós dois fossemos apenas mais um verso em um papel solto, que o vento facilmente leva embora.
- Você quer terminar, Safira? - Pergunto e franzo o cenho, mas serro tanto os meus dentes que começo a ouvir um zumbido no meu ouvido.
- Não quero que fique com raiva, só estou dizendo que... Que... - Espero que ela termine. - Que eu não tenho certeza de nada. - Ela respira fundo. Parece que está segurando as lágrimas. - Mas quando eu tomar uma decisão prometo te procurar.
Não dá pra acreditar nisso. E o pior é que foi tudo tão rápido que eu não sei se agora estou em um pesadelo, ou se estou na vida real e nossa relação foi apenas um sonho ilusório de uma noite. Seja lá o que for - ou para onde eu correr - tudo se mostra uma verdadeira ilusão. E no fundo eu sinto que a culpa é toda minha. Porque de alguma forma eu poderia ter esperado mais um pouco ou tentado de um outro jeito...
- Quando você tomar uma decisão?! E eu?! Como é que você faz isso, Safira?! Por que aceitou esse namoro, então?! Eu estava tão feliz, tão contente com você! Por que está fazendo isso comigo?! - Meu rosto provavelmente deve estar ficando vermelho. Eu queria que tudo isso fosse apenas uma pegadinha.
Percebo que ela começa a chorar, e novamente tudo o que eu quero é abraçá-la, mas já não sei se possuo esse direito.
- Eu não queria te machucar... - Sua voz está chorosa e seus olhos ficam ainda mais verdes com as lágrimas. - Desculpa, mas não dá mais. Me desculpa mesmo! - Ela então começa a se levantar e eu faço o mesmo. Isso não pode estar acontecendo. Não posso simplesmente deixar que ela escorra pelos meus dedos.
- Safira, por favor... Pensa bem! Você só está confusa agora, depois vai passar... - Enquanto falo ela vai balançando a cabeça em negativa e passando a mão no rosto para enxugar as lágrimas que não param de cair, e ao vê-la assim eu também não consigo me conter. Sinto algumas teimosas gotas quentes chegando à minha barba baixa. - Por favor, me dá só mais uma chance! Nós vamos concertar as coisas! Não me deixa, por favor! Você foi a melhor coisa que me aconteceu nesses últimos tempos, eu não quero ficar sem você, meu amor...
Ela soluça. Eu estou desesperado. Faria qualquer coisa para fazê-la mudar de ideia. Ela não pode me deixar, não pode!
- Não... Não me chama mais assim, por favor! Eu preciso ficar sozinha por um tempo, tudo está muito embaralhado aqui dentro. - Então ela se vira e começa a dar passos apressados, está chorando muito.
Corro em sua direção, seguro o seu braço e a puxo de uma vez para um abraço forte, mas ela não reluta. Consigo sentir seus ombros tremendo por causa do choro. A última coisa que queria no mundo era fazê-la chorar. Me sinto o pior cara do universo agora. Mas o que fiz de errado, afinal?!
- Me perdoa se eu agi errado, se eu fiz ou falei algo que não devia ou se apressei as coisas... Eu só queria você, Safira... Não me abandona, por favor! Você é tudo o que eu mais queria, que eu quero... - Tento convencê-la, mas sinto-a se afastar.
- Por favor, não insista... Só está piorando as coisas... E a culpa não é sua! Me perdoa... - Ela fala e olha para baixo. Levo uma das mãos ao seu rosto e me aproximo devagar até encostar no seu nariz, mas ela inclina a cabeça e faz com que apenas nossas testas se encostem. - Por favor, Leo... Tenta entender... - Então tira minha mão do seu rosto e se afasta. Decido não segui-la.
Parece que o meu mundo caiu. Eu preferia acreditar que é ó um pesadelo e que logo, logo estarei acordando.
As lágrimas caem como nunca caíram antes. E é incrível como em um dia ela mexeu comigo como nenhuma das outras do passado conseguiram em tantos meses. Ela tinha todos os meus sentimentos em suas mãos. E decidiu esmagá-los com se fossem um pedaço de papel. Deixando-me exatamente como estou agora: destruído.
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