Annie
Eu encontro Annie. Annie tem 12 anos. Extremamente ativa; adora ler e tocar violão. Gosta de cerais de café da manhã e ama lanches de tarde. É carinhosa com todos. Ela sonha em ser uma atriz. Mas ela estava presa a ser apenas mais uma vendedora da loja de sapatos de seus pais. Ela adorava ler qualquer coisa. De jornais velhos a quadrinhos do "garoto de gelo" que era distribuída na escola aonde ia. Porque segundo todos os coordenadores. Era a única literatura em quadrinhos que realmente era infantil. Ela amava ler. Nunca reclamava. Nem mesmo de ler o mesmo livro por várias e várias vezes. E mesmo que enjoasse. Ela continuava lendo.
Era educada. E um pouco atrapalhada. Mas isso não tirava o brilho daquela criança. Aquela criança tinha um belo sorriso. Mas agora não estava mais sorrindo.
Eu a vi, olhando lentamente para sua boneca. Enquanto a boneca afundava. Ela chorava.
"Era apenas uma boneca" pensei.
Uma vez conheci um humano que me disse que poderiam amar as coisas. Amar objetos sem vida. Um carro. Uma casa e até mesmo um tênis. Sim; um tênis. E Annie amava aquela boneca.
Annie tinha uma aversão a cobras. Desde que viu uma comendo um sapo e bom. A minha missão nunca é ser amigável. E meu fardo é bem divertido. Cheguei próximo a ela; agora transformado em uma cobra. Sabe aquelas pequenas. Nada tão grandioso como uma cascavel ou anaconda. Foi o suficiente para fazer a pobre criança pular do lugar onde estava.
- Se acalme; pequena. Eu estou aqui para te ajudar. Estou vendo que está bem triste
- Saia daqui. A mãe! tem uma cobra aqui. Me ajuda - gritou aquela mal-educada. Sim eu mudo minha opinião sobre as pessoas com facilidade, ainda mais se elas vêm até mim com um pedaço de pau que convenientemente estava em suas mãos.
- Annie. Eu sou seu gênio da lâmpada; e vim realizar um desejo seu. Qualquer desejo. Qualquer coisa. Mas antes você terá que cumprir algumas pequenas tarefas para mim - e ela não parava de gritar. Como se alguém estivesse batendo nela, os diabos!
- Eu não acredito em você, me dê uma prova!
- Mocinha; eu sou uma cobra que fala! - Será que ela não percebeu ainda
- Se eu cumprir todas as tarefas você pode salvar a Donnie?
- Quem é Donnie?
- A boneca!
- Sim; eu não posso apenas fazer isso Annie. Eu posso te dar uma nova se você quiser
- Não quero uma nova. Quero a Donnie.
Então enfim chegamos a um acordo. E assim fui com ela para a sua casa
Os pais de Annie eram amáveis. A tratava como uma princesa. Eles sempre estavam prontos para ouvi-la. Quando chegamos. Annie; nada caprichosa, me colocou num pote. Estava a comida a mesa. Seus pais estavam esperando pela filha que brincava com Donnie. Donnie não estava com a pequena. Eles estranharam. Afinal; a boneca era a melhor amiga de Annie. Mas esperaram a filha ir tomar um banho. A garota tinha; além de me colocar num pote. Me coberto com uma espécie de pano preto. Foi uma sensação bem ruim.
Enquanto estava tomando banho. Annie cantava uma música que era uma espécie de cantiga de vó. Eu apenas observei tudo. Admirado. Aquela casa é bem diferente da que eu estava; Seu Pedro era depressivo. Triste e solitário. Ali eu sentia carinho. Companheirismo e parceria.
- Annie; sua comida irá esfriar- disse sua mãe no pé da escada para o seu quarto.
- Já estou indo mãe
E assim foi. Ela pegou seu pijama e depois de comer foi dormir. E no dia seguinte; mal sabia ela; teria um dia longo. Bem longo.
A cada pedido acatado. Os meus desejos se tornam piores; mais difíceis. Arriscados. Selecionados. Não podemos fazer bem sem cobrar algo. Com toda certeza eu não sigo o cinismo; acredito na razão do bem. Que tudo é calculado e no seu tempo devido é cobrado. Eu não escolho as pessoas. Elas me escolhem. No jeito que olham para si mesmas. Adoro as coisas que vejo nesses seres humanos.
Falsos moralistas. Cheios de si. Existem pessoas que são incríveis e até me admiro. Mas existem pessoas que a minha admiração é pela aversão que tenho por ela.
São pessoas forçadas a não sonhar. Não querer algo. E acreditar que tudo já foi programado. Mas por quem? Oras. Quem programa tudo isso? A soberba do ser humano em querer dizer que sabe tudo sobre o universo me incomoda. "Foi aquilo que aconteceu. E cabum. Existimos" simples. Se não fossem os milhões de anos no meio dessa frase.
Essa ingenuidade em acreditar que pode ter a verdade absoluta em algo que é tão maior que si. É algo que só tolos declaram sem olhar para os lados e ver a vergonha que estão passando.
Mas por que faço isso? Porque gosto do meu poder. Porque eu posso. E porque eu quero. Estou bem humano não é mesmo.
Quando encontrei Annie eu pensei que estava sentindo afeição pelos pais dela. Mas não era não. Era pena. Pena porque moravam em Ônus. Ônus sugara deles.
Eu vi tanta gente morrendo. Morrendo de fome. De raiva. De ódio. De bala. De faca. De flecha. De água. De fogo. Mas a maior parte das mortes eram as multidões de sonhos daquele povo.
São 10 da manhã. De um sábado de sol. Annie está acordada. Olho para ela e ela sorri e diz.
"Um desejo né.”
Sim um desejo. Qualquer um. Tudo que quiser! Eu adorava essa sensação. A sensação de poder
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