I. Never felt so alone
A água gélida enrugava as mãos do jovem rei, que permaneceu imóvel por longos minutos, perdido em seus próprios pensamentos. O dia de hoje trará mudanças significativas para sua vida, e ele se questionava em como acabara nesta situação. A pergunta não era realmente complicada, mas a resposta estava presa em sua garganta, atrás de choros que ele se recusava a deixar escapar, no entanto, ele ainda questionava-se se, ao tomar decisões diferentes, o resultado seria o mesmo. Estava condenado a aquilo ou foram consequências de suas atitudes de menino?
— Majestade? — ele se virou após ser despertado de seus devaneios, encarando Taeri. O jovem beta segurava uma toalha branca fina enquanto observava o monarca. — Gostaria de mais água quente?
Foi então que o loiro percebeu que a água em que se banhava há pouco estava fria, ao contrário de quando adentrou a enorme banheira. Ele suspirou profundamente. Estava em uma situação deprimente e tinha plena consciência disso, sentia-se consumido por um estado que o desestabilizava. A julgar pela temperatura da água, ele deve ter passado um longo tempo encarando o vazio, lamentando cada segundo de seus últimos anos. Pelos céus! Certamente estava atrasado.
— Não é necessário. — respondeu, levantando-se da banheira rapidamente. Não era incomum expor sua nudez diante dos servos, todos eles ômegas e betas em quem confiava plenamente. Eles cuidavam dele e de sua higiene desde que era jovem, então aprendeu a não sentir vergonha. — Muito obrigado, Taeri.
Após sair da banheira, Jimin retornou rapidamente ao seu quarto. Embora fosse o homem mais poderoso de todo o continente, ainda tinha que prestar contas a um grupo de anciãos, e sua classificação não o beneficiava em nada. Se atrasar para uma reunião tão importante reforçaria a tola ideia já imposta pelo conselho de que o novo rei se tratava de era um ômega irresponsável, algo que precisava mudar se quisesse ser levado a sério.
— Podemos pular a rotina de cuidados de hoje, certo? — questionou retoricamente, ao perceber alguns empregados se aproximando com óleos e cremes corporais. — Acredito que o banho prolongado seja suficiente para hoje.
Dito isso, suas vestes foram rapidamente trazidas, e ele se vestiu sem demora. Seu cabelo foi penteado com carinho pelo beta responsável, fazendo com que os fios, que não eram mais tão loiros, se partissem ao meio, com algumas mechas penduradas graciosamente em seu rosto. O reflexo que via no espelho à sua frente não o agradava; não que estivesse feio, muito pelo contrário, o ômega sabe que era belo, um dos mais bonitos de todo o reino, mas ele sentia como se algo estivesse faltando.
— Bom dia, Majestade. — Seokjin, seu mordomo real, saudou ao entrar na sala, mais uma vez tirando o ômega de seus devaneios. — Peço desculpas pela demora, estava recebendo membros do conselho, como pedido. — explicou, aproximando-se de Park.
— Há algo que eu deva saber?
— Nada que já não saibas — seus passos foram calmos, sem pressa. — Eles parecem entusiasmados, sim, mas isso era esperado. Estão ansiosos pela reunião de hoje, senhor.
Essa constatação não agradou o rei.
— Infelizmente, não posso dizer o mesmo. — suspirou. Seu corpo tremia levemente de nervosismo, algo que não passou despercebido por aqueles que ajustavam suas vestes.
— Eu sei que não está satisfeito com a situação, mas, meu rei, é para um bem maior. — O jovem rei sabia que o que o beta havia dito era verdade. Ele entendia que sua situação atual poderia mudar completamente sua trajetória, ainda assim, sentia raiva, medo e um grande receio em aceitar o caminho que lhe foi imposto.
O ômega não respondeu imediatamente, permaneceu em silêncio enquanto era arrumado. Sentia-se sem forças para discutir com seu velho amigo. — Podemos ir.
O salão onde o conselho se reunia não ficava longe do quarto do rei. Apesar de agora carregar a pesada coroa sobre sua cabeça, Jimin ainda dormia em seu quarto de infância. Sua mudança para os aposentos reais é postergada por anos, pois ele não tinha coragem de dormir na cama que um dia pertencera ao seu falecido pai. Embora sua morte não fosse recente, ainda é uma ferida aberta.
— Devo informar que o senhor Byun pretende conduzir a reunião de hoje. — O Kim notificou, quebrando o silêncio estabelecido. — Ouvi dizer que ele se encontrou com alguns membros do conselho, provavelmente para reforçar o que foi discutido na última reunião.
— Tsc. — exprimiu odioso, como abominava aquele velhote asqueroso, sentia o seu corpo ferver de ódio, como alguém tão repulsivo poderia ser um membro tão importante de algo como o conselho real de Seoha? — Ele não se cansa, não é? Detesto como ele sempre parece rodear os outros para concordarem com seus ideais. Primeiro, o tratado de Yolohan, e agora está maldita condição.
A condição imposta pelo conselho real pesava como uma corrente ao redor do pescoço do jovem Rei Park. De acordo com ela, o jovem ômega teria de se casar com um Alfa de linhagem nobre, recebendo dele a tão almejada marca. Somente assim ele poderia obter todos os poderes que lhe são de direito, mas que estava privado devido à sua classificação. Para o jovem monarca, é uma verdadeira derrota que a igualdade entre as classificações continuasse sendo apenas um sonho distante. Saber que possuir o cargo mais alto não servia para nada o deixava inquieto.
— Vossa Majestade sabe muito bem que isso é inevitável. — relembrou o mordomo, cujos olhos atentos acompanhavam os pensamentos do rei.. — Se não fosse o Duque Byun, outro membro do conselho certamente traria à tona essa exigência.
— Estás ao meu lado ou ao lado do conselho? — encarou o beta ao seu lado enquanto caminhavam pausadamente em direção às imensas portas duplas do salão.
— Sempre ao seu lado, Majestade. — respondeu o outro com sinceridade. — Entretanto, devo lembrar que, em muitas questões, o senhor e o conselho estão do mesmo lado.
O silêncio preencheu o espaço entre eles. Jimin sentia o peso de suas responsabilidades como rei, mas se aborrecia com esses momentos em que Seokjin o tratava apenas como um, e não como seu amigo. Sabia que ele era seu mordomo, mas custava esquecer por alguns segundos desse cargo?
As imensas portas duplas do salão real se abriram majestosamente, anunciando a chegada do monarca. Em um gesto sincronizado, todos os membros do conselho se levantaram, prestando reverência ao rei. O grupo é composto por condes, duques, marqueses e o comandante do exército, com exceção deste último, todos são anciãos, homens de personalidades frias, arraigados em tradições antiquadas, ignorantes do clamor por mudanças e controladores. Jimin os odiava profundamente. No fundo, são verdadeiros abutres da nobreza, cobiçando apenas a coroa e todo o poder que ela representava.
À medida que adentrava o salão, cumprimentando os membros com um aceno de cabeça, o rei percebia os olhares afiados e atentos que lhe eram dirigidos.
— É um prazer revê-lo, Rei Park. — Byun, duque de Gongchan disse bicudo. As palavras ecoaram pelo grande salão, carregadas de desdém e superioridade. O ômega apenas sorriu em resposta, não cedendo ao joguinho do velho.
— É um prazer, majestade. — Saudou Shin Sung-Sik, mantendo-se mais ameno em suas palavras.
— Também é um prazer revê-lo, Senhor Shin. — novamente apresentou um sorriso, este que não é tão falso, até gostava do Conde.
Todos se reuniram ao redor da imensa mesa de madeira branca, repleta de documentos, apesar de velha, ela era muito bem cuidada, e permanecia bela. O jovem rei não tardou em se juntar a eles, com a atenção toda em si como de costume, não adorava este fato mas passou a tolerar a ideia de sempre ter todos os olhos virados para sua pessoa.
O silêncio pairou sobre o salão antes de um dos anciãos presentes limpar a garganta e começar a falar:
– Acreditamos que Vossa Majestade tenha pensado com carinho no que discutimos em nossa última reunião. Redigimos tudo que é necessário, o rei pode conferir e discutiremos caso deseje alterar algo que não seja de seu agrado.
Jimin acenou com a cabeça em concordância, atento às palavras dos conselheiros. Ele sabia que a última reunião havia sido longa e cheia de debates acalorados, ainda se lembrava de gritar tanto que até aqueles que estavam fora do castelo poderiam ouvir. Se arrependia, claro, mas ainda assim, estava feliz por ter feito.
Shin Sung-Sik se apressou em dizer:
— Nossa última reunião foi longa, muitas coisas foram ditas naquela noite. — ele dizia, tentando soar da forma mais suave possível, apesar de seu timbre alto — Mas gostaríamos de saber se há algo que não surgiu ou foi sugerido anteriormente? Algo que sua majestade gostaria de apresentar.
O rei refletiu por um momento antes de responder. — Não sei ao certo. — disse simples. — Mas gostaria de informar que não mudarei minha posição. Não vejo motivo para me casar com alguém apenas para usufruir do que é meu. Meu pai foi o rei, eu sou seu primogênito, e a coroa é minha por direito. Não deveria ser imposto a mim um casamento para que eu possa governar minhas próprias terras. Mas, sei que os senhores não acolherão meu pedido.
O silêncio se abateu sobre o grande salão após suas palavras, nenhum dos anciãos ousou se mover ou falar. Jimin sentia o peso dos olhares dos conselheiros sobre si, uma pressão que ele desavama, mas que, infelizmente, já estava acostumado a enfrentar, sabe que eles consideravam sua posição um tanto imprudente. Ser um ômega em meio a tantos alfas lhe colocava em uma posição desfavorável, e ele entendia que governar como rei ômega não seria uma tarefa fácil. Contudo, impor-lhe essa condição é mais do que ele podia tolerar.
Mun, o Lorde de cabelos negros, quebrou o silêncio com uma postura direta:
— Entendemos sua angústia, majestade, mas as tradições e expectativas são imensas, e estão arraigadas em nosso reino. A única maneira de assegurar que a dinastia Park continue intocada é com um casamento. O Rei ômega precisa de herdeiros, uma garantia de que todo o reino não ruirá junto com vossa Majestade, caso venha a falecer devido a uma infelicidade. — o alfa tinha o papel de ser o mais direto de todos, nunca se privando de dizer o que achava ser o certo.
— Eu entendo a necessidade do casamento, Conde Mun. — e ele realmente entende, veja bem, o não tão loiro não se opõe à ideia de casamento, por um lado entende a decisão do conselho, porém, precisar casar-se para só então tomar as rédeas de seu reino não fazia sentido. — Não me oponho a essa ideia. No entanto, não compreendo porquê não posso ter o mesmo direito que os alfas têm. É ridículo que tentem me submeter a condições que não são impostas a eles. Por que devo aceitar a imposição de ter um alfa ao meu lado, como se isso fosse mudar alguma coisa?
Seu tom de voz expressava uma mistura de frustração e indignação, e todos os olhares se voltaram para o rei ômega. Um murmúrio baixo se espalhou entre os conselheiros, mas Byun, com um sorriso ácido no rosto enrugado, não hesitou em responder:
— A decisão foi tomada, Rei ômega. — Disse triunfante. — Como Vossa Majestade disse, não acataremos ao seu pedido. Esta é uma condição necessária, e todos nós votamos para mantê-la. O rei deve se casar para governar Seoha como deseja. Não estamos aqui para discutir; deve aceitar.
O ômega queria esbravejar em resposta, mas compreendia que suas opções eram limitadas.
— Se fosse meu pai, vocês não estariam impondo isso. — Disse Jimin com firmeza, um misto de tristeza e indignação em suas palavras.
— Seu pai era um alfa, meu rei. — Byun respondeu com seu tom cortante de sempre. — Ele foi rei por muito tempo e nunca ousou mudar as exigências ou condições. Portanto, Vossa Majestade deve agir de acordo com o que foi imposto. — Os outros alfas permaneceram em silêncio, expressando silenciosamente seu apoio à declaração do mais velho. — Devo lembrar que, se o rei ômega não aceitar, teremos que tomar medidas severas. – Jimin quis esbravejar, no fundo, o jovem temia que o alfa almejasse por uma oportunidade de tentar contra os seus, e não poderia permitir
Jimin sentiu a raiva borbulhar dentro de si, mas não podia se permitir perder o controle. Ele está encurralado, consciente das consequências de recusar a decisão do conselho real. As leis de Seoha são implacáveis e quebrar uma sequer regra, ou condição imposta pelo conselho poderia ser considerado um crime grave, até mesmo traição contra a coroa.
— Entendi que a decisão foi tomada. Mas não é por isso que deixarei de questioná-la — suas mãos arranhavam a madeira velha do assento que estava. — E é rei Park. — Corrigiu, atraindo a atenção dos membros presentes. — Sou rei Park, não rei ômega, estou cansado de dizer isso a vocês, e essa é a última vez que irei corrigir algum de vocês.
O salão permaneceu envolto em um silêncio mortal após a rendição relutante do jovem rei. Os alfas presentes nunca gostaram de discutir com o rei Park, não confiavam no ômega para compreendê-lo, e tampouco o respeitavam o suficiente para ouvir o que ele tinha a dizer. Os olhares hostis o cercavam, e o ômega sabia que suas palavras eram como flechas lançadas contra uma fortaleza inabalável. Ele queria gritar que não se curvaria a essas tradições ultrapassadas, que lutaria por sua igualdade como monarca, mas a prudência o impedia. Com um último olhar desafiador aos conselheiros, o rei Jimin tomou uma decisão interna, uma promessa silenciosa a si mesmo: ele se casaria, mas faria o possível para encontrar um parceiro que o respeitasse e valorizasse por sua liderança, não apenas como uma peça para garantir a sucessão do trono, se não, faria com ele o temesse.
O suspiro de Jimin refletia sua sensação de estar perdido, sem saída, tendo que aceitar a imposição do conselho.
— O que os senhores decidiram? — Questionou, rendendo-se.
A condição é clara. Se ele tivesse herdeiros, uma marca e um alfa, seu título não estaria mais em questão, e sua classificação não teria tanto peso aos olhos do povo. Talvez, dessa forma, ele pudesse encontrar uma liberdade relativa. Então, mesmo relutante, Jimin se forçou a engolir os espinhos, teria que fazê-lo de qualquer maneira. A ideia de se casar com um estranho ainda lhe é amarga, mas está disposto a fazer o que fosse necessário para mudar o curso da história e o destino das futuras gerações.
Foi Jung, que até então se mantivera calado, que anunciou a proposta:
— Planejamos convidar príncipes de reinos e províncias próximos a nós. — explicou o conselheiro. — Como Vossa Majestade não deseja se casar com estranhos, pensamos em realizar uma seleção. Todos os príncipes virão a Seoha durante um certo período de tempo, uma estação, permitindo que o rei tenha a oportunidade de conhecê-los e, então, escolher um deles para se casar. Aquele que mais lhe agradar.
A ideia de um concurso matrimonial surpreendeu Jimin. Ele nunca havia imaginado que a escolha de um consorte real poderia ser tão organizada e meticulosa. A pergunta queimava em sua mente:
— Por que um príncipe? — Ele não esperava que o conselho fosse tão específico, imaginava que um dos duques ou marqueses tentaria convencê-lo a se casar com um de seus filhos, assim infiltrando-se assim completamente na família real. Teria ele interpretado mal os anciãos à sua frente? – Por que não um duque? Um marquês?
Shin, o Conde de Okyuna, respondeu à pergunta do rei: — Como o casamento não será por amor, achamos que seria útil unir o poder de Seoha com o poder de outro reino. — Ele explicou calmamente. — Optamos por príncipes, pois eles representam a força e a liderança de seus reinos, e a aliança com um príncipe pode ser ainda mais significativa. Mas podemos incluir duques e marqueses, se assim desejar.
Jimin refletiu sobre as palavras do conselho. Realmente, não estava se casando por amor, uma aliança de fato, poderia ser mais vantajosa, unir-se a outro reino poderia fortalecer sua posição política e estratégica, protegendo seu reino contra inimigos externos. Contudo, também entendia que um duque ou marquês poderia trazer benefícios internos e aumentar a lealdade de uma das famílias nobres ao reino.
— Está bem. — Disse o rei finalmente, sua voz firme e decidida. — Inclua príncipes, duques e marqueses na seleção. Desejo ter todas as opções à minha frente. — Os conselheiros assentiram em concordância, aparentemente satisfeitos com a decisão do rei. — Eu exijo que haja uma seleção justa e imparcial, onde eu possa conhecer os candidatos e decidir com base em suas qualidades, não apenas em suas classificações e títulos. Quero ter certeza de que a decisão final seja em benefício de meu reino e do seu povo.
Alguns murmúrios baixos soaram pela sala, a exigência foi aceita facilmente.
— Faremos de tudo para garantir que seja justo, majestade. — Lorde Kang, o menor de todos proferiu, sorridente.
— Eu imagino que vocês tenham feito uma lista.
— Sim, majestade. — respondeu um dos anciãos do conselho. Seokjin logo apresentou a lista curta dos reinos selecionados. Apenas cinco dos sete reinos conhecidos haviam sido incluídos na lista. Era provável que fosse uma enorme seleção por fim, não passaria tanto tempo tentando conviver com diversos alfas.
— Por que apenas cintos reinos? — perguntou genuinamente curioso. — Deixaram dois reinos de lado, mas incluíram Ansan? — o reino mencionado não tem uma fama boa, tampouco uma relação tranquila com Seoha. Ansan é o lar dos bárbaros, de um povo predominante alfa, seu exército de longe é conhecido por ser o mais sanguinário, e urgh, o rei já havia ouvido diversas histórias sobre o vizinho.
— Bom... — era possível ver que os anciãos à sua frente buscavam palavras para se explicarem. Jimin percebeu quando o Duque de Seajon fingiu estar concentrado em um papel à sua frente, enquanto Shin e Jung evitavam assumir a responsabilidade por explicar a escolha.
— Imagino que Vossa Majestade saiba sobre Daegu... — começou o Senhor Kang, o Marquês, raramente se manifestava, desde que o jovem passou a se encontrar com o conselho, poucas foram as vezes em que presenciou falas do homem.
— O que há com Daegu? — o loiro tentou recordar de alguma informação recente sobre a pequena província, mas nada lhe veio à mente. — Eles fizeram algo contra nós? Eu não me recordo de nada.
— Eles não fizeram nada, meu rei. — disse um dos velhos, tentando despistar.
— É apenas que... — outro tentou começar a explicar, mas foi interrompido pelo monarca.
A tensão no salão era palpável enquanto os alfas em volta da mesa pareciam desconfortáveis, relutantes em abordar o assunto. Jimin percebeu o nervosismo de Chou, que batucava os dedos na madeira em um gesto inquieto, e ao lado dele, o Marquês Jung se ajeitava desconfortavelmente em seu assento. Oras, o que esses velhos escondem?
— O que é? Falem logo. — Exigiu, seus pequenos olhos felinos percorrendo os rostos dos anciãos. Lorde Mun. Entre seus colegas, o alfa era o único que permanecia calmo. — Senhor Mun, o senhor pode me dizer o porquê de seus colegas estarem fazendo tanto mistério?
Mun levantou o olhar para o loiro, sua expressão era de tédio e indiferença, como se tudo aquilo fosse trivial.
— A questão, meu rei, é que o monarca de Daegu é um alfa casado. Ele tem cinco filhas, mas apenas um filho... — Jimin assentiu, esperando a conclusão. — Mas o príncipe é um beta, e nós precisamos que você se case com um Alfa.
Oras... esses velhos!
— Não pretendem convidar Daegu para a seleção porque o príncipe é um beta? — alguns anciãos confirmaram, o rei estava desacreditado. — O quão antiquados vocês são? Não percebem que isso poderá soar rude? Como ficará nossa relação com Daegu após isso?
— A mesma? — Mun perguntou despreocupado. — Se eles ficarem descontentes, podemos simplesmente cortar os laços com eles.
— Fácil assim? — o jovem estava incapaz de compreender como esses homens podiam ser tão insensíveis.
— Daegu é apenas uma pequena província, meu rei. Eles não irão questionar nossa decisão.
— Mas eu irei. — declarou firmemente. — Não permitirei que manchem a reputação de Seoha sendo rudes. Excluir um reino da seleção apenas porque seu príncipe não é um alfa, o que isso diz sobre nós?
— Que somos tradicionais. Não ter um beta em meio a seleção não faz de nós monstros, majestade.
— Faz de nós velhos e ignorantes, não quero que as pessoas pensem que Seoha é antiquada, temos que evoluir em nossos conceitos. — o jovem não se virou, mas percebeu a movimentação do conselheiro ao seu lado. — Convidem Daegu.
— Mas, majestade... — Shin proferiu, mas logo se calou ao sentir o olhar duro do loiro.
— Eu exijo. — disse entre dentes. — Daegu deve ser convidada para a seleção, independentemente da classificação do príncipe.
— Muito bem, Majestade. — disse Jung, cedendo diante da determinação de Jimin. — Se é isso que deseja, assim será feito. Convidaremos Daegu para a seleção.
Jimin assentiu satisfeito, grato por ter conseguido impor sua vontade diante do conselho.
— Milorde, por favor, continue.
O olhar do homem passou brevemente por seus colegas antes de retomar a palavra. — Não convidamos Jeolla porque o rei não tem filhos.
— Não tem filhos? — A surpresa na voz de Jimin era evidente.
— Não, majestade.
— Como isso é possível?
— O rei Jeon ainda é jovem e nunca se casou, portanto, não tem herdeiros. — Byun comentou.
— Nunca teve filhos bastardos? — o rei sabe que essa prática é comum entre os reis alfas, até mesmo seu próprio avô teve filhos ilegítimos durante seu reinado em Seoha, embora Jimin não aprovasse tal comportamento.
— Não que saibamos. — foi Mun quem respondeu, ele parecia calmo, um pouco pensativo.
— Entendo. E quanto a Ansan? Por que os convidaram?
— Ansan tem poder. — Shin respondeu sucintamente.
— Eu particularmente não gosto da ideia de convidar Ansan para isso, rei Park. — Byun surpreendeu o rapaz com sua declaração franca.
— Por que, senhor Byun?
— Ansan possui um histórico não muito bom conosco. Já soubemos de vários planos deles contra Seoha. Min Sungoo é ganancioso e sempre desejou ter o que nós temos.
— Então por que aceitaram convidá-los? — As ameaças de Ansan contra Seoha nunca foram um segredo, no entanto, nunca se concretizaram, permanecendo como meras alegações vazias.
— Como o Lorde Mun mencionou, Ansan é poderoso. — Jung ponderou antes de prosseguir — Entendemos o risco de convidar alguém que já declarou guerra contra nós, porém, as tentativas de intimidação de Sungoo não surtiram efeito, ele é ganancioso, mas não possui recursos para invadir Seoha.
— Ele pode ter o exército mais sanguinário, mas o nosso exército ainda é maior que o dele. — acrescentou Mun. — Atacar Seoha seria um ato de estupidez; não há perigo real.
Jimin observou alguns alfas concordando com o que foi dito, mas ainda havia outros que se mantinham sérios.
— Sungoo pode ser um rei velho, majestade, mas ele não é louco. — expeliu um dos velhotes. — Não é porque ele nunca atacou Seoha que nunca o fará. — O Marquês Kim é um homem sábio, Jimin sabia que seu pai o procurava quando precisava de conselhos, e mesmo que este presente permanecesse vivo apenas porque a morte lhe esqueceu, ainda era muito são. — Ele tem filhos, e eu acredito que pode ter passado a eles a missão de nos atacar. Não acho que seja viável convidá-los.
— Eu sinceramente não gostaria de convidá-los. — Jimin finalmente confidenciou. — Eu sei algumas coisas sobre Ansan, e nenhuma destas coisas me agrada.
— Majestade. — O Marquês Cha começou, sua voz recheada de ansiedade. — Eu também não concordo…
— Bom, nós podemos fazer uma nova votação, e..
— Mas, majestade... — Shin o interrompeu — Ainda deveríamos convidá-los. Não podemos ser como Ansan e agir sem qualquer diplomacia. Também não podemos arriscar dar a eles mais motivos para revoltas contra nós.
— Achei que não houvesse um risco real de ataque.
— E não há. — Jung confirmou. — Mas se podemos evitar dar mais um motivo, devemos fazê-lo.
— Certo. — Jimin tomou um tempo para pensar. Agir com diplomacia e mostrar superioridade é a melhor escolha, mesmo que isso também pudesse gerar ira contra eles. No entanto, a decisão tomada ainda o deixou um pouco temeroso. — Podemos convidar Ansan, mas teremos que ser cuidadosos. No que os senhores pensaram?
Neste momento, todos os alfas se viraram para o comandante do exército, o homem esteve em silêncio desde o início da reunião, como é de costume. Ele só se fazia presente quando era preciso discutir algo sobre a segurança do reino.
— Vossa majestade, nós planejamos reforçar a vigilância enquanto os príncipes de Ansan estiverem em Seoha. Mesmo que não haja um grande risco, os colocaremos em aposentos mais afastados, isolando-os dos demais, e mais guardas ficarão próximos a eles, eles serão discretos. Alertarei todos os nossos homens para ficarem de olho em cada passo que derem, dentro ou fora do castelo, saberemos caso tenham atitudes suspeitas. — declarou o comandante, com uma expressão séria e determinada.
As palavras do alfa trouxeram um certo alívio para o jovem rei. Imaginava que a segurança seria reforçada durante a estadia dos príncipes de Ansan em Seoha, mas ainda sim, a informação trazia um pouco mais de tranquilidade.
Grande parte da reunião prosseguiu sem muitas complicações, os alfas falavam mais que o monarca, mesmo que ele tentasse se incluir e questionar as informações apresentadas. Como dito, os anciãos haviam cuidado de tudo que era necessário e redigiram todos os passos a serem dados; de fato, eles eram muito organizados e verdadeiramente se dedicavam ao conselho. Ao constatar isso, o rei sentiu um certo pesar em seu peito. Ainda não aceitava por completo a ideia proposta, mas ouviu com atenção tudo que os senhores disseram, afinal, eles poderiam estar todos do mesmo lado.
— Majestade?
— Hum — Jimin piscou algumas vezes, voltando a atenção aos velhos em volta da mesa. Estava impossível conseguir prestar muita atenção nas coisas que aconteciam à sua volta. Ele constantemente voltava a esse estado aéreo. — Perdão, poderia repetir?
— Gostariam de finalizar a reunião, se sua majestade permitir. — Seokjin sussurrou ao pé de seu ouvido.
O ômega então se levantou, notando que todos os alfas lhe encaravam, em silêncio, pareciam um pouco confusos. Poucos foram capazes de perceber o tique nervoso das pequenas mãos do ômega na mesa. — Podemos finalizar a reunião, perdoem a minha breve distração, senhores.
Assim dito, os homens se levantaram, reverenciando o rei antes de se retirarem da sala. Normalmente, o monarca sairia antes deles, mas isso é algo que Jimin havia mudado com o tempo. Enquanto a maioria saía, ele percebeu que Yi-Jin, discretamente permanecia no canto da sala, o olhando atento, como foi durante toda a reunião.
Seu estômago vazio se revirava.
Ele respirou fundo, tentando encontrar a calma. Sua mente estava longe, uma bagunça, ele pensava em tudo e em nada ao mesmo tempo. Não sabia como controlar aquilo, era algo que já ultrapassava os limites há alguns meses. Uma parte de si acredita que seu estado atual é um dos motivos para o conselho desejar que ele se case o mais rapidamente possível, e ele odeia a ideia, mas sabe que não é o maior dos motivos para isso.
Ele não demorou a deixar o salão, acompanhado pelo Kim e o guarda a passos de distância, se encaminhou em silêncio até seus aposentos. Ele o adentrou com pressa, indo até às cortinas e às fechando, deixando o quarto em um breu, poucas velas clarearam o local. Seokjin estava parado na porta, observando o ômega.
— Majestade, eu... — o mordomo começou, mas Jimin foi rápido em cortá-lo.
— Me sinto um pouco cansado, irei me deitar — ele se virou para o beta, fingindo naturalidade. Mas o Kim o conhecia suficiente para saber que não era verdade.
Sem dizer uma palavra, Seokjin se aproximou do jovem rei, e colocou uma mão gentil em seu ombro, oferecendo-lhe conforto e apoio silencioso.
— Você não precisa enfrentar isso sozinho, Majestade. — Seokjin disse suavemente. — Estou aqui para ouvir, para aconselhar, para apoiar. Você tem amigos e aliados em quem pode confiar.
Jimin suspirou. — Eu sei, Seokjin. E sou grato por ter você ao meu lado, mas eu estou bem. Só realmente cansado.
— Você é humano, Jimin. Todos temos nossos momentos de fraqueza e dúvida. Não há vergonha em mostrar suas emoções e pedir ajuda quando precisa. Ser um bom líder não significa ser perfeito, mas sim saber quando precisa de apoio.
Ele sabia que podia confiar em seu mordomo, mas detestava se abrir, detestava se sentir fraca, e mais ainda, detestava não saber o que acontecia consigo.
— Obrigado, Seokjin. Você sempre esteve ao meu lado, mesmo nos momentos mais difíceis. — o outro assentiu.
— Sempre estarei, Majestade. Agora, se estás realmente cansado, irei me retirar para que possa se deitar. O dia foi longo, amanhã será muito melhor. Tudo ficará bem.
Quando as portas se fecharam, Jimin se permitiu afundar nas emoções que o consumiam. O peso do reino em seus ombros, as expectativas do conselho e do povo, a pressão para se casar e garantir o futuro de Seoha, tudo isso estava começando a tomar seu preço sobre o jovem rei. Ele se sentia em pedaços, solidão e desespero se tornando os sentimentos mais avassaladores que pudera sentir, e não sabia mais como lidar com eles.
Ele retirou todas as roupas que o sufocavam e se jogou na imensa cama, cuidadosamente arrumada há pouco. Ela tinha um cheiro doce, assim como todo o quarto, era o cheiro de Jimin. Com o tempo, porém, o aroma de ameixa e canela se tornou tão insuportável para ele que o rei evitava respirar pelo nariz. Talvez estivesse enlouquecendo, e este era o primeiro sinal. Ou talvez, seu lobo o odiasse a ponto de não suportar seu próprio cheiro. Ele não sabe.
Entre os lençóis finos de seda branca, ele se afogava em suas emoções. O quarto escuro estava silencioso, era possível ouvir apenas os sussurros mais suaves. Ele chorava baixo, tão baixo que mal se ouvia. Seu rosto queimava como brasa. Sentia-se perdido, como se estivesse à deriva em um mar de incertezas. Ele não queria tomar uma decisão apressada, impensada, mas também não sabia se conseguiria suportar mais a pressão e a solidão. Ele permaneceria naquela cama até a próxima reunião.
Ele nunca se sentiu tão sozinho.
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